6 de outubro de 2014

Rescaldos d'esféricos: A alteração paradigmática do “treinador português”

Com o término da sétima jornada da Liga Portuguesa, algumas ilações podem ser retiradas quanto às metodologias utilizadas pelos timoneiros de cada um dos dezoito clubes. Alguns estreantes (Miguel Leal, Rui Quinta ou Leonel Pontes), outros com experiência em "grandes" do futebol luso e dispostos a relançar as suas carreiras (Domingos Paciência, Paulo Fonseca ou Paulo Sérgio). Um aglomerado de treinadores dispostos a lutar pelos três pontos em cada partida que disputa, não se amedrontando perante adversários de maior envergadura.

Após carreiras como futebolistas, muitos destes enveredam pela continuação no mundo do futebol, alguns com mais apetência pelo escritório e outros pela liderança e gestão de outros jogadores. É neste ponto que há bastantes opiniões positivas quanto ao treinador português (com projeção europeia como José Mourinho, André Villas-Boas, Leonardo Jardim ou Paulo Sousa) e que tem sabido readaptar-se às mudanças do futebol europeu. À procura de um futebol mais fluído, atrativo e com vontade de amealhar os três pontos em cada jogo, o protótipo do “treinador português” tem sofrido remodelações, criando argumentos para sustentar a ascensão de qualidade e de equilíbrio do desporto-rei no país de Camões. Exemplos práticos deste caso são equipas como CS Marítimo, FC Paços de Ferreira, Académica ou Vitória SC que, não só se preocupam com os três pontos de início ao fim de cada partida, mas também com conceitos como a retenção e a objetividade da posse de bola, um futebol de ataque fortemente suportado pelo desdobramento dos seus laterais e aposta nos flancos, que servem de forma consistente os seus elementos mais avançados à procura do máximo de golos possível. Com plantéis por vezes bastante limitados, as equipas do campeonato nacional paulatinamente vão abdicando da obsessão com a organização defensiva e buscam dotar os seus atletas de mais noções ofensivas e de circulação de bola de forma pragmática e segura, envolvendo neste processo todos os onze futebolistas em campo. Uma resposta afirmativa vem sendo dada à mudança de máximas de sucesso em termos táticos num contexto nacional e internacional, com a fluidez de jogo e a assertividade a crescerem a olhos vistos após modelos como o "tiki-taka" virem à baila nesta celeuma. 

Portugal é o país mais representado na UEFA Champions League em termos de treinadores (cinco) e vem sendo um viveiro de técnicos com ideologias de futebol positivo, atrativo, de posse e com forte propensão ofensiva, abdicando muitos deles da rotineira perspetiva do “pontinho” e lutando em pé de igualdade com qualquer formação, seja ela do escalão distrital ou um tubarão europeu. A evolução francamente positiva das performances registadas por formações portuguesas num contexto continental deixam essa impressão, com três finais europeias em quatro épocas (uma delas com a participação de FC Porto e SC Braga). Rasgados elogios são tecidos a um trabalho que vem sendo desenvolvido desde a partida de José Mourinho para Inglaterra em 2004 e com muitos outros a seguirem-lhe naturalmente as pisadas. Enquanto a economia portuguesa continua em recessão, eis um recurso endógeno onde Portugal vem sendo um dos principais exportadores de matéria-prima e, em si incutidos, de recursos que permitem o recrudescimento de adeptos do famigerado “futebol bonito”.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagem: abola.pt

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