Reflexão: Decisão oficializada. Fernando Santos é o novo selecionador nacional, substituindo assim Paulo Bento no cargo deixado em vago após a derrota consentida frente à Albânia. Em conferência de imprensa realizada na sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes afirmou que Ilídio Vale, até então coordenador técnico das seleções de formação nacionais, irá assumir o cargo de treinador da "equipa das quinas" até que o castigo de oito jogos aplicado ao ex-selecionador da Grécia seja cumprido na totalidade. Numa clara distinção de posições, Santos será o selecionador. Porém, em termos práticos, a suspensão supracitada (cujo recurso foi rejeitado pelo Comité de Apelo da FIFA) só impede que o técnico natural de Lisboa se sente no banco em toda a fase de grupos de qualificação para o Europeu 2016, salvo uma decisão favorável por parte do Tribunal Arbitral do Desporto. Ricardo Santos, Fernando Justino e João Carlos Costa completam a restante equipa técnica. Aos cinquenta e nove anos o "engenheiro" alcança um feito que até então pertencia somente ao brasileiro Otto Glória: liderar os plantéis de SL Benfica, Sporting CP e FC Porto, bem como a seleção principal portuguesa.
Olhando para as alternativas lusas apontadas nos últimos dias (desde Manuel José a Vítor Pereira, passando por Jesualdo Ferreira ou Roberto Mancini), Fernando Santos parece ser a escolha mais natural e a que reúne maior preferência. Dotado de enorme experiência e competência, o treinador lisboeta evidenciou-se com o excelente trabalho protagonizado ao serviço da seleção grega nos últimos quatro anos. Apesar do futebol pouco atrativo (o leque de recursos disponíveis era escasso), Santos só averbou quatro derrotas em trinta jogos oficiais, apresentando igualmente um bom registo defensivo. De resto, conseguiu alcançar dois brilhantes resultados na perspetiva do futebol helénico: os quartos-de-final do Europeu 2012 (foi afastado pela Alemanha) e os oitavos-de-final do Mundial 2014 (caiu nas grandes penalidades frente à Costa Rica). Apesar de apresentar poucos títulos no seu currículo, a carreira de Santos demonstra trabalhos notáveis. Na Grécia ganhou o respeito dos adeptos, sendo eleito várias vezes o treinador do ano. Em Portugal passou pelos três grandes e, ineditamente, reuniu consenso por diversos motivos. A caminhada rumo ao Europeu de França começou da pior forma, mas o modelo de apuramento instituído para esta competição dificilmente deixará a comitiva portuguesa afastada. A missão está bem traçada mas o caminho será duro. A quantidade de opções de qualidade tem vindo a decrescer e aborda-se constantemente o conceito de renovação. Simultaneamente a exigência e a pressão de obter resultados com uma base composta na sua maioria por jogadores em fase descendente da carreira continuam em doses muito elevadas, muito por força dos feitos alcançados nos últimos anos. Posto isto, é necessário que a crítica especializada comece a entender a mudança que se tem verificado paulatinamente no futebol português. A realidade é simples: Portugal tem nesta altura uma boa equipa, mas que simplesmente não se pode assumir como candidato natural a ganhar alguma competição internacional no futuro a médio/longo prazo. Santos é o homem certo no lugar certo, dado que o seu currículo evidencia trabalhos que se pautaram pela organização e por uma preparação cuidada e eficaz (sobretudo quando esteve no comando dos helénicos). É preciso tempo para que o "engenheiro" possa formar um grupo estável que recupere níveis de confiança e premeie o elevado rendimento desportivo e a boa forma física em detrimento de jogadores com determinado estatuto e de suspeitos interesses externos que foram privilegiados durante o consulado de Bento. Veremos se Fernando Santos trará critério e coerência às convocatórias que irá elaborar (algo que não caracterizou muito o antigo selecionador), podendo aproveitar a reconciliação com a seleção de elementos como Danny, Manuel Fernandes ou Tiago, o excelente trabalho realizado por Rui Jorge e a ascensão de jovens no futebol europeu (casos de André Gomes ou Bruno Fernandes).
Quanto à estrutura, o 4-3-3 tem assentado de forma profunda no futebol português. Ao serviço da seleção grega Santos optou fundamentalmente pelo mesmo sistema, ainda que com pontuais variações para 4-4-2 losango (muito frequente aquando da sua passagem por Alvalade e Luz). Apesar disso, são visíveis as carências ao nível de um ponta-de-lança credível e de um criador, um 'número dez' como outrora foram Rui Costa ou Deco. O selecionador nacional poderá reformular levemente o modelo de jogo (e o próprio posicionamento de certos elementos no xadrez), por forma a esconder algumas lacunas defensivas e maximizar os pontos fortes. Para tal, uma das opções viáveis passaria pela deslocação de Cristiano Ronaldo da faixa para o eixo atacante (ainda que contra a sua vontade). O craque do Real Madrid CF não tem propensão para auxiliar as tarefas defensivas e no corredor central causaria cada vez mais problemas aos adversários. Para isso será necessário a criação de um modelo de jogo cujas dinâmicas permitam potenciar as qualidades exímias de CR7 no momento da finalização. Acima de tudo, o "engenheiro" formará um conjunto coeso e consciente das suas limitações, em que o coletivo será sempre maior do que a soma das individualidades. Por último, referir que a escolha tomada pela FPF quanto à contratação de um técnico de nacionalidade portuguesa é digna de registo. Portugal tornou-se no passado recente um autêntico país exportador de treinadores com muita qualidade. Prova desse atestado de competência são as presenças de três técnicos na fase final do Mundial 2014, bem como de seis na fase de grupos da UEFA Champions League 2014/15. A entrada de um técnico estrangeiro poderia facilmente romper com certas políticas e medidas tomadas no passado recente. Mas, por norma, a seleção nacional deve ser comandada por um português. Por alguém com frontalidade e qualidade inegável para assumir um grande desafio e recuperar o espírito que foi deixando de existir nos últimos anos.
Jovem Promessa: Prince-Désir Gouano. Nascido a vinte e quatro de dezembro de 1993 em Paris o “Príncipe-Desejo” (expressão em português para a qual remete o seu nome) constituiu uma das primeiras aquisições do Rio Ave FC para a
época 2014/15. Gouano foi criado no seio de uma família com origens costa-marfinenses e desde uma fase precoce alimentou o sonho de se tornar futebolista profissional. Como tal, ingressou na academia do CFF Paris em 2002. Cinco anos mais tarde, o jovem defesa central deu um passo significativo na sua carreira ao abandonar a capital francesa para assinar pelo Le Havre AC. De resto, foi pelos "Les Ciel et Marine" que Prince completou o seu processo de formação e se estreou no escalão sénior (mais concretamente em maio de 2011, numa vitória por 5-0 sobre o Grenoble Foot 38). Perante a sua ascensão, a Juventus FC despertou interesse e contratou-o para as suas fileiras no verão de 2011. Apesar de nunca ter sido lançado pelo então técnico Antonio Conte, Prince foi contabilizando algumas presenças na equipa de sub-20 da “Vecchia Signora” (conquistou o prestigiado Torneo di Viareggio). A época 2012/13 dividiu-se em dois empréstimos: primeiro ao SS Virtus Lanciano e mais tarde ao Vicenza Calcio. No entanto, o tempo de jogo contabilizado foi bastante curto (só efetuou um encontro ao longo de toda a temporada), algo que não contribuiu para o seu crescimento. Findo mais um exercício, Prince deixou em definitivo a Juventus FC para ingressar na Atalanta BC. Apesar de ter sido contratado por outro conjunto transalpino, Prince passou a época transata novamente cedido por empréstimo. Na Eredivisie o gaulês somou vinte e quatro presenças pelo RKC Waalwijk, não evitando a descida do conjunto amarelo e azul ao segundo escalão do futebol holandês. De regresso a Itália Prince acabou por sair por empréstimo para o Rio Ave FC no recente defeso. Apesar de tenra idade, conta já no seu currículo com passagens por vários clubes estrangeiros. No plano internacional Gouano tem sido opção frequente nas seleções jovens gaulesas (desde os sub-18 aos sub-20), contabilizando até ao momento dois golos. No entanto, ainda não obteve nenhuma presença numa grande competição. Defesa central de raiz, Prince Gouano pode igualmente atuar no flanco direito ou como médio defensivo (uma característica que Pedro Martins poderá potenciar com o decorrer da época, no caso da ocorrência de alguma contrariedade). Determinação, impulsão e combatividade são predicados que facilmente caracterizam este jogador. O gaulês faz da sua constituição atlética uma mais-valia para marcar e desarmar muito bem os adversários, lutar por cada lance e impor algum respeito no setor defensivo. Além disso, a passagem pelo futebol transalpino fez evoluir o seu posicionamento e os níveis de concentração. Tem pautado com segurança a maioria dos jogos que disputou até à data, formando com Marcelo uma barreira sólida que contribui para a pouca quantidade de golos encaixados até ao momento. Apesar de ser um jovem talento a ingressar na Liga Portuguesa, Prince deve melhorar fundamentalmente o jogo com os pés (oferecer outra qualidade na saída de bola, aquando da primeira fase de construção) e o tempo de desarme. Prince Gouano denota lapsos
naturais de um jogador que passa por um período de adaptação ao futebol luso e dispõe de uma considerável margem de progressão. O Rio Ave FC é sem dúvida o clube adequado para
que o francês possa evoluir os seus atributos futebolísticos, seguir os passos
de Marcelo (a referência do eixo defensivo nas últimas épocas) e, caso
o clube queira exercer a opção de compra do seu passe no final da presente
temporada, garantir futuramente um considerável encaixe financeiro para os
cofres do clube vilacondense.
Olhando para as alternativas lusas apontadas nos últimos dias (desde Manuel José a Vítor Pereira, passando por Jesualdo Ferreira ou Roberto Mancini), Fernando Santos parece ser a escolha mais natural e a que reúne maior preferência. Dotado de enorme experiência e competência, o treinador lisboeta evidenciou-se com o excelente trabalho protagonizado ao serviço da seleção grega nos últimos quatro anos. Apesar do futebol pouco atrativo (o leque de recursos disponíveis era escasso), Santos só averbou quatro derrotas em trinta jogos oficiais, apresentando igualmente um bom registo defensivo. De resto, conseguiu alcançar dois brilhantes resultados na perspetiva do futebol helénico: os quartos-de-final do Europeu 2012 (foi afastado pela Alemanha) e os oitavos-de-final do Mundial 2014 (caiu nas grandes penalidades frente à Costa Rica). Apesar de apresentar poucos títulos no seu currículo, a carreira de Santos demonstra trabalhos notáveis. Na Grécia ganhou o respeito dos adeptos, sendo eleito várias vezes o treinador do ano. Em Portugal passou pelos três grandes e, ineditamente, reuniu consenso por diversos motivos. A caminhada rumo ao Europeu de França começou da pior forma, mas o modelo de apuramento instituído para esta competição dificilmente deixará a comitiva portuguesa afastada. A missão está bem traçada mas o caminho será duro. A quantidade de opções de qualidade tem vindo a decrescer e aborda-se constantemente o conceito de renovação. Simultaneamente a exigência e a pressão de obter resultados com uma base composta na sua maioria por jogadores em fase descendente da carreira continuam em doses muito elevadas, muito por força dos feitos alcançados nos últimos anos. Posto isto, é necessário que a crítica especializada comece a entender a mudança que se tem verificado paulatinamente no futebol português. A realidade é simples: Portugal tem nesta altura uma boa equipa, mas que simplesmente não se pode assumir como candidato natural a ganhar alguma competição internacional no futuro a médio/longo prazo. Santos é o homem certo no lugar certo, dado que o seu currículo evidencia trabalhos que se pautaram pela organização e por uma preparação cuidada e eficaz (sobretudo quando esteve no comando dos helénicos). É preciso tempo para que o "engenheiro" possa formar um grupo estável que recupere níveis de confiança e premeie o elevado rendimento desportivo e a boa forma física em detrimento de jogadores com determinado estatuto e de suspeitos interesses externos que foram privilegiados durante o consulado de Bento. Veremos se Fernando Santos trará critério e coerência às convocatórias que irá elaborar (algo que não caracterizou muito o antigo selecionador), podendo aproveitar a reconciliação com a seleção de elementos como Danny, Manuel Fernandes ou Tiago, o excelente trabalho realizado por Rui Jorge e a ascensão de jovens no futebol europeu (casos de André Gomes ou Bruno Fernandes).
Quanto à estrutura, o 4-3-3 tem assentado de forma profunda no futebol português. Ao serviço da seleção grega Santos optou fundamentalmente pelo mesmo sistema, ainda que com pontuais variações para 4-4-2 losango (muito frequente aquando da sua passagem por Alvalade e Luz). Apesar disso, são visíveis as carências ao nível de um ponta-de-lança credível e de um criador, um 'número dez' como outrora foram Rui Costa ou Deco. O selecionador nacional poderá reformular levemente o modelo de jogo (e o próprio posicionamento de certos elementos no xadrez), por forma a esconder algumas lacunas defensivas e maximizar os pontos fortes. Para tal, uma das opções viáveis passaria pela deslocação de Cristiano Ronaldo da faixa para o eixo atacante (ainda que contra a sua vontade). O craque do Real Madrid CF não tem propensão para auxiliar as tarefas defensivas e no corredor central causaria cada vez mais problemas aos adversários. Para isso será necessário a criação de um modelo de jogo cujas dinâmicas permitam potenciar as qualidades exímias de CR7 no momento da finalização. Acima de tudo, o "engenheiro" formará um conjunto coeso e consciente das suas limitações, em que o coletivo será sempre maior do que a soma das individualidades. Por último, referir que a escolha tomada pela FPF quanto à contratação de um técnico de nacionalidade portuguesa é digna de registo. Portugal tornou-se no passado recente um autêntico país exportador de treinadores com muita qualidade. Prova desse atestado de competência são as presenças de três técnicos na fase final do Mundial 2014, bem como de seis na fase de grupos da UEFA Champions League 2014/15. A entrada de um técnico estrangeiro poderia facilmente romper com certas políticas e medidas tomadas no passado recente. Mas, por norma, a seleção nacional deve ser comandada por um português. Por alguém com frontalidade e qualidade inegável para assumir um grande desafio e recuperar o espírito que foi deixando de existir nos últimos anos.
Facto: No regresso do dérbi da Invicta ao escalão máximo do futebol português, o Boavista FC conseguiu sair do Estádio do Dragão com um nulo. Apesar do maior domínio exercido pelo conjunto de Julen Lopetegui, os "axadrezados" souberam aproveitar a precoce expulsão de Maicon para garantirem um precioso ponto. Pela segunda jornada consecutiva os "dragões" voltaram a consentir um empate para o campeonato, algo que não ocorria desde a décima jornada da pretérita temporada. Além disso, pela primeira vez no presente exercício o FC Porto não concretizou qualquer golo caseiro. Tal aconteceu pela última vez em abril passado, aquando da meia-final da Taça da Liga frente ao SL Benfica (derrota nas grandes penalidades por 3-4).
Equipa da Semana (4-2-3-1): Loris Karius (1. FSV Mainz 05); Ricardo van Rhijn (AFC Ajax), Hilton (Montpellier HSC), Uwe Hünemeier (SC Paderborn 07) e Ricardo Rodríguez (VfL Wolfsburg); Adam Maher (PSV Eindhoven), Ivan Rakitić (FC Barcelona), Jamie Vardy (Leicester City FC), Ronny (Hertha BSC) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid CF); Salomón Rondón (FC Zenit St. Petersburg)
Equipa da Semana (4-2-3-1): Loris Karius (1. FSV Mainz 05); Ricardo van Rhijn (AFC Ajax), Hilton (Montpellier HSC), Uwe Hünemeier (SC Paderborn 07) e Ricardo Rodríguez (VfL Wolfsburg); Adam Maher (PSV Eindhoven), Ivan Rakitić (FC Barcelona), Jamie Vardy (Leicester City FC), Ronny (Hertha BSC) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid CF); Salomón Rondón (FC Zenit St. Petersburg)
Frase: «O Frank Lampard é um jogador do Manchester City. Quando ele decidiu ir para um adversário direto, a história de amor acabou» - José Mourinho, treinador do Chelsea FC, sobre o golo do atual jogador dos "citizens" à sua antiga formação.
Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: jn.pt / abola.pt / rioave-fc.pt
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