29 de março de 2014

Crónica Saturnina: O despertar do Athletic Club de Bilbao

   A La Liga é talvez a competição europeia interna que apresenta maior qualidade individual na forma do Real Madrid e Barcelona, as duas coletividades que regularmente ocupam os dois primeiros postos desta liga (o Atlético de Madrid despoletou este ano e baralhou um pouco as contas na luta pelo top3). Contudo, o bom desempenho ibérico não se cinge a estes três clubes e alargou-se a equipas como Sevilha (duas Ligas Europa) e o tema deste artigo: o momento da equipa do Athletic Club de Bilbao, que logrou a final da competição atrás referida com Marcelo Bielsa no comando técnico e, após um 12º lugar na época transata que ditou a saída deste técnico argentino, a direção do clube basco apostou num homem espanhol e num velho conhecido deste emblema (já o treinou entre 2003 e 2005), de nome Ernesto Valverde. Apesar de algumas saídas de figuras proeminentes do plantel (o avançado e melhor marcador da equipa Fernando Llorente para a Juventus FC e o defesa venezuelano Fernando Amorebieta para o Fulham FC). Um clube que se destaca pela sua particular identidade de ser composta exclusivamente por elementos nascidos na zona da Navarra ou com formação no clube de Bilbao, o Athletic apresenta-se num 4º posto na La Liga, que lhe permite, desafogadamente (6  pontos de vantagem sobre o 5º Sevilha), sonhar com uma presença na fase de grupos no novo modelo da Liga dos Campeões (exigindo-se apenas passar um playoff de admissão e, mesmo sendo eliminado, garante a presença na fase de grupos da Liga Europa). O que se segue é uma análise detalhada à época deste peculiar clube e do respetivo plantel.

   Investindo 15 milhões de euros, o Athletic apostou sobretudo em reforçar-se com elementos nativos da Navarra que dispunham de alguma experiência na La Liga, complementando-os com os mais recentes produtos da cantera basca e os objetivos consistiam num registo digno na Copa del Rey e na obtenção da tranquilidade na La Liga e, consequentemente, pensar num lugar europeu.  Todavia, a tranquilidade foi encontrada mais cedo que o previsto após um “annus horribilis” e o posto que permitia a qualificação europeia foi sendo mantida ao longo da temporada, cavando uma diferença considerável face às restantes equipas à procura do playoff da Liga dos Campeões. Três vitórias, um empate e três derrotas a iniciar a temporada permitiram um seguro 6º posto (sendo todas as derrotas fora) e prometiam algo diferente da pretérita época, acabando as expectativas por serem cumpridas. De seguida, a equipa de Ernesto Valverde conseguiu alcançar o 4º lugar com cinco vitórias, dois empates e uma derrota (diante do carrasco dos quartos-de-final da Copa del Rey e líder do campeonato Atlético de Madrid). Com alguns resultados mais inconsistentes (empate fora diante do concorrente direto Sevilha, vitória por 2-1 face ao Rayo Vallecano e derrota fora contra o europeu Real Sociedad), o real poder do caudal ofensivo basco estava para ser demonstrado com três vitórias consecutivas por números largos (6-1 contra o Almería e 4-2 contra o Real Valladolid e, na deslocação a Pamplona, 5-1 diante do Osasuna). Contudo, mais recentemente, apenas duas vitórias em nove encontros sobressaltam os adeptos do clube da Navarra, que podem beneficiar da presença do Sevilha nos quartos-de-final da Liga Europa para recuperar e cimentar a sua presença na quarta posição, sendo o mérito do técnico Ernesto Valverde inegável após saídas do núcleo duro do plantel e da campanha até à final da Liga Europa de 2011/2012.  

   Com 52 golos marcados e 32 sofridos (os mesmos que Real Madrid), a equipa normalmente assenta numa formação 4x2x3x1 e conta com uma linha defensiva com processos bem rotinados e consubstanciada por um guarda-redes de qualidade e com anos de casa (Gorka Iraizoz), sendo os laterais normalmente Mikel Balenziaga e o experiente Andoni Iraola (com mais de 300 jogos oficiais pelo Athletic) e os centrais por dois jovens com experiência em seleções de camadas jovens, com eles a serem o ex-Liverpool Mikel San José e a promessa francesa Aymeric Laporte e não se coibindo com a precoce idade, dando garantias nas mais recentes partidas. O meio-campo conta com dois pivots, sendo eles por norma Ander Iturraspe e o capitão Carlos Gurpegi e com uma solução de recurso (Mikel Rico) também bastante capaz) e faz-se constituir por um trio mais ofensivo onde pontificam o jovem promissor Ander Herrera como um 8-10, construindo o fluxo ofensivo e guarnecendo o avançado de boas oportunidades e os flancos a serem ocupados pela estrela da equipa basca Iker Muniain, já muito cobiçado pelos grandes clubes do continente europeu, e Óscar De Marcos, que, apesar dos seus 23 anos, apresenta regularidade e experiência bastante valiosas, aliando a estas aptidões golos decisivos; sendo também as soluções de banco para estes lugares ativos importantes, com Markel Susaeta a ser um dos inúmeros produtos da cantera do clube de Navarra a firmar-se no plantel principal. O ataque possui dois avançados bastante profícuos, sendo eles Ibaí Gómez (8 golos em 6 jogos) e Aritz Aduriz (6 em 16). 

   Numa época de ressurgimento do Athletic Club de Bilbao aos lugares cimeiros da La Liga, o técnico Ernesto Valverde tem sido o tónico essencial para a revalorização do plantel, que voltou a reencontrar-se e, mesmo ressentindo-se inicialmente de perdas pertinentes, voltou a ser uma equipa abnegada, de simples processos e com a chave da equipa a ser a coesão intra-setores e a garra caraterizadora do clube basco nas passadas épocas. Com isto, o Athletic, baseado na política de formação e numa direção sólida, possui as ferramentas necessárias para voltar a ser uma equipa frequentemente imiscuída em compromissos europeus e discutir a Copa del Rey com mais argumentos e pode mesmo chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / insidespanishfootball.com / imagenes.fichajes.net

22 de março de 2014

Crónica Saturnina: A crise do Fulham FC

   A Barclays Premier League sempre foi uma competição que aglomerou os fanáticos por futebol espetáculo e empolgante, sendo o futebol inglês um dos mais consistentes ao nível de presenças nas finais das competições europeias, tanto com os seus tubarões (Arsenal FC, Chelsea FC, Manchester United FC ou Liverpool FC) tanto com clubes mais modestos (Tottenham Hotspur FC, Nottingham Forest FC ou Ipswich Town FC). Uma das formações que se manteve mais tempo nesta competição foi o Fulham, que lá se encontra desde 2001 e que, entre conquistas de Taça Intertoto (2003) a alcance de finais de Liga Europa (2010), espelhou a identidade de uma equipa inglesa com frequentes compromissos europeus, caraterizando-se por um plantel sólido e que dava garantias para lutar por prestações honrosas em todas as competições inseridas. Todavia, a fase atual do Fulham não se figura fácil e, tal como formações como o Leeds United, o Middlesbrough e o Bolton Wanderers que caíram ao segundo escalão, correm o risco de, após frequentar amiúde as noites europeias, obter a mesma sina.

   Numa época em que se encontra com mais um jogo disputado que os clubes que se encontram em posições de permanência na competição, o Fulham FC ocupam o vigésimo lugar a 4 pontos desses postos e sem reconhecer o sabor da vitória há 9 jornadas, para além de ter sido treinado por 3 (!) timoneiros esta época, com o holandês Martin Jol (que os treinava desde 2011) até dezembro, sendo o sucessor o homólogo René Meulensteen até fevereiro e com o treinador em atividade a ser um alemão ex-campeão na Alemanha pelo Estugarda (um clube da Bundesliga atualmente em crise) de nome Felix Magath. Os Cottagers, após um investimento de quase nove milhões de libras no mercado de verão e de onze milhões no de inverno (contratando o grego Konstantinos Mitroglou, uma revelação do campeonato grego), foram eliminados das taças internas na quarta ronda (na FA Cup pelo surpreendente Sheffield United FC e na Capital One Cup pelo Leicester City FC, clube que vem dominando o Championship)  e levam 7 vitórias, 3 empates e 20 derrotas. Com um plantel bastante experiente e com valores individuais de grande valia, o Fulham FC tarda em afirmar-se como um coletivo coeso e solidário que permita posições mais auspiciosas, sendo também claro alguns problemas de adaptação ao futebol inglês por parte de alguns atletas e de apatia pelos objetivos pelos quais se encontram a lutar.

   Como início do campeonato, o Fulham FC apresentou uma vitória em Sunderland AFC mas quatro derrotas e um empate relegaram a equipa para as posições de despromoção e colocaram o lugar do treinador Martin Jol inseguro, no entanto, duas vitórias consecutivas diante de concorrentes diretos na luta pela permanência como o Stoke City FC e o Crystal Palace FC trouxeram uma bolha de oxigénio. Contudo esta expirou-se rapidamente e seis derrotas seguidas aliadas à derrota na Taça da Liga forçaram a saída do técnico holandês, com o sucessor René Meulensteen a entrar e conquistando mais dois triunfos face a Norwich e ao West Ham United mas mais uma senda negativa de cinco derrotas e um empate ( a saída do ponta-de-lança búlgaro e melhor marcador dos cottagers na ocasião Dimitar Berbatov complicou as contas) e a eliminação na FA Cup, como citado acima, levaram a direção a proceder a nova chicotada na equipa técnica mas nem com Felix Magath (novo treinador) os londrinos retomaram uma senda positiva, somando apenas um empate e duas derrotas até ao dia de hoje. Com 24 pontos, 30 golos marcados mas 65 golos sofridos, a equipa do Fulham não corresponde à qualidade do plantel que será esmiuçada de seguida.

   Com dois guarda-redes que normalmente dariam todas as garantias mas que atravessam crises de confiança (Maarten Stekelenburg, natural titular pela seleção holandesa, e David Stockdale, regressado após múltiplos empréstimos), a linha defensiva apresenta-se algo desgastada pela quantidade de jogos realizada e pela sua média de idades (após as saídas do suíço Senderos e do inglês Hughes, a contratação do holandês John Heitinga ao Everton veio tentar adicionar algo de novo face a Brede Hangeland e a Fernando Amorebieta na central (dois bastante físicos e com pouca mobilidade), com o veterano John Arne Riise na lateral esquerda já bem integrado na casa dos 30 anos e o alemão Sascha Riether não tem vindo a confirmar as aptidões demonstradas aquando do seu empréstimo para este mesmo clube londrino vindo do Colónia no flanco direito. O meio-campo, normalmente composto por um trinco de nome Scott Parker, internacional inglês, por um maestro tático e mestre a coordenar jogadas e ex-jogador do Benfica, o grego Giorgos Karagounis; já o dinamizador do ataque e decisivo na última linha de construção e o melhor marcador da equipa trata-se de Steve Sidwell, ex-jogador do Chelsea e do Arsenal, que conta com 7 golos. As alas contam com elementos sólidos, sendo um deles a promessa da seleção suíça Pajtim Kasami e com outro a ser o experiente tecnicista Damien Duff (que conta com mais de 100 internacionalizações pela República da Irlanda, retirando-se desta em 2012). O ataque sofreu várias mutações sendo que, com as saídas de Dimitar Berbatov e do costa-riquenho Bryan Ruíz, o clube londrino reforçou-se com a estrela da seleção grega Kostantinos Mitroglou, fazendo-o alinhar com o dianteiro britânico com várias temporadas de Premier League nas pernas de nome Darren Bent (emprestado pelo Aston Villa), com o colombiano Hugo Rodallega a funcionar como elemento secundário neste setor.

   Com um plantel com valia de pelo menos um lugar nos lugares centrais da tabela classificativa, cabe a Felix Magath tentar alcançar a permanência que se afigura difícil, tendo em conta os resultados consentidos nas últimas jornadas. Contudo, os adeptos cottagers acreditam na qualidade e na capacidade dos seus elementos se transcenderem num momento decisivo como este em que entramos na reta final da Barclays Premier League e na altura das decisões. A 4 pontos das posições de desafogo, o Fulham FC e os seus elementos têm muito trabalho a realizar e precisam urgentemente de se imbuir num espírito coletivo que lhes permita alcançar os objetivos propostos. Se o espírito competitivo e coletivo forem forjados de forma bem-sucedida, a permanência deixará de ser miragem mas até lá há que, como tipicamente se proclama, passar pelas passas do Algarve. Neste caso, pelas passas de Londres. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão
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15 de março de 2014

Crónica Saturnina: A revelação do Parma FC

   A Liga Italiana foi denominada, em tempos, por ser a competição que atraía as grandes estrelas do futebol mundial, sendo Van Basten, Matthaus, Maradona e Platini foram exemplos concretos desse fenómeno. Os grandes clubes transalpinos (Juventus FC, AC Milan e FC Internazionale Milano) destacavam-se num contexto europeu e não se encontravam isolados: tanto SSC Napoli como Parma FC como Sampdoria conseguiram êxitos europeus. Todavia, o presente não é tão risonho e o campeonato carece de competitividade e de representantes condignos nas competições europeias. Contudo há uma formação que, numa liga tão despersonalizada, se tem destacado de uma forma interessante e pouco denotada: a equipa do Parma.

   O Parma FC é uma coletividade que atua no mítico Ennio Tardini e que engloba, entre outros no seu palmarés, duas Taças UEFA (atual Liga Europa) e uma Supertaça Europeia, tendo já contado com portugueses na sua equipa como Fernando Couto ou Sérgio Conceição.  Depois de uma fase titubeante que os levou à despromoção, este clube centenário reergueu-se e encontra-se a lutar por um posto europeu com Fiorentina, Inter de Milão e Hellas Verona, estando numa maré de invencibilidade há 15 partidas consecutivas (8 vitórias e 7 empates) e ocupando o 6º posto, com menos uma partida que os seus concorrentes diretos.

   Celebrando o seu centenário na presente época, o emblema italiano, treinado por Roberto Donadoni que se manteve após um 10º lugar na transata edição da Serie A, apostou na consolidação do seu estatuto no primeiro escalão e em fazer uma época sem grandes sobressaltos. Apostando no empréstimo do avançado internacional Antonio Cassano (em subrendimento no Inter de Milão) e do defesa italiano Mattia Cassani por empréstimo da Fiorentina e na contratação do médio ganês Afriyie Acquah do Hoffenheim, a chave foi a solidez do plantel, que não perdeu muitas pedras basilares do anterior projeto. Constando com uma breve passagem do central português contratado ao Sporting Pedro Mendes (vendido ao Sassuolo no mercado de inverno, com o também defesa Alejandro Rosi  e o avançado Nicola Sansone, e com a equipa do sul de Itália a receber o centrocampista Matias Schelotto e o defesa Jonathan Rossini por empréstimo), o Parma também garantia soluções de futuro e uma profundidade que tranquilizava o técnico dos gialloblu.

   Com um arranque atribulado (à 3ª jornada ocupava a zona de despromoção e só conseguindo obter a primeira vitória à 5ª), os adeptos do Parma já arrecadavam argumentos para uma contestação significativa face ao momento da sua equipa. Contudo, o presidente Tommaso Ghirardi não procedeu a qualquer alteração no comando da formação e manteve a aposta em Donadoni, que acabou por ter os seus frutos. Após duas derrotas consecutivas diante do Génova e da líder Juventus (esta a 2 de novembro do passado ano civil), a equipa nunca mais conheceu o sabor da derrota para a Serie A. Após ser arredada da Taça pela Lazio no Stadio Olimpico, todas as atenções foram voltadas para a boa combinação de resultados que vinha a ser conseguida pelos homens que atuam no Ennio Tardini, um dos poucos estádios que sobrevive à crescente modernização que se arrasta pelo futebol europeu. Até ao presente, o Parma apresenta números interessantes na sua liga com 11 vitórias, 10 nulos e 5 desaires e com uma diferença de golos francamente positiva sendo 42 golos os marcados e 29 os consentidos, firmando-se assim como um concorrente sério a um posto europeu.

   O plantel é maioritariamente composto por italianos com algumas e naturais exceções, com Roberto Donadoni, por norma, a apostar na estabilidade das suas unidades no onze, dando elas todas as garantias e só tendo a disputar uma competição. Apostando num modelo tático (4x3x3) em que a primazia vai para a exploração das alas no suporte do ponta de lança e na solidez defensiva, na baliza, firma-se o transalpino formado na Juventus Antonio Mirante, e a linha defensiva que o reveste é composta por três também italianos e um brasileiro: dois laterais experientes (Mattia Cassini e Massimo Gobbi, ambos já na casa dos 30 anos) e dois centrais no apogeu das suas capacidades (Gabriel Pelleta, este italiano-argentino, e Alessandro Lucarelli), sendo esta uma posição em que no princípio da temporada era Pedro Mendes, ex-central do Sporting, um dos escolhidos para figurar como titular. O miolo conta com três unidades de créditos firmados, com o uruguaio Walter Gargano a funcionar como 6 na recuperação de bolas e a reforçar a coesão entre a defesa e o ataque, o italiano Marco Parolo a atuar como 8 comandando as operações atacantes, transportando jogo e frequentemente marcando (leva 7 golos) e o também transalpino Marco Marchionni a ser o jogador mais metódico que prescinde dos recursos mais físicos que se foram deterioriando consoante os anos passavam para explorar as suas capacidades técnicas, maioritariamente a nível do passe e da visão de jogo. O ataque revela-se como o setor onde a equipa sulista de Itália apresenta mais preocupações para os seus rivais, com uma dupla fulminante em Antonio Cassano e Amauri, dois avançados com bastante traquejo de Serie A e contando com 14 golos juntos (9 e 5 respetivamente) e contando com um francês, de nome Jonathan Biabiany que tem cativado os “tubarões” do futebol  europeu que, após uma passagem discreta pelo Inter de Milão, relançou a sua carreira em Parma e que apresenta, como atributos significativos, a sua aceleração e o dinamismo que apresenta com a bola nos pés.

   Os adeptos gialloblu apresentam-se esperançosos com o regresso da sua equipa às noites europeias e de uma estável equipa que, a médio prazo, faça parte de uma regular participação nos primeiros lugares da Serie A, no entanto o onze inicial apresenta uma média de idades elevada salvo as soluções de banco que são compostas por bastantes jovens mas que são maioritariamente emprestados por outros clubes (Afriyie Acquah, ganês, proveniente do Hoffenheim; e Joel Obi, nigeriano, do Inter) e não permitem uma perspetiva ampla de futuro e correspondente aos anos de glória deste emblema. Todavia, sendo do presente que se trata, o Parma tem razões para sorrir. Com 8 vitórias e 7 empates nos últimos 15 encontros para a Serie A, a formação de Roberto Donadoni apresenta uma invencibilidade incomum na Liga e que permite estar no encalce dos lugares europeus. Com uma equipa solidária, que apresenta grandes níveis de coesão entre setores e de poder de fogo no ataque, o Parma destaca-se como uma das escassas equipas europeias que ainda não conheceu o sabor da derrota neste ano civil e que ainda baralhará muito as contas a formações como a da Fiorentina e a do Inter de Milão, que apontam ao apuramento para a Liga Europa. Como é apanágio proclamar-se, velhos são os trapos.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: legaseria.it / guol.com / squawka.com

12 de março de 2014

8 de março de 2014

Crónica Saturnina: A chave do sucesso do Liverpool

  Nesta segunda edição da Crónica Saturnina, será exposta a época bastante positiva que a equipa do Liverpool, que milita na Premier League, e treinada pelo britânico Brendan Rodgers tem vindo a realizar.  Com a formação arredada de todas as taças internas e não tendo de disputar nenhum compromisso europeu (após o fracasso da época transata), os focos da equipa da cidade dos Beatles tem sido para a Liga, onde a tabela classificativa fala por si, posicionando-se num 2º lugar com 59 pontos e com apenas 4 pontos de desvantagem face aos líderes do Chelsea. 

   O mercado de transferências de verão foi bastante agitado para a formação da “Kop”, conotação atribuída à enérgica claque dos reds, com a venda de alguns dos elementos que tardavam em se afirmar nas opções iniciais e que, não rendendo o suficiente, acabaram por ser uma objeção a um figurino positivo, sendo entre eles os ingleses Andy Carroll (que custou mais de 40 milhões de libras), Jay Spearing e Stewart Downing. No meio de toda esta conjuntura, um dos grandes ícones da massa associativa, o central Jamie Carragher anunciou a sua retirada. Com esta grande perda, houve a necessidade de acrescentar vários valores defensivos que permitissem a tranquilidade necessária para lapidarem totalmente o poder ofensivo composto pelo brasileiro Phillipe Coutinho (uma grande promessa do clube), pelo inglês Daniel Sturridge e pelo grande goleador uruguaio Luís Suárez. Os valores defensivos contratados foram o francês Mamadou Sakho, o costa-marfinense Kolo Touré e, por empréstimo, o lateral francês Aly Cissokho (que já representou o FC Porto), para além de um guarda-redes de potencial mas já com créditos firmados para colmatar a inconsistência fornecida por Pepe Reina (este acabou emprestado ao Nápoles, treinado pelo técnico que levou a última Liga dos Campeões para Liverpool na história destes), sendo um belga de nome Simon Mignolet. Com as debilidades defensivas colmatadas e com alguns investimentos de futuro (incluindo o ex-central do Sporting Tiago Ilori), imbuídos no espírito da “Kop”, o Liverpool estava pronto para surpreender.

   Apesar de um desempenho bastante medíocre nas taças, tanto na FA Cup (eliminados na 3ª ronda por um Arsenal ferido no seu orgulho após serem massacrados em Anfield Road por 5-1) como na Taça da Liga (caíram perante um Manchester United que ainda não dispunha de um momento instável), os críticos cada vez mais engrossam os seus elogios face ao futebol exibido pela formação treinada por Brendan Rodgers e que se repercute na consistência exibida ao longo desta Liga, não sentenciando as contas da vitória nesta, e nos 73 golos apontados, afirmando-se contundentemente como o melhor ataque, muito graças à diabólica dupla de Luís Suárez (24 golos) e Daniel Sturridge (18).

   Com uma defesa sólida (Martin Skrtel e Daniel Agger firmam-se como uma dupla sólida sustentada na segurança e apoio ofensivo dos laterais Aly Cissokho e Glen Johnson ou Mamadou Sakho, com Simon Mignolet a dar todas as garantias a defender a baliza red), um meio-campo equilibrado e esforçado (onde pontifica o ícone da massa associativa desta década, de nome Steven Gerrard, que parece rejuvenescer a cada jogo que faz, com a explosão do talento de Jordan Henderson aliado aos processos metódicos de Lucas Leiva e de Raheem Sterling que permitem a emancipação do virtuosismo de Phillipe Coutinho, uma das grandes esperanças do clube) e de um ataque voraz, Brendan Rodgers (um treinador jovem e ambicioso, que beneficiou de uma estrutura sólida para montar uma dinâmica de ataque e uma cultura de vitória em torno da sua formação) parece ter à sua disposição um plantel que lhe dá garantias para um futuro risonho, tanto a nível interno como em compromissos europeus que podem estar para vir na próxima época. Os fãs que frequentam Anfield Road, passado um calvário de instabilidade exibicional e de resultados nos últimos anos, parecem ganhar alento. E o sonho de vencer a Premier League que escapa há 24 anos não é esquecido, com a massa associativa a acreditar  que pode ser esta a sua época de sonho.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / theguardian.com

5 de março de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 25 de fevereiro e 3 de março

O jogo da semana: Atlético de Madrid vs Real Madrid CF (2-2)

Ficha de Jogo:

Estádio: Vicente Calderón, Madrid
Árbitro: Delgado Ferreiro
Marcadores: Koke 28' e Gabi 45'; Karim Benzema 3' e Cristiano Ronaldo 82'
Disciplina: Arda Turan 11', Diego Godín 38' e Diego Costa 64';

Atlético de Madrid (4-2-3-1): Thibault Courtois; Juanfran, Miranda, Diego Godín e Filipe Luís; Mario Suárez, Gabi, Koke, Raúl García e Arda Turan (Cristián Rodríguez 83'); Diego Costa
Suplentes não utilizados: Daniel Aranzubia, Toby Alderweireld, Emiliano Insúa, José Sosa, Diego Ribas e David Villa
Treinador: Diego Simeone

Real Madrid CF (4-2-3-1): Diego López; Álvaro Arbeloa (Daniel Carvajal 71'), Pepe, Sergio Ramos (C) e Fábio Coentrão (Marcelo 59'); Xabi Alonso, Gareth Bale, Luka Modrić, Ángel di María (Isco 72') e Cristiano Ronaldo; Karim Benzema
Suplentes não utilizados: Iker Casillas, Raphaël Varane, Asier Illarramendi e Jesé Rodríguez
Treinador: Carlo Ancelotti

3 de março de 2014

«Dragão» adormecido ou abatido?

   Nos últimos tempos muito se tem comentado acerca da crise que paira sobre o FC Porto. Os “dragões” têm vindo a desiludir a sua massa adepta, apresentando um futebol pouco cativante, sem ideias, sem brilho. Às exibições cinzentas juntam-se resultados pouco convincentes quando estamos prestes a entrar na fase decisiva da época.

   Perante este cenário cinzento que tem assolado o reino do Dragão parece-me pertinente fazer uma análise ao FC Porto, apontando os motivos que, na minha opinião, estão a conduzir os azuis e brancos a uma fraca prestação até ao momento.

   Começo por referir a escassez de soluções a nível de plantel, numa equipa que joga em várias frentes para ganhar. O caso mais gritante é o dos laterais brasileiros Danilo e Alex Sandro. As suas qualidades são inquestionáveis mas o que ressalta nesta análise é a falta de soluções no plantel para colmatar uma eventual ausência dos jogadores canarinhos que, deste modo, são “forçados” a um esforço físico suplementar, sem direito a descanso. Num setor tão importante como é o setor defensivo, esta falta de soluções implica, seguramente, a médio prazo um enorme desgaste dos atletas em questão, o que afetará o rendimento da equipa. Ambos os laterais têm-se revelado, ao longo da sua estadia na cidade Invicta, um importante apoio à manobra ofensiva portista, o que só é possível mediante alguma frescura física que, inevitavelmente, será cada vez menor, uma vez sujeitos a várias dezenas de jogos ininterruptos.

   A «dança» de jogadores no meio-campo portista desde o início da época também é um fator de instabilidade a apontar. O centro do terreno, foco nevrálgico de qualquer equipa necessita de segurança e estabilidade, características que este FC Porto não tem conseguido alcançar, fruto das sucessivas mudanças impostas pelo seu treinador Paulo Fonseca. No início da época foi muito comentada a inversão do triângulo de meio campo, com dois pivôs defensivos. Com o passar dos jogos, Fernando voltou a ocupar aquela zona do terreno sozinho, como tão bem sabe fazer. O “Polvo” teve a companhia de Josué, Defour, Lucho, Herrera, Carlos Eduardo, Quintero… Demasiados jogadores para apenas dois lugares. Esta rotatividade prejudicou a equipa que, desde agosto (ainda) não conseguiu encontrar um 11 base. A situação agravou-se com a saída de Lucho, em janeiro, rumo ao Catar.

   Por outro lado, observando o plantel do FC Porto denota-se uma diminuição na qualidade dos seus intérpretes, o que dificulta a tarefa do treinador principalmente na altura de mexer no jogo a partir do banco. Jogadores como Licá, Carlos Eduardo, Josué, Ricardo ou Ghilas chegaram este verão ao FC Porto, provenientes de clubes portugueses de menor dimensão. Embora já estivessem adaptados à realidade do futebol português, envergar a camisola azul e branca tem outro peso e outra responsabilidade para os quais estes não estavam preparados. Licá e Josué começaram a titulares e até se exibiram a um nível interessante, mas com o decorrer dos jogos pouco acrescentaram. O primeiro tem revelado pouca qualidade para ser titular num grande enquanto o segundo é ainda um jogador muito intempestivo, com “sangue na guelra”, capaz do melhor e do pior. O caso de Ricardo é um pouco diferente visto que se trata de um jovem que passou por um período de adaptação na equipa B portista. Contudo, ainda não apresenta níveis para ser uma opção credível para um FC Porto que se quer ganhador em todas as frentes. Em virtude das carências do plantel portista, fez alguns jogos a lateral. O argelino Ghilas chegou ao Porto proveniente do despromovido Moreirense. O seu valor, perto de 4 milhões de euros por 50% do passe (falou-se em 3,8 milhões) foi manifestamente exagerado e raramente teve oportunidades para mostrar serviço. Diga-se que jogar 5 ou 10 minutos numa fase de desespero também não é muito saudável para a evolução do jogador.

   Em suma, o FC Porto investiu, no início da temporada, em vários jogadores que não tiveram um especial impacto na equipa. Diego Reyes foi caro e nem com a saída de Otamendi em janeiro teve oportunidades de se exibir. Paulo Fonseca preferiu fazer regressar Abdoulaye, que estava a realizar uma boa época em Guimarães. O jovem senegalês tem sido aposta no campeonato nacional enquanto o mais experiente Maicon tem sido opção para as competições europeias. Esta parece-me ser uma má opção de Fonseca. Maicon já demonstrou por diversas vezes o seu valor, é muito forte nas bolas paradas, tem alguns anos de casa e inclusive já capitaneou o FC Porto. Pela sua experiência e competência ficar reservado para as competições europeias é algo que me faz confusão. Por outro lado o facto de Abdoulaye ser titular no Vitória SC não o torna uma opção incontestável para o eixo defensivo do FC Porto (a nível interno). A exigência é totalmente distinta, os objetivos das respetivas equipas são incomparáveis. E, diga-se, estas mudanças efetuadas pelo treinador portista não conseguiram inverter o percurso descendente da equipa, bem pelo contrário. A crise exibicional transformou-se numa crise de resultados e a contestação subiu de nível.

   E como se pode explicar o desaparecimento de Quintero? O virtuoso jovem colombiano que no início da época foi uma das revelações da equipa desapareceu das opções de Paulo Fonseca. Quando estamos perante o FC Porto mais fraco dos últimos anos, que se apresenta sem chama e criatividade é, no meu ponto de vista, incompreensível este «eclipse» do colombiano que tanto prometeu. A sua técnica e criatividade poderiam iluminar o FC Porto para o que sobra desta época.

   Aquela que, na minha opinião, é a maior prova do laxismo que se tem vivido no FC Porto é o facto de Ricardo Quaresma, já com 30 anos, com um histórico recente de problemas físicos e após dois anos afastado da ribalta futebolística, chegar e converter-se na estrela da equipa, como sendo o “salvador da pátria”. Mérito para o internacional português que tem sido dos poucos a remar contra a maré.

   Este desleixe no que diz respeito ao planeamento da época desportiva tem tido um custo muito elevado para o FC Porto que esta época não conseguiu vencer um único jogo em casa a contar para a Liga dos Campeões sendo relegado para a Liga Europa após não ter conseguido a qualificação num grupo onde poderia (e deveria) ter feito bem melhor. No que ao campeonato nacional diz respeito, esta temporada já perdeu mais pontos do que em toda a temporada transata. Encontra-se atualmente no terceiro lugar, a 9 pontos do líder SL Benfica (com a agravante de já ter perdido no Estádio da Luz), a 4 pontos do segundo classificado, o Sporting CP (que tem um orçamento bastante inferior ao do campeão nacional em titulo) e apenas com mais 4 pontos de vantagem em relação ao quarto classificado, o GD Estoril-Praia (que recentemente “gelou” o Estádio do Dragão ao derrotar o FC Porto por 0-1 naquela que foi a primeira derrota em casa do conjunto azul e branco para a liga desde 2008).

   A equipa do FC Porto após ter atravessado uma crise de resultados em meados de novembro e inícios de dezembro, com dois empates consecutivos perante o Belenenses e o Nacional, e uma derrota, em Coimbra, ante a Académica conseguiu estabilizar um pouco a contestação, regressando às vitórias. Todavia, o nível exibicional apresentado pela equipa nunca conseguiu convencer os exigentes adeptos portistas. A derrota com o Benfica (sempre difícil de digerir), a derrota caseira com o Estoril e o empate em Guimarães depois de estar a vencer por 0-2, reacenderam os alarmes no Dragão. Este ciclo negativo teve uma interrupção em Frankfurt, onde a equipa portista, apesar do sofrimento, conseguiu seguir em frente na Liga Europa, ultrapassando o desaire caseiro que foi a primeira mão dos 16 avos de final da competição, onde, após estar a vencer confortavelmente por 2-0, o FC Porto permitiu o empate. No entanto, o empate deste último domingo nas circunstâncias que ocorreu fez renascer a contestação que subiu de tom. A continuidade de Paulo Fonseca tem sido seriamente posta em causa. Exibições muito pobres, quebras de concentração, a descrença manifestada, a passividade e o desgaste apresentados levaram a uma quebra psicológica evidente. O Estádio do Dragão tem recebido menos público, os adeptos estão impacientes, Paulo Fonseca já pediu por três vezes para sair…

   Mergulhado numa crise desportiva, o FC Porto também não atravessa o melhor momento a nível financeiro. Isto ficou bem patente nas contratações de verão, na manifesta dificuldade em vender jogadores no mercado de janeiro e nas novelas em torno das renovações de Fernando e Jackson Martínez. O clube apresentou um prejuízo de 29,2 milhões de euros no primeiro semestre de 2013/2014.

   Este cenário não é nada animador para os adeptos do FC Porto. A luta pelo título está complicada mas não totalmente comprometida. O clube continua em várias frentes com possibilidades de vencê-las. Resta esperar para ver até onde pode chegar este «dragão» e se conseguirá desembaraçar-se deste marasmo psicológico e exibicional que tem abalado a equipa.

   A bola está no lado da direção, equipa técnica e jogadores do FC Porto. Todos partilham responsabilidades acerca desta (má) temporada, mas a verdade é que ainda nada está perdido. Veremos se o «dragão» conseguirá acordar a tempo de evitar a consumação da pior época dos últimos anos.

Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: futebolportugal.clix.pt / rr.pt / ojogo.pt / jn.pt 

2 de março de 2014

Benfica Versão 2020

Nos últimos tempos, muito se tem comentado sobre a aposta (ou falta dela...) que os encarnados têm feito nos produtos das camadas jovens. Os adeptos desesperam para ver talentos da formação secundária a atuar na principal e, como resposta, o presidente do clube afirmou que, na equipa A das águias, predominarão jogadores portugueses, em... 2020.

1 de março de 2014

Crónica Saturnina: O fracasso do Manchester United

   Saudações de um ávido fã de futebol, de nome Lucas Brandão, e que frequenta o 1º ano da sua formação académica, mais nomeadamente na Licenciatura em Ciência de Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi nesta onde conheci o cronista Ricardo Ferreira  que me foi gentilmente proposto uma elaboração de uma rubrica semanal em que iria explorar um assunto dominante da atualidade futebolística. É com agrado e honra que aceito e que irei dar o "pontapé de saída" a este novo projeto. Após alguns projetos fugazes acerca de particularidades tenísticas e futebolísticas, irei participar neste blog com o intuito de desenvolver e de solidificar a prática escrita aliada à redação desportiva, que se trata de uma vertente que me apraz bastante. Com todas as introduções feitas, vamos ao trabalho.

   Começo por abordar um dos projetos mais badalados mas não elogiosamente desta época num contexto europeu: o Manchester United de David Moyes. Após a gloriosa retirada do técnico escocês Sir Alex Ferguson, que construiu um legado num clube que só nos remotos tempos dos "Busby Babes" o tinha, coroada com a arrecadação da sua 13ª Premier League e da vigésima para o clube, criou-se uma atmosfera de apoquentação quanto ao futuro do clube red devil. Com bastantes rumores a serem confirmados, o sucessor do escocês foi um compatriota, de nome David Moyes, de 60 anos, após um projeto sólido mas não brilhante (sem qualquer título). Assinando um contrato válido por 6 épocas, o escocês tratou de reforçar a equipa com contratações cirúrgicas, sendo elas o defesa uruguaio Guillermo Valera do Peñarol e o médio suíço Saidy Janko do FC Zurich (ambos a custo 0) e fez o grande investimento da época (até janeiro) contratando um velho conhecido seu do Everton, o médio-centro belga Marouane Fellaini, de 26 anos, por 27,5 milhões de libras.

   A temporada oficial não começou mal de todo com a conquista da Supertaça Inglesa face ao Wigan Athletic por 2-0, com um bis da estrela holandesa Robin Van Persie, mas o pior estava para vir. Com um início titubeante de campeonato (até ao final de setembro, apenas duas vitórias face ao Swansea e ao Crystal Palace, um empate contra o Chelsea e três derrotas contra Liverpool, Manchester City e West Bromwich Albion), a Taça da Liga e a Liga dos Campeões tornaram-se males menores, onde os red devils apresentavam resultados sólidos sem perder qualquer encontro até ao final do ano civil de 2013. Eliminando o Liverpool, o Norwich City e o Stoke City na Taça da Liga e com um grupo tranquilo na Liga dos Campeões face aos alemães do Bayer Leverkusen, os espanhóis da Real Sociedad e os ucranianos do Shakhtar Donetsk vencendo 4 partidas e empatando outras 2, a Premier League também ganhou algum fôlego, com quatro êxitos e três empates de outubro ao início de dezembro. Contudo, o pior estava para vir.

   Dois desaires caseiros diante da sua anterior equipa do Everton FC e do Newcastle United FC deixaram Moyes como alvo da desconfiança da massa associativa britânica do United. No entanto, quatro êxitos consecutivos face a Aston Villa, West Ham United FC, Hull City AFC e Norwich City FC deixaram o técnico escocês mais tranquilo. Apenas foi fogo de vista. Mal o ano de 2014 se iniciou, apesar de uma grande contratação no médio criativo espanhol Juan Mata por 37 milhões de libras ao crónico rival Chelsea FC, o calvário do sucessor de Ferguson se expandiu. Com eliminações surpreendentes das taças internas (Swansea City AFC para a FA Cup e Sunderland AFC nas meias-finais da Taça da Liga em pleno recinto de Old Trafford, onde a marcação de grandes penalidades se revelou madrasta para os pupilos de Manchester), a competição interna de maior destaque revelava-se cada vez mais um fiasco em relação às temporadas transatas. Derrotas contra candidatos diretos em Tottenham e Chelsea, apesar de vitórias sofridas face ao Swansea e ao Cardiff City, distanciaram cada vez mais os red devils dos lugares cimeiros da tabela classificativa. Fevereiro veio deteriorar este estado anímico onde uma derrota contra o Stoke e dois empates consecutivos com o último classificado no Fulham FC e Arsenal FC aumentaram a contestação dos adeptos e tudo ainda mais se piorou nesta última terça-feira.

   Oitavos-de-final da Liga dos Campeões de 2013/2014. A equipa de Manchester deslocou-se ao reduto do Olympiakos da Grécia e foi novamente superiorizada de forma assertiva, perdendo por 2-0 e colocando a sua permanência na prova dos milhões em alto risco. A formação treinada por David Moyes mostra a importância de um treinador na dinâmica de uma equipa, transmitindo os valores de um clube histórico e dando as referências técnico-táticas intrínsecas para qualquer grande equipa futebolística europeia. Funcionando como um maestro de uma orquestra, a dos vermelhos de Manchester tem sido bastante desarticulada e desencantadora, mostrando bastantes fragilidades e nem a sobredotação individual de elementos como Robin Van Persie e Wayne Rooney, a irreverência jovial de Shinji Kagawa e Javier "Chicharito" Hernandéz e a presença de símbolos dos red devils como Rio Ferdinand e Ryan Giggs trazem o encanto necessário à equipa para se desabrochar do amorno estado em que se encontra. Começam a escassear as provas de fogo para David Moyes convencer a exigente massa associativa de Manchester, habituada a vencer e a ocupar um lugar de destaque nas cogitações daqueles que enunciam as melhores equipas europeias da atualidade. Todavia, o técnico não se pode queixar apenas de infortúnios visto que a sua potenciação de plantel não tem sido a mais frutífera. As estatísticas não enganam.

   Apesar de uma diferença de golos de 12 golos positivos, os 31 golos sofridos de setembro a fevereiro demonstram as claras fragilidades de uma defesa que assenta essencialmente em elementos bastante experientes e já com algum desgaste acumulado (o central inglês Rio Ferdinand, o também central mas sérvio Nemanja Vidic e o lateral-esquerdo francês Patrice Evra) e em outros que a qualidade para representar os red devils se questiona (o brasileiro Rafael e o inglês Chris Smalling) e que exigem algumas exibições inspiradas do guardião espanhol David De Gea. Com uma posse de bola média decrescida, também se pode aduzir que o meio-campo não tem sido o motor que Moyes pretende para implementar o seu futebol (apesar da contratação de Mata, os ingleses Michael Carrick e Ashley Young não conseguem demonstrar de forma clarividente as suas qualidades, o símbolo do clube Ryan Giggs já apresenta menos frescura, Cleverley não consegue articular setores, Fellaini revelou-se um fiasco e o equatoriano Valencia, apesar de se mostrar regularmente inconformado, não tem capacidades para dinamizar veementemente, tendo muitas vezes de um menino de nome Andrez Januzaj subir às opções iniciais do timoneiro de forma a conseguir um toque de magia que Nani, fustigado pelas lesões, não permite, mas com alguma influência das escolhas do primeiro. É também este o setor onde não se depreende o porquê do japonês Shinj Kagawa, contratado ao Dortmund em 2012 depois de ter sido campeão alemão e o grande pautador de jogo desta formação, não fazer parte das opções iniciais do técnico escocês. O que tem salvo ao United alguns jogos menos conseguidos mas disfarçados pelo resultado são o ataque voraz que possuem, mesmo com este a não render o esperado. O holandês Robin Van Persie e os britânicos Danny Welbeck e Wayne Rooney tornam-se na linha ofensiva que nenhuma guarda-redes pretende enfrentar, aliados a um desequilibrador nato que costuma saltar do banco de nome Javier Hernández e conhecido por "Chicharito".

   Teoricamente, o fracasso do Manchester United pode ser explicado por vários fatores, tanto pela falta de dinâmica do miolo da equipa como pelo o subrendimento dos dianteiros e como pela insegurança transmitida pela defesa. Ainda assim é ao técnico que os adeptos do clube red devil apontam todas as suas frustrações, sendo este acusado de despojar o clube da sua identidade, do seu elã e do receio que qualquer equipa teria em enfrentá-lo. Com reforços que tardam em se afirmar plenamente, com opções menos certeiras por parte do técnico e com apreensão à volta do futuro do clube, o Manchester United tem pouco tempo para se redimir de alguma forma, estando em grande desvantagem na Liga dos Campeões (terá de ganhar por 3 ou mais ao Olympiakos caso pretenda passar aos quartos-de-final da competição) e também encontrando-se bastante distanciado do topo da tabela da Premier League. O mundo do futebol ainda não esqueceu Sir Alex Ferguson e o que este significava para o emblema vermelho de Manchester. Algo é certo: o clube tarda em sair desta espiral letárgica e a escassez de tempo colocam Moyes em grandes apoquentações. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão