Esta
semana todas as atenções estiveram concentradas na Seleção Nacional. Se nos AA’s
o destaque vai para Paulo Bento já não ser o selecionador nacional, nos sub-21
Portugal qualificou-se para o playoff
de apuramento para a fase de grupos do Europeu de 2015 que se irá realizar na República Checa (e
neste caso o playoff é mesmo o melhor
que se pode atingir), realizando uma campanha 100% vitoriosa. Fomos a única
seleção que apenas conheceu o doce sabor da vitória em 8 jogos realizados, o
que por si só muito diz acerca do trabalho que Rui Jorge tem vindo a realizar
com as esperanças lusas. É necessário recuar até ao ano de 2006 para
encontrarmos semelhante percurso, tendo sido alcançado apenas pela segunda vez
no historial da categoria.
Começando
pela saída de Paulo Bento foi por mim encarada como uma inevitabilidade que
apenas pecou por tardia. À imagem de outros selecionadores cujas seleções
desiludiram no Mundial do Brasil, Paulo Bento deveria ter saído logo ali. Há
cerca de quatro anos, em outubro de 2010, este estreou-se como novo timoneiro
da seleção das quinas. Ganhámos à Dinamarca por 3-1 no Estádio do Dragão. Recordo
que vínhamos de um vexatório empate caseiro ante o Chipre (4-4!) e uma derrota
na Noruega (0-1). Nos jogos que se seguiram sentiu-se aquele hype do novo selecionador nos jogadores
e no público que voltou a apoiar em massa a nossa seleção. Lá nos conseguimos
apurar novamente recorrendo ao playoff
e mais uma vez ultrapassamos a Bósnia-Herzegovina. Conseguido o passaporte para
a Polónia e a Ucrânia, fizemos uma fase final de Europeu brilhante em 2012. Apenas
caímos nas meias-finais perante a então toda poderosa Espanha, que viria a vencer
o certame, e apenas através da conversão de pontapés da marca de grandes
penalidades. A partir daí a qualidade exibicional apresentada foi sempre decaindo.
Na qualificação para o Mundial do Brasil tivemos muitas dificuldades num grupo
que estaria sempre ao nosso alcance e, repetindo a sina das recentes
qualificações, foi necessário um novo playoff
de apuramento. Valeu-nos um capitão em grande forma. Ronaldo quase carregando
um país às costas levou-nos ao Brasil. Porém, ainda antes de lá chegarmos, já
se pressentia que algo ia correr mal. Enquanto outras seleções já estagiavam no
local, treinando para suportar o intenso calor e a humidade previstas, a nossa
passeava em festas no Jamor e em rumaria por terras do Tio Sam. Um péssimo
planeamento – aqui apontam-se responsabilidades sobretudo à FPF – ditou uma
prestação sofrível da nossa seleção. Derrotados com estrondo na estreia com a
Alemanha por 4-0 e depois com… os Estados Unidos da América (ironia do
destino).
Viemos
mais cedo que o esperado para casa. Ficamos muito aquém das expectativas numa
competição onde para além da incompetência revelada a nível da preparação e dos
métodos de treino (Portugal nunca conseguiu adaptar-se às condições
atmosféricas e climatéricas nem ao fuso horário que variava conforme as
partidas) e das más exibições, os jogadores apresentaram uma estranha apetência
para as lesões. Por incrível que pareça os três guarda-redes convocados tiveram
tempo de jogo e este não foi concedido meramente por opção técnica. Saímos sem
honra nem glória, muito se falou na necessidade de repensar a Seleção Nacional,
de a renovar, inclusive foi muito badalado na praça pública o exemplo da nova
campeã mundial, a Alemanha, que em 2000 bateu no fundo e posteriormente os
dirigentes federativos fizeram uma renovação estrutural que agora começa a dar
frutos.
O
que aconteceu? Passamos a ter uma nova equipa médica. Henrique Jones foi
afastado e Carlos Noronha, o ortopedista que em janeiro operou Radamel Falcao passou
a dirigir a recém criada unidade de saúde e performance da federação. Foi
criado igualmente um gabinete técnico para as seleções nacionais coordenado por
Paulo Bento, que assim estaria mais próximo da formação, do qual também faziam
parte Rui Jorge, selecionador dos sub-21 e Ilídio Vale, selecionador dos sub-20
que levou, em 2011, a seleção à final do Mundial da categoria.
No
primeiro jogo após a desilusão que foi a participação portuguesa no Brasil e
depois de tanto se falar numa renovação da Seleção Nacional, Paulo Bento apenas
apresentou uma cara nova no onze inicial contra a congénere albanesa, André
Gomes. Numa partida que se pensava ser um ponto de viragem rumo a um futuro
mais risonho, eis que a Albânia venceu Portugal por 0-1. E o pior de tudo nem
foi o resultado, que foi histórico e talvez a maior humilhação sofrida pela
seleção nacional. O pior foi a apatia, a falta de criatividade, o pouco brio
exibicional. Ronaldo, mesmo ausente devido a lesão, foi recordado. Era o ponto
final na ligação de Paulo Bento à Seleção Nacional e um terrível arranque da qualificação para o Europeu de 2016 em França.
Analisando
o percurso do selecionador à frente dos destinos da seleção das quinas,
ressalta também a sua teimosia em diversas convocatórias, a insistência em
determinados jogadores, os diversos casos disciplinares e afastamento de
atletas. Os casos mais flagrantes foram os de Ricardo Carvalho, Bosingwa e
Danny. Relativamente ao primeiro nome, considero ser quase unânime que aí Paulo
Bento agiu corretamente, em prol de todo o grupo e que o referido atleta nunca
mais poderá vestir a camisola das quinas. O seu comportamento de «desertor» foi
demasiado grave. Quanto aos restantes, custa a entender até porque nem foram dadas
muitas explicações a não ser que seriam «espectadores» dos jogos de Portugal.
Todas estas ocorrências foram desgastando a imagem pública de Bento. Não
conseguindo obter a consistência exibicional que se exige a uma seleção como a
nossa e também os resultados esperados acabou, naturalmente, por sair.
A
Seleção Nacional nunca poderá ser vista como uma equipa do treinador ou de um
qualquer empresário ou agente desportivo. A uma seleção devem ser chamados os
melhores no momento e não aqueles que, embora joguem pouco ou por terem um
determinado empresário ou por atuarem por determinado clube são sempre
convocados. Esta mentalidade é, a meu ver, errada, e urge ser modificada.
Quanto
aos potenciais sucessores, nos últimos dias têm sido insistentemente apontados
os nomes de Jesualdo Ferreira, Vítor Pereira, Fernando Santos e José Peseiro.
Todos eles têm em comum o facto de estarem livres, no entanto têm perfis
diferentes. Jesualdo Ferreira e Fernando Santos são treinadores já muito
experientes, nacional e internacionalmente, que contam no seu curriculum com passagens pelos chamados
três grandes do futebol nacional. Jesualdo foi tricampeão no FC Porto, Fernando
Santos ainda hoje é conhecido como o “Engenheiro do Penta” por ter conquistado,
ao serviço dos «dragões», um campeonato, a fechar uma série de cinco títulos
conseguidos pelo clube, tendo ainda alcançado, na Grécia, quase um estatuto divino
pelos resultados conseguidos tanto em clubes importantes como ao serviço da
seleção helénica. Ambos reúnem consenso. Porém, o segundo tem como handicap o facto de ter sido punido com
oito jogos de suspensão após a eliminação da Grécia nos oitavos de final do
último Mundial. Vítor Pereira foi bicampeão nacional ao serviço do FC Porto,
conquistou quase tudo quando era adjunto de André Villas-Boas no clube e tem
como principal pro o facto de destes
nomes, ser talvez o mais evoluído técnica e taticamente. Contra está ainda a sua pouca experiência como treinador principal,
sobretudo quando sendo aventado como hipótese para suceder a Paulo Bento que
antes de ser selecionador nacional tinha apenas treinado o Sporting CP. José
Peseiro é um treinador já com alguma experiência, tendo trabalhado,
inclusive, no Real Madrid. A nível interno destacam-se as suas passagens por CD
Nacional, Sporting CP e SC Braga. As suas equipas apresentam sempre um futebol
ofensivo, esteticamente agradável para os espectadores. Esse é um ponto forte.
Como ponto negativo está o facto de Peseiro ser muitas vezes apelidado de «pé
frio», de não ser um vencedor. Recorda-se a sua passagem pelo Sporting CP em
2005, na qual o clube de Alvalade foi derrotado em casa na final da Taça UEFA e
deixou escapar o título de campeão nacional ao ser derrotado pelo SL Benfica já
bem perto do final do campeonato. Lembra-se igualmente uma derrota na final da
Taça do Golfo em 2010 quando orientava a seleção da Arábia Saudita. Nesse jogo
o Kuwait venceu por 1-0 com um golo já perto do final do prolongamento. Todavia,
o mesmo treinador já viveu momentos felizes. Recordo a vitória do Sporting CP
na Holanda frente ao AZ Alkmaar com um golo “milagroso” de Miguel Garcia e que
valeu ao clube a passagem à histórica e inédita final da Taça UEFA. Foi também
José Peseiro que ao serviço do SC Braga conquistou a Taça da Liga, vencendo na
final o FC Porto naquele que foi o primeiro e até ao momento único título dos
«arsenalistas» na era António Salvador.
A
aposta num treinador estrangeiro, a acontecer, parece-me descabida de sentido.
Portugal é um dos maiores exportadores de treinadores do futebol contemporâneo.
A qualidade do treinador português é valorizada e apreciada a nível mundial.
Temos treinadores de elite de grande qualidade e que são muito cobiçados
internacionalmente. A título exemplificativo a atual edição da Liga dos
Campeões da UEFA, a maior montra do futebol mundial, contará com a participação
de seis treinadores portugueses. José Mourinho, André Villas-Boas, Paulo Sousa,
Leonardo Jardim, Jorge Jesus e Marco Silva são os representantes lusos, sendo
Portugal o país mais representado na competição a este nível.
Na
minha opinião e tendo em conta os nomes apontados e as últimas notícias via em
Jesualdo Ferreira a melhor solução para a Seleção Nacional. É um homem muito
experiente, com passagens por SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e SC Braga, os
chamados três grandes de Portugal e um clube que, também devido ao contributo
do professor, muito tem crescido nos últimos anos. Teve experiências no
estrangeiro, as mais recentes em Espanha, no Málaga, e na Grécia, com o Panathinaikos.
Apresenta um passado ao serviço das seleções jovens e é um excelente formador e
condutor de homens. Vivemos uma época em que uma geração que deu tanto ao
futebol português está a chegar ao fim. É necessária uma renovação num momento
em que, paulatinamente, temos vindo a assistir a um decréscimo da qualidade em
quantidade do jogador português. Neste aspeto o professor Jesualdo Ferreira,
com a sua experiência, qualidade e capacidade formativa, poderia dar um
contributo importante ao futuro da seleção das quinas.
É
o momento ideal para que também o grande público da seleção se consciencialize
que nos próximos anos o nível médio de Portugal vai baixar na mesma medida em
que tem baixado a qualidade do nosso campo de recrutamento, já curto e com
tendência para encurtar ainda mais. Num passado recente tivemos nomes como Rui
Costa, Pedro Pauleta, Nuno Gomes, Luís Figo, Deco, Fernando Couto, Jorge Costa, João Vieira Pinto, Simão Sabrosa, entre muitos outros. Atletas de gabarito internacional e com créditos firmados nos melhores
clubes da Europa. Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do Mundo, fez parte desse
lote e continua a fazer parte da nossa seleção. Porém, o nível dos atletas que
perfilam no onze inicial juntamente com o capitão está em decréscimo. Temos
Bruno Alves, Pepe, João Pereira, Raúl Meireles e Hélder Postiga, todos
habituais titulares, a entrarem no ocaso das suas carreiras. Patrício,
Coentrão, Moutinho e Nani são jogadores que juntamente com o capitão Ronaldo
irão fazer a ponte intergeracional. William Carvalho, que parece ir ganhando
estatuto na seleção, poderá ser um dos símbolos desta nova geração. Os mais
recentes resultados das nossas seleções jovens até têm sido positivos. No
escalão de sub-19 ainda à bem pouco tempo, fomos à final do Europeu da
categoria. Tal como destaquei inicialmente os sub-21 vão defrontar a Holanda no
playoff de acesso à fase final do
Europeu após uma campanha triunfal de oito jogos vitoriosos. O problema é a
continuidade, ou melhor, a falta dela, que é dada destes jovens jogadores.
Atualmente
o jovem internacional português, salvo raras exceções, não tem no principal
escalão do campeonato nacional espaço para a sua afirmação progressiva e
sustentável. Para este facto, do meu ponto de vista, contribuem
fundamentalmente três fatores: a pressão de ganhar existente nos principais
clubes, o facto de terem que ganhar num curto prazo leva a uma aposta noutros mercados
em jogadores já feitos; a pouca paciência dos adeptos, ávidos de conquistas não
dá muita margem aos jovens da formação até pela mentalidade que ainda perdura
de que «santos da casa não fazem milagres»; os empresários desde cedo “capturam”
os jovens talentos e muitas vezes, movidos por interesses estritamente
pessoais, levam os seus jogadores a abandonarem o país, aliciando-os com um
sonho de uma grande carreira e projeção a nível internacional, prometendo-lhes
mundos e fundos o que na maioria das vezes acaba por não acontecer.
É
verdade que a criação das equipas bês foi uma medida importante no sentido de
dar tempo de jogo a estes jovens. No entanto, nem todos os clubes têm
capacidade para manterem equipas secundárias e mesmo os que têm não resistem à contratação
de mais uma promessa estrangeira que irá retirar espaço a um jovem português,
da casa. Diga-se também que a continuidade de um jovem com potencial na segunda
liga nacional por demasiado tempo também não é benéfica para a sua afirmação no
panorama futebolístico.
Um
pouco à semelhança do que acontece noutros campeonatos deveriam criar-se
limitações para os extracomunitários de modo a, em condições normais, haver
mais espaço para o jovem jogador luso que atualmente encontra tempo de jogo em
campeonatos periféricos, menos apelativos e vistos, em países como a Polónia, a
Roménia ou o Chipre. Não quero com isto afirmar que não deveriam haver
futebolistas estrangeiros a atuar em Portugal. Pelo contrário, a limitação de
extracomunitários permitiria uma melhor seleção e uma escolha criteriosa no
mercado internacional, o que levaria ao recrutamento de melhores atletas, reais mais valias para as diversas equipas, que
assim projetariam ainda mais o nosso futebol além-fronteiras.
Atualmente
assiste-se à contratação em massa de jogadores de outras nacionalidades e
depois espera-se para «ver no que dá». Basta um ter efetivamente qualidade para
o investimento ser pago. É uma política que prejudica o produto nacional e é
também a saída mais fácil.
Na
nossa Primeira Liga de futebol há exceções como o Sporting CP e o Vitória SC
que ano após ano lançam jovens da formação na primeira equipa, mas este é um
fenómeno que se deve em boa parte às dificuldades económico-financeiras que ambos
os clubes atravessam. Em termos práticos esta aposta trouxe poucos títulos,
principalmente no que diz respeito aos «leões» que são um clube com uma maior
responsabilidade a esse nível. Esta ausência de conquistas da parte de um clube que aposta nos seus jovens pode contribuir para a retração e o desincentivo dessa mesma aposta da parte de clubes com as mesmas ambições que,
tendo estratégias diferentes, nomeadamente a aposta no mercado internacional
conseguem atingir os objetivos propostos.
É
urgente que a estrutura federativa que gere o futebol português tome mais
medidas no sentido de devolver aos jovens portugueses o seu espaço de
afirmação. Para bem do futuro da Seleção Nacional. Neste aspeto o novo
selecionador nacional terá, nas suas ações, uma importância fundamental.
Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: maisfutebol.iol.pt/diariodigital.sapo.pt
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