4 de maio de 2014

Crónica Saturnina: a hesitação de afirmação do Galatasaray SK

   Um dos projetos das periferias europeias com mais expectativas depositadas no início da presente temporada por parte da imprensa desportiva era o do Galatasaray SK, um clube turco que tinha dado nas vistas na época transata após vencer inapelavelmente o campeonato nacional e de morder os calcanhares ao Real Madrid CF, na altura treinado por José Mourinho, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Com um plantel bem apetrechado de vastas soluções e alicerçado com elementos com traquejo continental e com um técnico de nacionalidade turca e já um profundo conhecedor da realidade deste emblema (Fatih Terim), tudo parecia indicar para um sucesso interno sem grande contestação e para voos europeus de maior travessia. Contudo, apesar da 5ª Supertaça Turca conquistada, Terim acumulou resultados negativos internos e uma goleada em casa precisamente diante do Real Madrid a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões ditou a chicotada por parte da direção. O sucessor foi nada mais nada menos que o italiano Roberto Mancini, que, após uma campanha relativamente bem-sucedida ao leme do Manchester City, foi o escolhido para levar o Galatasaray aos objetivos propostos.

   Ainda com Fatih Terim ao leme da equipa otomana, o Galatasaray garantiu a contratação de alguns elementos com vasta experiência europeia como Felipe Melo, Aurelien Chejdou e Umut Bulut mas, já com Mancini, esse leque foi alargado através de jogadores como Izet Hajrovic ou Koray Günter, sendo reembolsado através de empréstimos de outros com um rendimento abaixo do esperado, como o português Bruma (maior investimento da época, 10M proveniente do Sporting CP) e como o camaronês Dany Nounkeu. A chegada de Mancini a 30 de setembro trouxe uma renovada confiança à equipa mas nunca conseguiu os resultados esperados na Liga (o Fenerbahçe já mantinha uma vantagem interessante sobre o 2º posto). 13 vitórias, 1 empate e 4 derrotas foi o melhor conseguido pelo italiano, que, mesmo após 3 meses internamente invencível e de manter um registo de apenas vitórias no seu terreno até à humilhante derrota por 0-4 diante do Kasimpasa, ainda não consegue cumprir com as expectativas internas e externas e sobrando apenas a Taça para poder acrescentar ao seu palmarés (jogará esta quarta-feira diante do Eskisehirspor).  Na componente internacional, a formação turca conseguiu ultrapassar a fase de grupos, eliminando a Juventus após um jogo disputado à tarde num terreno bastante danificado climatericamente, mas caiu perante o Chelsea após empatar em casa a 1 e uma derrota em Stamford Bridge por 2-0, não garantindo, assim, a meia-final que permitiria a Mancini arrecadar 7 milhões de euros como firmava uma das cláusulas expostas no seu contrato.

   O plantel, como apontado acima, apresenta uma mescla de elementos oriundos do país turco e de outros com vasta experiência nas principais ligas europeias e as nuances táticas presentes representam um 4x4x2 com muito pendor de posse de bola, com uma construção apoiada e paciente assente na maturidade dos seus jogadores e com uma linha defensiva que ocupa espaços adiantados no terreno e que utiliza um sistema de pressão alta. Na baliza, encontra-se o guardião titular da seleção uruguaia Fernando Muslera, um dos elementos preponderantes da equipa, com a solução de banco a ser o jovem promissor de 1,97m Eray Iscan. A linha defensiva conta com dois experientes laterais em Hakan Balta e Emmanuel Eboué e com dois centrais de créditos firmados em Semih Kaya e Aurelien Chedjou, alicerçados em duas outras soluções de banco em Dany Nounkeu , o jovem potencial Koray Gunter e Gokhan Zan que oferecem suficientes garantias a Mancini. O setor intermédio é constituído por dois futebolistas mais fixos e de transmissão de equilíbrio à equipa que costumam ser Felipe Melo e Selçuk Inan (Yekta Kurtulus é um recurso a recorrer em caso de ausência) e outros dois que ofensivamente causam mais apoquentações às defesas oponentes em Sabri Sarioglu e Wesley Sneijder (Izet Hajrovic e Emre Çolak afirmam-se como duas soluções de futuro). O ataque tem armas letais e profícuas de nacionalidade turca (Umut Bulut e Burak Yilmaz possuem faros de golo bastante reforçados) e consolidadas pela grande figura internacional da equipa que é o costa-marfinense Didier Drogba, que permanece com atração magnética à baliza.

   Apesar de todos os atributos reconhecidos a esta formação do Galatasaray SK e da presença na final da taça na próxima quarta, esta equipa turca desapontou interna e externamente tendo em conta a qualidade dos recursos ao dispor de um treinador experiente internacionalmente e com um vasto palmarés na sua bagagem, pelo que o projeto mostrou algumas debilidades e não conseguiu arrecadar o bicampeonato nacional e garante apenas a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões pela punição efetuada ao Fenerbahçe por duas épocas que determina a ausência deste clube das competições europeias. Tudo aponta para que a falta de know-how do técnico em relação ao futebol turco e a carência de tempo para que a equipa assimile os métodos pretendidos pelo italiano sejam as causas deste fracasso, pelo que a próxima época pode atenuar estes efeitos.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / redditmedia.com /uefa.com

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