10 de fevereiro de 2015

Rescaldos d'esféricos: Análise ao melhor onze oficial da Taça das Nações Africanas 2015

Finda a competição por seleções que move milhares de adeptos das diversas nações africanas aos estádios (desta feita localizados na Guiné Equatorial), é tempo de sumarizar as suas ocorrências e dissecar ao pormenor as principais estrelas. A Costa do Marfim estancou um jejum que perdurava há trinta e dois anos e conquistou o ceptro diante do Gana, numa lotaria de penáltis imprópria para cardíacos (9-8 foi o parcial final). Anunciado o onze ideal da Taça das Nações Africanas 2015 (CAN), com forte e natural presença de elementos pertencentes à nação vencedora, não deixa de se estranhar a omissão daquele que foi considerado o melhor da prova e que marcou o melhor golo, o ganês Christian Atsu.

Contratualmente ligado ao Chelsea FC (está emprestado ao Everton FC), o extremo de vinte e três anos foi predominantemente utilizado na UEFA Europa League (cinco presenças). Acrescenta três presenças na Barclays Premier League, sob forte concorrência de elementos como Kevin Mirallas, Steven Naismith, McGeady ou o recém-contratado Aaron Lennon. Na CAN, revelou-se, contudo, um elemento primordial na manobra ofensiva ganesa: foi titular ao longo das seis partidas, obtendo dois tentos (frete à Guiné Conacri) e dois passes para golo.



Realizada esta menção prévia, transite-se então para os futebolistas que constam no escalonamento anunciado pela Confederação Africana de Futebol. Na baliza, figura o tunisino Aymen Mathlouthi, também conhecido como Balbouli. Na CAN, o jogador do Etoile Sportive du Sahel sofreu quatro tentos em outros tantos jogos. Ainda assim, mostrou-se a um nível bem mais consistente que os seus companheiros de posição das mais diversas seleções, evitando que os empates arrecadados pela sua seleção se revertessem em derrotas. 

A linha defensiva inclui o lateral direito argelino Aïssa Mandi, que vem despontando no futebol francês ao serviço do Stade de Reims (dezoito jogos aliados a três golos e uma assistência). Ao consolidar esse estatuto na CAN, mostrou argumentos que podem despertar cobiça por parte de clubes de maior nomeada, tendo em conta os seus tenros vinte e três anos. Quanto aos centrais, destacam-se o já veterano Kolo Touré, de trinta e três anos, que disputou a sua última competição por seleções. Com carreira realizada no futebol inglês, este futebolista não vem assumindo mais do que um papel de reserva no Liverpool FC. Mesmo assim, deteve um papel preponderante nesta caminhada da Costa do Marfim rumo ao título. Conferindo experiência, rigor tático e posicional provenientes da longa estadia por terras de sua majestade, é um dos poucos totalistas da competição. Completando o eixo, surge à tona o jovem ganês Jonathan Mensah, vinte e quatro anos e membro importante do Évian Thonon Gaillard FC. Realizando uma campanha imaculada nesta CAN (também totalista), caiu aos pés da vencedora Costa do Marfim. Na lateral esquerda, consta Henri Bedimo, habitual titular no Olympique Lyonnais e um dos dois futebolistas escolhidos que não passou da fase de grupos. Realizando grande parte das partidas em que esteve disponível pelo emblema francês, trata-se de uma das muitas razões pela sua campanha de sucesso na Ligue 1.

Quanto ao miolo, enumeram-se três atletas. O primeiro é o sul africano Sibusiso Vilakazi, executante do BIDVest Wits University FC. Tratando-se de um médio com preponderância ofensiva, capaz de prover chegada de área em conjunto com a linha mais adiantada da equipa, não espanta, portanto, o número de golos (três) em catorze jogos disputados no clube supracitado. Conta, apesar da eliminação prematura, com uma assistência na derrota diante da Argélia por 3-1. Os elementos que completam o setor são, em grande parte, o dínamo de sucesso costa-marfinense: o trinco Geoffroy Serey Die e o capitão Yaya Touré. Começando pelo menos conceituado, Serey Die reforçou os alemães do VfB Stuttgart no recente mercado de inverno, sendo proveniente dos suíços do FC Basel 1893. De trinta anos, é um jogador com apetência especialmente defensiva e, tendo em conta os altos índices de agressividade, não espanta os três cartões amarelos que apresentou nesta competição. Importa ressalvar que, apesar de uma idade que implica experiência, apenas detém uma quinzena de internacionalizações. Por fim, eleito melhor futebolista africano por quatro vezes consecutivas, é talvez o pulmão, o coração e a mente não só deste grupo de atletas orientado por Hervé Renard mas também do emblema que representa em Inglaterra, o Manchester City FC. Após a fantástica campanha protagonizada na época passada (vinte golos em trinta e cinco jogos), segue com sete tentos em dezoito partidas no presente exercício. E não aparenta parar por aqui. Na CAN, apesar de não ser totalista, marcou um golo e deu a marcar por outra ocasião. Com trinta e uma primaveras, provou ser o sucessor da lenda dos Les Éléphants, Didier Drogba, como líder de uma comitiva bastante talentosa.

Finalizando com o ataque, este apresenta dois elementos da seleção vencedora (perfazendo em cinco os representantes da mesma em toda a equipa selecionada) e um da vencida. Os costa-marfinenses Gervinho e Wilfried Bony e o ganês André Ayew, que corresponderam às expectativas dos seus adeptos nos respetivos clubes em que jogam, foram, assim, considerados os melhores atacantes da competição. Com vinte e cinco anos, Ayew constou no lote de protagonistas da fulgurante primeira volta do Olympique de Marseille. Com três golos e três assistências em quinze jogos, permitiu que a turma de Marcelo Bielsa se estabelecesse isoladamente no primeiro posto da Ligue 1 durante várias jornadas. Nesta CAN, contudo, revelou-se mais decisivo, tendo em conta a dimensão da prova (na melhor das hipóteses, 6 partidas), carimbando três tentos mais três assistências. De seguida, Gervinho, um dos astros da AS Roma, confirmou todo o seu potencial na época passada, apesar de perder, em parte, o instinto matador esta época. Com dois golos e quatro assistências em catorze partidas na Serie A, foi na UEFA Champions League que mais se notabilizou. Mesmo que não evitasse a "despromoção" da formação transalpina à UEFA Europa League. Na CAN, embora tenha sido expulso na primeira partida por razões que só a imprudência conhece, destacou-se nas rondas antecedentes à final com dois golos que fizeram entoar os conterrâneos do extremo. Por fim, o único avançado puro neste lote é Wilfried Bony, que se moveu no início de 2015 do Swansea City AFC para Manchester, por uma quantia avultada a rondar os trinta milhões de euros. Com nove golos e três assistências na presente temporada pelos swans, o costa-marfinense prepara ansiosamente a estreia pelos citizens. Na CAN, apesar de alguma falta de consistência em termos ofensivos, registou dois golos e três assistências, mostrando-se não só um matador puro como também um avançado completo, capaz de desempenhar diversas funções e, especialmente, de servir os seus companheiros. 

Por Lucas Brandão

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradecemos comentários onde impere o bom senso e a coerência, dispensando "guerras clubísticas". A liberdade de expressão deve ser usada e encarada com o máximo de responsabilidade possível.