19 de abril de 2014

Crónica Saturnina: A consistência do LOSC Lille


   A crise económica europeia já não se torna novidade nenhuma, afetando vários desportos e, com a forte presença dos “petrodólares” a surgir no panorama futebolístico, a França não se tornou imune a este fenómeno com o forte investimento em clubes como o Paris Saint-Germain e o AS Monaco. Porém, nem todos os clubes gauleses enveredaram por esta opção e escolheram o reforço do plantel com jogadores do escalão principal francês por um custo acessível, aliando a isto uma forte aposta na formação destas equipas. Uma delas foi a campeã da Ligue One da temporada 2011/2012 e que prima pela consistência, tendo acedido à Liga dos Campeões por duas épocas consecutivas e estando próxima de uma terceira presença. Apesar da saída do talentoso treinador francês Rudi Garcia para a AS Roma, o LOSC Lille conseguiu mostrar sinais de que é uma estrutura bem consolidada ao contratar o experiente técnico René Girard (que deu o inédito título a um clube com moldes similares a este Lille, o Montpellier HSC) e de estar perto de garantir a qualificação para o playoff de acesso à fase de grupos da “liga dos milionários”, após ter militado no 2º posto que permite a qualificação direta para esta eliminatória e estar agora numa série mais titubeante de resultados. Contudo, a formação do Lille demonstra bem um exemplo de uma equipa que permanece a obter resultados com uma aposta em recursos mais modestos mas não menos eficazes nesta nova era dos fortes investimentos monetários na modalidade.

   Com a necessidade de venda de algumas peças fulcrais do plantel para conseguir um saldo financeiro positivo (à volta de 25 milhões de euros), o investimento empreendido foi de baixo valor, com especiais ênfases no ingresso de jogadores provenientes de um período de empréstimo encetado pela equipa francesa e com aposta na formação. Com os objetivos bem delineados (garantia de um lugar europeu e fazer o melhor possível nas taças), o treinador contratado e o plantel à disposição permitiam tal concretização. Com um rendimento abaixo do esperado nas taças (eliminação na Taça diante do Stade Rennais e na Taça da Liga contra o AJ Auxerre), o objetivo do campeonato foi cada vez mais consolidado e exibido no desempenho mostrado. O período inicial não foi o mais interessante com 3 vitórias em 6 jogos a concederem o 9º lugar à equipa de Lille. Ainda assim, o melhor foi mostrado nas 11 partidas que se seguiram (9 êxitos) que levaram esta formação ao 2º lugar e a aspirar a algo mais que um mero posto europeu mas 4 derrotas nos 8 jogos que se seguiram relegaram-na para o 3º lugar, onde permanecem após uma fase mais positiva de três vitórias consecutivas nestas últimas 3 disputas, detendo uma vantagem interessante sobre o 4º posicionado Saint-Etiénne e destacando-se pela consistência demonstrada neste último período.

   O plantel conta com uma mescla de elementos experientes e de alguns jovens emergentes, apostando René Girard na vertente experiente do plantel para alavancar os futebolistas mais tenros a incorporarem as rotinas e dinâmicas de um coletivo, desvalorizando mais o âmbito individual. Apostando numa formação teoricamente 4x3x3 mas, em prática, mais similar a um 4x2x3x1, o treinador tem à sua disposição o virtuoso guarda-redes da seleção nigeriana Vincent Enyeama, de 31 anos, que se encontra de pedra e cal na defesa das redes gaulesas, sendo os seus suplentes também maduros (Steeve Elana de 33 e Barel Mouko de 35 anos). A linha defensiva é normalmente composta pela desenvolvida dupla de centrais de dois internacionais pelos seus países, sendo eles o montenegrino Marko Basa e o reforço dinamarquês Simon Kjaer, e pelos laterais com grande verticalidade e pendor ofensivo Franck Béria e o senegalês Pape Souaré. O meio-campo dispõe de muita experiência e normalmente dispõe de dois elementos mais recuados com Rio Mavuba e Florent Balmont a assumirem essas funções pois, com menor disponibilidade física, ainda podem dar um contributo de uma forma menos física mas não de menor pertinência. A dinâmica de jogo deste Lille passa muito normalmente pelo futebolista com mais minutos por esta equipa que é o senegalês Idrissa Gueye, naturalmente cobiçado por clubes com maior projeção e poderio, com Jonathan Delaplace, Marvin Martin e um dos projetos da formação do clube Soualiho Mëite a firmarem-se como opções válidas para estas funções do miolo. Num contexto mais ofensivo, patenteia-se a presença regular do médio ofensivo Ronny Rodelin e dos três melhores marcadores desta formação: a indiscutível estrela da equipa e costa-marfinense Salomon Kalou (14 tentos), Nolan Roux (8) e a promessa belga Divock Origi (5); com outros valores de qualidade a poderem colmatar a ausência destas individualidades, como o cabo-verdiano Ryan Mendes e o costa-riquenho John Jairo Ruíz.

   Conclui-se que o LOSC Lille é um dos projetos sustentados de um futebol emergente, que é o francês, que sempre se exibiu pela consistência na presença em fase de grupos de competições europeias mas sem lograr muitas eliminatórias de vulto, com a exceção das participações do Olympique de Lyon. Com o surgimento de clubes alvo de um forte investimento dos “petrodólares” orientais, o futebol gaulês ganhou outra notoriedade e o LOSC Lille foi uma das agradáveis surpresas ao vencer o campeonato na época de 2011/2012 e de manter a consistência da sua presença nos lugares cimeiros da Ligue 1. Com um plantel interessante e que fornece variados recursos em termos de experiência e de irreverência sustentada, a equipa do Lille permanece na elite do futebol francês após passar algumas épocas nos lugares tranquilos do meio da tabela, afirmando-se de forma veemente no presente como um sólido emblema pertencente a um futebol em claro crescimento. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / nordsports-mag.com / media.rtl.fr

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