A Liga Italiana foi denominada, em tempos,
por ser a competição que atraía as grandes estrelas do futebol mundial, sendo
Van Basten, Matthaus, Maradona e Platini foram exemplos concretos desse
fenómeno. Os grandes clubes transalpinos (Juventus FC, AC Milan e FC Internazionale Milano)
destacavam-se num contexto europeu e não se encontravam isolados: tanto SSC Napoli como Parma FC como Sampdoria conseguiram êxitos europeus. Todavia, o presente não
é tão risonho e o campeonato carece de competitividade e de representantes
condignos nas competições europeias. Contudo há uma formação que, numa liga tão
despersonalizada, se tem destacado de uma forma interessante e pouco denotada:
a equipa do Parma.
O Parma FC é uma coletividade que atua no
mítico Ennio Tardini e que engloba, entre outros no seu palmarés, duas Taças
UEFA (atual Liga Europa) e uma Supertaça Europeia, tendo já contado com
portugueses na sua equipa como Fernando Couto ou Sérgio Conceição. Depois de uma fase titubeante que os levou à
despromoção, este clube centenário reergueu-se e encontra-se a lutar por um
posto europeu com Fiorentina, Inter de Milão e Hellas Verona, estando numa maré
de invencibilidade há 15 partidas consecutivas (8 vitórias e 7 empates) e
ocupando o 6º posto, com menos uma partida que os seus concorrentes diretos.
Celebrando o seu centenário na presente
época, o emblema italiano, treinado por Roberto Donadoni que se manteve após um
10º lugar na transata edição da Serie A, apostou na consolidação do seu
estatuto no primeiro escalão e em fazer uma época sem grandes sobressaltos.
Apostando no empréstimo do avançado internacional Antonio Cassano (em
subrendimento no Inter de Milão) e do defesa italiano Mattia Cassani por
empréstimo da Fiorentina e na contratação do médio ganês Afriyie Acquah do
Hoffenheim, a chave foi a solidez do plantel, que não perdeu muitas pedras
basilares do anterior projeto. Constando com uma breve passagem do central
português contratado ao Sporting Pedro Mendes (vendido ao Sassuolo no mercado
de inverno, com o também defesa Alejandro Rosi
e o avançado Nicola Sansone, e com a equipa do sul de Itália a receber o
centrocampista Matias Schelotto e o defesa Jonathan Rossini por empréstimo), o
Parma também garantia soluções de futuro e uma profundidade que tranquilizava o
técnico dos gialloblu.
Com um arranque atribulado (à 3ª jornada
ocupava a zona de despromoção e só conseguindo obter a primeira vitória à 5ª),
os adeptos do Parma já arrecadavam argumentos para uma contestação
significativa face ao momento da sua equipa. Contudo, o presidente Tommaso
Ghirardi não procedeu a qualquer alteração no comando da formação e manteve a
aposta em Donadoni, que acabou por ter os seus frutos. Após duas derrotas
consecutivas diante do Génova e da líder Juventus (esta a 2 de novembro do
passado ano civil), a equipa nunca mais conheceu o sabor da derrota para a
Serie A. Após ser arredada da Taça pela Lazio no Stadio Olimpico, todas as
atenções foram voltadas para a boa combinação de resultados que vinha a ser
conseguida pelos homens que atuam no Ennio Tardini, um dos poucos estádios que
sobrevive à crescente modernização que se arrasta pelo futebol europeu. Até ao
presente, o Parma apresenta números interessantes na sua liga com 11 vitórias,
10 nulos e 5 desaires e com uma diferença de golos francamente positiva sendo
42 golos os marcados e 29 os consentidos, firmando-se assim como um concorrente
sério a um posto europeu.
O plantel é maioritariamente composto por
italianos com algumas e naturais exceções, com Roberto Donadoni, por norma, a
apostar na estabilidade das suas unidades no onze, dando elas todas as
garantias e só tendo a disputar uma competição. Apostando num modelo tático
(4x3x3) em que a primazia vai para a exploração das alas no suporte do ponta de
lança e na solidez defensiva, na baliza, firma-se o transalpino formado na
Juventus Antonio Mirante, e a linha defensiva que o reveste é composta por três
também italianos e um brasileiro: dois laterais experientes (Mattia Cassini e
Massimo Gobbi, ambos já na casa dos 30 anos) e dois centrais no apogeu das suas
capacidades (Gabriel Pelleta, este italiano-argentino, e Alessandro Lucarelli),
sendo esta uma posição em que no princípio da temporada era Pedro Mendes,
ex-central do Sporting, um dos escolhidos para figurar como titular. O miolo
conta com três unidades de créditos firmados, com o uruguaio Walter Gargano a
funcionar como 6 na recuperação de bolas e a reforçar a coesão entre a defesa e
o ataque, o italiano Marco Parolo a atuar como 8 comandando as operações
atacantes, transportando jogo e frequentemente marcando (leva 7 golos) e o
também transalpino Marco Marchionni a ser o jogador mais metódico que prescinde
dos recursos mais físicos que se foram deterioriando consoante os anos passavam
para explorar as suas capacidades técnicas, maioritariamente a nível do passe e
da visão de jogo. O ataque revela-se como o setor onde a equipa sulista de
Itália apresenta mais preocupações para os seus rivais, com uma dupla
fulminante em Antonio Cassano e Amauri, dois avançados com bastante traquejo de
Serie A e contando com 14 golos juntos (9 e 5 respetivamente) e contando com um
francês, de nome Jonathan Biabiany que tem cativado os “tubarões” do
futebol europeu que, após uma passagem
discreta pelo Inter de Milão, relançou a sua carreira em Parma e que apresenta,
como atributos significativos, a sua aceleração e o dinamismo que apresenta com
a bola nos pés.
Os adeptos
gialloblu apresentam-se esperançosos com o regresso da sua equipa às noites
europeias e de uma estável equipa que, a médio prazo, faça parte de uma regular
participação nos primeiros lugares da Serie A, no entanto o onze inicial
apresenta uma média de idades elevada salvo as soluções de banco que são compostas
por bastantes jovens mas que são maioritariamente emprestados por outros clubes
(Afriyie Acquah, ganês, proveniente do Hoffenheim; e Joel Obi, nigeriano, do
Inter) e não permitem uma perspetiva ampla de futuro e correspondente aos anos
de glória deste emblema. Todavia, sendo do presente que se trata, o Parma tem
razões para sorrir. Com 8 vitórias e 7 empates nos últimos 15 encontros para a
Serie A, a formação de Roberto Donadoni apresenta uma invencibilidade incomum na
Liga e que permite estar no encalce dos lugares europeus. Com uma equipa
solidária, que apresenta grandes níveis de coesão entre setores e de poder de
fogo no ataque, o Parma destaca-se como uma das escassas equipas europeias que
ainda não conheceu o sabor da derrota neste ano civil e que ainda baralhará
muito as contas a formações como a da Fiorentina e a do Inter de Milão, que
apontam ao apuramento para a Liga Europa. Como é apanágio proclamar-se, velhos
são os trapos.
Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: legaseria.it / guol.com / squawka.com
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