30 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: Maestros, onde andam vocês? (análise de 23 a 29 de julho)

Reflexão: A despedida oficial de Deco perante um Estádio do Dragão repleto poderá muito bem servir como mote para retomar uma questão que assume cada vez mais importância no futebol moderno. Afinal, onde estão atualmente os números dez? Por onde andam aqueles que tratam a bola por tu, que trazem magia aos relvados e que fazem com que o futebol seja um desporto que move milhões de adeptos? 

29 de julho de 2014

Rescaldos d'esféricos: O estágio do Sporting CP em terras holandesas

   O Sporting Clube de Portugal, segundo classificado na passada edição da Liga Portuguesa após uma época marcada pela ausência de expectativas, encara na presente temporada um novo desafio: o de consolidação do seu lugar na elite nacional, com a respetiva repercussão nas provas europeias, acarretando assim maior carga competitiva e um plantel mais robusto. Apesar da saída de Leonardo Jardim, o técnico que foi a figura chave na época fantástica dos leões, a direção optou por manter a aposta num treinador ambicioso, apreciador do futebol apoiado de posse e ofensivo, enveredando para Marco Silva, que conduziu a equipa do Estoril Praia às (até então, inéditas) competições europeias por duas temporadas consecutivas. Com um número de novas contratações e de repescagens à equipa B, a formação de Alvalade venceu todas as partidas que disputou em solo lusitano e partiu para o estágio holandês com dois troféus assegurados, sendo eles o Troféu Pedro Pauleta e a Taça de Honra.

   O estágio do Sporting na Holanda teve como base a vila de Doorwerth e estipulou três particulares: o primeiro contra o RKSV Achilles '29, vigésimo classificado da segunda liga holandesa de 2013/14 e, por isso, despromovido; o segundo diante da formação do FC Utrecht, 10º classificado da Eredivise de 2013/14; e o último face ao terceiro classificado da mesma competição FC Twente.

   Na primeira partida, o timoneiro Marco Silva concedeu oportunidades a elementos mais desvirtuados do onze base da vitória na Taça de Honra e da época passada, com a introdução de dez novos elementos comparativamente a essa formação e com o lateral esquerdo Jefferson a ser o único futebolista presente em ambas as eventualidades. Com um entrosamento naturalmente menos evidenciado, os centrais Tobias Figueiredo e Paulo Oliveira mostraram-se tranquilos no tratamento da bola e surgiam com frequência na grande área mas viam-se facilmente explorados em incidências de ataques rápidos. O meio-campo dispôs de pouca coesão e de mais iniciativas individuais, com Wallyson e Slavchev ainda a exibirem-se de modo tímido mas com alguns momentos de valor e João Mário a servir de ponte de conexão entre os diversos setores, mostrando-se um box-to-box relevante e que pode facultar dores de cabeça ao técnico Marco Silva. Quanto às alas, André Geraldes manteve uma postura sóbria defensivamente mas com pouco acréscimo ofensivo a Shikabala enquanto Jefferson e Carlos Mané mostravam-se dispostos em fazer combinações com menos intensidade mas com vista ao serviço do reforço japonês Junya Tanaka, que demonstrou ter o oportunismo necessário para se firmar como uma opção válida na dianteira ao faturar um hat-trick. As substituições efetuadas pelo treinador permitiram que tanto os restantes reforços como outros pupilos da formação se mostrassem, destacando-se destes Heldon pelo golo marcado e Ryan Gauld, uma das grandes promessas do futebol escocês, a mostrar belas combinações com João Mário e Simeon Slavchev que viabilizaram a dilatação de uma vitória justa por 5-2.

   Na segunda partida, diante de um adversário mais capaz e ameaçador, o Sporting atuou com um onze mais condizente com os usados nas duas partidas relativas à Taça de Honra, dispondo apenas de um reforço no onze inicial e sendo ele o espanhol Oriol Rosell, que voltou a dar nas vistas. Com uma exibição inspirada de Marcelo Boeck tendo defendido um penálti, a equipa dos leões demonstrou todo a coesão e o trabalho desenvolvido na temporada prévia a ser catapultado para esta, com Marco Silva somente a insistir nas combinações práticas a derivarem para as alas (Carrillo esteve em grande destaque, com mais camaradagem e não tanta obsessão no porte da bola, ao contrário de Capel) e com o meio-campo a servir de suporte no ataque nas zonas de finalização (André Martins surge quase como um segundo avançado numa estrutura tática teoricamente estipulada como 4x3x3 e voltou a abanar as redes da baliza adversária e Adrien esteve na origem dos dois primeiros golos com remates potentes que originaram defesas incompletas). Sentiu-se também que esta zona central do jogo da equipa de Lisboa perdeu poderio físico com a ausência de William Carvalho (que entretanto entrou e mostrou a sua positiva influência defensiva) mas ganhando mobilidade e abnegação no capítulo ofensivo, estando, no capítulo do passe, com níveis de eficácia similares aos do seu concorrente direto. Os centrais Maurício e Eric Dier revelaram poucos erros de posicionamento e elevados índices de agressividade a cada lance disputado, enquanto os laterais mantiveram uma preponderância ofensiva e sintonia com os seus parceiros de corredor, enquanto que Fredy Montero bem tentou “matar o borrego” de jogos consecutivos sem marcar mas sem sucesso e muito se devendo à sua envolvência como elemento de equipa e não tanto como finalizador nato. Quanto à segunda linha que entrou na segunda parte, esta não evidenciou a qualidade e as rotinas prementes com a equipa que atuou no primeiro período, abrindo mais espaços para o Utrecht e permitindo mais posse por parte dos holandeses no meio-campo contrário. Os destaques, todavia, são alguns, tais como a frieza de Tanaka, o virtuosismo de Carlos Mané, as virtudes a pêndulo de João Mário e a surpresa de Esgaio ao atuar com eficácia na ala esquerda, apesar da sua preferência derivar para a direita. Novamente um triunfo merecido de um Sporting com mais maturidade tática, maior entrosamento, eficácia e com argumentos de assumir a identidade defendida por Marco Silva, tanto como uma equipa que pode funcionar tanto como uma de transições rápidas e de eficientes variações de flanco por parte da bola como de uma equipa com bola no pé por algum tempo visando constantemente a baliza.

   No último e mais árduo encontro, diante da formação holandesa do FC Twente, o Sporting foi derrotado por 2-0 e, apesar de perfilar com somente dois reforços, produziu um jogo menos conseguido. A formação lisboeta sentiu-se incomodada com uma pressão inicial no seu meio-campo por parte do oponente, sofrendo o golo numa casual oportunidade onde Eric Dier falhou na cobertura física. No resto do processo defensivo, toda a linha defensiva mais William Carvalho cumpriu na restante envolvência da primeira parte, especialmente no capítulo da antecipação ao último passe e com uma boa exibição do reforço lateral-direito André Geraldes. Quanto ao ataque, as alas, com André Carrillo e Carlos Mané, foram facilmente anuladas pelos laterais holandeses e, por conseguinte, poucas oportunidades foram geradas para que Junya Tanaka pudesse replicar o gosto ao pé tal como nas duas transatas partidas. O meio-campo não funcionou, com Adrien e André Martins a não colaborarem de forma tão assídua no processo ofensivo e com estes e William Carvalho a falharem copiosamente passes e a não encontrarem soluções para romperem com a poderosa defesa da equipa de Enschede. No segundo tempo, desde logo entraram Fredy Montero, Diego Capel e os reforços Oriol Rosell e Paulo Oliveira para os lugares de Junya Tanaka, de Carlos Mané, de William Carvalho e de Eric Dier. A equipa de Alvalade a espaços conseguia perturbar o guarda-redes holandês mas sem a eficácia desejada e com limitações após a expulsão de Maurício por acumulação após este colocar o esférico dentro da baliza com a mão. Um encontro menos conseguido sem que o Sporting colocasse em prática os processos defendidos pelo técnico Marco Silva em que as diagonais foram escassas e, quando cumpridas, não tiveram a devida prossecução, com o meio-campo com fugazes iniciativas sem originar verdadeiros sobressaltos à defesa adversária e com a defesa a cumprir no papel mas com alguns lapsos que levaram a que o resultado favorecesse a equipa anfitriã.

   Em suma, o estágio do Sporting Clube de Portugal ficou-se por um sentimento algo amargo após duas vitórias e uma derrota diante da equipa com argumentos mais equiparáveis aos dos leões. Destacam-se algumas nuances novas introduzidas pelo novo treinador Marco Silva ao trabalho já desenvolvido na transata época por Leonardo Jardim e muito reciclado pelo ex-Estoril, tais como os maiores níveis de posse de bola e a tentativa de construir jogo de forma paciente mas objetiva a partir da defesa, apelando a uma circulação de bola apoiada e com tendências diversificadas, tanto com privilégio para os flancos como diretamente para os elementos mais avançados, mas também a insistência nos ataques rápidos e na tentativa de apanhar a defesa adversária no contrapé, reforçando a imprevisibilidade da equipa. Quanto aos processos defensivos, existem mais elementos concentrados no seu meio-campo e uma marcação mais zonal do que corpo-a-corpo, com os extremos tanto a apoiarem atrás os seus companheiros como a atrapalharem os centrais na sua construção, potenciando a existência de vários golos através destes movimentos. Na ocasião em que enfrentou uma equipa mais possante e capaz de contrariar o domínio verde-e-branco, a equipa revelou algumas lacunas especialmente na clarividência ofensiva e no deslumbramento com a bola nos pés, levando a vários cortes fáceis dos opositores. Notas positivas para a eficácia de Junya Tanaka (4 golos em 2 encontros), a segurança de Marcelo Boeck (penálti defendido e tranquilidade no jogo com os pés), a dinâmica de Oriol Rosell na primeira linha de construção ofensiva, chegando com facilidade à área contrária para dar suporte a este trabalho; e a sintonia entre Adrien Silva e André Martins na segunda partida, mostrando boas articulações com as alas e forte presença no terreno do adversário. Os testes que se avizinham serão, no geral, ao nível deste mais recente desencadeado pelo FC Twente e, por isso, servirá para aprimorar as rotinas menos compreendidas e expostas em campo, desta feita com Rui Patrício, Marcos Rojo e Islam Slimani já reintegrados na equipa.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
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28 de julho de 2014

Espaço Entrelinhas: Dragão renovado busca título perdido

   Vivem-se tempos de mudança no Dragão. A época transata deixou a nu as fragilidades de uma equipa que, embora apresentasse um onze inicial de respeito, nunca teve soluções para inverter o rumo de um jogo menos conseguido. Paulo Fonseca foi uma aposta claramente falhada, os reforços, maioritariamente recrutados a nível interno, pouco acrescentaram e os resultados demonstraram o pior FC Porto que me lembro de ver jogar.

   Soou o alarme numa estrutura pouco habituada a fracassos. Embora o seu trabalho tenha saído valorizado e tenha conquistado o respeito de adeptos e adversários, Luís Castro, homem da casa, regressou à equipa secundária dos “azuis e brancos”. Qual bombeiro, foi chamado a intervir perante uma situação de emergência e conseguiu minimizar o impacto de uma temporada atípica. Quando a generalidade dos comentadores e da imprensa apontavam ao comando da equipa portista um treinador experiente e com tarimba no futebol europeu, eis que Pinto da Costa e seus pares apostaram em Julen Lopetegui. É um jovem treinador espanhol, desconhecido do público em geral e com um curriculum demonstrativo da sua inexperiência ao mais alto nível no futebol europeu. O basco conta com passagens por equipas secundárias do futebol espanhol relevando-se o seu trabalho nas seleções jovens de Espanha, tendo conquistado um Campeonato da Europa de sub-19 em 2012 e outro pela categoria de sub-21 em 2013.

   Apesar da sua pouca experiência é claramente uma aposta forte da direção portista, tendo rubricado um contrato válido por três temporadas. A confiança depositada no técnico basco de 47 anos espelha-se ainda na construção daquele que será o plantel do FC Porto para a temporada 2014/2015. Fruto da participação no playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, os “dragões” encontram-se já numa fase mais adiantada da pré-temporada, tendo, com efeito, estado bastante ativos no mercado de transferências de modo a ter uma equipa já devidamente entrosada para o arranque oficial da época, que coincide com a eliminatória acima referida, que em caso de vitória dará acesso à mais vistosa montra do futebol europeu.

   Lopetegui tem tido total liberdade no que concerne ao escalonamento do plantel. Os reforços portistas têm “o dedo” do técnico que tem privilegiado o ingresso no clube de jovens internacionais espanhóis com os quais já teve oportunidade de trabalhar, ou, então, de atletas internacionais provenientes de La Liga, que o basco tão bem conhece. Fazendo uma análise global ao plantel portista, que, por força do mercado de transferências, ainda não se encontra fechado, verifica-se um aumento de qualidade e quantidade na zona mais ofensiva do terreno de jogo.

   Em comparação com a temporada transata, o meio-campo do FC Porto encontra-se bem mais apetrechado, o que pode permitir um nível de fluidez de jogo muito superior ao exibido em 2013/2014. Destaca-se, porém, a perda de Fernando. O “Polvo”, que foi o pêndulo e o porto seguro dos “dragões” nos últimos anos, transferiu-se para o Manchester City de Inglaterra. Era na minha opinião, o jogador mais importante da equipa, o seu ponto de equilíbrio, o dínamo do onze inicial. Para o seu lugar chegou Casemiro, jovem brasileiro proveniente do Real Madrid. É um jogador diferente, o que fará com que, naturalmente, a equipa se exiba em campo de uma forma diferente daquela a que nos habituou. A nível defensivo não oferece a segurança que Fernando oferecia mas, em compensação, o Porto poderá beneficiar nas transições defesa-ataque uma vez que Casimiro é um médio defensivo talhado para iniciar o processo de construção de jogo, sendo, nesse aspeto, mais “atrevido” que Fernando.

   Josué, aposta de Paulo Fonseca, que foi desaparecendo das opções no desenrolar da época passada parece não contar para Lopetegui. Há Herrera, que regressa à Invicta após, finalmente, dar mostras do seu real valor no Mundial do Brasil ao serviço da seleção mexicana, onde se consagrou como um dos melhores médios e, seguramente, uma das principais revelações da prova. Óliver Torres, emprestado pelo Atlético de Madrid, Juan Quintero e o recém-contratado ao Granada, o argelino Brahimi, garantirão, certamente, futebol espetáculo. Ambos são muito dotados tecnicamente, apresentam grande qualidade na posse de bola e oferecerão muitas soluções ao treinador, consoante os jogos, as diversas competições e o tipo de adversário. Comparativamente às opções ao dispor de Paulo Fonseca e Luís Castro há um nítido upgrade no meio campo onde anteriormente pontificavam, para além do indiscutível Fernando, ora Josué, ora Defour (o belga provavelmente será transferido) ora Herrera, que ainda se encontrava em fase de adaptação. Para esta temporada não se podem descurar, ainda, os nomes de Evandro, um dos principais destaques do nosso campeonato, contratado ao Estoril, médio muito forte nas bolas paradas, no municiamento ao ataque e, sobretudo, com, chegada à área e faro de golo, fruto do seu potente remate e Carlos Eduardo, que demonstrou qualidade, a espaços, na passada temporada.

  No ataque o esforço demonstrado na manutenção do goleador colombiano Jackson Martínez é um sinal revelador da enorme vontade do FC Porto em reconquistar o título perdido. Para acompanhá-lo chegou Adrián López, espanhol, campeão pelo Atlético de Madrid e que conviveu com outro goleador, aliás, o máximo goleador espanhol de La Liga, Diego Costa. Embora não fosse um titular na equipa guerreira de “Cholo” Simeone, aproveitou bem o tempo que lhe foi concedido. Mais um claro acréscimo de qualidade. Poderá desempenhar funções no eixo ou nas alas. Ghilas, que passou um ano na sombra do Cha Cha Cha, deverá ser emprestado para jogar, uma vez que com Jackson e Adrián será muito difícil ter minutos neste renovado plantel azul e branco.

   Quaresma, regressado em janeiro, deu algum brilho a uma equipa que muitas vezes pareceu estar à deriva em busca do norte. As suas trivelas, os seus dribles e a sua magia deram encanto a um FC Porto muito cinzento. Este ano porém, o “Mustang” não atuará a solo. Cristian Tello chega do Barcelona desejoso por minutos e com ânsia em brilhar também. Tapado no plantel culé, foi um desejo expresso de Lopetegui contribuindo para o aumento do contingente espanhol no Dragão. Indubitavelmente um dos jogadores mais entusiasmantes que aterrou em Portugal neste defeso. Técnica, velocidade e visão de jogo, com o certificado de qualidade de La Masia. Licá nunca demonstrou qualidade para jogar a este nível e com naturalidade deverá sair. Kelvin, que já tem o seu lugar reservado na história do clube, parece não ter convencido Lopetegui e a sua saída é uma possibilidade. Com o mesmo cenário poder-se-á deparar o internacional português Silvestre Varela. Após cinco temporadas de dragão ao peito vê o seu espaço no plantel cada vez mais reduzido em virtude das caras novas que chegaram nesta pré-temporada. O desenlace da época transata vincou a necessidade de um novo fulgor ao nível de extremos e a qualidade exibicional bem como a capacidade de decisão do português tem vindo a decair de época para época. Ricardo terá dificuldades em se impor, fruto da qualidade e quantidade ao dispor de Lopetegui. Contudo soube aproveitar, na época passada, os minutos que teve, sobretudo com Luís Castro, e a sua polivalência poderá ser útil para enfrentar uma temporada que se prevê longa. Sami é proveniente do Marítimo, tem estado em destaque nesta pré-temporada e revela ambição em agarrar uma vaga neste plantel. De referir que os já citados Torres, Quintero, Brahimi e Adrián poderão, igualmente, derivar para uma das alas.

   Em contraste com a abundância e a qualidade do meio campo e o ataque, o setor defensivo é aquele que ainda me levanta algumas dúvidas, sobretudo confirmando-se a mais que provável saída de Mangala, o patrão da defesa. Mantêm-se os laterais Danilo e Alex Sandro que, contudo, terão que apresentar um nível superior ao de 2013/2014, o que será facilitado pela maior qualidade deste plantel. A falta de alternativas aos dois laterais brasileiros foi um dos fatores do fracasso dos azuis e brancos na temporada transata. Uma falha grave, reveladora, porventura, de algum acomodamento e falta de critério na construção do plantel. Este ano chegou o internacional ganês Opare, defesa direito para concorrer com Danilo. Fica a faltar uma alternativa para o lado canhoto da defensiva. José Ángel, que na última temporada atuou no campeonato espanhol ao serviço da Real Sociedad pode ser o concorrente que tem faltado a Alex Sandro. Maicon parece-me, pela sua qualidade, experiência e tempo de casa, ser um dos indiscutíveis no eixo da defesa. Forte no jogo aéreo e nas bolas paradas, um líder em campo, deverá ter lugar cativo. O mexicano Reyes, pese a sua juventude, ainda não me convenceu. Demonstrou num passado ressente demasiados erros para ser titular. Terá que crescer ainda e no Dragão é prática comum a concessão desse tempo de adaptação que, neste caso se está a alongar demasiado. Reyes traduziu um avultado investimento, tem tido oportunidades e com Lopetegui esta época poderá dissipar as minhas dúvidas acerca de ser uma jovem promessa que está a completar o seu processo de adaptação ao futebol europeu ou se se trata de um erro de castingBruno Martins Indi reforçou os dragões proveniente do Feyenoord. Nascido no Barreiro este internacional holandês entrou para a ribalta ao ser convocado por Van Gaal para o Mundial do Brasil onde foi titular, contribuindo para o brilhante terceiro lugar alcançado pela Laranja Mecânica. Deverá ocupar a vaga deixada em aberto por Mangala. Polivalente, desempenha igualmente as funções de defesa esquerdo. O chileno Igor Lichnovsky, conhecido como o “Piqué azul” irá provavelmente evoluir na equipa b portista. Aos 20 anos terá a sua primeira experiência na Europa, após a sua formação no Universidad de Chile. Será o quarto central da equipa principal, deverá ter minutos nas taças, jogando regularmente pela formação secundária do FC Porto, sob as ordens de Luís Castro. Abdoulaye regressou de empréstimo em janeiro e surpreendeu-me ao ser titular no campeonato. É um jogador que apesar da sua grande envergadura e estampa física, não consegue disfarçar as suas debilidades técnicas. Será muito provavelmente dispensado. É outro jogador que, tal como Licá e até Josué, não têm qualidade técnica para um clube destas dimensões.

   Na baliza reside o principal mistério do FC Porto versão 2014/15. Helton encontra-se ainda a recuperar da grave lesão contraída em Alvalade e inclusive especula-se sobre o facto de poder ter colocado um ponto final na sua carreira. Fabiano tem sido titular na pré-época mas parece não ter a confiança de Lopetegui. Muito forte dentro dos postes, tem lugar assegurado no plantel mas provavelmente será suplente novamente. Ricardo, contratado à Académica, parte atrás de Fabiano na corrida à titularidade. Lopetegui deseja um homem da sua confiança a guardar as redes dos “dragões”. Os nomes citados parecem não satisfazer o técnico basco, pelo que o FC Porto está no mercado por um novo guarda-redes. Andrés Fernández, guardião espanhol do Osasuna, bem conhecido por Lopetegui, tem sido colocado insistentemente pela generalidade da imprensa desportiva como estando muito próximo de assinar pelos “dragões”.

   Feita esta análise ao plantel do FC Porto, pela objetividade com que os “dragões” se estão a reforçar neste mercado de transferências parecem-me ocupar a pole position na candidatura ao título em 2014/2015. Negativamente destaco a política de empréstimos que tem sido seguida pelos azuis e brancos. Casimiro, Torres e Tello são algumas das caras novas para esta temporada, jovens potenciais titulares, emprestados, respetivamente, por Real Madrid, Atlético de Madrid e Barcelona. Sou da opinião que os clubes portugueses devem apostar na formação de jogadores ou, alternativamente, na compra de jovens a um preço acessível para que os potenciem e posteriormente os possam vender para os grandes “tubarões” europeus por valores elevados, compensando deste modo o investimento na formação ou na compra do jovem atleta. Porém, esta opção do FC Porto, pontual (eu pelo menos não tenho memória de tantos reforços que chegaram a título de empréstimo em épocas transatas), demonstra a enorme vontade manifestada em voltar a ser campeão no imediato. Face à crise económica e financeira que atravessamos o FC Porto tem, deste modo, acesso a jogadores que de outra forma não os conseguiria obter.

   Face a um SL Benfica que está a ser dilacerado perante o ataque dos clubes mais ricos e poderosos da Europa aos principais obreiros do título do ano passado e um Sporting CP que está limitado por um orçamento reduzido, o FC Porto parte à frente na corrida ao título. Porém, importa salientar que nos encontramos ainda em fase de preparação da época desportiva, o mercado está aberto e as próximas semanas prometem novidades. Ainda muita coisa pode acontecer e só em meados de maio se conhecerá o campeão. Por agora resta esperar que a bola comece a rolar.

Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: abola.pt / record.xl.pt

23 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: Futebol brasileiro no fundo do poço (análise de 16 a 22 de julho)

Reflexão: Após o fracasso que constituiu o Mundial 2014, Dunga foi o escolhido para CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para suceder a Luiz Felipe Scolari no comando técnico da seleção nacional brasileira. Após uma passagem entre 2007 e 2010 pelo escrete (conquistando a Copa América 2007, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Pequim 2008 e a Taça das Confederações 2009) o antigo internacional brasileiro está de regresso a um posto que já lhe valeu bastantes críticas. 

16 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: Denominador comum para espanhóis e alemães (análise de 8 a 15 de julho)

Reflexão: Caiu o princípio da continentalidade. Quatro anos após o sucesso espanhol, a Alemanha superiorizou-se numa interessante final, com os germânicos a assumirem as despesas do jogo e os argentinos a tentarem aproveitar os erros adversários para criarem oportunidades de golo. Em pleno prolongamento, Mario Götze resolveu a partida com uma bela execução de pé esquerdo, dando o quarto título mundial ao seu país e igualando os feitos de 1954, 1974 e 1990. 

14 de julho de 2014

Rescaldos d'esféricos: O esmorecimento do Sudoeste do Velho Continente

   Com o término do Mundial e com a vitória da seleção da Alemanha diante da Argentina, não há quaisquer dúvidas que esta edição da competição ficará perpetuada no mundo do futebol internacional como uma das melhores de sempre. Todavia, como em praticamente todas no desporto global, existem sempre os denominados “flops”, isto é, as desilusões, sendo estas maioritariamente provindas do continente europeu. Seleções como Espanha, Inglaterra e Itália, anteriores campeãs mundiais, e Portugal caíram de forma justa e precoce perante seleções americanas que, atuando no seu clima e com essas condições dispostas para serem potenciadas como vantagens, só se podem queixar de si próprias por não terem outro desfecho no final desta Copa, tal como Alemanha e Holanda.

   Começando pela seleção portuguesa, que acumulou uma vitória diante do Gana, um empate diante dos Estados Unidos e uma copiosa derrota contra a posterior campeã Alemanha, foi uma equipa bastante focada no melhor jogador do mundo da atualidade: Cristiano Ronaldo. Existia claramente um rótulo de que Portugal era Ronaldo e mais 22 jogadores. Foi uma das grandes debácles em relação a outras forças cujo coletivo se superiorizou. Para além deste fator, a deficiente condição física com que a maioria dos futebolistas se encontrou (inúmeras lesões musculares e substituições forçadas contribuíram para a delimitação do raio de ação do selecionador), a convocatória que suscitou bastante discussão nos cafés do país (Anthony Lopes, Cédric Soares, Rolando, Adrien Silva, Ricardo Quaresma, entre outros, ficaram de fora) e a parcimónia em que o selecionador Paulo Bento se mergulhou (apenas efetuando alterações que pareciam óbvias a olho nu no encontro em que tudo se encontrava parcialmente decidido, especialmente a ausência de William Carvalho diante da frouxa postura de Raúl Meireles e Miguel Veloso nos encontros que antecederam o terceiro) são outros dilemas que estalaram nesta competição.

   A seleção espanhola, campeã em título, vinha de uma larga derrota diante do Brasil na Taça das Confederações e, apesar desta, era considerada uma das grandes favoritas ao êxito maior no Maracanã no dia 13 de julho de 2014. Puro engano, pois duas derrotas a abrir a campanha (1-5 diante da Holanda e 1-2 contra o Chile) colocaram os ibéricos de uma só assentada de fora da Copa. A base dos êxitos na África do Sul em 2010 e na Polónia/Ucrânia em 2012 permanecia e, tal como na equipa lusa, não exibiu a flora das suas capacidades devido já ao acumulado desgaste pela entrada na casa dos 30 anos da maioria dos atletas mas com alguns elementos (Juan Mata, David Silva, Jordi Alba ou Diego Costa) que quebravam com esta base mas que não conseguiram arrastar consigo os restantes companheiros. O tiki-taka que perdurou nestes últimos quatro anos foi superiorizado por uma cínica estratégia orquestrada por Van Gaal e pela renovação coletiva à qual conduziu e por um Chile que mostrou as ganas e a dinâmica ofensiva da qual os espanhóis careciam. Com uma escola de talentos de larga escala (Ander Herrera, Iker Muniain, Jesé Rodríguez, Cristian Tello, Thiago Alcântara, entre outros), o futuro parece brilhante para os espanhóis, contudo não com Vicente Del Bosque, selecionador que, no passado, acumulou sucessos tanto em clubes como em seleções mas cuja metodologia suscita interrogações nos críticos.

   Passando à seleção italiana, campeã em 2006 na Alemanha, esta viu-se enquadrada no grupo da morte assim como a seleção inglesa, afigurando-se como teorica e historicamente favoritos em relação às seleções americanas do Uruguai e da Costa Rica. No jogo inaugural deste grupo de ambas as coletividades, foi a primeira a levar a melhor por 2-1 num encontro que foi bem repartido, entre as rápidas movimentações dos jovens irreverentes constituintes da seleção britânica e a lenta e paciente construção da veterana seleção a partir da linha defensiva. Contudo, os restantes encontros destas duas seleções revelaram-se surpreendentes, com Uruguai e Costa Rica a vencerem Inglaterra e Itália respetivamente. Com um Luís Suarez literalmente endiabrado e um inspirado Keylor Navas na seleção dos ticos, foi inoperante o esforço dos habituais tubarões do Velho Continente (Inglaterra, estava assim, fora do Mundial) mas com a Itália ainda a permanecer com uma réstia de esperança de qualificação, apesar de estar longe de cativar os mais céticos. Esta réstia foi logo neutralizada pelo herói do título nacional do Atlético de Madrid, o central uruguaio Diego Godín, que desnudou as gradualmente mais evidentes debilidades organizativas e ofensivas da seleção de Itália, que, mesmo defensivamente, nunca teve armas para lidar com construções dinâmicas de velocidade elevada, de circulação pragmática de bola e de rápidas transições, explorando os espaços deixados pelos possantes defesas transalpinos e produzindo com regularidade através desse parâmetro, levando à demissão do treinador Cristiane Prandelli que foi mais perspicaz que os selecionadores das seleções supramencionadas e que se apercebeu que é necessário um novo comandante para levar a cabo a transformação italiana, cujo futebol se encontra ultrapassado e acorrentado na década passada. Quanto à Inglaterra de Roy Hodgson, foi uma que efetuou a regeneração atempadamente mas que não conseguiu construir um coletivo válido que lhe permitisse chegar mais longe, sobrando para o Europeu de França de 2016 grandes esperanças quanto a esta seleção que apresenta valores de grande qualidade mas de escassa experiência quanto a encontros internacionais.

   Exceto a Alemanha e a Holanda, deduz-se destas aferições que existe um desmoronamento das teorias táticas privilegiadas pela seleções advindas de solo europeu, com Portugal a não dispor de elementos que permitam a aplicação de um 4x3x3 dada à ausência de pontas-de-lança profícuos na lista de possíveis escolhidos para este grupo e da falta de rigor defensivo por parte dos laterais existentes, dada à larga propensão ofensiva dos flanqueadores do século XXI e escassez de virtudes de marcação e ocupação de espaços; com a Espanha a possuir as pedras basilares dos seus precedentes êxitos sem o fulgor de outrora e a não corresponder às expectativas dos seus apoiantes; com a Itália a possuir rotinas bastante antiquadas para o futebol aplicado neste momento e a necessitar de uma reformulação tática em termos ofensivos (falta de posse com objetividade e de elementos capazes de fazer a diferença potenciando as lógicas elaborações do miolo) e, consequentemente, quanto à organização defensiva (linha defensiva muito avançada e lenta em campo, com bastante espaços a serem explorados, e falta de apoio no processo defensivo por parte dos centrocampistas); e com a Inglaterra, com um jovem rol de excelentes recursos, a precisar de tempo e  experiência para consolidar os processos preconizados pelo seu técnico e a exibir potencial para um futuro interessante. Muitas mudanças devem ser realizadas, pensadas e repensadas para que as seleções europeias voltem a arrecadar a hegemonia do futebol mundial, com o Europeu a ser uma montra para se verificar se as devidas correções foram tomadas ou não. Caso permaneçam estas lacunas, confirmar-se-à uma crise não só sócio-económica e política mas também refletida no desporto, mais concretamente no desporto rei.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: gettyimages.com

8 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: "El Bandido" quase roubava o sonho brasileiro (análise de 1 a 8 de julho)

Reflexão: Por muito que se discuta as opções tomadas por José Pekerman (treinador que incutiu uma mentalidade mais ambiciosa e ganhadora) ou até mesmo a enorme falta que Radamel Falcao fez, a Colômbia saiu do Mundial 2014 de forma digna e com o estatuto de uma das grandes sensações da prova. Basta olhar para o registo histórico dos "cafeteros" para se perceber que em cinco participações do país sul-americano na competição, a chegada aos quartos-de-final constituiu a melhor prestação.