22 de janeiro de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 14 e 20 de janeiro

O jogo da semana: Chelsea FC vs Manchester United FC (3-1)

Ficha de Jogo:

Estádio: Stamford Bridge, Londres
Árbitro: Phil Dowd
Marcadores: Samuel Eto'o 17', 45' e 49'; Javier Hernández 78'
Disciplina: David Luiz 19'; Ashley Young 35', Luis Antonio Valencia 55', Nemanja Vidić 90+1' e Rafael da Silva 90+5'

Chelsea FC: Petr Čech; Branislav Ivanović, Gary Cahill, John Terry (C) e César Azpilicueta; David Luiz, Ramires, Willian (Nemanja Matić 86’), Oscar (John Obi Mikel 68’) e Eden Hazard; Samuel Eto'o (Fernando Torres 79’)
Suplentes não utilizados: Mark Schwarzer, Ashley Cole, Frank Lampard e Juan Manuel Mata
Treinador: José Mourinho

Manchester United FC: David de Gea; Rafael da Silva, Nemanja Vidić (C), Jonny Evans e Patrice Evra (Chris Smalling 51’); Phil Jones, Michael Carrick, Luis Antonio Valencia, Adnan Januzaj e Ashley Young (Javier Hernández 56’); Danny Welbeck
Suplentes não utilizados: Anders Lindegaard, Tom Cleverley, Darren Fletcher, Ryan Giggs e Shinji Kagawa
Treinador: David Moyes

Análise & Destaques:


O Chelsea FC venceu na tarde de domingo passado o Manchester United FC por 3-1. Pressionados pelas vitórias no dia anterior de Arsenal e Manchester City, os blues realizaram uma exibição competente e destroçaram por completo o atual campeão inglês. Samuel Eto'o foi a grande figura do encontro, ao apontar um hat-trick em cerca de meia hora de jogo. A equipa londrina conseguiu então manter as distâncias para o primeiro e segundo classificados, aproveitando o deslize de Everton e Liverpool para ganhar mais margem em relação a esses dois opositores. Já os red devils estão a catorze pontos da liderança, continuando uma época marcada pela instabilidade e pela inconsistência. José Mourinho quebrou mais um recorde em Inglaterra, sendo o treinador que menos jogos necessitou para alcançar a vitória cem em jogos a contar para a Barlcays Premier League, mantendo simultaneamente o registo de nunca ter perdido um jogo para a liga inglesa  em casa ao longo de três temporadas inteiras, mais dois meses da época 2007/08 e o que já se jogou da atual temporada. 

Focando no jogo em si, a primeira parte iniciou com um Manchester United ofensivo, à procura de chegar ao golo cedo para estabilizar em termos emocionais. Desde cedo se percebeu que Januzaj ocuparia o corredor central, enquanto Young e Valencia estariam respetivamente nas faixas esquerda e direita. Welbeck caía algumas vezes algumas vezes nas alas (para vir buscar jogo), sendo que o belga de origem albanesa assumia esporadicamente a frente de ataque. Uma curiosidade interessante de se notar (mas bastante recorrente, diga-se) consiste na utilização por parte dos dois treinadores de defesas centrais adaptados a médios mais defensivos (no caso, David Luiz e Phil Jones). Até a dobragem do primeiro quarto de hora, aquilo que se viu foi uma equipa com boa circulação de bola, pressão alta sobre a primeira fase de construção do adversário, com boas combinações entre os homens mais avançados no terreno e com algumas oportunidades para chegar à vantagem (nomeadamente por Welbeck). No entanto, os homens da casa foram paulatinamente equilibrando as incidências e começavam a visar a baliza forasteira. Numa das poucas jogadas objetivas em termos ofensivos, o Chelsea chegou à vantagem numa boa jogada individual de Eto'o. O camaronês ganhou um ressalto, driblou Phil Jones e rematou para o fundo das redes de De Gea. Um golo algo fortuito (a bola sofreu um desvio em Carrick antes de entrar), mas que premiava a eficácia ofensiva dos londrinos. Com o golo, o Chelsea controlou a partida, mantendo-se sempre bastante atento a uma ou outra investida do adversário, na tentativa de responder ao golo sofrido. Welbeck e Oscar tiveram boas oportunidades, mas ambos falharam no momento crucial. À saída para o descanso, Cahill (depois de excelente movimentação coletiva) descobriu Eto'o e este, dentro da grande área e sem qualquer marcação, finalizou para o segundo da sua conta pessoal. 

O jogo retomou tal como tinha terminado antes do intervalo. O Chelsea voltou a chegar com perigo à área contrária e, na sequência de um pontapé de canto, Samuel Eto'o (quem mais poderia ser?!) batia mais uma vez David de Gea (ficou mal na fotografia o guardião espanhol), arrumando praticamente com as contas do jogo. Em sensivelmente cinquenta minutos, o ponta de lança fazia três golos, tantos como aquele que tinha faturado anteriormente em onze participações para a Barclays Premier League. Foi o primeiro hat-trick do camaronês nesta sua passagem pelo futebol britânico. Este lance de bola parada serviu para demonstrar as enormes debilidades defensivas que imperam nos red devils. O Chelsea continuava a controlar as operações, até que David Moyes resolveu mexer. Smalling e Chicharito renderam respetivamente Evra e Young e o United reagiu. Na prática, o 4-2-3-1 (ou, se preferirem, 4-4-1-1) com que a equipa vermelha iniciou o encontro manteve-se inalterável, deslocando-se Januzaj para a extrema esquerda e Welbeck surgindo como apoio ao ponta de lança mexicano. Depois de uma finta bem sucedida de Čech sobre Hernández, este último acabou mesmo por reduzir a diferença, desviando uma bola ao segundo poste. O atual campeão inglês empreendeu alguma pressão junto da zona defensiva blue (sobretudo por intermédio do irrequieto Januzaj), mas sem grandes efeitos práticos. Mourinho promoveu o regresso de Matić a quatro minutos do fim e o sérvio ajudou a intercetar algumas bolas. Já dentro do tempo de compensação, outro sérvio, o central Nemanja Vidić, foi expulso depois de uma entrada algo dura e escusada sobre Eden Hazard.

Chelsea FC: vitória tática de Mourinho sobre Moyes.  Cahill e Terry estiveram muito bem no eixo defensivo, com destaque para o rejuvenescimento do capitão. Ramires demonstrou resistência e capacidade de trabalho. Os três médios que apoiam o ataque tiveram uma tarde inspirada, principalmente Hazard (pela sua irreverência e capacidade de partir para cima dos adversários, criando desequilíbrios) e Willian. De resto, o internacional brasileiro parece ter relegado de vez Juan Mata para o banco. Esta formação de Mourinho pede extremos que ajudem os laterais no momento de organização defensiva. E porque Willian talvez esteja mais talhado para esse estilo de futebol, Mourinho tem optado pelo ex-Anzhi. Nota ainda para David Luiz que, atuando sempre mais recuado que o seu compatriota Ramires, pôs intensidade e agressividade em cada disputa de bola, revelando bons pormenores em termos das recuperações de bola e do início do processo de construção. O técnico luso parece ter encontrado a fórmula certa, mantendo o esquema que já é proveniente das últimas temporadas (o tradicional 4-2-3-1). Veremos se a entrada de Matić irá alterar alguma coisa em termos de modelo de jogo. É que quando o antigo jogador do SL Benfica entrou em campo, a equipa mudou para 4-3-3, com Ramires a descair para a ala direita e David Luiz a atuar nas costas da dupla Matić-Obi Mikel.

Manchester United FC: Moyes continua sem ganhar a Mourinho. Focando na própria equipa de Manchester, o futebol apresentado tem sido muito previsível, pouco prático, nada objetivo e ineficaz por sinal. Aliás, as escolhas do escocês têm sido caracterizadas por muitas cautelas e conservadorismo. Esta derrota (a nona em toda a temporada) justifica-se pelos graves erros defensivos demonstrados, bem como pela falta de soluções para alterar um cenário desfavorável. É certo que Fellaini, Nani, Rooney e van Persie eram cartas fora do baralho para este encontro, mas não há dúvida que o treinador escocês decidiu mal. Januzaj (apesar de ser um dos que mais tentou remar contra a maré) deveria ter começado na esquerda. Os últimos jogos têm demonstrado isso mesmo. E veja-se que o belga assumiu em alguns momentos da partida o papel de homem mais ofensiva do conjunto encarnado. O próprio Kagawa poderia ter assumido a posição de médio ofensivo centro, depois de uma grande exibição frente ao Swansea City, na jornada anterior. E, provavelmente, uma das razões que está a originar esta má temporada da equipa de Old Trafford é também a insistência em colocar jogadores em posições que não são as suas preferidas. 

Destaque: Nemanja Matić. O clássico em pleno Estádio da Luz marcou a despedida do médio dos adeptos benfiquistas e do futebol português. Matić chegou ao SL Benfica no verão de 2011, por empréstimo do Chelsea. De resto, esta aquisição esteve envolvida no negócio da transferência de David Luiz para Stamford Bridge nesse mesmo ano. O internacional sérvio disputou noventa e nove partidas pelas águias, tendo apontado nove golos. Em termos de títulos, o seu palmarés é algo curto para as duas épocas e meia em que jogou com a camisola do SL Benfica: uma Taça da Liga, em 2011/12.  Os valores desta transação rondaram os vinte e cinco milhões de euros, um negócio muito positivo para o clube de Roman Abramovich, já que a cláusula de rescisão estava fixada nos cinquenta milhões de euros. Depois, atualmente é cada vez mais difícil encontrar no futebol europeu um jogador com estas características por um preço bastante acessível. Consta que o jogador terá forçado a saída, ciente da oportunidade que o clube que em 2009 o tinha adquirido aos eslovacos do MFK Kosice lhe oferecia. O contrato será válido por cinco épocas e meia, sendo que, como já foi referido neste artigo, Matić (re)estreou-se no passado domingo pelos blues, na vitória frente ao Manchester United, entrando a quatro minutos do fim. 

É legítimo considerar a venda de um jogador deste calibre ("o melhor médio defensivo do mundo", segundo Jorge Jesus) por metade do passe como um autêntico tiro nos próprios pés e nas aspirações dos encarnados esta temporada. Estão em causa não só os valores envolvidos, como também o momento da época e... os efeitos que poderão afetar de forma positiva o rival nortenho. Como é que, perante estas declarações do treinador encarando, a SAD decide vender um dos seus principais ativos nas condições referidas? Dada toda a conjuntura do campeonato nacional, a baixa produtividade dos azuis e brancos e a recente vitória do SL Benfica, que permitiu alcançar a liderança de forma isolada da Liga ZON Sagres, quais as razões para se tomar decisões como esta? Veremos como Jesus irá compor o meio campo para esta segunda metade da temporada. Fejsa e Ruben Amorim são os principais candidatos a esta vaga deixada pelo sérvio. Todos reconhecemos a capacidade que o técnico encarnado tem de extrair o máximo dos seus jogadores. Será que esta prática vai voltar a surtir os efeitos desejados? Uma última nota a retirar de todo este processo. Matić tinha renovado há praticamente um ano atrás o seu contrato com o SL Benfica até 2018, passando a cláusula de rescisão de vinte para quarenta e cinco milhões de euros, ou seja, mais vinte e cinco milhões do que o vínculo anterior, que terminava em junho de 2015. Meses mais tarde, em maio, Luís Filipe Vieira decidiu aumentar o valor desta mesma cláusula, ascendendo-a aos cinquenta milhões de euros. Moral da história: o clube lisboeta em nada lucrou com estas renovações de contrato, aumentos de valores de blindagem, etc. Dá que pensar.

Equipa da semana (4-4-2): Bertrand Laquait (Évian Thonon Gailard FC); César Azpilicueta (Chelsea FC), Gary Cahill (Chelsea FC), Thiago Silva (PSG) e Layvin Kurzawa (AS Monaco FC); Robert Snodgrass (Norwich City FC), Yohan Cabaye (Newcastle United FC), Arturo Vidal (Juventus FC) e Santi Cazorla (Arsenal FC); Alessandro Matri (ACF Fiorentina) e Samuel Eto'o (Chelsea FC)

Topo: ACF Fiorentina. A equipa viola tem subido progressivamente de produção. Este fim de semana foi até à ilha de Sicília derrotar o Catania Calcio, último classificado da Serie A, por três 3-0. Mais do que esse triunfo, há algumas notas a sublinhar. Primeiramente, o guarda redes brasileiro Neto já não sofre golos para a liga italiana desde a derrota com a AS Roma no início de dezembro. Este fim de semana quebrou um recorde de 498 minutos sem sofrer qualquer golo, superando os 481' que Sébastien Frey tinha estabelecido anteriormente e entrando diretamente na história do clube viola. Depois, Alessandro Matri (chegou recentemente por empréstimo do AC Milan) estreou-se da melhor maneira: em quarenta e cinco minutos, marcou dois golos e fazendo uma assistência para outro. Em meia parte conseguiu fazer mais golos do que em quinze participações pelo clube milanês na primeira metade de 2013/14 (contando só os jogos para o campeonato interno)! Um início prometedor nesta sua nova etapa. Ainda dentro do plano mais ofensivo, Mario Gómez está perto do seu regresso aos relvados (estima-se já durante o decorrer do próximo mês), enquanto Giuseppe Rossi não jogará mais esta temporada, hipotecando igualmente as esperanças que tinha em conseguir um lugar na squadra azzurra para o Mundial 2014. Portanto, houve algum critério e inteligência na contratação do jogador que já passou por Cagliari e Juventus. A equipa de Vincenzo Montella está bem e recomenda-se. As derrotas de Internazionale Milano e Hellas Verona fizeram com que o quarto posto ficasse cada vez mais consolidado. E, ao aproveitar o deslize do SSC Napoli em Bolonha, o clube do ex-sportinguista Matías Fernández já está só a três pontos do terceiro posto da tabela classificativa. Além disso, esta turma está nos quartos de final da Coppa Italia e tem grandes perspetivas de passar os oitavos de final da UEFA Europa League (defrontará os dinamarqueses do Esbjerg fB). Em termos de mercado de inverno, para além do já referenciado Matri, chegaram também o guardião Antonio Rossati (por empréstimo do SSC Napoli) e Anderson, um jogador proveniente do Manchester United (em regime de empréstimo até ao final da época corrente), bastante conhecido em termos de futebol português. Montella tem dirigido muito bem uma equipa que gosta de futebol ofensivo, atrativo e que encara cada jogo de forma destemida e séria. Será que esta época teremos finalmente a ACF Fiorentina de volta à liga milionária, depois da perda no último suspiro do terceiro lugar para o AC Milan em 2012/13

Fundo: PSV Eindhoven. Já em dezembro tínhamos refletido sobre a equipa de Philipp Cocu (ver artigo aqui) e a situação parece continuar na mesma. No fim de semana passado os Boeren deslocara-se à capital holandesa e perderam com o AFC Ajax pela margem mínima. O internacional islandês Kolbeinn Sigthórsson foi o autor do único tento que colocou a formação de Eindhoven no oitavo lugar, por troca com o AZ Alkmaar. Já são catorze os pontos que separam esta coletividade do primeiro posto. E sete os pontos que a separam da linha de água. O PSV terminou 2013 com duas vitórias, mas esta derrota a iniciar o novo ano em termos de Eredivisie provou que há alguma falta de qualidade na equipa encarnada. A paragem de inverno trouxe como única contratação o costa-riquenho Bryan Ruiz (emprestado pelo Fulham), sendo que Toivonen fez o caminho inverso e rumou à Ligue 1. Haverá resposta à altura do historial do clube até ao final da época?

Frase: "Futebol português não merece os árbitros que tem" - árbitro profissional na reação às várias críticas decorrentes do clássico entre SL Benfica e FC Porto

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: dailymail.co.uk / nemanjamatic.blogspot.com /goal.com / niewsmeldingen.nl

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