A La Liga é
talvez a competição europeia interna que apresenta maior qualidade individual
na forma do Real Madrid e Barcelona, as duas coletividades que regularmente
ocupam os dois primeiros postos desta liga (o Atlético de Madrid despoletou
este ano e baralhou um pouco as contas na luta pelo top3). Contudo, o bom
desempenho ibérico não se cinge a estes três clubes e alargou-se a equipas como
Sevilha (duas Ligas Europa) e o tema deste artigo: o momento da equipa do Athletic Club de
Bilbao, que logrou a final da competição atrás referida com Marcelo Bielsa no
comando técnico e, após um 12º lugar na época transata que ditou a saída deste
técnico argentino, a direção do clube basco apostou num homem espanhol e num
velho conhecido deste emblema (já o treinou entre 2003 e 2005), de nome Ernesto
Valverde. Apesar de algumas saídas de figuras proeminentes do plantel (o
avançado e melhor marcador da equipa Fernando Llorente para a Juventus FC e o
defesa venezuelano Fernando Amorebieta para o Fulham FC). Um clube que se destaca pela sua
particular identidade de ser composta exclusivamente por elementos nascidos na
zona da Navarra ou com formação no clube de Bilbao, o Athletic apresenta-se num
4º posto na La Liga, que lhe permite, desafogadamente (6 pontos de vantagem sobre o 5º Sevilha), sonhar
com uma presença na fase de grupos no novo modelo da Liga dos Campeões
(exigindo-se apenas passar um playoff de admissão e, mesmo sendo eliminado,
garante a presença na fase de grupos da Liga Europa). O que se segue é uma
análise detalhada à época deste peculiar clube e do respetivo plantel.
Investindo 15 milhões de euros, o Athletic
apostou sobretudo em reforçar-se com elementos nativos da Navarra que dispunham
de alguma experiência na La Liga, complementando-os com os mais recentes
produtos da cantera basca e os objetivos consistiam num registo digno na Copa
del Rey e na obtenção da tranquilidade na La Liga e, consequentemente, pensar
num lugar europeu. Todavia, a
tranquilidade foi encontrada mais cedo que o previsto após um “annus
horribilis” e o posto que permitia a qualificação europeia foi sendo mantida ao
longo da temporada, cavando uma diferença considerável face às restantes
equipas à procura do playoff da Liga dos Campeões. Três vitórias, um empate e
três derrotas a iniciar a temporada permitiram um seguro 6º posto (sendo todas
as derrotas fora) e prometiam algo diferente da pretérita época, acabando as
expectativas por serem cumpridas. De seguida, a equipa de Ernesto Valverde
conseguiu alcançar o 4º lugar com cinco vitórias, dois empates e uma derrota
(diante do carrasco dos quartos-de-final da Copa del Rey e líder do campeonato
Atlético de Madrid). Com alguns resultados mais inconsistentes (empate fora
diante do concorrente direto Sevilha, vitória por 2-1 face ao Rayo Vallecano e
derrota fora contra o europeu Real Sociedad), o real poder do caudal ofensivo
basco estava para ser demonstrado com três vitórias consecutivas por números
largos (6-1 contra o Almería e 4-2 contra o Real Valladolid e, na deslocação a
Pamplona, 5-1 diante do Osasuna). Contudo, mais recentemente, apenas duas
vitórias em nove encontros sobressaltam os adeptos do clube da Navarra, que
podem beneficiar da presença do Sevilha nos quartos-de-final da Liga Europa
para recuperar e cimentar a sua presença na quarta posição, sendo o mérito do
técnico Ernesto Valverde inegável após saídas do núcleo duro do plantel e da
campanha até à final da Liga Europa de 2011/2012.
Com 52 golos marcados e 32 sofridos (os
mesmos que Real Madrid), a equipa normalmente assenta numa formação 4x2x3x1 e conta
com uma linha defensiva com processos bem rotinados e consubstanciada por um
guarda-redes de qualidade e com anos de casa (Gorka Iraizoz), sendo os laterais
normalmente Mikel Balenziaga e o experiente Andoni Iraola (com mais de 300
jogos oficiais pelo Athletic) e os centrais por dois jovens com experiência em
seleções de camadas jovens, com eles a serem o ex-Liverpool Mikel San José e a
promessa francesa Aymeric Laporte e não se coibindo com a precoce idade, dando
garantias nas mais recentes partidas. O meio-campo conta com dois pivots, sendo
eles por norma Ander Iturraspe e o capitão Carlos Gurpegi e com uma solução de
recurso (Mikel Rico) também bastante capaz) e faz-se constituir por um trio
mais ofensivo onde pontificam o jovem promissor Ander Herrera como um 8-10,
construindo o fluxo ofensivo e guarnecendo o avançado de boas oportunidades e
os flancos a serem ocupados pela estrela da equipa basca Iker Muniain, já muito
cobiçado pelos grandes clubes do continente europeu, e Óscar De Marcos, que, apesar
dos seus 23 anos, apresenta regularidade e experiência bastante valiosas,
aliando a estas aptidões golos decisivos; sendo também as soluções de banco
para estes lugares ativos importantes, com Markel Susaeta a ser um dos inúmeros
produtos da cantera do clube de Navarra a firmar-se no plantel principal. O
ataque possui dois avançados bastante profícuos, sendo eles Ibaí Gómez (8 golos
em 6 jogos) e Aritz Aduriz (6 em 16).
Numa época de
ressurgimento do Athletic Club de Bilbao aos lugares cimeiros da La Liga, o técnico
Ernesto Valverde tem sido o tónico essencial para a revalorização do plantel,
que voltou a reencontrar-se e, mesmo ressentindo-se inicialmente de perdas
pertinentes, voltou a ser uma equipa abnegada, de simples processos e com a
chave da equipa a ser a coesão intra-setores e a garra caraterizadora do clube
basco nas passadas épocas. Com isto, o Athletic, baseado na política de
formação e numa direção sólida, possui as ferramentas necessárias para voltar a
ser uma equipa frequentemente imiscuída em compromissos europeus e discutir a
Copa del Rey com mais argumentos e pode mesmo chegar à fase de grupos da Liga
dos Campeões.
Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / insidespanishfootball.com / imagenes.fichajes.net