27 de outubro de 2013

Southampton FC: equipa trabalhada para crescer e surpreender

Fundado a vinte e um de novembro de 1885 (com quase  128 anos, portanto), o Southampton FC é um dos clubes fundadores da FA Barclays Premier League. Após nove jogos nesta edição 2013/14, os saints somam dezoito pontos em vinte e sete, estando assim na quinta posição em igualdade pontual como Everton FC e a apenas quatro pontos do líder Arsenal FC. Para além disso, esta formação é (até agora) a melhor defesa do campeonato inglês (apenas encaixou três golos) e a segunda melhor de todas as equipas europeias, sendo apenas superada pela AS Roma e estando em igualdade com o PAE Olympiacos Piraeus.  Posto isto, o estatuto de "sensação" parece aplicar-se que nem uma luva aos comandados de Mauricio Pochettino. Mas qual as razões deste sucesso numa fase tão precoce da época? Que jogadores apresentam qualidade para singrar noutros palcos? 

Perto da falência, os saints conseguem regressar aos grandes palcos

Numa equipa onde pontificaram nas década de oitenta e noventa do século passado nomes como Peter Shilton, Alan Shearer ou Mick Channon, a grande estrela dos saints era sem margem para dúvidas Matthew Le Tissier. Apontou 162 golos em 443 partidas, sendo um jogador considerado como um dos mais tecnicistas que o futebol inglês já teve. Foi considerado o segundo melhor jogador de sempre do Southampton, apenas superado pelo seu companheiro Channon. Esta era uma equipa caracterizada pela humildade e que conseguia muitas vezes boas classificações  Chegou até a vencer uma FA Cup em 1975/76. O inglês nascido em Saint Peter Port abandonou o futebol em 2002. Curiosamente, é a partir daí que começa a queda abrupta do clube do seu coração. Após vinte e sete anos seguidos na primeira divisão inglesa, os saints desciam na época 2004/05 ao Championship, ficando em último lugar a escasso dois pontos da permanência. Após quatro épocas nesse escalão, nova descida, agora à Division One. Com muitos problemas financeiros, o clube esteve perto da falência  mas acabou por saldar algumas dívidas através de uma parceria com o grupo germânico Liebherr. A temporada 2011/12 foi marcante para os adeptos da equipa vermelha. A formação na altura orientado por Nigel Adkins (na foto) conseguiu subir à FA Barclays Premier League, ficando na segunda posição, apenas a um ponto do QPR. A festa foi enorme nas ruas da maior cidade portuária da costa sul do Reino Unido. Afinal, após sete épocas nas divisões inferiores  os saints estavam de regresso ao convívio com os grandes do futebol britânico.

Adkins permaneceu no cargo de treinador e a equipa reforçou se para a época longa que teria pela frente  Um mau início atirou a equipa para a última posição no final de outubro, com dez jogos disputados e um recorde negativo de vinte e oito golos sofridos! Só que a entrada em 2013 mudou tudo literalmente. O empate a duas bolas alcançado em Stamford Bridge catapultou a equipa para uma boa segunda volta (vitórias caseiras frente a Liverpool FC, Manchester City FC e Chelsea FC), algo que fez com que os saints terminassem a época passada na décima quarta posição, com quarenta e um pontos, quatro acima da linha de água. Pelo meio e, na sequência do precioso empate de Londres em janeiro deste presente ano, Adkins foi substituído de forma controversa por Mauricio Pochettino, atual técnico do Southampton e antigo internacional argentino. E que bem que fez a mudança no cargo de treinador.

Muita irreverência e juventude, à imagem e semelhança da sua 'cantera'

É certo e sabido que a formação do Southampton é uma das melhores a nível europeu  De lá já saíram nomes como Wayne Bridge, Chris Baird, Andrew Surman, Theo Walcott, Alex Oxlade-Chamberlain, Nathan Dyer ou Gareth Bale. Todos estes partilham grande experiência na liga mais emocionante do mundo, E a fonte de talentos parece não esgotar. Muito tem contribuído também a política da equipa, que continua a apostar fortemente nas pérolas que saem da sua academia de jovens. Mas passemos à análise da equipa e, em pormenor, a cada setor. 

Pochettino tem variado o sistema de jogo da sua equipa, optando nos jogos de maior dificuldade por um 4-2-3-1, uma tática que já e característica da época trasata. Quando os obstáculos não são de grande dimensões, a equipa monta-se sobretudo num 4-4-2. Assumindo a equipa no primeiro sistema referido, verifica se que apenas quatro/cinco jogadores apresentam idade superior a 25 anos. Esta equipa gosta de ter a bola, explorar a grande capacidade ofensiva dos seus dois jovens laterais (Shaw e Clyne) e aproveitar o instinto matador de Lambert. Com as aquisições de Wanyama e Osvaldo para esta temporada, parece razoável afirmar que o 4-4-2 poderá ser uma boa arma a ser usada. Esta formação não costuma marcar muitos golos (para já, leva dez em nove jogos), sendo que a sua maior virtude (pelo menos, esta época) reside no setor defensivo. Em nove jogos, os saints sofreram apenas três golos. Lovren e o português José Fonte têm formado uma grande dupla, muito forte no jogo aéreo (o que tem valido aos dois alguns golos de cabeça) e com argumentos muito bons ao nível das interceções. Outro aspeto a destacar é a intensidade existente no meio campo. Wanyama veio dar robustez e músculo a um meio campo que junta ainda o francês Schneiderlin. Uma equipa muito compacta, muito forte em termos defensivos e com bastante rapidez e eficácia no ataque, bem à imagem do seu técnico. Razões mais que suficientes para seguir esta equipa com atenção. 

Iniciado pela baliza, Artur Boruc parece ter ganho de vez o lugar, depois de ter recebido algumas criticas por parte dos adeptos do Southampton, descontentes com constantes falhas de concentração que afetaram o polaco no passado, Porém, atualmente tem-se exibido a um grande nível. Bastante experiente, o internacional pela Polónia é destemido e dotado de bons reflexos. O argentino Paulo Gazzaniga e o inglês Kelvin Davis (veterano de 36 anos) completam o trio de guardiões.

No setor defensivo, Pochettino tem mantido praticamente o quarteto intacto em todos os encontros (à exceção da derrota frente ao Norwich City, em que trocou os dois laterais). Luke Shaw é o titular à esquerda, tendo-se estreado na época anterior na primeira divisão inglesa com apenas dezassete anos. De resto, o nosso blog já analisou este jogador na rubrica "Jovens Promessas" (ver artigo aqui). Danny Fox aparece como alternativa bastante rentável, já que tem experiência, algo que Shaw ainda terá de conquistar. Na direita, Nathaniel Clyne tem ocupado o lugar. Com apenas 22 anos, cumpre a sua segunda época no St. Mary's Stadium, após ter encantado no Crystal Palace. Velocidade é algo que caracteriza bastante o jogo deste lateral inglês, que tem como único concorrente ao lugar outro jovem de grande valor, Calum Chambers. Quanto à dupla de centrais, depois do regresso de Forren ao futebol norueguês  José Fonte e Dejan Lovren (na foto) têm jogado lado a lado, contribuindo para a grande campanha dos saints. O primeiro é português, tem-se exibido a bom nível (tem um golo apontado) e depois de vários anos em terras britânicas (três épocas no Crystal Palace, sendo que cumpre agora a quinta época no seu clube atual), tem consolidado o seu papel no eixo defensivo. Com 29 anos, este jogador formado na Academia de Alcochete é muito forte no jogo aéreo, sendo que já merece há algum tempo a chamada à seleção nacional. Já o segundo é internacional croata, chegou do Olympique Lyonnais neste último defeso por uma verba a rondar os dez milhões de euros e já se afirma como o verdadeiro líder da defesa dos saints. As constantes lesões que teve durante a sua passagem por França fizeram com que Lovren não fizesse parte das contas de Rémi Garde para a nova época. Em Inglaterra, Lovren tem conquistado o seu espaço e até agora não falhou um único encontro (leva dois golos marcados, um deles já perto do fim e que deu um precioso empate em Old Trafford). O japonês Maya Yoshida e o holandês Jos Hooiveld (uma das peças fundamentais na subida à primeira liga) aparecem como opções secundárias. 

Chegando ao meio campo, surgem várias alternativas consoante os jogos (como já foi referido acima). O certo é que os dois lugares da posição de médio centro estão praticamente garantidos. Um deles é ocupado pelo francês Morgan Schneiderlin, um destro que é muito forte na recuperação da bola. O outro é o queniano Victor Wanyama, contratado neste último mercado de transferências ao Celtic FC, depois de se ter dado a conhecer pelas suas excelentes prestações na liga milionária. Forte no cabeceamento  este jogador está em todo o lado, apresentando uma boa compleição física, muita intensidade, capacidade de trabalho, energia e um remate potente. Esta dupla tem-se complementado muito bem, havendo alguma margem para progredir. Para este lugar do miolo, há ainda as hipóteses Steven Davies (pode também atuar nos flancos e mais à frente) e Jack Cork. Para a ala esquerda, Jay Rodriguez aparece como um dos grandes valores do Southampton. Embora seja ponta de lança de origem, Pochettino tem utilizado o inglês de 23 anos no lado canhoto. Apresenta mudanças de velocidade incríveis e remata muito bem de longe. Na ala oposta, aquela que será porventura  a maior estrela deste conjunto: Adam Lallana. Jogador formado nas escolas do seu atual clube, este destro tem jogado preferencialmente sobre a extrema direita, embora possa atuar no meio e seja de origem médio esquerdo. Capitão de equipa e com um bom drible, Lallana tem uma visão de jogo impressionante e é bastante ágil e equilibrado. Ainda nesta ala, surge uma das grandes promessas do futebol inglês. James Ward-Prowse tem conquistado aos poucos o seu espaço (atua também no meio), podendo facilmente ser uma das revelações desta temporada. Dotado de um bom drible, Ward-Prowse cruza bastante bem e gosta de mudar o ritmo de jogo, usando a sua velocidade. Na posição de apoio ao ponta de lança, surgem dois jogadores que não costumam ser utilizados de forma frequente  Um deles é Guly do Prado, brasileiro de 31 anos que, quando joga, encosta-se à esquerda do ataque. Para o fim deixamos Gastón Ramírez, um belíssimo jogador que encantou em Bolonha, chegou na época anterior mas não tem tido minutos de jogo suficientes para encantar os adeptos. A verdade é que este canhoto de 22 anos é um verdadeiro distribuidor de jogo e encaixaria muito bem no 4-2-3-1. Muito ágil, apresenta critério no passe, mas as suas maiores qualidades resumem-se ao controlo de bola e ao drible. 

Chegamos então ao ataque e continuamos a verificar imensa qualidade. Comecemos por Pablo Daniel Osvaldo. Este ex-AR Roma esteve muito reticente em vir para os saints, dado o estatuto desta equipa. Porém, facilmente se verifica que o internacional italiano saiu de uma equipa no qual o ambiente não era o melhor e o próprio não era um dos mais idolatrados pelos seus adeptos  Em Inglaterra  Osvaldo deverá continuar  amostrar a sua veia goleadora  tendo como tarefas adicionais melhorar o seu temperamento (que já lhe tem  valido alguns cartões escusadas) e suprimir algumas lesões que tem afetado o seu percurso. O seu parceiro é Rickie Lambert. Este inglês de 31 anos tem tido uma ascensão brutal nos últimos anos (andou sempre pelas divisões secundárias). Chegou a Southampton na temporada 2009/10, conquistou o coração dos adeptos com muitos golos que valeram a subida ao Championship e, posteriormente, à FA Barclays Premier League. Têm surgido muitas comparações entre Lambert e a lenda do clube, Le Tissier. E de uma forma justa, já que Lambert marca bastante golos, é exímio na marcação de bolas paradas e gosta de assistir também. Leva 103 golos em 196 jogos pelos saints, algo notável. Na última época, foi a par de Lampard o jogador inglês com mais golos marcados (quinze). Com trinta e uma primaveras estreou-se na seleção do seu país pela mão de Roy Hodgson e logo com um golo, num particular frente à Escócia. Espera-se que Rickie possa estar entre os vinte e três eleitos para o Mundial do Brasil. Seria um prémio completamente merecido. Quando Pochettino utiliza o 4-4-2, vemos estes dois pontas de lança presentes. Quando a tática passa para um 4-2-3-1, seria suposto que um dos dois (principalmente Osvaldo) saísse do onze inicial. Porém, o treinador argentino tem utilizado o italiano nas costas de Lambert, algo que se viu nos jogos frente ao Liverpool e ao Swansea City. Lee Barnard e o japonês Tadanari Lee completam as opções válidas para o ataque. 

Um lugar entre os oito primeiros é bem possível

Estamos perante um conjunto que investiu fortemente nestas últimas duas épocas. A situação financeira deste clube melhorou imenso, algo que permitiu contratar de forma meditada para reforçar os vários setores. Ficando apenas no último defeso, foram gastos perto de quarenta milhões de euros em três jogadores (Osvaldo - 15,1 milhões de euros, Wanyama - 14,5 milhões de euros e Lovren - 10 milhões de euros) fundamentais e que vêm dar um acréscimo de qualidade aos saints. Muitos foram os jogadores que saíram a custo zero. Ora este investimento requer resultados a curto/médio prazo. Não falamos naturalmente numa candidatura ao título  Porém, o Southampton tem todas as condições para se classificar na primeira metade da tabela e tentar fazer uma gracinha nas taças internas. Regressar às competições europeias seria excelente mas sabemos bem que a liga inglesa está recheada equipas muito competitivas e muitas delas a lutar pelos lugares cimeiros. A política de gastar algum dinheiro e conciliar grandes jogadores estrangeiros com algumas promessas da sua academia tem dado bom resultado. Não é expectável que os saints mantenham este momento de forma durante toda a época. Porém, se o coletivo permanecer e se a humildade estiver sempre presente, então iremos ver esta equipa nos primeiros lugares. No St. Mary's Stadium respira-se por estes dias alegria, confiança e esperança num conjunto que promete fazer regressar os bons velhos tempos aos seus adeptos. Estamos perante o Swansea City desta temporada? Teremos equipa para alcançar as competições europeias?

Por Ricardo Ferreira

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