Passaram-se já alguns dias sobre o derby do Estádio da Luz que terminou com
uma vitória do SL Benfica e por isso impõe-se uma reflexão sobre o jogo e as
repercussões que poderá ter para o que falta jogar nesta edição da Liga Zon
Sagres.
Fruto do temporal de domingo que
assolou o país, a partida foi (e bem) adiada para terça-feira com o
consentimento mútuo dos responsáveis de ambos os clubes e da Liga Portuguesa de
Futebol Profissional. Foi a decisão mais correta uma vez que os danos da cobertura
do Estádio da Luz eram evidentes, podendo colocar em causa a integridade física
dos atletas e de milhares de adeptos que acorreram ao palco deste jogo que se
pretendia um grande espetáculo.
Adiado por dois dias, o que mudou
entretanto? O FC Porto venceu o seu jogo ao derrotar o FC Paços de Ferreira por
3-0 subindo provisoriamente ao segundo lugar da tabela classificativa,
pressionando, ainda que indiretamente, os seus mais diretos adversários que se
iriam encontrar posteriormente. Leonardo Jardim, que na conferência de imprensa
de antevisão afirmara que o Sporting «tem entrado a medo» nos grandes jogos
surpreendera com a aposta numa equipa arrojada, para jogar claramente ao ataque
com a inclusão do argelino Slimani ao lado de Montero e ainda com a inclusão do
reforço Heldon que, no CS Marítimo se convertera num dos melhores marcadores da
presente edição do campeonato. Demonstrou audácia e desinibição, num sinal
claro de que o Sporting estava apostado em vencer e ascender ao topo da tabela
classificativa. Como se previa, Eric Dier jogaria no lugar do castigado William
Carvalho e Iván Piris ocuparia o lado esquerdo da defesa em virtude da lesão do
brasileiro Jefferson. Jorge Jesus, que até tem efetuado algumas mudanças nos
clássicos (nem sempre com bons resultados) optou por conservar a equipa que tem
dado tão boa conta de si. Durante os dias que antecederam o derby muito se especulou sobre a
possibilidade de Cardozo ser titular mas o paraguaio (que durante a sua estadia
em Portugal tem feito dos “leões” uma das suas vítimas preferenciais face ao
seu instinto goleador) ficou no banco, optando o treinador por manter a dupla
Lima/Rodrigo que tem tido bons resultados.
Chegou o dia e a poucas horas do jogo
ambos os treinadores tentaram condicionar a estratégia adversária com a
inclusão nos convocados de Ivan Cavaleiro e Jefferson. Porém, estas manobras
revelaram-se meramente ilusórias pois os dois jogadores ficaram na bancada. Em
relação aos 11 eleitos por Jesus e Jardim nada mudou.
O jogo começou com um ritmo muito
elevado e com o Benfica a dominar. Nos primeiros minutos criou várias
oportunidades de golo que a defensiva leonina conseguiu suster. O tempo passava
e as “águias” manietavam os “leões” que, apáticos, limitavam-se a ver jogar.
Sem surpresas a equipa da casa adiantou-se no marcador por intermédio de
Rodrigo. Piris escorrega à esquerda da defensiva leonina deixando caminho
aberto para Maxi Pereira que cruza com conta, peso e medida para a cabeça de
Gaitán. O argentino estreou-se a marcar, para a Liga, em jogos contra o
Sporting. A vantagem benfiquista, mínima, que prevaleceu até ao final do
primeiro tempo, revelou-se até um pouco escassa em relação ao domínio, à
qualidade de jogo, fluidez de processos e oportunidades de golo criadas pelos
“encarnados”.
À entrada para o segundo tempo, quando
se esperava uma reação do Sporting, o que se verificou foi o prolongamento do
domínio da equipa da casa. O Benfica controlava, geria os ritmos de jogo e
naturalmente ampliou a vantagem aproveitando o desnorte da defensiva
sportinguista. Um mau alívio da defesa “leonina” colocou a bola nos pés de Enzo
Pérez. O argentino, com classe, “sentou” Eric Dier, retirando-o da jogada, e
num remate de belo efeito, colocado, fez o golo que sentenciou a partida.
Analisando, em primeiro lugar, a
equipa da casa, o Benfica fez um jogo irrepreensível. O seu domínio foi claro,
de início ao fim, e a sua vitória nunca esteve em causa. Luisão e Garay estiveram
imperiais no centro da defesa, anulando por completo as tentativas de jogo mais
direto do Sporting. Siqueira foi o
principal responsável pelo eclipse de Montero, forçando André Martins a
redobrados cuidados defensivos, especialmente na primeira metade da partida. Fejsa foi, na minha opinião, o melhor
jogador em campo. Uma autêntica sombra de Slimani, funcionou como um “tampão” à
frente da defesa, impedindo qualquer tentativa de ataque organizado do
Sporting. A sua função de contenção, que cumpriu de uma forma quase perfeita, permitiu
a libertação de Enzo Pérez para
missões mais ofensivas. O argentino foi o “motor” encarnado, dinâmico,
pressionante, com a sua «raça» que habitualmente empresta ao jogo do Benfica.
Culminou a sua exibição com um grande golo. Marković foi o artista de serviço. Este jovem jogador de apenas 19
anos tem crescido a olhos vistos pela mão de Jorge Jesus. Alia à sua notável
qualidade técnica e visão de jogo uma consistência defensiva cada vez maior. No
derby espalhou magia com vários
passes que “rasgaram” o quarteto defensivo “leonino”. Gaitán voltou a ser decisivo nos derbys contra o Sporting. Na passada terça-feira aliou ao seu
virtuosismo e a uma exibição bem conseguida um golo, que foi uma estreia nestas
andanças. A dupla de avançados composta por Lima e Rodrigo continuou
o seu bom desempenho, desgastando os defesas adversários, arrastando marcações.
Por
outro lado, o Sporting fez um jogo não para esquecer mas sim para recordar. Os
“leões” realizaram a pior exibição da época num jogo que, em caso de vitória,
lhes daria a liderança isolada. Muitos passes falhados, perdas de bola, a falta
de intensidade no jogo foi gritante. Notou-se de forma cabal a ausência de
William Carvalho. A falta da sua tranquilidade em campo, da forma como sai a
jogar e da sua potência fizeram-se sentir num meio campo que se exibiu de uma
forma irreconhecível. Eric Dier, o
seu substituto, esteve mal. Ao longo do jogo nunca conseguiu encontrar o
posicionamento mais correto. Perdido em campo, errou demasiados passes e foi
alvo de uma “maldade” de Enzo Pérez aquando do segundo golo do Benfica,
deixando o jovem inglês pregado ao relvado. Piris foi outro elemento com nota negativa. Não conseguiu fazer
esquecer Jefferson. Desconcentrado, trapalhão, não deu a profundidade ao flanco
que o Sporting necessitava e ainda comprometeu defensivamente. Está
intrinsecamente ligado ao primeiro golo da partida no qual deixou via livre
para o cruzamento de Maxi Pereira. Inclusive, durante o jogo, obrigou Rojo a fazer vários desvios à esquerda
para tentar compensar as falhas do lateral paraguaio. Na defensiva “leonina”
valeram Patrício e Maurício. O guarda-redes internacional
português evitou com um punhado de defesas uma derrota por números mais
expressivos enquanto o central brasileiro fez valer o seu físico e poder aéreo,
evitando novos dissabores. Perto do final da partida, já numa fase de alguma
irracionalidade, envolveu-se num sururu com Gaitán. Uma situação serenada pelo
árbitro da partida. O meio campo leonino foi uma sombra do que já foi esta
época. Adrien tentou remar contra a
maré mas foi inconsequente, André
Martins, descaído para a direita, esgotou-se em missões defensivas mas nada
acrescentou à manobra ofensiva sportinguista. Montero passou completamente ao lado do jogo, Slimani, com pouca bola, viu jogar e Heldon, apesar de alguns pormenores interessantes, teve uma estreia
infeliz. Leonardo Jardim que tinha montado uma surpresa ao apostar numa
formação de ataque, viu-a esboroada com o vento. O adiamento da partida anulou
por completo o efeito pretendido e, dois dias depois, nada saiu bem ao técnico
madeirense. Até as substituições se revelaram ineficazes. Magrão nunca mostrou qualidade para ser uma efetiva mais-valia no
Sporting. Capel a jogar no flanco
direito é uma nulidade e Mané entrou
tarde no jogo. Percebe-se a intenção do técnico mas nada correu bem.
Esta vitória incrementa
substancialmente o élan benfiquista
que aumenta a distância em relação ao Sporting para 5 pontos (que na prática
são 6 uma vez que os “encarnados” têm vantagem no confronto direto) estando,
ainda, com 4 pontos de avanço em relação ao FC Porto (tendo já derrotado os
“dragões” no Estádio da Luz igualmente por 2-0). Esta margem pontual e as
recentes vitórias categóricas contra os seus mais diretos rivais aliadas à
qualidade, quantidade e experiência do seu plantel deixam o SL Benfica numa
posição privilegiada para a conquista do título de campeão nacional quando
faltam disputar-se 12 jornadas.
Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: desporto.sapo.pt / maisfutebol.iol.pt / lusa.pt