12 de abril de 2014

Crónica Saturnina: A recessão do Bayer 04 Leverkusen


   A Bundesliga sofreu uma rápida ascensão no panorama europeu na presente década com a regularidade de presenças de equipas alemãs nas fases adiantadas das competições europeias e com alguns dos melhores futebolistas da atualidade a ingressarem em emblemas germânicos, com maior pendor para Bayern de Munique e Borussia de Dortmund. Contudo, outros clubes como Werder Bremen ou Stuttgart perderam bastante fulgor face aos primeiramente mencionados, estando num momento de crise desportiva, sem conseguir ombrear com esses emblemas e lutam por objetivos bem menos auspiciosos (permanência ou um playoff de acesso à Liga Europa). Contudo, existe um caso peculiar de um clube com presença consistente em provas europeias e nos lugares cimeiros do campeonato mas que apenas apresenta 3 troféus no seu palmarés e com o último a ser conquistado há… 21 épocas (Supertaça Alemã). Sem qualquer campeonato no mesmo, o Bayer 04 Leverkusen, treinado pelo finlandês Sami Hyypiä… até ao passado dia 5 de abril, onde foi demitido para dar lugar ao técnico da época passada Sascha Lewandowski; apresenta (mais) uma estranha particularidade exibida na presente época: apenas uma vitória nos últimos 9 encontros para a Bundesliga cavam um fosso ainda maior entre os lugares que classificam diretamente para a fase de grupos da Liga dos Campeões, obrigando a disputa de um playoff para sucessiva qualificação. Este Leverkusen apresenta um número de derrotas (11) que é elevado face aos objetivos pretendidos e é ameaçado por Wolfsburg e Mainz na manutenção do posto europeu que conduziria a formação de Sascha Lewandowski à Liga Europa.

   Com algumas saídas comprometedoras (a estrela da equipa André Schürrle foi transferido para o Chelsea e os defesas Michal Kadlec deslocou-se para o Fenerbahçe e Andre Carvajal para o Real Madrid), os alemães reforçaram-se especialmente internamente com as contratações de, entre outros, Robbie Kruse ao Fortuna Dusseldorf ou de Emre Can ao Bayern de Munique. Os primeiros três meses revelaram-se prometedores (apenas duas derrotas em deslocações teoricamente difíceis a Manchester (2-4) e a Gelsenkirchen (0-2)).  Contudo, a fase conturbada viria a partir da viragem do ano. Mesmo mantendo um lugar no trio da frente da Bundesliga e passar em segundo lugar a fase de grupos da Liga dos Campeões que disputava com os ingleses do Manchester United, os espanhóis da Real Sociedad e os ucranianos do Shakhtar de Donetsk, três derrotas diante de Eintracht de Frankfurt, Freiburg e Werder Bremen pronunciavam um 2014 desastroso. Somando apenas 3 vitórias em 14 partidas disputadas neste período (englobando eliminações na Taça interna e na Liga dos Campeões, diante de uma equipa do segundo escalão do Kaiserslautern e dos franceses do Paris Saint-Germain respetivamente), esses êxitos foram conquistados perante formações como o Stuttgart, o Borussia Monchengladbach (que destronou depois a formação de Leverkusen do 4º posto) e o FC Augsburg.

   A anomalia exposta por esta equipa não é resultante da ausência de qualidade do plantel, que demonstrou já, bem no início da temporada, que possuía argumentos para se debater pelos postos condutores à fase de grupos da Liga dos Campeões. Enveredando normalmente por um sistema tático 4x3x3 e seguindo a filosofia da maioria dos clubes compatriotas, o Bayer aposta em elementos jovens e com nacionalidade alemã, abrindo algumas exceções. Na baliza pontifica o titularíssimo Bernd Leno, alemão proveniente da mais recente fornada de jovens guardiões germânicos que transmitem bastante segurança e agilidade. A linha defensiva que se posiciona à frente do guarda-redes é maioritariamente estrangeira e constituída por uma dupla de centrais (o bósnio Emir Spahic e o turco Omer Toprak) com os laterais a serem o polaco Sebastian Boenisch e o turco naturalizado alemão Emre Can, sendo uma que exibe virtudes como a coesão e solidariedade intra-elementos e que não se atreve em larga escala na dinâmica ofensiva, à exceção do último mencionado que contribui na construção ofensiva tendo em conta a sua posição de origem. O miolo possui dois jogadores de propensão ofensiva e de construção dinâmica de processos e outro de estanque defensivo e participando na primeira fase de construção, sendo esta mais paciente e trabalhada. Sendo uma função talhada para um jogador experiente, é comummente ocupada pelo alemão Simon Rolfes, um dos elementos com mais temporadas de casa e sendo um símbolo do clube. As restantes missões ficam encarregues de dois jovens alemães  com grande predisposição física e virtuosismo, sendo eles Lars Bender e Sidney Sam (dos melhores marcadores da equipa com 12 golos e que já assinou contrato com o Schalke 04 por 4 épocas, passando a representar o clube de Gelsenkirchen na próxima época) e com outras soluções de grande valia no banco de suplentes, sendo eles os frutos da formação Gonzalo Castro (também ele já um ícone da massa associativa), Stefan Reinartz e Jens Hegeler. O ataque, que se organiza com dois flanqueadores e um avançado referência, conta com duas estrelas de seleções da confederação AFC, sendo eles os alas sul-coreano Son Heung-min (uma das grandes esperanças do futebol asiático e vindo a confirmar todo o potencial preconizado pela imprensa com 10 golos) e o australiano Robbie Kruse; já o ponta-de-lança é o internacional alemão Stefan Kiessling, que, com 30 anos e 14 golos somados, se assume como a grande estrela da equipa e como o “menino bonito” da massa adepta e que, temporada após temporada, é fortemente seduzido por outros clubes europeus mas com a direção do clube a conseguir fazê-lo permanecer.

   Com um plantel que dá bastantes garantias para a prossecução dos objetivos propostos no início da época, o rendimento apresentado neste ano civil não correspondeu às expectativas e as razões são várias, passando pela inconsistência e juventude do técnico finlandês até inícios do presente mês que não conseguiu encontrar soluções para o estado letárgico em que a formação subitamente se encontrou e, tendo em conta a relativa idade precoce da generalidade do plantel, uma sucessão de maus resultados fez o Bayer 04 Leverkusen entrar numa recessão ainda maior e numa crise de resultados com uma componente mental bem saliente. Com uma vitória nos últimos 9 encontros relativos à Bundesliga, exige-se à equipa e ao técnico da transata temporada que reabilite os níveis anímicos da formação germânica de modo a garantir, pelo menos, um posto europeu. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / enelareachica.com / media.zenfs.com

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