Completadas
as primeiras três jornadas da Primeira Liga, estando o campeonato nacional
interrompido em virtude dos compromissos das seleções nacionais, é tempo de
fazer um balanço sobre o arranque da temporada 2014/2015.
Em
primeiro lugar merece destaque o Rio Ave
FC. A equipa vilacondense tem sido um dos principais animadores deste
início de época. Com 9 pontos no campeonato, a turma de Pedro Martins lidera a
competição, dando mostras de querer dar continuidade ao bom trabalho que tem sido
efetuado ao longo das temporadas anteriores. Até ao momento tem sobressaído a
sua capacidade de finalização expressa indelevelmente nas goleadas por 1-5
perante o GD Estoril-Praia na Amoreira e o 4-0 numa partida frente ao Boavista
FC no Estádio dos Arcos. A principal arma rioavista é o sentido coletivo e o
espírito de equipa. No entanto realço alguns nomes. O defesa central Marcelo é o «patrão» do quarteto
defensivo. Sereno nas suas ações, sóbrio, transmite muita tranquilidade aos
seus companheiros de setor. A sua continuidade em Vila do Conde permaneceu
envolta em dúvidas até ao fecho do mercado de transferências. Muito cobiçado, a
sua permanência é sem dúvida uma boa notícia para Pedro Martins. Para além da
segurança e estabilidade que confere a toda a equipa, tem-se revelado
importante nas bolas paradas ofensivas e defensivas uma vez que o brasileiro
tem no jogo aéreo outra das suas virtudes. Com 25 anos é um dos defesas
centrais com mais classe e qualidade do nosso campeonato. Um valor seguro para
acompanharem com atenção. Tarantini
é o «arquiteto» da equipa. Todo o jogo do Rio Ave passa pelos seus pés. Muito
experiente, é o capitão e a voz de comando. Um médio trabalhador, jogador de
equipa que a equilibra, impedindo descompensações. Seja a atacar ou a defender
é um porto seguro. Sempre que tem oportunidade visa a baliza contrário, fazendo
uso do seu potente remate. Muito do jogo ofensivo da equipa está dependente da
velocidade e capacidade de desequilíbrio de Ukra e Diego Lopes. O
segundo, brasileiro que passou pela formação do SL Benfica, tem sido uma
agradável surpresa. É um dos jogadores mais tecnicistas ao dispor de Pedro
Martins e tem tido um arranque de campeonato muito bom. É um jovem bastante
criativo que vem crescendo no seio da equipa, contribuindo com golos e assistências
para os companheiros. Por fim, destaco um jovem de apenas 18 anos que me tem
entusiasmado particularmente. Trata-se de Boateng.
O ganês surgiu como um ilustre desconhecido mas pouco a pouco, como que em
pezinhos de lã, vai conquistando um lugar nas escolhas do treinador. É um
avançado muito móvel, dotado de um bom poder de arranque e aceleração.
Irrequieto, nunca dá uma bola por perdida. Quer seja lançado de início ou a
partir do banco, tem o condão de mexer com o jogo. Impressionam-me a sua velocidade
e o seu poder de impulsão. Um jovem para seguir atentamente.
A
acompanhar o bom arranque de campeonato salienta-se ainda a histórica e inédita
presença do Rio Ave na fase de grupos da Liga Europa. Ainda está fresco na
minha memória aquele golo de Esmael
Gonçalves, como que caído do céu, e que carimbou o passaporte dos
vilacondenses para a Europa do futebol. Há um novo herói em Vila do Conde e até
ver a temporada vai correndo de vento em popa para o Rio Ave FC.
O
meu próximo destaque situa-se igualmente no norte do país. Refiro-me ao Vitória SC que soma igualmente por
vitórias todos os jogos já disputados na Primeira Liga. As gentes de Guimarães
só podem estar orgulhosas do trajeto do clube da sua cidade. Um clube histórico
que fruto dos condicionalismos económico-financeiros que imperam na nossa
sociedade se vê forçado a reinventar-se época após época. A aposta na prata da
casa tem dado frutos e é para continuar. Tal como Guimarães, a cidade, é o
berço da Nação, também o Estádio D. Afonso Henriques é o berço ou a incubadora
de jovens talentos, portugueses, que devido aos condicionalismos já referidos
têm na primeira equipa do Vitória um espaço de crescimento e desenvolvimento
sustentável, no mais alto patamar do futebol português. A afirmação destes jovens
da formação deve-se muito ao técnico Rui
Vitória. É impossível ficar indiferente ao trabalho e à carreira deste
jovem treinador português. Começou no Vilafranquense, passou pelas camadas
jovens do SL Benfica e deu nas vistas no FC Paços de Ferreira até se assumir
como o “dono do castelo” em Guimarães. Está a cumprir a sua quarta temporada no
Minho e ao longo desses anos enfrentou sempre dificuldades. Sem muito dinheiro
para investir em reforços apostou destemido nos jovens da formação vimaranense.
Tiago Rodrigues e Ricardo Pereira, hoje em dia no FC Porto, foram dois dos
jovens que sob a orientação de Vitória foram peças importantes para a conquista
da Taça de Portugal na temporada de 2012/2013, o ponto mais alto de Vitória no
Vitória. A cada conquista, a cada temporada melhor conseguida, Rui Vitória
perde as suas jovens pérolas. A mais recente foi o central Paulo Oliveira que
rumou ao Sporting CP. O que mais admiro no técnico é a sua capacidade de
superação. Ano após ano é forçado a reconstruir o seu plantel e no final
consegue sempre alcançar os seus objetivos. A sua competência e capacidade para
retirar o melhor dos jovens ao seu dispor, a sua determinação e resiliência
para superar os mais variados obstáculos são de louvar. É por isso que ao
comentar o Vitória SC tenho que fazer este elogio ao seu treinador. Um dos
melhores e com mais provas dadas no panorama nacional.
Para
esta temporada perdeu a sua referência ofensiva (Maâzou partiu para o CS
Marítimo) e um dos seus principais desequilibradores, Marco Matias, que é
reforço do CD Nacional, mas mesmo assim não deixou de apresentar um futebol
ofensivo, positivo, sempre na busca pelos 3 pontos. André André é o dínamo do Vitória, um jogador que joga e faz jogar.
Doulgas, o guarda-redes, oferece
segurança à equipa e os jovens Hernâni,
Bernard (poderá conhecer um pouco melhor o perfil deste jovem ganês aqui) e Tomané animam as partidas no último terço do terreno. O objetivo
será a realização de uma época tranquila. Nas três primeiras jornadas
alcançarem 9 pontos é um feito notável para uma equipa que pretende assegurar a
manutenção o mais rapidamente possível. Um bom presságio para os
«conquistadores»… Estamos na presença de uma equipa especial, apoiada por uma
massa associativa muito exigente mas incansável no apoio ao seu clube. A
mística do Vitória SC, o facto de as pessoas de Guimarães apoiarem
exclusivamente o clube local é também um impulso e um incentivo. O plantel pode
não ter nomes sonantes, o clube pode não ter muita capacidade para colmatar, no
mercado de transferências, as lacunas de um plantel muito jovem e pouco
experiente, mas toda a envolvência em torno do Vitória e a capacidade e
qualidade de Rui Vitória, que contraria a lógica de «jogar para o pontinho»
podem levar esta equipa a cumprir com sucesso os objetivos delineados.
Não
poderia deixar de referir o renovado FC
Porto de Julen Lopetegui. Neste
espaço já tive a oportunidade de fazer algumas considerações em relação ao
plantel dos «dragões» (ver aqui). O início de campeonato protagonizado pelos azuis e
brancos veio ao encontro das minhas expectativas. O que mais me surpreendeu foi
mesmo o técnico espanhol, pese embora a qualidade do plantel ao dispor de
Lopetegui no qual, refira-se, ele próprio teve muita liberdade nas escolhas
para a sua composição. Encarado inicialmente com alguma desconfiança, o basco
desde cedo se impôs. A gestão que fez em relação a Quaresma e a forma como
solucionou o “filme” gerado à volta do atleta, a aposta num jovem de 17 anos
como Rúben Neves, uma das surpresas
deste arranque de campeonato – apresenta muita maturidade, qualidade e tem
desde já a oportunidade para crescer e jogar na primeira equipa – e a afirmação
de que «não há titulares» são uma clara demonstração da força de Lopetegui. A
famosa «gestão de egos» que traiu o seu antecessor Paulo Fonseca parece estar a
ser gerida de uma melhor forma pelo treinador espanhol. É, portanto, merecedor
deste destaque. Dentro de campo nada que não se esperasse: um FC Porto
dominador, com muita posse de bola faltando, porém, um melhor critério na
definição dos lances. A permanência de Jackson
Martínez pode ser benéfica nesse aspeto. Por vezes a equipa parece mastigar
demasiado o jogo com muita posse, todavia, inconsequente, na zona
intermediária.
Pela negativa devo salientar o Gil Vicente FC, o Boavista FC e o Penafiel FC. Estas três equipas são, talvez, as mais frágeis do principal escalão do futebol nacional. Ainda sem qualquer ponto amealhado apresentam um futebol muito pobre, que em nada contribui para a competitividade do futebol nacional. No caso dos gilistas o mau arranque motivou, inclusive, a primeira chicotada psicológica em 2014/2015 com José Mota a substituir João de Deus.
Pela negativa devo salientar o Gil Vicente FC, o Boavista FC e o Penafiel FC. Estas três equipas são, talvez, as mais frágeis do principal escalão do futebol nacional. Ainda sem qualquer ponto amealhado apresentam um futebol muito pobre, que em nada contribui para a competitividade do futebol nacional. No caso dos gilistas o mau arranque motivou, inclusive, a primeira chicotada psicológica em 2014/2015 com José Mota a substituir João de Deus.
Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: zerozero.pt / lusogolo.com / ojogo.pt / abola.pt
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