15 de janeiro de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 6 e 13 de janeiro

Iniciamos esta semana mais uma rubrica no nosso blog, intitulada Futebol Global. Esta consistirá numa crónica que será lançada semalmente todas as terças feiras e que permitirá transpor uma análise ao plano futebolístico nacional e internacional atual. Sob a autoria do cronista Ricardo Ferreira, iremos apresentar algumas tópicos que permitam destacar certos factos semana após semana. A primeira edição está aqui mesmo, pronta a ser lida pelos nossos seguidores. 

O jogo da semana: SL Benfica vs FC Porto (2-0)

Ficha do Jogo:

Estádio: Estádio do Sport Lisboa e Benfica, Lisboa
Árbitro: Artur Soares Dias
Marcadores: Rodrigo 13’ e Ezequiel Garay 53’
Disciplina: Nemanja Matić 59’ e Enzo Pérez 90+3’; Jackson Martínez 57’, Ricardo Quaresma 58’, Danilo 61’ e 75’, Lucho González 69’ e Fernando 88’

SL Benfica: Jan Oblak; Maxi Pereira, Luisão (C), Ezequiel Garay (Jardel 84’) e Guilherme Siqueira; Lazar Marković, Enzo Pérez, Nemanja Matić e Nico Gaitán; Rodrigo (Rúben Amorim 86’) e Lima
Suplentes não utilizados: Artur Moraes, Sílvio, Ljubomir Fejsa, Miralem Sulejmani e Filip Djuricić
Treinador: Jorge Jesus 

FC Porto: Helton; Danilo, Nicolás Otamendi, Eliaquim Magala e Alex Sandro; Fernando, Lucho González (C) (Josué 70’) e Carlos Eduardo; Silvestre Varela, Licá (Ricardo Quaresma 53’) e Jackson Martínez
Suplentes não utilizados: Fabiano Freitas, Maicon, Steven Defour, Kelvin e Nabil Ghilas
Treinador: Paulo Fonseca 

Análise & Destaques:


O SL Benfica venceu no passado domingo o tricampeão nacional FC Porto por 2-0. Com um golo em cada parte, os encarnados superiorizam-se frente aos seus rivais e venceram de forma clara e justa. Rodrigo e Garay, curiosamente dois jogadores que têm estado nas listas de compras de alguns clubes europeus para este mercado de transferências, apontaram os golos da formação comandada por Jorge Jesus. Deste modo, a equipa lisboeta isolou-se no primeiro lugar da Liga Zon Sagres, com mais dois pontos que o Sporting CP e três que o FC Porto. 

Quanto ao jogo em si, a primeira parte ficou marcada nos minutos iniciais por um jogo pautado a meio campo, um aspeto já algo normal em jogos desta natureza. Os encarnados demonstraram sempre muita intensidade e agressividade (no bom sentido da palavra) na forma como disputavam cada lance individual. Independentemente da importância que cada lance significava, a turma da casa mostrava-se motivada e com o objetivo de homenagear Eusébio com três pontos. Já o FC Porto apareceu com níveis elevados de nervosismo, falhando muitos passes na sua zona mais defensiva e apresentando graves dificuldades na construção de jogo a partir dos seus centrais (nomeadamente por Otamendi). O golo apontado pelo hispano-brasileiro Rodrigo acabou por ajudar as águias a serenarem um pouco e a jogarem conforme o delineado inicialmente por Jorge Jesus. O Benfica passou a dar a iniciativa de jogo ao FC Porto e recuou um pouco as suas linhas, apostando nas saídas rápidas para o contra ataque e na mobilidade dos seus homens mais avançados. De resto, tanto Lima como Rodrigo iam pressionando logo a equipa portista numa primeira fase de construção. A partir do golo sofrido, o FC Porto demonstrou pouca clarividência em termos de chegada à área adversária e criação de oportunidades. Lucho González já não muita intensidade para este tipo de jogos, enquanto Carlos Eduardo ainda parece um jogador demasiado verde para níveis tão elevados de exigência. Ainda assim, antes do descanso, destaque para um ou outro calafrio provocado por Jackson à defensiva benfiquista.

Já na etapa complementar, o golo de cabeça de Garay logo aos 53’ fez acalmar ainda mais a formação de Jorge Jesus. A equipa portista começou aos poucos a perder a cabeça e o jogo foi endurecendo. Quaresma rendeu Licá, mas o seu regresso ao futebol português não correu bem, sendo claramente batido nos duelos individuais, algo que naturalmente se explica pela falta de ritmo de jogo. Rodrigo podia ter aumentado a contenda, não fosse um falhanço quase escandaloso em frente à baliza portista. Até ao fim, destaque para a expulsão de Danilo, num lance em que, segundo Artur Soares Dias, o internacional brasileiro simulou uma grande penalidade. Nota final para o árbitro da partida, que não teve uma prestação feliz e que errou em lances capitais do encontro, prejudicando ambas as coletividades.

SL Benfica: vitória tática de Jorge Jesus sobre Paulo Fonseca. Depois de uma semana em que muito se discutiu sobre a inclusão de mais um médio (e a mudança para um eventual 4-3-3, com a saída de um dos homens da frente), JJ voltou a ser fiel ao “seu” 4-4-2 e acabou por retirar os dividendos dessa escolha. Sobretudo, há que referir que o Benfica foi uma equipa inteligente: soube atacar quando necessário, foi uma equipa mais pragmática do que o habitual e soube explorar os vários espaços deixados nas costas da defensiva portista. O jogo foi ganho no meio campo. Apesar de um jogo menos conseguido por parte de Gaitán, Matic e Enzo Pérez voltaram a demonstrar aquilo que tão bem sabem fazer. O sérvio esteve em todo o lado, ajudando imenso na recuperação de bola, na ajuda fornecida à construção de jogo e no apoio aos homens da frente. O virtuosismo de Markovic também ajuda e muito. O sérvio esteve em grande plano e a sua contribuição no primeiro golo dos encarnados mostra os principais predicados atribuídos ao sérvio: boa condução de bola, mudanças rápidas de velocidade e capacidade para acelerar processos e aproveitar o espaço vazio. Uma nota ainda para a solidez defensiva dos centrais e para Oblak, que num jogo de grande importância não tremeu e demonstrou muita segurança tanto no jogo aéreo como nas bolas rasteiras. 

FC Porto: uma grande parte desta derrota dos azuis e brancos começa a ser explicada na conferência de imprensa de antevisão do clássico. Nesta, Paulo Fonseca abordou o jogo de uma forma pouco clara, demonstrando mais dúvidas do que certezas quanto à equipa a utilizar. As escolhas finais acabaram por traduzir essa mesma ideia: Otamendi regressou ao eixo defensivo (em detrimento de Maicon), houve a aposta de Lucho como médio interior e Carlos Eduardo atuou como o médio mais avançado dos três que compunham o meio campo. Num jogo com esta importância, Defour (ou até mesmo Herrera) seriam alternativas mais válidas para ocupar um lugar no meio campo portista, fazendo com que Lucho avançasse um pouco no terreno. Ao não acontecer isto, Fernando esteve praticamente sozinho na zona intermediária dos azuis e brancos e, apesar da sua alcunha de “Polvo”, o português não chega para todas as encomendas. Deste modo, o FC Porto apresentou imensas dificuldades na organização de jogo, não teve um meio campo dotado de organização e entreajuda e concedeu muitos espaços para a transição ofensiva encarnada. Naturalmente, os centrais ficaram descompensados em diversas circunstâncias e o resultado não foi mais dilatado devido a alguma ineficácia do adversário. Helton não teve um bom jogo, comprometendo bastante nos lances aéreos (o golo de Garay e um lance com Matic são exemplos disso), no jogo com os pés (uma situação bastante anormal, já que é de longe o melhor guarda redes a jogar com os pés na liga portuguesa) e dando a sensação de que podia ter feito algo mais no primeiro golo. Tanto Maicon como Mangala apresentaram insegurança e muita intranquilidade perante as rápidas movimentações de Markovic, Rodrigo e Lima. Os extremos continuam a não ter a capacidade para desequilibrar (Licá é bastante curto para uma equipa com as aspirações do FC Porto) e quando assim é, tiveram que ser os laterais a dar alguma profundidade e apoio ao ataque. Uma exibição muito abaixo do que a equipa nortenha nos tem habituado nos últimos anos. Uma equipa descaracterizada, sem intensidade e capacidade de pressionar alto sobre o portador da bola e com uma enorme falta de criatividade e objetividade em termos de organização ofensiva. 

Destaque: Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. O astro português conquistou a Bola de Ouro referente ao ano de 2013, repetindo o feito alcançado em 2008. É a quarta Bola de Ouro conquistada por jogadores portugueses, depois de Eusébio (1995) e Figo (2001), sendo que Ronaldo é o primeiro jogador português a arrecadar esta distinção por duas vezes. De resto, o madeirense sucede a Lionel Messi, que tinha conquistado o galardão atribuído pela FIFA (em conjunto com a revista France Football) nos quatro últimos anos. CR7 obteve 27,99% dos votos, enquanto Messi ficou-se pelos 24,72% e Ribéry pelos 23,36%. Números que traduzem um elevado equilíbrio entre os três finalistas. A votação levada a cabo por capitães, selecionadores nacionais e jornalistas especializados de cada país premiou os 69 golos alcançados pelo jogador formado na Academia de Alcochete, em detrimento dos títulos alcançados pelo Scarface e La Pulga. Zlatan Ibrahimovic (com a sua melhor classificação de sempre) e Neymar fecham o top-5.

Focando as atenções no jogador português, pode-se analisar alguns aspetos relevantes. Em primeiro lugar, era a sexta presença de Ronaldo entre os finalistas e naturalmente que a tensão ia crescendo de ano para ano, à medida que o seu grande rival Messi ia vencendo. Esta vitória chega num momento bastante importante, podendo finalmente libertar o jogador luso da pressão constante a que está submetido e dar-lhe uma confiança renovada. Dado o conhecimento que temos sobre o internacional português, não duvidamos certamente que irá continuar a trabalhar no máximo para tentar bater mais alguns recordes e, acima de tudo, conquistar títulos num plano mais coletivo. Em segundo lugar, em ano de Mundial, Portugal viajará para o Brasil com o melhor do mundo a bordo, tal como em 1966, um aspeto que poderá motivar não só em termos individuais como também coletivos. Quanto à justiça, há que referir que finalmente houve algum reconhecimento pelo árduo trabalho desempenhado por Ronaldo ao longo dos últimos anos. Ribéry teve um ano fantástico, no qual conquistou tudo o que havia para conquistar. Se o troféu fosse para o jogador francês, nada poderia ser apontado contra. No entanto, CR7 não merecia ficar em igualdade de distinções deste tipo com Ribéry. São 69 golos (quinze de cabeça, dezoito com o pé esquerdo e trinta e seis com o destro) apontados em 59 jogos, um recorde verdadeiramente impressionante. Além disso, a contínua hegemonia de La Pulga nos últimos anos em termos de Ballon D’Or fez com que muitos amantes da modalidade quase implorassem por um novo vencedor. Por último, a forma emocionada como se dirigiu após receber o prémio demonstra claramente a sua personalidade humilde, trabalhadora, lutadora e com uma clara obsessão pela vitória. As referências finais a Eusébio e a Mandela abrilhantaram um discurso simples, honesto e genuíno.  

Equipa da Semana (3-4-3): Keylor Navas (Levante UD); Mehdi Benatia (AS Roma), Miranda (Atlético de Madrid) e Pepe (Real Madrid CF); Stephan Lichtsteiner (Juventus FC), Radja Nainggolan (AS Roma), Ander Herrera (Athletic Bilbao) e Giovani dos Santos (Villarreal CF); Domenico Berardi (US Sassuolo), Adam Johnson (Sunderland AFC) e Fernando Llorente (Juventus FC).

Topo: Eusébio da Silva Ferreira. O país viu partir no passado dia 5 de janeiro uma das maiores figuras do desporto nacional. O “Pantera Negra” representou enquanto futebolista profissional o CD Maxaquene (1958-1960), SL Benfica (1960-1975), Boston Minutemen (1975), CF Monterrey (1975-1976), Toronto Blizzard (1976), SC Beira-Mar (1976-1977), Las Vegas Quicksilvers (1977), União de Tomar (1977-1978) e New Jersey Americans (1978). Numa careira recheada de êxitos coletivos e individuais, o ex-internacional português destacou-se no campeonato do mundo de 1966 (o primeiro de sempre disputado pela seleção das quinas), aliando o terceiro lugar alcançado ao troféu de melhor marcador da competição (nove golos apontados em seis jogos). De realçar ainda a conquista da Taça dos Campeões Europeus (1961-1962), de onze campeonatos nacionais e de cinco Taças de Portugal. Pelo seu país registou 64 internacionalizações e 41 golos marcados. Já pelo clube do seu coração, foram 638 tentos em 614 encontros. Números verdadeiramente fantásticos e que atestam a enorme qualidade deste jogador nascido em Lourenço Marques, em Moçambique. A sua capacidade para superar as adversidades era uma das suas grandes virtudes, além do seu carácter simples, humilde e ambicioso. As cerimónias fúnebres, bem como todo o seu envolvimento (o elevado espírito de fair-play dos mais diretos rivais, as várias manifestações de antigos jogadores, pessoas anónimas e representantes de todos os quadrantes da sociedade portuguesa, etc.) , serviram para demonstrar o grande respeito e agradecimento que o povo luso nutria por Eusébio. Indubitavelmente, o “King” deixa um enorme legado a um país que cada vez mais necessita de referências e grandes figuras para continuar a elevar o nome de Portugal além-fronteiras e ultrapassar toda esta conjuntura económica, financeira e social em que vivemos. Por isso, um lugar reservado no Panteão Nacional é uma homenagem mais do que merecida e uma recompensa que está ao alcance de poucos, apenas daqueles que permanecem imortais para a eternidade. 

Fundo: Massimiliano Allegri. Com meia época cumprida, o AC Milan anunciou esta segunda feira a rescisão de contrato com o técnico italiano de 46 anos. De resto, um anúncio já esperado há algum tempo, em virtude dos maus resultados alcançados pelos rossoneros. A derrota por 4-3 frente ao Sassuolo no fim de semana passado parece ter acelerado o processo, depois de há algumas semanas a esta parte ter surgido um anúncio oficial por parte do clube a comunicar a saída do treinador no final da presente temporada. As estatísticas não enganam: após o final da primeira volta na Serie A, o clube milanês ocupa a décima primeira posição, com 22 pontos conquistados, estando já a trinta pontos do primeiro classificado (Juventus FC). Os únicos resultados positivos parecem cingir-se à qualificação para os oitavos de final da UEFA Champions League (defrontará o Atlético de Madrid). Allegri entrou para o cargo de treinador do AC Milan no início da época 2010/11, sucedendo na altura ao brasileiro Leonardo. A primeira época ficou marcada pela conquista da liga e da supertaça italiana. Daí para a frente, um segundo (2011/12) e um terceiro (2012/13) lugares no campeonato transalpino. Em termos externos, a campanha mais bem sucedida foi a de 2011/12, na qual a turma milanesa foi eliminada pelo FC Barcelona nos quartos de final. Algo que, apesar de ser manifestamente pouco para um clube da dimensão do AC Milan, acaba por se compreender. Os lombardos não têm apostado fortemente no mercado e o resultado está à vista. Depois, Allegri nunca foi o treinador favorito de Silvio Berlusconi, o proprietário do clube. Claramente, depois do auge com Arrigo Sacchi, este é o pior AC Milan dos últimos anos. Entretanto, Clarence Seedorf colocou um ponto final na sua carreira de futebolista profissional, abandonou o Botafogo (abdicando dos seis meses que ainda lhe restavam no seu contrato) e anunciou que ocupará o lugar disponível no comando dos rossoneros. Um tema certamente a merecer mais desenvolvimentos por parte do nosso blog futuramente.

Frase: «Portugal perdeu um dos seus filhos mais queridos, Eusébio da Silva Ferreira. Além de um enorme ídolo do futebol, era uma pessoa humilde e que se destacava também fora de campo. Deu alegria a milhões de pessoas. Em nome de Portugal, até sempre Eusébio” - Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa.

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: maisfutebol.iol.pt / foxsports.com.br / atelevisao.com /noticiasbr.com.br

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