3 de maio de 2014

Futebol Global: Frank de Boer, o devorador da Eredivisie (análise de 15 a 30 de abril)

Reflexão: A temporada 2013/14 chega este fim-de-semana ao seu término na Holanda, depois da coroação do AFC Ajax como tetracampeão da Eredivisie. Com a melhor defesa do campeonato (vinte e seis golos sofridos) e apenas três derrotas, a formação oriunda de Amesterdão dominou o campeonato, ocupando a primeira posição somente desde a jornada dezoito. Um título que permite reforçar cada vez mais a liderança no número de ligas conquistadas (trinta e três, contra vinte e uma do PSV Eindhoven e catorze do Feyenoord). Além disso, Frank de Boer conquista pelo quarto ano consecutivo esta competição como treinador principal dos "De Ajacieden". Olhando para as taças, o AFC Ajax conquistou igualmente a Holland Supercup em julho passado, ao bater o AZ Alkmaar por 3-2 após prolongamento. Pior sorte teve na KNVB-beker, uma vez que perdeu de forma copiosa a final frente ao modesto PEC Zwolle por 5-1. Em baixo segue-se uma análise detalhada às principais formações do país das tulipas. 

AFC Ajax: Depois de uma primeira volta em que a equipa agregou três derrotas, quatro empates e nunca chegou a alcançar o primeiro posto, a equipa de Frank de Boer arrancou para uma série de vitórias que lhe permitiu superar os principais concorrentes. O campeão holandês, como é seu apanágio, apresentou sempre uma formação consistente (preferencialmente em 4-3-3) e onde a juventude é a principal imagem de marca. Em termos individuais, destaque para a ascensão do jovem guarda-redes Jasper Cillessen (assumiu as rédeas depois da derrota em Eindhoven por 4-0, devendo ser o titular da "Laranja Mecânica" no Mundial 2014), do defesa-central Jöel Veltman (jogador com um posicionamento fora do comum, é disputado pelos grandes clubes europeus) e de jovens como Jairo Riedewald, Ricardo Kishna ou Lucas Andersen. Davy Klaassen demonstrou veia goleadora, enquanto o internacional dinamarquês Lasse Schøne somou vários golos e assistências com a sua transição da zona central para a faixa direita. Por outro lado, esperava-se mais de Viktor Fischer (jovem de dezanove anos que desiludiu depois de uma primeira época sensacional). Nas competições europeias, o AFC Ajax foi terceiro classificado no grupo H da liga milionária (com FC Barcelona, AC Milan e Celtic FC), tendo vencido em casa os catalães e empatado os dois jogos com o clube milanês. No entanto, a turma holandesa acabou sendo relegada para os dezasseis avos de final da UEFA Europa League, onde acabaria cilindrado pelo FC Red Bull Salzburg (derrota por 6-1 no conjunto das duas mãos).

Equipa Habitual (4-3-3): Jasper Cillessen; Ricardo van Rhijn, Jöel Veltman, Niklas Moisander/Stefano Denswil e Nicolai Boilesen; Christian Poulsen/Daley Blind (C), Thulani Serero e Davy Klaassen/Siem de Jong; Lasse Schøne, Kolbeinn Sigthórsson e Viktor Fischer/Bojan Krkic
Treinador: Frank de Boer (quarenta e três anos)
Melhor Jogador: Lasse Schøne
Melhores Marcadores: Davy Klaassen e Kolbeinn Sigthórsson (dez golos)

Feyenoord: Boa temporada do conjunto orientando por Ronald Koeman, manchada apenas pela não conquista de qualquer título. De resto, a formação de Roterdão fez uma época em crescendo, só ocupando o quarto posto à entrada para o último mês de dezembro. A partir daí, a equipa conseguiu estabilizar e lutar até às últimas jornadas pelo título de campeão. Nas outras competições, os pupilos do ex-treinador do SL Benfica foram eliminados nos quartos-de-final da KNVB-beker pelo AFC Ajax e não passaram dos play-offs da UEFA Europa League (derrota por 3-1 frente ao FC Kuban Krasnodar). O prémio de 2013/14 acaba por ser a qualificação para a terceira pré-eliminatória da UEFA Champions League. Olhando para a turma encarnada, a maioria dos jogadores são vinham da época transata. Os destaques principais cingem-se no defesa central Stefan de Vrij, no lateral direito Daryl Janmaat (exibe qualidade a atacar e a defender), no capitão Jordy Clasie (jogador muito equilibrado, a sua forma de jogar faz lembrar Xavi Hernández), no médio Tonny Trindade de Vilhena e no ponta-de-lança Graziano Pellè (não superou os números da sua primeira temporada no De Kuip, mas apontou mais de vinte golos). Um dado curioso é olhar para a diferença de golos (75-39). Por aqui se explica muito da forma como o Feyenoord costuma jogar: uma equipa voltada para o ataque, utilizando a capacidade criativa dos médios e o instinto matador de Pellè, mas que concede bastantes espaços na transição defensiva.

Equipa Habitual (4-3-3): Erwin Mulder; Daryl Janmaat, Stefan de Vrij, Bruno Martins Indi/Joris Mathijsen e Terence Kongolo; Jordy Clasie (C), Tonny Trindade de Vilhena e Lex Immers; Ruben Schaken, Graziano Pellè e Jean-Paul Boetius
Treinador: Ronald Koeman (cinquenta e um anos)
Melhor Jogador: Tonny Trindade de Vilhena
Melhor Marcador: Graziano Pellè (vinte e três golos)

FC Twente: Muitos jovens e uma campanha interessante por parte da equipa de Enschede. Um terceiro lugar com um sabor bastante especial, dado o binómio qualidade disponível/rendimento. Do cojunto orientado por Michel Jansen destacam-se principalmente dois jogadores: Dusan Tadić (internacional sérvio, bastante versátil e com registos a superar os dois dígitos [golos e assistências, bem entendido], não deverá ficar por muito mais tempo na Holanda) e Quincy Promes (depois de ter ajudado o Go Ahead Eagles a regressar ao principal escalão do futebol holandês, exibiu pormenores de craque e estreou-se pela seleção holandesa). Sem competições europeias (fruto dos exto lugar alcançado em 2012/13), o FC Twente acabou por ser eliminado logo na segunda ronda da taça pelo sc Heerenveen.

Equipa Habitual (4-3-3): Nick Marsman; Roberto Rosales, Rasmus Bengtsson, Andreas Bjelland e Dico Koppers; Kyle Ebecilio, Felipe Gutiérrez e Shadrach Eghan Kwesi; Dusan Tadić, Luc Castaignos e Quincy Promes
Treinador: Michel Jansen (quarenta e oito anos)
Melhor Jogador: Quincy Promes
Melhores Marcadores: Dusan Tadić (quinze golos)

   Num campeonato prestes a chegar ao seu final, referência ao PSV Eindhoven (depois de uma primeira volta desastrada, conseguiu recuperar alguns lugares e intrometer-se na luta pelos lugares europeu, sobretudo devido à boa performance de Memphis Depay), ao SBV Vitesse (equipa com alguma qualidade a atacar, mas que desilude muito no processo ofensivo, sobretudo devido à enorme tendência para subir por parte dos laterais), ao sc Heerenveen (orientado por Marco Van Basten e com Finnbogason a somar mais de cinquenta golos em duas épocas) e ao PEC Zwolle (equipa praticamente desconhecida, mas que causou sensação ao vencer a KNVB-beker e ao ocupar durante algumas jornadas as primeiras posições da liga holandesa). Quanto ao fundo da tabela classificativa, o Roda JC deverá confirmar este sábado a descida à Eerste Division, ao passo que NEC Nijmegen e RKC Waalwjik irão disputar os play-off de manutenção. 

Destaque: Rayo Vallecano. A formação orientada por Paco Jémez tem protagonizado um belo final de temporada. Com vinte e três pontos conquistados nos últimos dez jogos (fruto de sete vitórias, dois empates e apenas uma derrota) para a Liga BBVA, a equipa sediada em Madrid saltou em praticamente dois meses da penúltima posição para o décimo lugar. Esta série de resultados positivos iniciou na passagem de fevereiro para março, após duas derrotas frente a FC Barcelona e Sevilla FC. Porém, o conjunto da capital espanhola ingressou numa recuperação fantástica (que só foi abalada por uma derrota pesada no Santiago Bernabéu) e garantiu desde já a permanência no principal escalão do futebol castelhano. Muito deste sucesso tem passado pelos pés do ponta-de-lança italo-argentino Joaquín Larrivey (doze golos e cinco assistências) e do espanhol Alberto Bueno (onze golos e cinco assistências). Destaque também para o português Zé Castro (tem consolidado o seu lugar no eixo defensivo ao lado de Gálvez), o capitão José Trashorras e Iago Falqué (jovem extremo emprestado pelo Tottenham Hotspur FC). Fiel ao 4-2-3-1, Jémez tem apostado nauma filosofia assente na manutenção da posse de bola, através da colocação de Bueno entrelinhas, da existência de uma referência fixa ofensiva (Larrivey) e do aproveitamento da experiência e capacidade de passe (curto e longo) de Trashorras. Defensivamente, a equipa tem melhorado alguns comportamentos face ao início da época, mas apresenta um registo bastante negativo (setenta e um golos sofridos). Eliminados pelo Levante UD nos oitavos-de-final da Copa del Rey, os madrilenos apostaram todas as fichas no campeonato e com esforço, brilhantismo e alguma fortuna conseguiram sair de uma situação adversa. Até ao final da temporada restam duas reçeções a Athetic Club de Bilbao e Getafe CF, bem como uma ida ao El Madrigal. Repetir o oitavo posto de 2012/13 não será fácil, mas Los Franjirrojos têm todas as condições para o alcançar (recorde-se que o clube foi impedido de participar esta temporada nas competições europeias por causa das elevadas dívidas que fizeram com que a RFEF não cedesse a licença que permitiria aos madrilenos substituir o lugar do Málaga CF). 

Jovem Promessa: Milos Jojic. Nascido a dezanove de março de 1992 em Belgrado, o internacional sérvio constituiu a única contratação de inverno do Borussia Dortmund. Adquirido ao FK Partizan por uma verba a rondar os dois milhões de euros, Jojic rapidamente foi integrado na equipa sénior borusser, sobretudo devido às lesões de duração prolongada de Ilkay Gündogan, Sven Bender e Jakub Blaszczykowski. Até ao momento contabiliza oito jogos e três golos na 1. Bundesliga, bem como uma partida na DFB Pokal e três aparições na UEFA Champions League pela equipa amarela. A partida disputada no Signal Iduna Park em fevereiro passado frente ao Eintracht Frankfurt ficará eternamente na memória deste jogador por duas razões: foi a sua estreia na equipa orientada por Jürgen Klopp (substituiu Mkhitaryan) e passados dezassete segundos depois da sua entrada em campo faturou. Esta temporada também ficará marcada pela sua estreia na seleção principal sérvia (vitória sobre o Japão num particular, sendo um dos golos da autoria de Jojic). Médio-centro de origem (embora possa atuar como médio-ofensivo ou nas alas), o jovem de vinte e dois anos é dotado tecnicamente, tendo na aceleração, na agilidade, no controlo de bola e no posicionamento os seus principais  predicados. É capaz de apoiar a sua defesa e participar na construção de jogo ofensivo, movimentando-se bem sem bola. Um jogador equilibrado que necessita de corrigir alguns dos seus movimentos defensivos e ser trabalhado ao nível do remate e da compleição física. Em suma, a vinda deste jogador para o clube germânico reflete a estratégia implementada nos últimos anos: explorar campeonatos desconhecidos e encontrar jovens a baixo preço e com boa margem de progressão para depois evoluírem sobre as ordens de Klopp. Um processo que tem dado bons resultados e permite estruturar o futuro a médio/longo prazo.

Equipa da Semana 15/04 a 21/04 (4-4-2): Vito Mannone (Sunderland AFC); Daryl Janmaat (Feyenoord), Emir Spahic (Bayer 04 Leverkusen), Loïc Perrin (AS Saint-Etiénne) e Luke Shaw (Southampton FC); Raheem Sterling (Liverpool FC), Paul Pogba (Juventus FC), Philippe Bargfrede (SV Werder Bremen) e Marco Reus (Borussia Dortmund); Cheick Diabaté (FC Girondins de Bordeaux) e Lima (SL Benfica)


Equipa da Semana 22/04 a 30/04 (4-2-3-1): Marc-André ter Stegen (Borussia Mönchengladbach); Nathaniel Clyne (Southampton FC), John Anthony Brooks (Hertha BSC Berlin), Sergio Ramos (Real Madrid CF) e Senad Lulić (SS Lazio); Miralem Pjanić (AS Roma), Ivelin Popov (FC Kuban Krasnodar), Juan Guillermo Cuadrado (ACF Fiorentina), Dušan Tadić (FC Twente) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid CF); Dimitar Berbatov (AS Monaco FC)


Frases: “Compare-o com qualquer outro jogador de futebol do mundo - só Messi e Cristiano Ronaldo estão à frente dele. Não tem preço possuir um jogador desta categoria em tão bom momento de forma" - Juan Antonio Pizzi, treinador do Valencia CF, sobre a jovem promessa Paco Alcácer.

«Os desempenhos globais ficaram aquém das expectativas. Admito que houve um conjunto de fatores, como por exemplo a própria competitividade, que motivou ter havido desempenhos menos bem conseguidos» - Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem, no X Congresso de Futebol no ISMAI.


Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: dutchfootball-league.com / telegraaf.nl / volkskrant.nl / sofoot.com / telecinco.es / bvb.de

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