Reflexão: Portugal derrotou a Sérvia (2-1) no passado fim-de-semana, no Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Um triunfo bastante importante na caminhada para o Europeu 2016, que culmina uma primeira volta com nove pontos alcançados em doze possíveis, a que acrescentou uma mudança de selecionador. No entanto, mais do que o resultado final, há que ter em conta a performance coletiva da "seleção das quinas".
E já que se referiu a mudança técnica ocorrida em setembro passado, importa analisar as consequências táticas que daí advieram. Nos últimos anos, Portugal estabeleceu-se a partir de um 4-3-3, privilegiando a capacidade de acelerar o jogo a partir da transição ofensiva. Na existência de um ponta de lança (normalmente Hélder Postiga), tentava-se rentabilizar a profundidade conferida pelos laterais, a capacidade técnica de Nani e o poder de Cristiano Ronaldo para decidir jogos. Com a chegada de Fernando Santos, as dinâmicas e o próprio sistema tático sofreram algumas modificações. Entre o 4-4-2 losango e o 4-4-2 clássico, o ex-selecionador da Grécia foi somando resultados positivos, ainda que com exibições pouco convincentes. Foi privilegiada uma dupla móvel no ataque, no sentido de favorecer a presença cada vez mais constante de Ronaldo nas zonas interiores (que parte da esquerda) e os recuos de Danny. Porém, fica a sensação de que, independentemente do sistema adotado, Portugal ressente-se da falta de um 'nove puro'. Uma problemática que atormenta a seleção nacional desde há vários anos e cuja presença poderia melhorar as dinâmicas e os posicionamentos de cada jogador, no sentido de mais facilmente quebrarem as defesas adversárias. Olha-se para o percurso de Fernando Santos com a "equipa das quinas" e nota-se que os golos das vitórias contra Dinamarca, Arménia e Argentina surgiram quando já estava em campo um ponta de lança.
Este aspeto, combinado com a incapacidade de pressão e recuperação do esférico em zonas altas e as ausências de um médio organizador e de defesas centrais que disponham de velocidade para controlar a profundidade (Pepe é uma exceção) conduzem a que Portugal sinta dificuldades para assumir as despesas da partida. Nos confrontos com adversários de grande qualidade individual, a solução passa por baixar o bloco, apelando a uma eficaz coordenação inter-setorial entre as duas linhas mais recuadas, à exploração dos espaços e à introdução de velocidade nos momentos de contra-ataque. Tudo com o intuito de equilibrar a equipa. Este foi o rosto da exibição frente à Sérvia (muita qualidade individual, apesar da tendência para, paradoxalmente,criarem muitos desequilíbrios coletivos), recorrendo ao 4-4-2 clássico. Tiago e João Moutinho, apercebendo-se da falta de um médio defensivo nas suas costas, não arriscaram muitas subidas, sob pena de perderem o seu posicionamento na organização/transição defensiva. Foram competentes nas basculações defensivas. Apesar de, devido ao plano conservador de Fernando Santos, terem construído pouco volume de jogo ofensivo. Curiosamente, o segundo golo surge através de uma rutura de João Moutinho que, vindo de trás, combina com Ronaldo e oferece primorosamente o tento a Fábio Coentrão. Um dos melhores argumentos coletivos da seleção portuguesa, que terá de se enquadrar nesta nova forma de jogar, sob o ponto de vista de se eclipsar. Ainda sobre o jogo com o país da Península Balcânica, notou-se, em alguns períodos, falta de rapidez na transição ofensiva, condicionada pelos posicionamentos fos jogadores lusos. De resto, ma leitura partilhada por Fernando Santos após a vitória, reveladora de alguma incapacidade de gestão dos diversos momentos e ritmos do jogo.
Uma última nota sobre o duelo com Cabo Verde (0-2), realizado em circunstâncias muito particulares. Seria ilusório que um conjunto de jogadores, provenientes de diversos clubes, sem quaisquer rotinas adquiridas e com pouco conhecimento mútuo, protagonizasse uma exibição brilhante. Afinal, eram doze os jogadores convocados que não tinham obtido qualquer internacionalização com a camisola principal das "quinas". Portanto, todas as avaliações decorrentes do jogo com os "tubarões verdes" estarão influenciadas por essa perspetiva. Retomando os conceitos táticos, não se entende a aposta inicial num 4-3-3. Sendo um jogo de experiências com novos jogadores, o ideal passaria por enquadrá-los dentro do sistema que tem imperado com Fernando Santos. No fundo, a seleção portuguesa passa atualmente por uma fase de transformação tática (algo que se alastra aos escalões jovens), na qual se procuram jogadores que possam adaptar-se a dinâmicas específicas. Individualmente, um choque com a realidade: não há uma notável geração em fase de maturação. Nomes como André Gomes, João Mário e Bernardo Silva constituirão o futuro da seleção portuguesa a curto/médio prazo. Destaque para o médio ofensivo do AS Monaco FC, canhoto que atuou na faixa direita do ataque, explorando diagonais para zonas interiores e misturando inteligência e rapidez de pensamento com qualidade técnica, rapidez de execução e capacidade de criar desequilíbrios. Sem dúvida, o principal protagonista luso. Num patamar mais inferior, Anthony Lopes, Antunes, André André ou Pizzi revelaram-se alternativas válidas para as suas respetivas posições. Pensamentos que só um contexto completamente distinto poderão confirmar se os jogadores supracitados detém legitimamente estatuto de seleção.
E já que se referiu a mudança técnica ocorrida em setembro passado, importa analisar as consequências táticas que daí advieram. Nos últimos anos, Portugal estabeleceu-se a partir de um 4-3-3, privilegiando a capacidade de acelerar o jogo a partir da transição ofensiva. Na existência de um ponta de lança (normalmente Hélder Postiga), tentava-se rentabilizar a profundidade conferida pelos laterais, a capacidade técnica de Nani e o poder de Cristiano Ronaldo para decidir jogos. Com a chegada de Fernando Santos, as dinâmicas e o próprio sistema tático sofreram algumas modificações. Entre o 4-4-2 losango e o 4-4-2 clássico, o ex-selecionador da Grécia foi somando resultados positivos, ainda que com exibições pouco convincentes. Foi privilegiada uma dupla móvel no ataque, no sentido de favorecer a presença cada vez mais constante de Ronaldo nas zonas interiores (que parte da esquerda) e os recuos de Danny. Porém, fica a sensação de que, independentemente do sistema adotado, Portugal ressente-se da falta de um 'nove puro'. Uma problemática que atormenta a seleção nacional desde há vários anos e cuja presença poderia melhorar as dinâmicas e os posicionamentos de cada jogador, no sentido de mais facilmente quebrarem as defesas adversárias. Olha-se para o percurso de Fernando Santos com a "equipa das quinas" e nota-se que os golos das vitórias contra Dinamarca, Arménia e Argentina surgiram quando já estava em campo um ponta de lança.
Este aspeto, combinado com a incapacidade de pressão e recuperação do esférico em zonas altas e as ausências de um médio organizador e de defesas centrais que disponham de velocidade para controlar a profundidade (Pepe é uma exceção) conduzem a que Portugal sinta dificuldades para assumir as despesas da partida. Nos confrontos com adversários de grande qualidade individual, a solução passa por baixar o bloco, apelando a uma eficaz coordenação inter-setorial entre as duas linhas mais recuadas, à exploração dos espaços e à introdução de velocidade nos momentos de contra-ataque. Tudo com o intuito de equilibrar a equipa. Este foi o rosto da exibição frente à Sérvia (muita qualidade individual, apesar da tendência para, paradoxalmente,criarem muitos desequilíbrios coletivos), recorrendo ao 4-4-2 clássico. Tiago e João Moutinho, apercebendo-se da falta de um médio defensivo nas suas costas, não arriscaram muitas subidas, sob pena de perderem o seu posicionamento na organização/transição defensiva. Foram competentes nas basculações defensivas. Apesar de, devido ao plano conservador de Fernando Santos, terem construído pouco volume de jogo ofensivo. Curiosamente, o segundo golo surge através de uma rutura de João Moutinho que, vindo de trás, combina com Ronaldo e oferece primorosamente o tento a Fábio Coentrão. Um dos melhores argumentos coletivos da seleção portuguesa, que terá de se enquadrar nesta nova forma de jogar, sob o ponto de vista de se eclipsar. Ainda sobre o jogo com o país da Península Balcânica, notou-se, em alguns períodos, falta de rapidez na transição ofensiva, condicionada pelos posicionamentos fos jogadores lusos. De resto, ma leitura partilhada por Fernando Santos após a vitória, reveladora de alguma incapacidade de gestão dos diversos momentos e ritmos do jogo.
Por Ricardo Ferreira, com edição audiovisual de Ricardo Rocha
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