28 de agosto de 2014

Serie A 2014/15: o remar contra a obsoleta maré do Catenaccio

   Com a maioria dos campeonatos do Velho Continente a já terem arrancado, a primeira liga italiana, também conhecida como Calcio ou Serie A, será iniciada no último fim-de-semana de Agosto e com o habitual formato de vinte formações que se debatem em trinta e oito partidas. Com a Juventus FC a ser a grande favorita para dar seguimento ao seu tricampeonato e consolidar um recorde, a AS Roma e o SSC Napoli aprumaram-se tanto em quantidade como em qualidade individual e coletiva e prometem ser fortes ameaças ao trono dos "bianconeri". Com a ACF Fiorentina (com Mário Gómez pronto a exibir em pleno todos os predicados de goleador que lhe moldaram a carreira) e as formações milanesas FC Internazionale Milano e AC Milan destinadas a competir por um lugar europeu, não estarão isoladas pois tanto o Parma FC como a SS Lazio e o Torino FC se mostram com argumentos de vulto para animar uma competição que tem sido vista em quebra, com a fraca competitividade pelo primeiro lugar e pelos desempenhos menos assinaláveis num panorama europeu a comprovarem esta teoria e a urgir uma mudança de paradigma do estilo futebolístico imposto pela velha escola transalpina.

  Começando por uma análise pormenorizada do defeso de cada formação, saluta-se primeiramente a tricampeã Juventus FC, que sofreu uma debandada no comando técnico, com o herói da casa Antonio Conte a não acordar com a direção na política de contratações e a dar lugar ao fortemente contestado Massimiliano Allegri, ex-técnico e campeão pelo AC Milan na época de 2010/2011. Mantendo-se como a grande favorita para arrecadar o campeonato e, por conseguinte, o inédito tetra nos pergaminhos do clube por manter a base da equipa da temporada transata e por reforçar cirurgicamente algumas posições que careciam de menos soluções, como com o lateral esquerdo Patrice Evra, os médios Rômulo e Roberto Pereyra ou o avançado espanhol Alvaro Morata. Discutindo-se ainda mais entradas, outro dos objetivos desta campanha trata-se de um registo mais condizente com o historial dos turinenses na Liga dos Campeões.

   Numa segunda linha, seguem-se os restantes declarados candidatos ao título, com as equipas da AS Roma e SSC Napoli. A primeira, treinada pelo francês Rudi Garcia, mostrou surpreendentes níveis de consistência na temporada passada, acrescentou soluções ao plantel, tanto irreverentes (Juan Manuel Iturbe, estrela no Hellas Verona) como experientes (Ashley Cole ou Seydou Keita) e manteve as pedras basilares do êxito da campanha transata, tendo mais argumentos para a disputa vindoura. Quanto à formação do sul de Itália, o treinador Rafael Benítez possui um leque de ótimas individualidades mas que foi adquirindo processos coletivos consoante a época passada ia decorrendo, apesar de conquistar a Coppa Italia à Fiorentina. A ameaça proveniente desta equipa intensificar-se-à na problemática relativa ao título, apesar de ressentida com as saídas de Valon Behrami ou Pablo Armero.

   Nos lugares relativos à qualificação para os lugares europeus, podemos integrar clubes como os eternos rivais de Milão, FC Internazionale Milano e AC Milan, Parma FC, TorinoFC , ACF Fiorentina ou SS Lazio. A equipa do AC Milan não garantiu a presença nas competições europeias na passada temporada e foi vítima de uma remodelação ao nível da equipa sénior. Saiu Clarence Seedorf e entrou outro menino pródigo da casa dos rossoneri para o leme de uma estrutura com muitas caras novas, como Jérémy Ménez, Pablo Armero ou o campeão europeu Diego López. Quanto ao Inter, que já iniciou a sua época oficial na Liga Europa à semelhança do Torino, conseguiu dotar, a partir do técnico Walter Mazzari, o seu plantel de mais soluções, como o ingresso de Nemanja Vidic, de Daniel Osvaldo e outros elementos que, maioritariamente, figuraram como destaques da Serie A. A Fiorentina garantiu um posto na fase de grupos da Liga Europa após um campeonato algo oscilante mas cumprido, com Vincenzo Montella a estrear-se no comando de uma equipa profissional e a manter-se. Com Mario Gomez desta vez na máxima força e a querer prolongar o seu pecúlio goleador, a formação viola conseguiu uma pré-época praticamente imaculada e com vários registos interessantes diante de equipas de qualidade.

  Partido um pouco atrás das formações acima expostas, o Torino, que beneficiou da desqualificação do Parma da Liga Europa por incumprimento de prazos no pagamento de taxas, ingressou nesta e reforçou-se com elementos de larga experiência no futebol italiano como Cristian Molinaro, Antonio Nocerino ou Fabio Quagliarella, terá uma palavra séria a dizer no que toca a estes postos, com o veteraníssimo Giampiero Ventura a guiar esta equipa. O Parma, do central português Pedro Mendes, parte com um plantel pouco mexido neste defeso e será outra formação a ter em conta, assim como a Lazio, de Bruno Pereirinha, que conta com uma equipa matura e disponível para estas andanças, apesar do currículo do novo técnico Stefano Pioli deixar algo a desejar.

   Quanto às contas da permanência e com a Udinese do virtuoso Bruno Fernandes e do veterano Di Natale (treinados agora pelo italiano Stramaccioni), o Hellas Verona de Luca Toni e o Genoa um patamar acima das restantes; existem várias formações que vão animar a luta por estes lugares, relembrando que Livorno, Bolonha e Catania foram despromovidos ao inverso do Palermo, do Empoli e do Cesena e afigurando-se as formações do Chievo de Verona, do Cagliari, do Empoli e do Cesena como as mais propícias a acabarem na Serie B em Maio. Destacam-se algumas individualidades nas coletividades que se englobam nesta questão, como Domenico Berardi do Sassuolo a afirmar-se como um caso sério no ataque e afigurando-se como uma futura mais-valia na Squadra Azzurra ou o experiente Francesco Tavano, de 35 anos, que foi crucial na promoção do Empoli com 17 golos.

   Sistematizando, a Serie A dispõe de três grandes focos de interesse: a luta pelo título entre Juventus FC, AS Roma e SSC Napoli; o embate para a conquista dos lugares europeus entre FC Internazionale Milano, AC Milan, SS Lazio, Torino FC, ACF Fiorentina e Parma FC; e a fuga à despromoção à Serie B, com as restantes formações excluindo talvez a Udinese Calcio, o Hellas Verona FC e o Genoa CFC a fazerem parte do lote de integrantes nesta luta. Apesar de uma nova geração de treinadores emergir, as reformulações necessárias para se atingir voos outrora tangíveis a nível continental tardam em surgir, com ideias expostas ainda de forma tímida em equipas como a Fiorentina ou o Nápoles, que tentam jogar um futebol de posse, atrativo e com golo. Com a Juventus FC a ser ainda a única potência capaz de tanto dominar a nível nacional como imiscuir-se na competição por êxitos europeus, as teorias enraizadas da década de 90 vindas dos apologistas do Catenaccio ainda estão bem vincadas e a evolução, apesar de contar com algumas iniciativas, ainda requer alguma consistência e tempo para ser definitivamente estabelecida e sedimentada. Até lá, algumas faíscas vão iluminando um futebol ainda obsoleto e sem grandes noções práticas de ataque continuado, organizado e dinâmico.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: sportefun.com / ansa.it / goal.com / forzaitalianfootball.com

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