À entrada para o segundo
terço da Liga ZON Sagres, os tricampeões nacionais ocupam a terceira posição
(24 pontos), a dois pontos de Sporting CP e SL Benfica (após ambos terem ficado
há umas jornadas atrás a cinco pontos dos dragões).
Em termos europeus, a prestação tem sido medíocre: apenas uma vitória (frente
ao FK Austria Wien) e cinco pontos conquistados em outros tantos jogos. Ao fim
de cinquenta e quatro jogos a contar para a liga portuguesa,
a equipa nortenha perdeu pela margem mínima em Coimbra frente à Académica.
Nos últimos três jogos, o FC Porto perdeu sete pontos em nove possíveis (dois
empates frente a Belenenses e CD Nacional e uma derrota frente aos estudantes).
Se quisermos recuar
uma época, à décima primeira jornada, o FC Porto tinha 29 pontos (mais cinco
que esta época), estando em igualdade pontual com o SL Benfica na liderança do campeonato.
O Sporting CP ocupava a modesta nona posição, a dezoito pontos dos dois grandes
rivais. Enquanto Jackson Martínez somava já dez golos (logo seguia-se James,
com sete) na temporada transata, em 2013/14, o ponta de lança colombiano possui
oito tentos, sendo de longe o melhor marcador dos azuis e brancos (o segundo é
Josué, com quatro golos). Algo que claramente não se adequa ao historial nem
aos objetivos do FC Porto propostos para esta temporada. Algo que
é surpreendente, já que o FC Porto não costuma falhar nestes
momentos. Mas o que tem originado esta quebra de rendimento e provocado
exibições muito cinzentas?
Extremos, essa grande
dor de cabeça
Ao
olharmos rapidamente para o plantel portista, retiramos alguns dados
relevantes para uma análise mais detalhada. Com as saídas de João Moutinho
e James Rodríguez, duas pedras basilares dos azuis e brancos nas últimas
temporadas, no passado verão para o futebol francês, o futebol
portista perdeu qualidade, sobretudo do meio campo para
a frente. O ponto fraco da equipa orientada por Paulo
Fonseca cinge-se às alas. Quando vemos numa grande competição como a UEFA
Champions League os dragões trocarem
Ricardo Pereira por Licá, verificamos que esta equipa está mal estruturada
e que faltam opções com qualidade para uma equipa que se assume como candidata
a todas as competições nacionais e que quer fazer boa figura na Europa do
futebol. Varela é indiscutivelmente o melhor extremo que o FC Porto
tem atualmente. E percebe-se esta quebra de qualidade quando olhamos para
o passado e vemos que passaram pelo Dragão Hulk, James ou até mesmo
Cristián Rodríguez, jogadores que colocaram quase sempre
o internacional português como ator secundário. Licá continua
muito "verde" para jogos desta intensidade e ainda não convenceu os
adeptos portistas. Ricardo é jovem e tem aprendido com esta
primeira experiência na liga milionária, precisando ainda de crescer
para atingir o nível desejado. Kelvin, o herói da época 2012/13,
ainda não foi utilizado esta temporada para a liga, tendo
somado algumas presenças pela equipa B dos azuis e brancos.
Juan Manuel Iturbe foi mais uma vez emprestado no início da temporada corrente
(depois de uma pré-época muito positiva), aos italianos do Hellas
Verona FC. Há ainda Josué, que tem jogado, ainda que adaptado, a extremo
direito. Vamos por as coisas no seu devido lugar: Josué nunca foi extremo e
não apresenta qualidade para desempenhar com sucesso essa
função. O ex-jogador pacense flete muito para o meio, deixando o
corredor livre para Danilo, que acaba por não ter apoio. Muitos nomes, pouca
qualidade. Já para não falar de Marat Izmaylov...
Depois de alguma conversa nas últimas semanas, esta terça feira
confirmou-se que Ricardo Quaresma vai mesmo regressar ao Estádio do
Dragão já no próximo mês de janeiro, de modo a reforçar uma das principais
lacunas dos dragões. O contrato será
válido para os próximos dois anos e meio, sendo que apenas falta acertar alguns
pormenores relativos à rescisão de contrato com o Al Ahli do Dubai, o seu atual
clube, para que seja oficializada esta contratação pelos azuis e
brancos. No entanto e, apesar de toda a expetativa que este regresso possa
provocar nos adeptos do FC Porto, eu coloco algumas reservas por vários motivos
que a seguir vão ser referenciados. O Mustang não joga desde maio passado e em junho
foi submetido a uma cirurgia no joelho direito, pelo que a sua condição física
não irá, em princípio, permitir um regresso à velocidade da luz do internacional
português aos grandes palcos. Para além disso, não sabemos em que estado mental
se encontra o internacional português (que já conta com trinta anos). Porém,
penso que os adeptos portistas podem dar uma grande ajuda na recuperação deste
jogador que quando se apresenta no máximo da sua forma, torna-se uma autêntica
dor de cabeça para as defesas adversárias. Considero ainda outro aspeto,
relacionado com o insucesso nas suas últimas aventuras pelo estrangeiro. Quarema
saiu da cidade Invicta no final da época 2008/09 e, desde aí, nunca mais foi o
mesmo. Em Itália, o jogador formado em Alcochete não conseguiu impor o seu
futebol. Durante essa estadia em terras transalpinas, chegou a ser emprestado
ao Chelsea, mas a sorte não esteve do seu lado. No Besiktas foi idolatrado
pelos próprios adeptos, mas acabaria por sair pela porta pequena. Tudo isto até
ao momento em que aterrou nos Emirados Árabes Unidos, onde permaneceu até hoje.
Resumindo, a direção liderada
por Pinto da Costa começa aos poucos a perceber um dos principais erros
cometidos durante a pré-temporada. Não deixa de ser curioso a aposta continuada
dos dragões no regresso de jogadores que
já passaram por aquela casa (agora Quaresma, antes Lucho). E recorde-se que a
vinda do argentino ocorreu numa altura em que Vítor Pereira estava debaixo de
fogo e a sua equipa encontrava-se a alguns pontos da liderança do campeonato. Ainda
assim e, olhando para os pontos que considerei anteriormente, penso que
continua a faltar qualidade nas alas. Continua a faltar alguém
que desequilibre, seja criativo, que baralhe os adversários com mudanças de
velocidade e que entre de caras no onze. Alguém que seja decisivo nos momentos chave, quando a equipa não produz o desejado. Ou o clube nortenho investe no mercado
de inverno na aquisição de um extremo com alguma experiência e qualidade ou
então opta por resolver o caso com o russo Izmaylov (ninguém soube mais novidades),
recuperando também Iturbe e Kelvin. E tudo isto porque considero que Quintero tem
é de atuar no meio, à frente dos dois médios. Só aí poderá expor o seu jogo. O colombiano
não parece ter o mesmo "dom" que o seu compatriota James teve ao adaptar-se
à ala. O ex-Pescara vem apresentando momentos em que se encontra
distante do jogo e prefere mais arriscar do que jogar para o coletivo.
Problemas alastram-se a todos os
setores; Irregularidade exibicional é gritante
Como resultado do que foi dito, a equipa tem apresentado uma qualidade de jogo
que se revela demasiado curta. Antes
de passarmos à referência ao meio campo e à defesa, uma
nota para Paulo Fonseca que praticamente não tem usado Ghilas (as notícias dão
conta de que metade do seu passe foi adquirido por 3,8 milhões de euros, um
valor inacreditável pago a um clube que desceu na época
passada!), Reyes, Herrera, Ricardo Pereira ou Carlos Eduardo, algumas das contratações
para esta época e que afinal de contas não vieram resolver os problemas
existentes.
Mas voltando aos restantes setores, comecemos pela defesa, que tem comprometido com alguns erros individuais (Mangala no
Restelo, Danilo frente ao FK Austria Wien e Otamendi em várias partidas).
Um quarteto defensivo que tem apresentado pouca articulação
entre si, erros posicionais graves e muita falta
de concentração. Continuo a achar, no entanto, que é o setor mais forte do
FC Porto. Muitos adeptos defenderam a entrada de Maicon para o onze em detrimento
de Otamendi, algo que tem sido efetuado ultimamente. No entanto, o FC Porto
acaba por perder um jogador que, apesar dos erros infantis que tem
cometido, é uma mais-valia a sair a jogar. Já na zona intermediária, Fernando
tem sido um jogador vital (apesar de por vezes ter certos jogos que lhe correm
menos bem), garantindo força, apoio aos centrais nas tarefas defensivas e
alguma ordem na casa. E veja-se que o brasileiro naturalizado português gosta
muito mais de jogar sozinho e explorar terrenos de uma forma, solitária, em vez
de ter um parceiro a seu lado. Mas o grande problema neste setor põe-se do
seguinte modo: quem é o médio que acompanha Fernando? Já foram usados
vários jogadores (Herrera, Defour, Josué), mas nenhum deles consegue
estabilizar. Lucho, ao atuar como um médio mais avançado no terreno (uma
posição fruto da alteração do tridente na zona intermédia), faz com que se
aproxime mais do ponta de lança do que propriamente dos médios
que iniciam o processo ofensivo e constroem a partir de
trás, dando liberdade e autonomia aos laterais nas suas tarefas (ofensivas e defensivas). Com isso, o argentino tem tido pouca bola (alo que não é compatível com
as suas características, já que é um jogador cerebral) e que não favorece o jogo entrelinhas que Paulo
Fonseca pretende implementar. No ataque, os extremos já foram
referenciados acima com destaque especial. Quanto a Jackson, é aquilo que se
sabe: um jogador de grande qualidade (um dos craques da formação portista), com
um remate potente e força no jogo aéreo. Esta época tem tido mais oportunidades
que golos marcados, algo que tem irritado os próprios adeptos. Falta de
confiança? De motivação, por não ter saído para um clube “maior” no último
defeso?
Num jogo, o FC Porto é capaz do melhor e de pior. Tanto cria inicialmente
uma enorme quantidade de oportunidades e pressiona de forma consistente e com
critério o seu adversário como acaba por, mais tarde, adormecer e
permitir facilidades na sua zona mais recuada. Exige-se alguma regularidade a
esta equipa, um aspeto que não tem estado presente e que contribui para
exibições algo sofridas e com constante incerteza no resultado. E isto
tudo porque este FC Porto é muito diferente das equipas que André Villas-Boas e
Vítor Pereira tiveram nas suas mãos. É que num espaço de poucos meses, a equipa
ficou órfã de Hulk, James, Moutinho, Álvaro Pereira, Guarín, etc. E estas
saídas (que representaram uma quebra significativa) deram lugar a jovens,
levando o clube a investir de forma a pensar já no futuro. Mas este plano tem
riscos óbvios: é necessário tempo de treino para aperfeiçoar as qualidades desses
jogadores mais novos. E num clube como o FC Porto, essa política normalmente
não funciona muito bem sem que haja alternativas que garantam sucesso,
estabilidade. Nos tempos de AVB (e também de Vítor Pereira), o FC Porto ia
introduzindo aos poucos na sua equipa jovens valores como James, Souza, Atsu ou
Castro. Mas paralelamente havia uma equipa formada por jogadores de grande
qualidade e que foram garantindo sucessos a nível nacional e internacional (principalmente
na época com o atual técnico do Tottenham Hotspur).
Discurso e (algumas) opções
incoerentes
Ao repassar a conferência de imprensa de Paulo Fonseca na
antevisão do duelo deste fim de semana com a Académica
e compararmos as declarações após o encontro, verifica-se que não há
coerência entre as ideias defendidas pelo treinador dos azuis e brancos.
Antes de sábado, Fonseca tinha afirmado que «bastaria uns retoques
na finalização para que o campeão se tornasse uma equipa
perfeita.» Concluiu o seu discurso afirmando que «Ainda não vi muitas equipas a fazerem o que temos feito. É verdade que
de forma algo oscilante, sim. Mas com a intensidade que pomos no jogo, isso é
normal, não pode durar 90 minutos. Faltam resultados, mas é notória a
evolução». Passado o jogo em Coimbra, verificou-se claramente que não tem
havido nenhuma progressão significativa no modelo de jogo portista. E
Paulo Fonseca passou a defender essa ideia, afirmando que faltou «determinação
e agressividade.»
Penso que um dos grandes pontos negativos do técnico portista passa pelo
seu discurso. Não se pode afirmar que num dia a equipa está perto da
perfeição e dias depois questiona-se tudo: a atitude, a intensidade, os aspetos
técnicos, táticos, físicos, mentais, etc. A mensagem não está a ser transmitida
da melhor maneira para os jogadores e isso acaba
por ter consequências nefastas no seio da equipa. Outra
temática a ter em conta prende-se com o último jogo e com as alterações táticas implementadas com
o decorrer do mesmo. Num só jogo, Fonseca usou três sistemas
distintos. Iniciou com o 4-3-3, sistema que tem sido
predominantemente utilizado (2+1), sendo que as grandes novidades passavam pela
inclusão de Quintero na extrema esquerda e de Josué ao lado de Fernando. Com a
entrada de Licá na etapa complementar, o português começou na ala
mas acabou por se juntar a Jackson na frente do ataque como uma
espécie de segundo avançado, passando para um 4-4-2, com Varela a baixar
um pouco no terreno, Josué a transitar para a esquerda e Lucho a fazer companhia
no miolo a Fernando. Finalmente, os minutos finais, marcados pela
tentativa desesperada em chegar ao golo da igualdade (já com Carlos Eduardo em
campo), trouxeram um inovador 3-4-3, com Alex Sandro e Danilo a terem liberdade
para subir nas suas respetivas faixas laterais. Posto isto, o FC Porto
mostra-se uma equipa desorientada, aparentemente sem rumo e em queda. Quando se
tenta usar esquemas alternativos que não são treinados com
tanta frequência (supomos nós), normalmente os resultados
não costumam aparecer. E é o que se tem visto. O ex-treinador do Paços de
Ferreira tem de ser mais fiel ao modelo de jogo que implantou no início da
época e com o qual tem trabalhado desde o início da pré-época. Há que trabalhar
a apostar nos recursos que tem à sua disposição, corrigir eventuais erros
táticos e precaver todas as situações inerentes ao jogo com o cuidado máximo. Se
não existe uma total confiança nos métodos adotadas, alterar o modelo tático (e a filosofia de jogo) é solução. Uma situação que devia ter sido pensada já anteriormente.
Para
finalizar a análise à situação atual do campeão nacional, é claro que
não coloco todas as culpas desta fase negativa em Paulo Fonseca. Existem
jogadores em sub-rendimento e que têm de produzir muito mais. O
FC Porto apresenta problemas claros e identificados, mas fases menos positivas
todas as equipas têm. No entanto, a situação preocupa bastante jogadores, treinadores, dirigentes e, principalmente, os
próprios adeptos, que
tem manifestado de forma veementemente nos últimos
dias sobre a continuidade de Fonseca. A pré-época foi mal planeada em
termos de contratações e urge a necessidade de os dragões mexerem rapidamente no próximo mês. E veremos se não mexem
também ao nível do comando técnico. Avizinha-se um duelo no próximo fim de
semana frente ao SC Braga, uma equipa que não vive os seus melhores dias em
termos de resultados e que precisa de pontuar para não perder de vista os
lugares europeus. Esta semana pode ser muito importante no futuro dos dragões.
Se ganharem, Paulo Fonseca ganha algum oxigénio e as críticas serão temporariamente
suprimidas. Caso contrário, veremos o que a administração do clube irá fazer
sobre o futuro de um ativo que tem contrato válido por duas temporadas.
Por Ricardo Ferreira
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