A crise económica europeia já não se torna
novidade nenhuma, afetando vários desportos e, com a forte presença dos
“petrodólares” a surgir no panorama futebolístico, a França não se tornou imune
a este fenómeno com o forte investimento em clubes como o Paris Saint-Germain e
o AS Monaco. Porém, nem todos os clubes gauleses enveredaram por esta opção e
escolheram o reforço do plantel com jogadores do escalão principal francês por
um custo acessível, aliando a isto uma forte aposta na formação destas equipas.
Uma delas foi a campeã da Ligue One da temporada 2011/2012 e que prima pela
consistência, tendo acedido à Liga dos Campeões por duas épocas consecutivas e
estando próxima de uma terceira presença. Apesar da saída do talentoso
treinador francês Rudi Garcia para a AS Roma, o LOSC Lille conseguiu mostrar
sinais de que é uma estrutura bem consolidada ao contratar o experiente técnico
René Girard (que deu o inédito título a um clube com moldes similares a este
Lille, o Montpellier HSC) e de estar perto de garantir a qualificação para o
playoff de acesso à fase de grupos da “liga dos milionários”, após ter militado
no 2º posto que permite a qualificação direta para esta eliminatória e estar
agora numa série mais titubeante de resultados. Contudo, a formação do Lille
demonstra bem um exemplo de uma equipa que permanece a obter resultados com uma
aposta em recursos mais modestos mas não menos eficazes nesta nova era dos
fortes investimentos monetários na modalidade.
Com a necessidade de venda de algumas peças
fulcrais do plantel para conseguir um saldo financeiro positivo (à volta de 25
milhões de euros), o investimento empreendido foi de baixo valor, com especiais
ênfases no ingresso de jogadores provenientes de um período de empréstimo
encetado pela equipa francesa e com aposta na formação. Com os objetivos bem
delineados (garantia de um lugar europeu e fazer o melhor possível nas taças),
o treinador contratado e o plantel à disposição permitiam tal concretização.
Com um rendimento abaixo do esperado nas taças (eliminação na Taça diante do
Stade Rennais e na Taça da Liga contra o AJ Auxerre), o objetivo do campeonato
foi cada vez mais consolidado e exibido no desempenho mostrado. O período
inicial não foi o mais interessante com 3 vitórias em 6 jogos a concederem o 9º
lugar à equipa de Lille. Ainda assim, o melhor foi mostrado nas 11 partidas que
se seguiram (9 êxitos) que levaram esta formação ao 2º lugar e a aspirar a algo
mais que um mero posto europeu mas 4 derrotas nos 8 jogos que se seguiram relegaram-na
para o 3º lugar, onde permanecem após uma fase mais positiva de três vitórias
consecutivas nestas últimas 3 disputas, detendo uma vantagem interessante sobre
o 4º posicionado Saint-Etiénne e destacando-se pela consistência demonstrada
neste último período.
O plantel conta com uma mescla de elementos
experientes e de alguns jovens emergentes, apostando René Girard na vertente
experiente do plantel para alavancar os futebolistas mais tenros a incorporarem
as rotinas e dinâmicas de um coletivo, desvalorizando mais o âmbito individual.
Apostando numa formação teoricamente 4x3x3 mas, em prática, mais similar a um
4x2x3x1, o treinador tem à sua disposição o virtuoso guarda-redes da seleção
nigeriana Vincent Enyeama, de 31 anos, que se encontra de pedra e cal na defesa
das redes gaulesas, sendo os seus suplentes também maduros (Steeve Elana de 33
e Barel Mouko de 35 anos). A linha defensiva é normalmente composta pela desenvolvida
dupla de centrais de dois internacionais pelos seus países, sendo eles o
montenegrino Marko Basa e o reforço dinamarquês Simon Kjaer, e pelos laterais
com grande verticalidade e pendor ofensivo Franck Béria e o senegalês Pape
Souaré. O meio-campo dispõe de muita experiência e normalmente dispõe de dois
elementos mais recuados com Rio Mavuba e Florent Balmont a assumirem essas
funções pois, com menor disponibilidade física, ainda podem dar um contributo
de uma forma menos física mas não de menor pertinência. A dinâmica de jogo
deste Lille passa muito normalmente pelo futebolista com mais minutos por esta
equipa que é o senegalês Idrissa Gueye, naturalmente cobiçado por clubes com
maior projeção e poderio, com Jonathan Delaplace, Marvin Martin e um dos
projetos da formação do clube Soualiho Mëite a firmarem-se como opções válidas
para estas funções do miolo. Num contexto mais ofensivo, patenteia-se a
presença regular do médio ofensivo Ronny Rodelin e dos três melhores marcadores
desta formação: a indiscutível estrela da equipa e costa-marfinense Salomon Kalou
(14 tentos), Nolan Roux (8) e a promessa belga Divock Origi (5); com outros
valores de qualidade a poderem colmatar a ausência destas individualidades, como
o cabo-verdiano Ryan Mendes e o costa-riquenho John Jairo Ruíz.
Conclui-se que o LOSC Lille é um dos projetos
sustentados de um futebol emergente, que é o francês, que sempre se exibiu pela
consistência na presença em fase de grupos de competições europeias mas sem lograr muitas eliminatórias de vulto, com a exceção das participações do Olympique de Lyon.
Com o surgimento de clubes alvo de um forte investimento dos “petrodólares”
orientais, o futebol gaulês ganhou outra notoriedade e o LOSC Lille foi uma das
agradáveis surpresas ao vencer o campeonato na época de 2011/2012 e de manter a
consistência da sua presença nos lugares cimeiros da Ligue 1. Com um plantel
interessante e que fornece variados recursos em termos de experiência e de
irreverência sustentada, a equipa do Lille permanece na elite do futebol
francês após passar algumas épocas nos lugares tranquilos do meio da tabela,
afirmando-se de forma veemente no presente como um sólido emblema pertencente a
um futebol em claro crescimento.
Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / nordsports-mag.com / media.rtl.fr
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