30 de outubro de 2014

Futebol Global 2014/15: Irreverência vitoriana bem alicerçada (análise de 15 a 28 de outubro)

Reflexão: Referir a bela cidade de Guimarães, o berço de Portugal, é também constatar a garra e a paixão que justamente eleva a exigente massa associativa vitoriana a um patamar diferente da maioiria dos clubes da sua dimensão. Após oito jornadas volvidas na Liga Portuguesa, o percurso do Vitória SC constitui indubitavelmente uma das maiores surpresas. Ou, se preferir, uma afirmação convincente do plano estratégico montado pela administração de Júlio Mendes desde março de 2012 (momento em que sucedeu a Emílio Macedo da Silva no cargo de presidente) para enfrentar a maior crise económica da história do clube minhoto. Sufocado por esta, o Vitória SC teve de tomar uma decisão que pode servir de espelho para o futuro de muitos outros clubes no atual cenário do futebol português. Inevitavelmente os últimos anos do conjunto minhoto ficam naturalmente marcados pela inédita conquista da Taça de Portugal (em maio de 2013 frente ao SL Benfica) e consequente entrada na fase de grupos da UEFA Europa League. No entanto, é impossível dissociar estes feitos de um nome que progressivamente vai ganhando mais mediatismo no panorama futebolístico nacional. 

Rescaldos d'esféricos: Olympique Lyonnais - Um viveiro de jovens tecnicamente dotados a voos altos destinados

Terceiro lugar na atual edição da Ligue 1, a cinco pontos do líder, após inferir a este a sua primeira derrota. O primeiro heptacampeão na história das competições oficiais francesas. Refiro-me, claro está, ao Olympique Lyonnais. Outrora munido com Grégory Coupet, Cris, Caçapa, Juninho Pernambucano, Sylvain Wiltord e, juntando a estes pupilos, pérolas da formação como Karim Benzema, Bafétimbi Gomis ou Sidney Govou. Hoje despojado de argumentos de valia tão declarada mas competindo contra uma corrente de fortes investimentos de concorrentes diretos como PSG e na passada época do AS Monaco FC, apostando na sua frutífera formação para dotar o seu plantel de soluções financeiramente saudáveis e de crescimento acompanhado.

Com mudança de estádio prevista para a próxima época, do velhinho e nostálgico Stade de Gerland para o moderno e renovador Stade des Lumières ou OL Land, o paradigma de formação deste clube com pergaminhos neste século vem ganhando força esta época, através da estratégia de Hubert Fournier. O ex-técnico do Stade de Reims apostou num 4-4-2 em losango, potenciando a mescla de juventude e de experiência de algumas figuras já consolidadas do clube, como o médio francês e eterna promessa do futebol gaulês Yoann Gourcuff, o centrocampista Steed Malbranque e o central Milan Bisevac. Contratando somente o antigo lateral direito do PSG e agora titular indiscutível Christophe Jallet e o defesa central e vinte e dois anos Lindsay Rose, construiu uma máquina fiável de futebol que, já afastada da UEFA Europa League, embalou numa série de sete encontros sem perder. Como elementos-chave, o Olympique Lyonnais conta com o português Anthony Lopes, que vem consolidando o posto de guardião de presente e futuro do clube; o lateral-esquerdo Henri Bedimo, seguro tanto a defender como possante e expedito no ataque; o médio Arnold Mvuemba, especialista em definir os ritmos da partida, encontrar linhas de passe viáveis e com uma arguta visão de jogo; e produtos da formação, começando pelo centrocampista versátil Clément Grenier, que pode atuar igualmente no flanco como atrás do ponta de lança, e passando pelo central Samuel Umtiti, pelos médios Jordan Ferri, Correntin Tolisso e Nabil Fekir e pelo dianteiro matador Alexandre Lacazette (oito golos em dez jogos).

Com uma política bem assente na aposta de jovens provenientes das camadas jovens do clube, o Olympique Lyonnais dispensa apresentações no seu país e adquiriu um estatuto de respeito após o rendimento registado nas competições internacionais nos últimos anos. Porém, agora destaca-se pela resposta positiva dada ao alerta despertado pela crise económica que se abateu e alastrou por toda a Europa, chegando ao desporto rei e obrigando os clubes a apertar o cinto e a desvendar estratégias de sucesso com poucos recursos económicos. A aposta na formação é uma das mais viáveis e é neste contexto que clubes como o Lyon se veem destacando, com um trabalho que começa desde os infantis, acompanhando o crescimento das suas pérolas até alcançar um lugar de destaque na primeira equipa e rendendo, no futuro, uns bons milhões a outras equipas com mais poderio financeiro. Sendo um processo cíclico, o surgimento de jovens talentosos origina receitas crescentes e faz ver pelo mundo fora.  

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: www.skysports.com / melty.fr

29 de outubro de 2014

Liga Portuguesa 2014/15 (8ª jornada): Maior equilíbrio, a primeira derrota encarnada e uma demonstração de força de FC Porto e Sporting CP

FC Arouca vs FC Porto (0-5)
Juan Fernando Quintero 24’, Jackson Martínez 26’ e 60’, Casemiro 39’ e Vincent Aboubakar 87’

Vitória tranquila do FC Porto em Arouca. Lopetegui fez menos alterações do que é habitual (“castigou” apenas Maicon pelas últimas exibições e apostou em Marcano, trazendo de novo Martins Indi, Alex Sandro e Brahimi para o "onze"), sendo que os azuis e brancos não tiveram grande dificuldade em levar de vencido um frágil conjunto arouquense. A equipa de Pedro Emanuel até entrou bem na partida (bloco alto, equipa a pressionar e sem deixar o FC Porto jogar) e Fabiano evitou aos 10’ o golo de André Claro, num lance iniciado após erro de Marcano na saída de bola. A partir daí, só deu FC Porto. Os "dragões" começaram a ter um maior controlo da posse de bola e facilmente entravam no último terço de terreno. Aos 24’, Quintero (Lopetegui parece querer apostar forte no colombiano nesta fase) teve espaço fora da área e não desperdiçou (a bola raspa ainda num defesa arouquense). O Arouca praticamente nem teve tempo para reagir e logo de seguida Jackson aumentou a contagem, num lance onde Brahimi fez o que quis da defesa contrária. Os visitados não conseguiam sair do seu meio-campo defensivo e, num canto, Casemiro fixou o resultado ao intervalo em 3-0. Na segunda parte Pedro Emanuel lançou Roberto, mas apesar de alguma reação da equipa caseira, o jogou não mudou de toada. Aos 61’, “Cha Cha Cha” bisou, numa jogada onde foi visível os estragos que Tello pode fazer com a sua velocidade e, após alguns falhanços (Herrera desperdiçou alguns lances e Quintero atirou à barra), o FC Porto estabeleceu o resultado final em 5-0 (passe de Quaresma, lançado na etapa complementar, e golo de Aboubakar). Destaque para as exibições de Quintero (o criativo colombiano dá outro tipo de soluções ao meio-campo ofensivo dos dragões, sendo que Lopetegui parece querer aproveitar o bom momento de forma do “Maradoninha”), Jackson Martínez (eficaz como de costume e muito forte a jogar de costas para a baliza), Fabiano (resolveu quando foi chamado) e Brahimi (crucial naqueles quinze minutos diabólicos dos nortenhos). Quaresma entrou bem na partida (uma assistência) e Aboubakar voltou a faturar (sabe que é muito difícil roubar o lugar a Jackson, mas é importante que vá tendo oportunidades e, se possível, vá marcando para manter os índices motivacionais em alta). Do outro lado, o FC Arouca entrou bem, mas revelou-se muito tenrinho perante um oponente com tantas armas ofensivas de qualidade. A ausência de um '6' foi notória nesta partida (jogar apenas com Bruno Amaro e David Simão na ajuda à defesa é curto), sendo que os laterais sofreram bastante com os alas contrários e os centrais foram facilmente batidos nos cruzamentos. Roberto ainda agitou, mas, de facto, pouco haveria a fazer perante um FC Porto tão forte e com tanto talento individual.

27 de outubro de 2014

Atualmente o melhor box-to-box em Portugal


Há pouco mais de um ano Pedro Tiba era um ilustre desconhecido para a maioria dos adeptos que acompanham o mundo do futebol. Uma carreira modesta, feita em clubes não profissionais, não o impediu de chamar a atenção dos clubes da primeira divisão, nomeadamente do Vitória FC, então treinado por José Mota. O “salto” previa-se complicado e, de facto, a adaptação inicial não correu da melhor maneira e Tiba raramente foi opção. Com a saída de José Mota do comando técnico dos sadinos, acendeu-se uma luz de esperança e José, o Couceiro, viria a tornar-se num elemento chave para ascensão de Pedro Tiba. Inicialmente contratado como um médio ofensivo ou extremo, Couceiro viu no jogador natural de Arcos de Valdevez características de um box-to-box e a adaptação ao lugar não poderia ter corrido da melhor maneira. Tiba fixou-se no "onze" dos sadinos e formou um meio-campo de luxo com Dani (jogador bastante experimentado e titulado) e João Mário (a nova coqueluche do Sporting CP), sendo que essas boas exibições, tanto individuais como coletivas (o Vitória FC jogava de forma muito entusiasmante), colocaram-no nas capas dos jornais, sendo declarado como um possível alvo dos três grandes, nomeadamente os dois de Lisboa. 

16 de outubro de 2014

Futebol Global 2014/15: Há muito potencial por detrás dos vulcões islandeses (análise de 8 a 14 de outubro)

Reflexão: Reiquejavique, geograficamente a capital mais setentrional do planeta, apresenta particularidades interessantes. No verão as noites praticamente não existem. Já os invernos são bastante rigorosos dado que alguns dias possuem somente quatro horas. Englobando mais de 60% da população do país, a capital da Islândia concentra em si um significativo centro comercial, político, industrial e cultural. À sua volta surge uma série de manifestações de natureza vulcânica, aspeto que tão bem caracteriza o país mais jovem do continente europeu (em termos geológicos). Mas nem só de fenómenos naturais vive o povo islandês. 

15 de outubro de 2014

Rescaldos d'esféricos: Pérolas lusitanas a destacar de trabalhos de casa a louvar

Com uma final no campeonato da Europa de sub-19 e com a qualificação de Portugal para o Europeu de 2015 em sub-21, existe uma clara aposta num trabalho sustentado e interligado entre todos os escalões por parte da Federação Portuguesa de Futebol. Apostando e rentabilizando o máximo destes jovens, os pupilos de Hélio Sousa, de Rui Jorge e outrora de Ilídio Vale tanto frequentam as equipas B em Portugal como disputam o campeonato português fora dos três grandes ou emigrantes que encontraram sucesso e estabilidade em terras forasteiras.

No setor defensivo, destacam-se Ricardo Esgaio, lateral direito do Sporting CP com grande propensão ofensiva e com um pecúlio de golos assinalável (33 golos em duas épocas na formação B dos leões), revelando ainda algumas debilidades defensivas mas que vêm sendo atenuadas. Com 21 anos, promete proporcionar dores de cabeça a Cédric Soares e ao seu técnico Marco Silva. Um dos seus companheiros de equipa é o central Paulo Oliveira, proveniente da formação do Vitória SC, que vem conquistando o seu espaço na equipa A de Alvalade e esgrime argumentos com Maurício e Naby Sarr, desencadeadores de várias críticas. Com uma sobriedade anormal para os seus tenros 22 anos, oferece segurança na circulação de bola e na primeira fase de construção, possui uma compleição física interessante no duelo de choque e um jogo aéreo sereno. Como características que necessitam de um upgrade são essencialmente o posicionamento diante de avançados virtuosos e a velocidade no acompanhamento destes. Por fim, o lateral-esquerdo do FC Lorient Bretagne Sud Raphael Guerreiro tem-se cimentado como titular indiscutível na formação gaulesa e nas seleções jovens. Destaca-se pela garra e pela entrega que concede em todas as partidas, nunca dando uma bola como perdida e com virtudes a subir no terreno. O lateral de 20 anos requer, contudo, algum cuidado tático ao nível do posicionamento e mais atitude na ocasião de intercetar o oponente.

Quanto ao setor intermédio, Rúben Neves surge logo à superfície. Considerado como a grande revelação do início da presente temporada no FC Porto, com uns tenros 17 anos de idade, é um elemento que demonstra já uma cultura tática e virtudes na transição e na construção de jogo prematuras e já bem refinadas, desnudando, contudo, algumas deficiências defensivas, especialmente contra centrocampistas mais possantes e experientes, tratando-se de uma circunstância normal para um atleta com uma enorme margem de progressão. Um cuja formação é também no clube portista mas que agora atua no FC Paços de Ferreira é Sérgio Oliveira. Um verdadeiro pulmão de 22 anos, revela-se fortíssimo nas transições defesa-ataque e, à imagem do arquétipo do português, é um gladiador que luta por cada bola até à última das suas forças, faltando somente algum critério no passe e mais rigor tático. Para este meio-campo se afigurar como perfeito, carece de um mágico, de um futebolista completo, com visão de jogo aprimorada, com perfume a transbordar em campo e a encantar os adeptos e com um critério de passe de louvar aos céus. É esta a possível descrição a Bernardo Silva, um génio técnico com 20 anos a ser delapidado. Emprestado pelo SL Benfica aos monegascos do AS Monaco FC, tem motivado gáudio por parte de Leonardo Jardim por poder contar com um dinamizador declarado e que faculta mais pragmatismo mas associando a este um requinte que se parece dissipar nos centrocampistas atuais, mais moldados para o combate e para a dimensão física.

Por fim, no ataque, destacam-se Ricardo Pereira, Carlos Mané e André Silva. Enquanto o primeiro, de 21 anos, é usado em toda a ala direita e pode até fazer a posição de defesa direito, tem sido a extremo destro que Rui Jorge tem apostado neste pupilo do FC Porto e também formado em Guimarães, sendo este um atleta com grande disponibilidade física e com uma entrega inexcedível, aliando a estas uma eficácia interessante. O segundo, de 20, pode atuar em todas as posições do ataque e é (mais) uma pérola de cariz ofensivo produzida pelo Sporting CP. Virtuoso, desequilibrador, por vezes genial, reúne todas as capacidades para ser futuro titular na seleção das quinas se permanecer a um nível altíssimo que tem apresentado, tanto numa perspetiva de presente como de futuro. Por fim, o ponta de lança portista, de 18 anos, escassamente utilizado na equipa B treinada por Luís Castro, mostrou no europeu de sub-19 que não é fogo de vista. Com um faro de golo impressionante, possui uma compleição física adequada e grande jogo aéreo, necessitando de melhorar o 1 para 1 e o controlo de bola, especialmente no seu transporte numa possível penetração pela área adversária.

Muitos mais talentos poderiam ser mencionados e dissecados (Ivo Rodrigues, Raphael Guzzo, Rúben Vezo, Gonçalo Guedes, Iuri Medeiros, etc.), mostrando a diversidade e a riqueza de uma geração de grande qualidade que derivou da formação de muitos clubes da própria nação, sustentados pela realização do trabalho de casa da formação em criar metodologias de treino e rotinas/processos de jogo transversais entre todos os escalões. Apesar de chegar relativamente tarde em relação a países como Alemanha ou Espanha, a seleção portuguesa vai bem a tempo de usufruir deste viveiro de talento e de se catapultar para lugares outrora “cantados” através destas unidades e de um trabalho que revela a competência dos formadores e a propensão futebolística da juventude dos nossos dias.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: maisfutebol.iol.pt / abola.pt / fpf.pt

8 de outubro de 2014

Futebol Global 2014/15: O 'nove e meio' pelo qual Jesus tanto ansiava (análise de 1 a 7 de outubro)

Reflexão: Bastou meia parte para Jonas Gonçalves Oliveira começar a encantar os adeptos presentes no Estádio da Luz e evidenciar as razões que levaram o SL Benfica a avançar para a sua aquisição. A entrada ao intervalo do jogador natural de Bebedouro para o lugar do lesionado Lima, bem como o aumento da intensidade exercida pelo meio-campo trouxe outro dinamismo aos "encarnados". As oportunidades de golo surgiram com mais frequência e o resultado naturalmente se avolumou, dada a abrupta diferença de qualidade entre SL Benfica e FC Arouca. O internacional brasileiro formou dupla com Derley no eixo atacante, adquirindo um posicionamento mais recuado em relação ao seu compatriota. Jogando nas entrelinhas como um protótipo de segundo-avançado, Jonas enquadrou o seu jogo em funções das necessidades do coletivo. Através do fornecimento de bons apoios frontais, baixou constantemente no terreno para oferecer soluções e criar linhas de passe para os seus companheiros. Nesse aspeto difere de Rodrigo, uma vez que o hispano-brasileiro rapidamente rompia em direção à baliza contrária mal recebesse o esférico. No último terço o antigo dianteiro do Valencia CF evidenciou qualidade técnica, aprazível tomada de decisão, boas movimentações e muita inteligência em posse (fez lembrar os tempos de Javier Saviola no SL Benfica). Encerrou o encontro mostrando sagacidade e oportunismo no momento de finalizar de pé direito uma boa jogada individual de Ola John pelo corredor esquerdo. Veremos de que forma o camisola dezassete manterá este registo no futuro e como se comportará num nível competitivo superior em termos de organização defensiva.

7 de outubro de 2014

Liga Portuguesa 2014/15 (7ª Jornada): Quintero quebrou a maldição dos empates

FC Penafiel vs Sporting CP (0-4) 
Islam Slimani 69’ e 71’, Fredy Montero 82’ e Nani 85’

Partida complicada para o Sporting CP, que apesar do domínio quase total do jogo, só conseguiu chegar à vantagem já depois do equador da segunda parte. Os "leões" apresentaram-se com um bloco muito subido e com um maior capacidade para ter a bola, enquanto o FC Penafiel adotou a postura típica das equipas do seu calibre frente a um "grande". No entanto, o Sporting CP não conseguiu explanar o domínio territorial em grandes oportunidades de golo (a mais significativa até acaba por ser dos penafidelenses, com Guedes a desperdiçar em boa posição, após um erro de Naby Sarr). No segundo tempo as substituições de Marco Silva acabaram por dar frutos. Adrien Silva deu agressividade e critério de passe ao meio-campo leonino (é preponderante na equipa, sobretudo com William Carvalho num mau momento de forma), enquanto Fredy Montero veio criar outro tipo de dificuldades à equipa visitada. A jogar entrelinhas e no apoio ao ponta-de-lança, o colombiano foi a unidade livre do ataque leonino, permitindo tabelas com os extremos e abrindo outros espaços para Islam Slimani. Sensivelmente uma dezena de minutos após a vinda de Montero a jogo, o internacional argelino recebeu o primeiro cruzamento bem medido e não perdoou. A turma de Rui Quinta acabou por se desmoronar e em pouco tempo o Sporting CP construiu uma goleada. Destaque para Marco Silva (ganhou o jogo a partir do banco, sendo que mexeu mais cedo e acabou por ter sucesso), bem como para as exibições de Paulo Oliveira (ganhou todos os duelos no primeiro jogo como titular), Slimani (desbloqueou o jogo e mesmo a nível colectivo está mais participativo), Nani (a influência que tem na equipa é notória) e para as entradas de Montero (veremos como evoluirá após este regresso aos golos) e Adrien Silva, que revolucionaram o jogo. Por outro lado, o FC Penafiel mostrou-se uma equipa aguerrida e compacta, mas com um défice técnico preocupante para este nível competitivo. O trio atacante é bastante rápido mas pouco consequente, No entanto, a dupla Ferreira-Rafa merece nota positiva (anularam o meio-campo leonino, essencialmente na primeira parte).

FC Porto vs SC Braga (2-1)
Bruno Martins Indi 25' e Juan Fernando Quintero 59'; Zé Luís 32'

Excelente partida na cidade Invicta entre duas das melhores equipas portuguesas. Lopetegui voltou a apostar em Iván Marcano na 'posição seis' e recolocou Jackson no "onze", mas a verdade é que os primeiros quarenta e cinco minutos não entusiasmaram o tribunal do Dragão. Por sua vez, o SC Braga apresentou-se personalizado, organizado e sempre com a baliza na mira através das suas saídas rápidas. Apesar das dificuldades em reter a habitual posse de bola, os "dragões" abriram o marcador por intermédio de Martins Indi na sequência de um canto. Pouco depois, Zé Luís aproveitou um mau passe de Yacine Brahimi e alguma inoperância dos centrais portistas para restabelecer a igualdade. Até ao intervalo, o FC Porto acentuou a pressão, teve uma bola na barra (remate de Danilo) e um golo retirado em cima da linha por Aderlan Santos. O resultado não agradava e mais uma vez as substituições voltaram a ter o seu peso. Lopetegui retirou o adaptado Marcano (cumpre posicionalmente, mas com o empate a persistir são necessárias outras características naquela posição) e o desaparecido Herrera (voltou a estar em dia não) e lançou os jovens Rúben Neves e Quintero. O colombiano, como é apanágio, trouxe outra alegria ao jogo "azul e branco" e conseguiu desequilibrar. Após duas perdidas protagonizadas por Felipe Pardo e Rafa, o executante natural de Medellín fez o 2-1 num remate cruzado. Os "bracarenses" ainda dispuseram de algumas ocasiões para levar no mínimo um ponto (nomeadamente num livre ao poste de Santos), mas o resultado estava decidido. No lado "azul e branco", destaque para as exibições de Danilo (muito importante no apoio ao ataque), Brahimi (o homem ofensivo mais preponderante, embora nem sempre tenha decidido bem), Óliver (imprescindível no meio-campo) e Quintero (revolucionou com a sua qualidade técnica e criatividade, pedindo mais minutos ao treinador). Nos minhotos, Aderlan Santos e André Pinto realizaram uma partida competente no eixo defensivo. Danilo foi uma âncora no meio-campo, Tiba foi muito útil nos capítulos da retenção e transporte do esférico e Zé Luís voltou a lutar muito e marcar, tendo somado mais pontos na luta pela titularidade (a vida complica-se para Éder). Ainda assim, o SC Braga fica a dever a si próprio a obtenção de um resultado positivo neste jogo.

SL Benfica vs FC Arouca (4-0)
Anderson Talisca 75', Derley 80', Eduardo Salvio 83' e Jonas 88'

O SL Benfica deu seguimento ao bom arranque de campeonato somando a sua sexta vitória (quarta consecutiva), mantendo desta forma a vantagem pontual para os principais rivais. Porém, o resultado não espelha as dificuldades encontradas pelo campeão nacional frente a um FC Arouca bem organizado e que criou várias ocasiões para marcar. Artur Moraes vestiu a pele de herói numa primeira parte em que os encarnados apresentaram um nível paupérrimo (tal como tinha acontecido frente ao Moreirense FC). No segundo tempo os comandados de Jorge Jesus apresentaram maior intensidade e qualidade de jogo, mas só dentro do último quarto de hora conseguiram desbloquear o marcador (a partir do primeiro golo, tudo se tornou mais fácil). Tem sido um início de época atípico do Benfica, com alguma intermitência no setor defensivo e na própria qualidade de jogo, mas simultaneamente com altos índices de finalização e de pressão sobre os adversários. A paragem para os compromissos internacionais teoricamente surge num bom momento, permitindo assim a recuperação física de alguns jogadores. Nota para as boas exibições de Talisca e Derley (tem ganho pontos face a Lima) e para as entradas positivas de Ola John e Jonas. No arouquenses realçar a atitude positiva como encararam a partida, mas também a qualidade demonstrada por alguns dos seus intérpretes (Mauro Goicoechea revelou-se ágil e seguro na baliza, Nildo encheu o terreno e Artur evidenciou-se pela sua técnica e visão de jogo).

Lado B: Nas restantes partidas, o Vitória SC voltou às vitórias, subindo ao terceiro lugar da tabela classificativa, com Jonatan Álvez a assumir papel de destaque na equipa do Berço (bastante veloz, agressivo e com faro de golo) num duelo marcado pela expulsão de Philipe Sampaio e pelas debilidades técnicas evidenciadas pelo conjunto "axadrezado". Em Paços, continua a caminhada triunfal de Paulo Fonseca ao leme da equipa – em 37 jogos no campeonato ao serviço da equipa da Capital do Móvel, apenas perdeu com SL Benfica e FC Porto, um registo simplesmente sensacional – desta feita frente ao CS Marítimo. Bruno Moreira e Maazou bisaram, Edson Farias foi nuclear na reviravolta, enquanto a ala esquerda pacense continua em grande (com um Hélder Lopes revigorado em comparação com a época transata e Urreta a mostrar que é uma mais-valia para o clube). Académica e Moreirense FC anularam-se em Coimbra, num jogo pouco interessante (com os estudantes a nunca encontrarem maneira de transpor a organização da equipa de Miguel Leal) e o Gil Vicente FC continua sem ganhar, desta feita com um empate frente ao GD Estoril Praia (que apesar de vir em crescendo, continua longe dos patamares da era Marco Silva). Quem também não tem encontrado o rumo desejado é o CD Nacional, que se vem cimentado como principal desilusão do campeonato (e o conjunto na teoria até é mais forte do que o da época passada). Por fim, Belenenses e Vitória FC empataram a uma bola (com Domingos Paciência a reforçar a aposta em jogadores nacionais em detrimento de alguns nomes “sonantes” que chegaram ao Sado esta época, mas que pouco têm demonstrado para possuírem esse estatuto).

Equipa da Semana (4-3-3): Artur Moraes (SL Benfica); João Aurélio (CD Nacional), André Vilas Boas (Rio Ave FC), Aderlan Santos (SC Braga) e Jefferson (Sporting CP); Anderson Talisca (SL Benfica), André André (Vitória SC) e Filipe Gonçalves (GD Estoril Praia); Jonatan Álvez (Vitória SC), Islam Slimani (Sporting CP) e Bruno Moreira (FC Paços de Ferreira)

Artigo escrito por: Tiago Martins
Imagens: maisfutebol.iol.pt

6 de outubro de 2014

Rescaldos d'esféricos: A alteração paradigmática do “treinador português”

Com o término da sétima jornada da Liga Portuguesa, algumas ilações podem ser retiradas quanto às metodologias utilizadas pelos timoneiros de cada um dos dezoito clubes. Alguns estreantes (Miguel Leal, Rui Quinta ou Leonel Pontes), outros com experiência em "grandes" do futebol luso e dispostos a relançar as suas carreiras (Domingos Paciência, Paulo Fonseca ou Paulo Sérgio). Um aglomerado de treinadores dispostos a lutar pelos três pontos em cada partida que disputa, não se amedrontando perante adversários de maior envergadura.

Após carreiras como futebolistas, muitos destes enveredam pela continuação no mundo do futebol, alguns com mais apetência pelo escritório e outros pela liderança e gestão de outros jogadores. É neste ponto que há bastantes opiniões positivas quanto ao treinador português (com projeção europeia como José Mourinho, André Villas-Boas, Leonardo Jardim ou Paulo Sousa) e que tem sabido readaptar-se às mudanças do futebol europeu. À procura de um futebol mais fluído, atrativo e com vontade de amealhar os três pontos em cada jogo, o protótipo do “treinador português” tem sofrido remodelações, criando argumentos para sustentar a ascensão de qualidade e de equilíbrio do desporto-rei no país de Camões. Exemplos práticos deste caso são equipas como CS Marítimo, FC Paços de Ferreira, Académica ou Vitória SC que, não só se preocupam com os três pontos de início ao fim de cada partida, mas também com conceitos como a retenção e a objetividade da posse de bola, um futebol de ataque fortemente suportado pelo desdobramento dos seus laterais e aposta nos flancos, que servem de forma consistente os seus elementos mais avançados à procura do máximo de golos possível. Com plantéis por vezes bastante limitados, as equipas do campeonato nacional paulatinamente vão abdicando da obsessão com a organização defensiva e buscam dotar os seus atletas de mais noções ofensivas e de circulação de bola de forma pragmática e segura, envolvendo neste processo todos os onze futebolistas em campo. Uma resposta afirmativa vem sendo dada à mudança de máximas de sucesso em termos táticos num contexto nacional e internacional, com a fluidez de jogo e a assertividade a crescerem a olhos vistos após modelos como o "tiki-taka" virem à baila nesta celeuma. 

Portugal é o país mais representado na UEFA Champions League em termos de treinadores (cinco) e vem sendo um viveiro de técnicos com ideologias de futebol positivo, atrativo, de posse e com forte propensão ofensiva, abdicando muitos deles da rotineira perspetiva do “pontinho” e lutando em pé de igualdade com qualquer formação, seja ela do escalão distrital ou um tubarão europeu. A evolução francamente positiva das performances registadas por formações portuguesas num contexto continental deixam essa impressão, com três finais europeias em quatro épocas (uma delas com a participação de FC Porto e SC Braga). Rasgados elogios são tecidos a um trabalho que vem sendo desenvolvido desde a partida de José Mourinho para Inglaterra em 2004 e com muitos outros a seguirem-lhe naturalmente as pisadas. Enquanto a economia portuguesa continua em recessão, eis um recurso endógeno onde Portugal vem sendo um dos principais exportadores de matéria-prima e, em si incutidos, de recursos que permitem o recrudescimento de adeptos do famigerado “futebol bonito”.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagem: abola.pt

3 de outubro de 2014

Uma nova era na Seleção Nacional

Os números não podiam ser mais esclarecedores: doze dos jogadores que estiveram no último Campeonato do Mundo ficaram de fora (onze se tivermos por base o jogo com Albânia), entre eles alguns elementos que integravam o onze-base de Paulo Bento (João Pereira, Miguel Veloso, Raúl Meireles e Hélder Postiga). Eis a lista de convocados apresentada esta sexta-feira pelo selecionador nacional Fernando Santos:

Guarda-redes: Rui Patrício (Sporting CP), Anthony Lopes (Olympique Lyonnais) e Beto (Sevilha FC);

Defesas: Cédric (Sporting CP), Ivo Pinto (GNK Dinamo Zagreb), Pepe (Real Madrid CF), Bruno Alves (Fenerbahçe SK), José Fonte (Southampton FC), Ricardo Carvalho (AS Monaco FC), Eliseu (SL Benfica), Fábio Coentrão (Real Madrid CF) e Antunes (Málaga CF);

Médios: William Carvalho (Sporting CP), Tiago (Club Atlético de Madrid), João Moutinho (AS Monaco FC), André Gomes (Valencia CF), Adrien (Sporting CP) e João Mário (Sporting CP);

Avançados: Ricardo Quaresma (FC Porto), Nani (Sporting CP), Vieirinha (VfL Wolfsburg), Cristiano Ronaldo (Real Madrid CF), Danny (FC Zenit St. Petersburg) e Éder (SC Braga).

Fernando Santos passou das palavras à ação, protagonizando uma autêntica revolução na lista de convocados. Apesar de nem todos os nomes serem consensuais, é agradável constatar dois aspetos: a rutura com os inúmeros casos que Paulo Bento foi acumulando ao longo do seu percurso (a maioria deles sem justificação plausível) e a importância dada ao ritmo competitivo dos jogadores chamados (ao contrário do que sucedia anteriormente, com alguns elementos a merecerem confiança sem sequer jogarem pelos respetivos clubes).

Entre as novidades, destacar a estreia de José Fonte e os regressos de Tiago e Danny, elementos que acrescentam muita qualidade ao elenco nacional (aliás, na teoria todos cabem no melhor onze). Elementos como Ricardo Carvalho (por toda a experiência que abarca ao mais alto nível) e Ricardo Quaresma (não obstante de ter um feitio complicado e de estar a rubricar um mau início de temporada, é um jogador capaz de decidir partidas com a sua excelente técnica) poderão ser importantes, e certamente darão mais garantias (neste momento) que Ricardo Costa, Luís Neto, Ricardo Horta ou Ivan Cavaleiro.

Posto isto, será interessante perceber como irão ser organizadas as peças no onze. Elementos como Rui Patrício, Fábio Coentrão, Pepe, Cristiano Ronaldo e Nani deverão manter-se na equipa enquanto tudo o resto está sujeito a mudanças: Bruno Alves tem a titularidade em risco com a concorrência de Ricardo Carvalho e José Fonte. Já na lateral direita, Cédric Soares leva vantagem sobre Ivo Pinto. No meio-campo, o único elemento anteriormente indiscutível é um dos que está em pior forma (João Moutinho) e no sector ofensivo será interessante perceber como irá encaixar-se o trio Danny-Nani-Ronaldo (daí ter lógica a implementação de outro sistema, até porque o único ponta-de-lança de raiz na convocatória neste momento nem indiscutível é no SC Braga).  

Artigo escrito por: Tiago Martins
Imagens: record.xl.pt / desporto.sapo.pt

2 de outubro de 2014

Futebol Global 2014/15: Pellè é um verdadeiro "case study" (análise de 24 a 30 de setembro)

Reflexão: Após o brilhante oitavo posto alcançado na pretérita edição da Barclays Premier League, o Southampton FC aparece com modificações significativas para a época 2014/15. O lote formado por Calum Chambers, Dejan Lovren, Luke Shaw, Adam Lallana e Rickie Lambert rendeu cerca de cento e vinte milhões de euros aos cofres dos "saints", enquanto Mauricio Pochettino abandonou o comando técnico da formação encarnada para ingressar no Tottenham Hotspur FC. Para o seu lugar chegou Ronald Koeman, conceituado técnico holandês que conta com uma passagem pelo SL Benfica. De resto, o ex-treinador do Feyenoord veio para o St. Mary's Stadium acompanhado do ponta-de-lança de vinte e nove anos Graziano Pellè (custou uma verba a rondar os dez milhões de euros). O transalpino (tem contrato válido até 2017), juntamente com Shane Long e o regressado Emmanuel Mayuka, tentará ao longo do presente exercício esquecer a enorme falta que Lambert certamente fará (pelo menos ao nível da finalização). Para já a conjuntura é perfeitamente favorável: Pellè leva cinco golos e duas assistências em oito jogos (distribuídos pela Barclays Premier League e Capital One Cup) e tem guiado os "saints" a um excelente arranque de temporada (o melhor do clube desde a longínqua época 1983/84).