Reflexão: A despedida oficial de Deco perante um Estádio do Dragão repleto poderá muito bem servir como mote para retomar uma questão que assume cada vez mais importância no futebol moderno. Afinal, onde estão atualmente os números dez? Por onde andam aqueles que tratam a bola por tu, que trazem magia aos relvados e que fazem com que o futebol seja um desporto que move milhões de adeptos?
Arrigo Sacchi afirmou que "O futebol é a coisa mais importante dentro das menos importantes". Um grupo de jovens estudantes universitários corrobora estas palavras e propõe uma assistência com um Passe de Letra.
30 de julho de 2014
29 de julho de 2014
Rescaldos d'esféricos: O estágio do Sporting CP em terras holandesas
O Sporting Clube de
Portugal, segundo classificado na passada edição da Liga Portuguesa após uma
época marcada pela ausência de expectativas, encara na presente temporada um
novo desafio: o de consolidação do seu lugar na elite nacional, com a respetiva
repercussão nas provas europeias, acarretando assim maior carga competitiva e
um plantel mais robusto. Apesar da saída de Leonardo Jardim, o técnico que foi
a figura chave na época fantástica dos leões, a direção optou por manter a
aposta num treinador ambicioso, apreciador do futebol apoiado de posse e
ofensivo, enveredando para Marco Silva, que conduziu a equipa do Estoril Praia
às (até então, inéditas) competições europeias por duas temporadas
consecutivas. Com um número de novas contratações e de repescagens à equipa B,
a formação de Alvalade venceu todas as partidas que disputou em solo lusitano e
partiu para o estágio holandês com dois troféus assegurados, sendo eles o
Troféu Pedro Pauleta e a Taça de Honra.
O estágio do Sporting
na Holanda teve como base a vila de Doorwerth e estipulou três particulares: o
primeiro contra o RKSV Achilles '29, vigésimo classificado da segunda liga
holandesa de 2013/14 e, por isso, despromovido; o segundo diante da formação do
FC Utrecht, 10º classificado da Eredivise de 2013/14; e o último face ao
terceiro classificado da mesma competição FC Twente.
Na primeira partida,
o timoneiro Marco Silva concedeu oportunidades a elementos mais desvirtuados do
onze base da vitória na Taça de Honra e da época passada, com a introdução de
dez novos elementos comparativamente a essa formação e com o lateral esquerdo
Jefferson a ser o único futebolista presente em ambas as eventualidades. Com um
entrosamento naturalmente menos evidenciado, os centrais Tobias Figueiredo e
Paulo Oliveira mostraram-se tranquilos no tratamento da bola e surgiam com
frequência na grande área mas viam-se facilmente explorados em incidências de
ataques rápidos. O meio-campo dispôs de pouca coesão e de mais iniciativas
individuais, com Wallyson e Slavchev ainda a exibirem-se de modo tímido mas com
alguns momentos de valor e João Mário a servir de ponte de conexão entre os
diversos setores, mostrando-se um box-to-box relevante e que pode facultar
dores de cabeça ao técnico Marco Silva. Quanto às alas, André Geraldes manteve
uma postura sóbria defensivamente mas com pouco acréscimo ofensivo a Shikabala
enquanto Jefferson e Carlos Mané mostravam-se dispostos em fazer combinações
com menos intensidade mas com vista ao serviço do reforço japonês Junya Tanaka,
que demonstrou ter o oportunismo necessário para se firmar como uma opção
válida na dianteira ao faturar um hat-trick. As substituições efetuadas pelo
treinador permitiram que tanto os restantes reforços como outros pupilos da
formação se mostrassem, destacando-se destes Heldon pelo golo marcado e Ryan
Gauld, uma das grandes promessas do futebol escocês, a mostrar belas
combinações com João Mário e Simeon Slavchev que viabilizaram a dilatação de
uma vitória justa por 5-2.
Na segunda partida,
diante de um adversário mais capaz e ameaçador, o Sporting atuou com um onze
mais condizente com os usados nas duas partidas relativas à Taça de Honra,
dispondo apenas de um reforço no onze inicial e sendo ele o espanhol Oriol
Rosell, que voltou a dar nas vistas. Com uma exibição inspirada de Marcelo
Boeck tendo defendido um penálti, a equipa dos leões demonstrou todo a coesão e
o trabalho desenvolvido na temporada prévia a ser catapultado para esta, com
Marco Silva somente a insistir nas combinações práticas a derivarem para as
alas (Carrillo esteve em grande destaque, com mais camaradagem e não tanta
obsessão no porte da bola, ao contrário de Capel) e com o meio-campo a servir
de suporte no ataque nas zonas de finalização (André Martins surge quase como
um segundo avançado numa estrutura tática teoricamente estipulada como 4x3x3 e
voltou a abanar as redes da baliza adversária e Adrien esteve na origem dos
dois primeiros golos com remates potentes que originaram defesas incompletas).
Sentiu-se também que esta zona central do jogo da equipa de Lisboa perdeu
poderio físico com a ausência de William Carvalho (que entretanto entrou e
mostrou a sua positiva influência defensiva) mas ganhando mobilidade e
abnegação no capítulo ofensivo, estando, no capítulo do passe, com níveis de
eficácia similares aos do seu concorrente direto. Os centrais Maurício e Eric
Dier revelaram poucos erros de posicionamento e elevados índices de agressividade
a cada lance disputado, enquanto os laterais mantiveram uma preponderância
ofensiva e sintonia com os seus parceiros de corredor, enquanto que Fredy
Montero bem tentou “matar o borrego” de jogos consecutivos sem marcar mas sem
sucesso e muito se devendo à sua envolvência como elemento de equipa e não
tanto como finalizador nato. Quanto à segunda linha que entrou na segunda
parte, esta não evidenciou a qualidade e as rotinas prementes com a equipa que
atuou no primeiro período, abrindo mais espaços para o Utrecht e permitindo
mais posse por parte dos holandeses no meio-campo contrário. Os destaques,
todavia, são alguns, tais como a frieza de Tanaka, o virtuosismo de Carlos
Mané, as virtudes a pêndulo de João Mário e a surpresa de Esgaio ao atuar com eficácia
na ala esquerda, apesar da sua preferência derivar para a direita. Novamente um
triunfo merecido de um Sporting com mais maturidade tática, maior entrosamento,
eficácia e com argumentos de assumir a identidade defendida por Marco Silva,
tanto como uma equipa que pode funcionar tanto como uma de transições rápidas e
de eficientes variações de flanco por parte da bola como de uma equipa com bola
no pé por algum tempo visando constantemente a baliza.
No último e mais
árduo encontro, diante da formação holandesa do FC Twente, o Sporting foi
derrotado por 2-0 e, apesar de perfilar com somente dois reforços, produziu um
jogo menos conseguido. A formação lisboeta sentiu-se incomodada com uma pressão
inicial no seu meio-campo por parte do oponente, sofrendo o golo numa casual
oportunidade onde Eric Dier falhou na cobertura física. No resto do processo
defensivo, toda a linha defensiva mais William Carvalho cumpriu na restante
envolvência da primeira parte, especialmente no capítulo da antecipação ao último
passe e com uma boa exibição do reforço lateral-direito André Geraldes. Quanto
ao ataque, as alas, com André Carrillo e Carlos Mané, foram facilmente anuladas
pelos laterais holandeses e, por conseguinte, poucas oportunidades foram
geradas para que Junya Tanaka pudesse replicar o gosto ao pé tal como nas duas
transatas partidas. O meio-campo não funcionou, com Adrien e André Martins a
não colaborarem de forma tão assídua no processo ofensivo e com estes e William
Carvalho a falharem copiosamente passes e a não encontrarem soluções para
romperem com a poderosa defesa da equipa de Enschede. No segundo tempo, desde
logo entraram Fredy Montero, Diego Capel e os reforços Oriol Rosell e Paulo
Oliveira para os lugares de Junya Tanaka, de Carlos Mané, de William Carvalho e
de Eric Dier. A equipa de Alvalade a espaços conseguia perturbar o guarda-redes
holandês mas sem a eficácia desejada e com limitações após a expulsão de
Maurício por acumulação após este colocar o esférico dentro da baliza com a
mão. Um encontro menos conseguido sem que o Sporting colocasse em prática os
processos defendidos pelo técnico Marco Silva em que as diagonais foram
escassas e, quando cumpridas, não tiveram a devida prossecução, com o
meio-campo com fugazes iniciativas sem originar verdadeiros sobressaltos à
defesa adversária e com a defesa a cumprir no papel mas com alguns lapsos que
levaram a que o resultado favorecesse a equipa anfitriã.
Em suma, o estágio do
Sporting Clube de Portugal ficou-se por um sentimento algo amargo após duas
vitórias e uma derrota diante da equipa com argumentos mais equiparáveis aos
dos leões. Destacam-se algumas nuances novas introduzidas pelo novo treinador
Marco Silva ao trabalho já desenvolvido na transata época por Leonardo Jardim e
muito reciclado pelo ex-Estoril, tais como os maiores níveis de posse de bola e
a tentativa de construir jogo de forma paciente mas objetiva a partir da
defesa, apelando a uma circulação de bola apoiada e com tendências
diversificadas, tanto com privilégio para os flancos como diretamente para os
elementos mais avançados, mas também a insistência nos ataques rápidos e na
tentativa de apanhar a defesa adversária no contrapé, reforçando a
imprevisibilidade da equipa. Quanto aos processos defensivos, existem mais
elementos concentrados no seu meio-campo e uma marcação mais zonal do que
corpo-a-corpo, com os extremos tanto a apoiarem atrás os seus companheiros como
a atrapalharem os centrais na sua construção, potenciando a existência de
vários golos através destes movimentos. Na ocasião em que enfrentou uma equipa
mais possante e capaz de contrariar o domínio verde-e-branco, a equipa revelou
algumas lacunas especialmente na clarividência ofensiva e no deslumbramento com
a bola nos pés, levando a vários cortes fáceis dos opositores. Notas positivas
para a eficácia de Junya Tanaka (4 golos em 2 encontros), a segurança de
Marcelo Boeck (penálti defendido e tranquilidade no jogo com os pés), a
dinâmica de Oriol Rosell na primeira linha de construção ofensiva, chegando com
facilidade à área contrária para dar suporte a este trabalho; e a sintonia
entre Adrien Silva e André Martins na segunda partida, mostrando boas
articulações com as alas e forte presença no terreno do adversário. Os testes
que se avizinham serão, no geral, ao nível deste mais recente desencadeado pelo
FC Twente e, por isso, servirá para aprimorar as rotinas menos compreendidas e
expostas em campo, desta feita com Rui Patrício, Marcos Rojo e Islam Slimani já
reintegrados na equipa.
Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: anortedelvalade.blogspot.com / record.xl.pt / amorsporting.com / desporto.sapo.pt
28 de julho de 2014
Espaço Entrelinhas: Dragão renovado busca título perdido
Vivem-se tempos de
mudança no Dragão. A época transata deixou a nu as fragilidades de uma equipa
que, embora apresentasse um onze inicial de respeito, nunca teve soluções para
inverter o rumo de um jogo menos conseguido. Paulo Fonseca foi uma aposta claramente
falhada, os reforços, maioritariamente recrutados a nível interno, pouco
acrescentaram e os resultados demonstraram o pior FC Porto que me lembro de ver
jogar.
Soou o alarme numa
estrutura pouco habituada a fracassos. Embora o seu trabalho tenha saído
valorizado e tenha conquistado o respeito de adeptos e adversários, Luís
Castro, homem da casa, regressou à equipa secundária dos “azuis e brancos”.
Qual bombeiro, foi chamado a intervir perante uma situação de emergência e
conseguiu minimizar o impacto de uma temporada atípica. Quando a generalidade
dos comentadores e da imprensa apontavam ao comando da equipa portista um
treinador experiente e com tarimba no futebol europeu, eis que Pinto da Costa e
seus pares apostaram em Julen Lopetegui. É um jovem
treinador espanhol, desconhecido do público em geral e com um curriculum demonstrativo
da sua inexperiência ao mais alto nível no futebol europeu. O basco conta com
passagens por equipas secundárias do futebol espanhol relevando-se o seu
trabalho nas seleções jovens de Espanha, tendo conquistado um Campeonato da
Europa de sub-19 em 2012 e outro pela categoria de sub-21 em 2013.
Apesar
da sua pouca experiência é claramente uma aposta forte da direção portista,
tendo rubricado um contrato válido por três temporadas. A confiança depositada
no técnico basco de 47 anos espelha-se ainda na construção daquele que será o
plantel do FC Porto para a temporada 2014/2015. Fruto da participação no playoff de
acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, os “dragões” encontram-se já numa
fase mais adiantada da pré-temporada, tendo, com efeito, estado bastante ativos
no mercado de transferências de modo a ter uma equipa já devidamente entrosada
para o arranque oficial da época, que coincide com a eliminatória acima
referida, que em caso de vitória dará acesso à mais vistosa montra do futebol
europeu.
Lopetegui tem tido total liberdade no que concerne ao escalonamento do
plantel. Os reforços portistas têm “o dedo” do técnico que tem privilegiado o
ingresso no clube de jovens internacionais espanhóis com os quais já teve
oportunidade de trabalhar, ou, então, de atletas internacionais provenientes de
La Liga, que o basco tão bem conhece. Fazendo
uma análise global ao plantel portista, que, por força do mercado de
transferências, ainda não se encontra fechado, verifica-se um aumento de
qualidade e quantidade na zona mais ofensiva do terreno de jogo.
Em
comparação com a temporada transata, o meio-campo do FC Porto encontra-se bem
mais apetrechado, o que pode permitir um nível de fluidez de jogo muito
superior ao exibido em 2013/2014. Destaca-se, porém, a perda de Fernando. O
“Polvo”, que foi o pêndulo e o porto seguro dos “dragões” nos últimos anos,
transferiu-se para o Manchester City de Inglaterra. Era na minha opinião, o
jogador mais importante da equipa, o seu ponto de equilíbrio, o dínamo do onze
inicial. Para o seu lugar chegou Casemiro, jovem brasileiro
proveniente do Real Madrid. É um jogador diferente, o que fará com que,
naturalmente, a equipa se exiba em campo de uma forma diferente daquela a que
nos habituou. A nível defensivo não oferece a segurança que Fernando oferecia
mas, em compensação, o Porto poderá beneficiar nas transições defesa-ataque uma
vez que Casimiro é um médio defensivo talhado para iniciar o processo de
construção de jogo, sendo, nesse aspeto, mais “atrevido” que Fernando.
Josué,
aposta de Paulo Fonseca, que foi desaparecendo das opções no desenrolar da
época passada parece não contar para Lopetegui. Há Herrera, que
regressa à Invicta após, finalmente, dar mostras do seu real valor no Mundial
do Brasil ao serviço da seleção mexicana, onde se consagrou como um dos
melhores médios e, seguramente, uma das principais revelações da prova. Óliver Torres,
emprestado pelo Atlético de Madrid, Juan Quintero e
o recém-contratado ao Granada, o argelino Brahimi, garantirão,
certamente, futebol espetáculo. Ambos são muito dotados tecnicamente,
apresentam grande qualidade na posse de bola e oferecerão muitas soluções ao
treinador, consoante os jogos, as diversas competições e o tipo de adversário.
Comparativamente às opções ao dispor de Paulo Fonseca e Luís Castro há um
nítido upgrade no meio campo onde anteriormente pontificavam,
para além do indiscutível Fernando, ora Josué, ora Defour (o belga
provavelmente será transferido) ora Herrera, que ainda se encontrava em fase de
adaptação. Para esta temporada não se podem descurar, ainda, os nomes de Evandro,
um dos principais destaques do nosso campeonato, contratado ao Estoril, médio
muito forte nas bolas paradas, no municiamento ao ataque e, sobretudo, com,
chegada à área e faro de golo, fruto do seu potente remate e Carlos Eduardo,
que demonstrou qualidade, a espaços, na passada temporada.
No ataque o
esforço demonstrado na manutenção do goleador colombiano Jackson Martínez é
um sinal revelador da enorme vontade do FC Porto em reconquistar o título
perdido. Para acompanhá-lo chegou Adrián López,
espanhol, campeão pelo Atlético de Madrid e que conviveu com outro goleador,
aliás, o máximo goleador espanhol de La Liga, Diego Costa. Embora não fosse um
titular na equipa guerreira de “Cholo” Simeone, aproveitou bem o tempo que lhe
foi concedido. Mais um claro acréscimo de qualidade. Poderá desempenhar funções
no eixo ou nas alas. Ghilas, que passou um ano na sombra do Cha Cha Cha, deverá
ser emprestado para jogar, uma vez que com Jackson e Adrián será muito difícil
ter minutos neste renovado plantel azul e branco.
Quaresma, regressado em
janeiro, deu algum brilho a uma equipa que muitas vezes pareceu estar à deriva
em busca do norte. As suas trivelas, os seus dribles e a sua magia deram
encanto a um FC Porto muito cinzento. Este ano porém, o “Mustang” não atuará a
solo. Cristian Tello chega do Barcelona desejoso
por minutos e com ânsia em brilhar também. Tapado no plantel culé,
foi um desejo expresso de Lopetegui contribuindo para o aumento do contingente
espanhol no Dragão. Indubitavelmente um dos jogadores mais entusiasmantes que
aterrou em Portugal neste defeso. Técnica, velocidade e visão de jogo, com o
certificado de qualidade de La Masia. Licá nunca demonstrou
qualidade para jogar a este nível e com naturalidade deverá sair. Kelvin, que
já tem o seu lugar reservado na história do clube, parece não ter convencido
Lopetegui e a sua saída é uma possibilidade. Com o mesmo cenário poder-se-á
deparar o internacional português Silvestre Varela.
Após cinco temporadas de dragão ao peito vê o seu espaço no plantel cada vez
mais reduzido em virtude das caras novas que chegaram nesta pré-temporada. O
desenlace da época transata vincou a necessidade de um novo fulgor ao nível de
extremos e a qualidade exibicional bem como a capacidade de decisão do português
tem vindo a decair de época para época. Ricardo terá
dificuldades em se impor, fruto da qualidade e quantidade ao dispor de
Lopetegui. Contudo soube aproveitar, na época passada, os minutos que teve,
sobretudo com Luís Castro, e a sua polivalência poderá ser útil para enfrentar
uma temporada que se prevê longa. Sami é proveniente do
Marítimo, tem estado em destaque nesta pré-temporada e revela ambição em
agarrar uma vaga neste plantel. De referir que os já citados Torres, Quintero,
Brahimi e Adrián poderão, igualmente, derivar para uma das alas.
Em contraste com a abundância e a qualidade do meio campo e o ataque, o setor defensivo é aquele que ainda me levanta algumas dúvidas, sobretudo confirmando-se a mais que provável saída de Mangala, o patrão da defesa. Mantêm-se os laterais Danilo e Alex Sandro que, contudo, terão que apresentar um nível superior ao de 2013/2014, o que será facilitado pela maior qualidade deste plantel. A falta de alternativas aos dois laterais brasileiros foi um dos fatores do fracasso dos azuis e brancos na temporada transata. Uma falha grave, reveladora, porventura, de algum acomodamento e falta de critério na construção do plantel. Este ano chegou o internacional ganês Opare, defesa direito para concorrer com Danilo. Fica a faltar uma alternativa para o lado canhoto da defensiva. José Ángel, que na última temporada atuou no campeonato espanhol ao serviço da Real Sociedad pode ser o concorrente que tem faltado a Alex Sandro. Maicon parece-me, pela sua qualidade, experiência e tempo de casa, ser um dos indiscutíveis no eixo da defesa. Forte no jogo aéreo e nas bolas paradas, um líder em campo, deverá ter lugar cativo. O mexicano Reyes, pese a sua juventude, ainda não me convenceu. Demonstrou num passado ressente demasiados erros para ser titular. Terá que crescer ainda e no Dragão é prática comum a concessão desse tempo de adaptação que, neste caso se está a alongar demasiado. Reyes traduziu um avultado investimento, tem tido oportunidades e com Lopetegui esta época poderá dissipar as minhas dúvidas acerca de ser uma jovem promessa que está a completar o seu processo de adaptação ao futebol europeu ou se se trata de um erro de casting. Bruno Martins Indi reforçou os dragões proveniente do Feyenoord. Nascido no Barreiro este internacional holandês entrou para a ribalta ao ser convocado por Van Gaal para o Mundial do Brasil onde foi titular, contribuindo para o brilhante terceiro lugar alcançado pela Laranja Mecânica. Deverá ocupar a vaga deixada em aberto por Mangala. Polivalente, desempenha igualmente as funções de defesa esquerdo. O chileno Igor Lichnovsky, conhecido como o “Piqué azul” irá provavelmente evoluir na equipa b portista. Aos 20 anos terá a sua primeira experiência na Europa, após a sua formação no Universidad de Chile. Será o quarto central da equipa principal, deverá ter minutos nas taças, jogando regularmente pela formação secundária do FC Porto, sob as ordens de Luís Castro. Abdoulaye regressou de empréstimo em janeiro e surpreendeu-me ao ser titular no campeonato. É um jogador que apesar da sua grande envergadura e estampa física, não consegue disfarçar as suas debilidades técnicas. Será muito provavelmente dispensado. É outro jogador que, tal como Licá e até Josué, não têm qualidade técnica para um clube destas dimensões.
Em contraste com a abundância e a qualidade do meio campo e o ataque, o setor defensivo é aquele que ainda me levanta algumas dúvidas, sobretudo confirmando-se a mais que provável saída de Mangala, o patrão da defesa. Mantêm-se os laterais Danilo e Alex Sandro que, contudo, terão que apresentar um nível superior ao de 2013/2014, o que será facilitado pela maior qualidade deste plantel. A falta de alternativas aos dois laterais brasileiros foi um dos fatores do fracasso dos azuis e brancos na temporada transata. Uma falha grave, reveladora, porventura, de algum acomodamento e falta de critério na construção do plantel. Este ano chegou o internacional ganês Opare, defesa direito para concorrer com Danilo. Fica a faltar uma alternativa para o lado canhoto da defensiva. José Ángel, que na última temporada atuou no campeonato espanhol ao serviço da Real Sociedad pode ser o concorrente que tem faltado a Alex Sandro. Maicon parece-me, pela sua qualidade, experiência e tempo de casa, ser um dos indiscutíveis no eixo da defesa. Forte no jogo aéreo e nas bolas paradas, um líder em campo, deverá ter lugar cativo. O mexicano Reyes, pese a sua juventude, ainda não me convenceu. Demonstrou num passado ressente demasiados erros para ser titular. Terá que crescer ainda e no Dragão é prática comum a concessão desse tempo de adaptação que, neste caso se está a alongar demasiado. Reyes traduziu um avultado investimento, tem tido oportunidades e com Lopetegui esta época poderá dissipar as minhas dúvidas acerca de ser uma jovem promessa que está a completar o seu processo de adaptação ao futebol europeu ou se se trata de um erro de casting. Bruno Martins Indi reforçou os dragões proveniente do Feyenoord. Nascido no Barreiro este internacional holandês entrou para a ribalta ao ser convocado por Van Gaal para o Mundial do Brasil onde foi titular, contribuindo para o brilhante terceiro lugar alcançado pela Laranja Mecânica. Deverá ocupar a vaga deixada em aberto por Mangala. Polivalente, desempenha igualmente as funções de defesa esquerdo. O chileno Igor Lichnovsky, conhecido como o “Piqué azul” irá provavelmente evoluir na equipa b portista. Aos 20 anos terá a sua primeira experiência na Europa, após a sua formação no Universidad de Chile. Será o quarto central da equipa principal, deverá ter minutos nas taças, jogando regularmente pela formação secundária do FC Porto, sob as ordens de Luís Castro. Abdoulaye regressou de empréstimo em janeiro e surpreendeu-me ao ser titular no campeonato. É um jogador que apesar da sua grande envergadura e estampa física, não consegue disfarçar as suas debilidades técnicas. Será muito provavelmente dispensado. É outro jogador que, tal como Licá e até Josué, não têm qualidade técnica para um clube destas dimensões.
Na
baliza reside o principal mistério do FC Porto versão 2014/15. Helton encontra-se
ainda a recuperar da grave lesão contraída em Alvalade e inclusive especula-se
sobre o facto de poder ter colocado um ponto final na sua carreira. Fabiano tem
sido titular na pré-época mas parece não ter a confiança de Lopetegui. Muito
forte dentro dos postes, tem lugar assegurado no plantel mas provavelmente será
suplente novamente. Ricardo, contratado à Académica, parte atrás de
Fabiano na corrida à titularidade. Lopetegui deseja um homem da sua confiança a
guardar as redes dos “dragões”. Os nomes citados parecem não satisfazer o
técnico basco, pelo que o FC Porto está no mercado por um novo guarda-redes.
Andrés Fernández, guardião espanhol do Osasuna, bem conhecido por Lopetegui,
tem sido colocado insistentemente pela generalidade da imprensa desportiva como
estando muito próximo de assinar pelos “dragões”.
Feita
esta análise ao plantel do FC Porto, pela objetividade com que os “dragões” se
estão a reforçar neste mercado de transferências parecem-me ocupar a pole
position na candidatura ao título em 2014/2015. Negativamente destaco
a política de empréstimos que tem sido seguida pelos azuis e brancos. Casimiro,
Torres e Tello são algumas das caras novas para esta temporada, jovens
potenciais titulares, emprestados, respetivamente, por Real Madrid, Atlético de
Madrid e Barcelona. Sou da opinião que os clubes portugueses devem apostar na
formação de jogadores ou, alternativamente, na compra de jovens a um preço
acessível para que os potenciem e posteriormente os possam vender para os
grandes “tubarões” europeus por valores elevados, compensando deste modo o
investimento na formação ou na compra do jovem atleta. Porém, esta opção do FC
Porto, pontual (eu pelo menos não tenho memória de tantos reforços que chegaram
a título de empréstimo em épocas transatas), demonstra a enorme vontade
manifestada em voltar a ser campeão no imediato. Face à crise económica e
financeira que atravessamos o FC Porto tem, deste modo, acesso a jogadores que
de outra forma não os conseguiria obter.
Face a
um SL Benfica que está a ser dilacerado perante o ataque dos clubes mais ricos
e poderosos da Europa aos principais obreiros do título do ano passado e um
Sporting CP que está limitado por um orçamento reduzido, o FC Porto parte à
frente na corrida ao título. Porém, importa salientar que nos encontramos ainda
em fase de preparação da época desportiva, o mercado está aberto e as próximas
semanas prometem novidades. Ainda muita coisa pode acontecer e só em meados de
maio se conhecerá o campeão. Por agora resta esperar que a bola comece a rolar.
Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: abola.pt /
record.xl.pt
23 de julho de 2014
Futebol Global 2014/15: Futebol brasileiro no fundo do poço (análise de 16 a 22 de julho)
Reflexão: Após o fracasso que constituiu o Mundial 2014, Dunga foi o escolhido para CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para suceder a Luiz Felipe Scolari no comando técnico da seleção nacional brasileira. Após uma passagem entre 2007 e 2010 pelo escrete (conquistando a Copa América 2007, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Pequim 2008 e a Taça das Confederações 2009) o antigo internacional brasileiro está de regresso a um posto que já lhe valeu bastantes críticas.
16 de julho de 2014
Futebol Global 2014/15: Denominador comum para espanhóis e alemães (análise de 8 a 15 de julho)
Reflexão: Caiu o princípio da continentalidade. Quatro anos após o sucesso espanhol, a Alemanha superiorizou-se numa interessante final, com os germânicos a assumirem as despesas do jogo e os argentinos a tentarem aproveitar os erros adversários para criarem oportunidades de golo. Em pleno prolongamento, Mario Götze resolveu a partida com uma bela execução de pé esquerdo, dando o quarto título mundial ao seu país e igualando os feitos de 1954, 1974 e 1990.
14 de julho de 2014
Rescaldos d'esféricos: O esmorecimento do Sudoeste do Velho Continente
Com
o término do Mundial e com a vitória da seleção da Alemanha diante da
Argentina, não há quaisquer dúvidas que esta edição da competição ficará
perpetuada no mundo do futebol internacional como uma das melhores de sempre.
Todavia, como em praticamente todas no desporto global, existem sempre os
denominados “flops”, isto é, as desilusões, sendo estas maioritariamente
provindas do continente europeu. Seleções como Espanha, Inglaterra e Itália,
anteriores campeãs mundiais, e Portugal caíram de forma justa e precoce perante
seleções americanas que, atuando no seu clima e com essas condições dispostas
para serem potenciadas como vantagens, só se podem queixar de si próprias por
não terem outro desfecho no final desta Copa, tal como Alemanha e Holanda.
Começando pela seleção portuguesa, que
acumulou uma vitória diante do Gana, um empate diante dos Estados Unidos e uma
copiosa derrota contra a posterior campeã Alemanha, foi uma equipa bastante
focada no melhor jogador do mundo da atualidade: Cristiano Ronaldo. Existia
claramente um rótulo de que Portugal era Ronaldo e mais 22 jogadores. Foi uma
das grandes debácles em relação a outras forças cujo coletivo se superiorizou.
Para além deste fator, a deficiente condição física com que a maioria dos
futebolistas se encontrou (inúmeras lesões musculares e substituições forçadas
contribuíram para a delimitação do raio de ação do selecionador), a
convocatória que suscitou bastante discussão nos cafés do país (Anthony Lopes,
Cédric Soares, Rolando, Adrien Silva, Ricardo Quaresma, entre outros, ficaram
de fora) e a parcimónia em que o selecionador Paulo Bento se mergulhou (apenas
efetuando alterações que pareciam óbvias a olho nu no encontro em que tudo se
encontrava parcialmente decidido, especialmente a ausência de William Carvalho
diante da frouxa postura de Raúl Meireles e Miguel Veloso nos encontros que
antecederam o terceiro) são outros dilemas que estalaram nesta competição.
A seleção espanhola, campeã em título,
vinha de uma larga derrota diante do Brasil na Taça das Confederações e, apesar
desta, era considerada uma das grandes favoritas ao êxito maior no Maracanã no
dia 13 de julho de 2014. Puro engano, pois duas derrotas a abrir a campanha
(1-5 diante da Holanda e 1-2 contra o Chile) colocaram os ibéricos de uma só
assentada de fora da Copa. A base dos êxitos na África do Sul em 2010 e na
Polónia/Ucrânia em 2012 permanecia e, tal como na equipa lusa, não exibiu a
flora das suas capacidades devido já ao acumulado desgaste pela entrada na casa
dos 30 anos da maioria dos atletas mas com alguns elementos (Juan Mata, David
Silva, Jordi Alba ou Diego Costa) que quebravam com esta base mas que não
conseguiram arrastar consigo os restantes companheiros. O tiki-taka que
perdurou nestes últimos quatro anos foi superiorizado por uma cínica estratégia
orquestrada por Van Gaal e pela renovação coletiva à qual conduziu e por um
Chile que mostrou as ganas e a dinâmica ofensiva da qual os espanhóis careciam.
Com uma escola de talentos de larga escala (Ander Herrera, Iker Muniain, Jesé
Rodríguez, Cristian Tello, Thiago Alcântara, entre outros), o futuro parece
brilhante para os espanhóis, contudo não com Vicente Del Bosque, selecionador
que, no passado, acumulou sucessos tanto em clubes como em seleções mas cuja
metodologia suscita interrogações nos críticos.
Passando à seleção italiana, campeã em 2006
na Alemanha, esta viu-se enquadrada no grupo da morte assim como a seleção
inglesa, afigurando-se como teorica e historicamente favoritos em relação às
seleções americanas do Uruguai e da Costa Rica. No jogo inaugural deste grupo
de ambas as coletividades, foi a primeira a levar a melhor por 2-1 num encontro
que foi bem repartido, entre as rápidas movimentações dos jovens irreverentes
constituintes da seleção britânica e a lenta e paciente construção da veterana
seleção a partir da linha defensiva. Contudo, os restantes encontros destas
duas seleções revelaram-se surpreendentes, com Uruguai e Costa Rica a vencerem
Inglaterra e Itália respetivamente. Com um Luís Suarez literalmente endiabrado
e um inspirado Keylor Navas na seleção dos ticos, foi inoperante o esforço dos
habituais tubarões do Velho Continente (Inglaterra, estava assim, fora do Mundial)
mas com a Itália ainda a permanecer com uma réstia de esperança de
qualificação, apesar de estar longe de cativar os mais céticos. Esta réstia foi
logo neutralizada pelo herói do título nacional do Atlético de Madrid, o
central uruguaio Diego Godín, que desnudou as gradualmente mais evidentes
debilidades organizativas e ofensivas da seleção de Itália, que, mesmo
defensivamente, nunca teve armas para lidar com construções dinâmicas de
velocidade elevada, de circulação pragmática de bola e de rápidas transições,
explorando os espaços deixados pelos possantes defesas transalpinos e
produzindo com regularidade através desse parâmetro, levando à demissão do
treinador Cristiane Prandelli que foi mais perspicaz que os selecionadores das
seleções supramencionadas e que se apercebeu que é necessário um novo
comandante para levar a cabo a transformação italiana, cujo futebol se encontra
ultrapassado e acorrentado na década passada. Quanto à Inglaterra de Roy
Hodgson, foi uma que efetuou a regeneração atempadamente mas que não conseguiu
construir um coletivo válido que lhe permitisse chegar mais longe, sobrando
para o Europeu de França de 2016 grandes esperanças quanto a esta seleção que
apresenta valores de grande qualidade mas de escassa experiência quanto a
encontros internacionais.
Exceto a Alemanha e a Holanda, deduz-se
destas aferições que existe um desmoronamento das teorias táticas privilegiadas
pela seleções advindas de solo europeu, com Portugal a não dispor de elementos
que permitam a aplicação de um 4x3x3 dada à ausência de pontas-de-lança
profícuos na lista de possíveis escolhidos para este grupo e da falta de rigor
defensivo por parte dos laterais existentes, dada à larga propensão ofensiva
dos flanqueadores do século XXI e escassez de virtudes de marcação e ocupação
de espaços; com a Espanha a possuir as pedras basilares dos seus precedentes
êxitos sem o fulgor de outrora e a não corresponder às expectativas dos seus
apoiantes; com a Itália a possuir rotinas bastante antiquadas para o futebol
aplicado neste momento e a necessitar de uma reformulação tática em termos
ofensivos (falta de posse com objetividade e de elementos capazes de fazer a
diferença potenciando as lógicas elaborações do miolo) e, consequentemente,
quanto à organização defensiva (linha defensiva muito avançada e lenta em
campo, com bastante espaços a serem explorados, e falta de apoio no processo
defensivo por parte dos centrocampistas); e com a Inglaterra, com um jovem rol
de excelentes recursos, a precisar de tempo e
experiência para consolidar os processos preconizados pelo seu técnico e
a exibir potencial para um futuro interessante. Muitas mudanças devem ser
realizadas, pensadas e repensadas para que as seleções europeias voltem a
arrecadar a hegemonia do futebol mundial, com o Europeu a ser uma montra para
se verificar se as devidas correções foram tomadas ou não. Caso permaneçam
estas lacunas, confirmar-se-à uma crise não só sócio-económica e política mas
também refletida no desporto, mais concretamente no desporto rei.
Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: gettyimages.com
8 de julho de 2014
Futebol Global 2014/15: "El Bandido" quase roubava o sonho brasileiro (análise de 1 a 8 de julho)
Reflexão: Por muito que se discuta as opções tomadas por José Pekerman (treinador que incutiu uma mentalidade mais ambiciosa e ganhadora) ou até mesmo a enorme falta que Radamel Falcao fez, a Colômbia saiu do Mundial 2014 de forma digna e com o estatuto de uma das grandes sensações da prova. Basta olhar para o registo histórico dos "cafeteros" para se perceber que em cinco participações do país sul-americano na competição, a chegada aos quartos-de-final constituiu a melhor prestação.
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