14 de fevereiro de 2014

Mundial 2014: Camarões - Até onde poderá chegar o rugido dos Leões Indomáveis?

Grupo A: Camarões

Calendário de Jogos:

Jornada 1: 13 de junho
México vs Camarões (13h00 - Natal)

Jornada 2: 18 de junho
Camarões vs Croácia (18h00 - Manaus)

Jornada 3: 23 de junho
Camarões vs Brasil (17h00 - Brasília)

Nota: os horários apresentados correspondem ao horário do início das partidas nas diferentes cidades brasileiras.

Análise da Seleção:

Camarões: Nome: Fédération Camerounaise de Football
Confederação: CAF (África)
Participações em Campeonatos do Mundo: 6 (1982, 1990, 1994, 1998, 2002 e 2010)
Melhor Classificação: quartos de final em 1990
Jogador com mais internacionalizações: Rigobert Song (137)
Jogador com mais golos: Samuel Eto'o (55)
Ranking FIFA/Coca-Cola: 46º (segundo a atualização de treze de fevereiro)

Longe vão os tempos áureos da seleção dos Camarões. O Mundial 1990 marcou uma geração dotada de futebol ofensivo, alegre e com argumentos para bater o pé às principais seleções mundiais. Só a Inglaterra teve força para eliminar os Leões Indomáveis nos quartos de final do campeonato do mundo realizado em Itália, após um jogo épico que terminou com a vitória britânica já no prolongamento por 3-2. O expoente máximo dessa equipa camaronesa era Roger Milla, avançado que na altura atuava no JS Saint-Pierroise (clube de Reunião, um departamento francês situado numa região insular localizada no Oceano Índico) e tinha trinta e oito anos. Depois de aceitar um convite do próprio presidente para ajudar o seu país em terras transalpinas, Milla fez quatro golos em cinco jogos, algo que lhe valeu a entrada no top-3 dos melhores marcadores da competição. São da autoria deste jogador as míticas celebrações junto à bandeirola de canto, com direito a coreografia. Quatro anos mais tarde, nos EUA, Milla foi novamente convocado para a fase final de um Mundial. Ao defrontar a Rússia (derrota por expressivos 6-1), Milla tornou-se o jogador mais velho a participar e a fazer um golos em campeonatos do mundo. Indubitavelmente, uma das figuras notáveis do futebol africano.  

   Antes da década de noventa, os Camarões já tinham conquistado duas edições da Taça das Nações Africanas (1984 e 1988). A viragem de século teve um sabor particularmente especial, já que se caracterizou pelas vitórias do torneio masculino de futebol dos Jogos Olímpicos (2000) e de duas novas edições da mais importante competição de seleções do continente africano (2000 e 2002), além da chegada à final da Taça das Confederações em 2003 (perdida pela margem mínima para a França). Porém, a partir daí os Camarões entraram em colapso e acabaram por falhar o torneio de 2006, interrompendo uma série de quatro presenças consecutivas em fases finais de campeonatos do mundo.  2010 foi o ano de regresso, naquele que foi o primeiro Mundial a ser disputado em África. Ainda assim, o resultado alcançado desde 1994 voltou a repetir-se: a eliminação na fase de grupos. Focando no torneio da África do Sul, as três derrotas em outros tantos jogos constituíram uma humilhação. Isso levou ao despedimento imediato de Paul Le Guen e ao afastamento de alguns jogadores importantes, pelo seu mau relacionamento com alguns companheiros de equipa.

A caminhada dos Leões Indomáveis até ao Brasil foi efetuada com alguns percalços em termos de resultados. Na segunda ronda, os Camarões classificaram-se no primeiro lugar do grupo I, à frente de Líbia, República Democrática do Congo e Togo. Já no play-off, a formação camaronesa venceu de forma autoritária a Tunísia por 4-1 na segunda mão, depois de um nulo inicial em Radès. No entanto, à semelhança do que se passou com os seus adversários de grupo no Mundial 2014, o comando técnico camaronês variou durante o apuramento. O gaulês Denis Lavagne iniciou a qualificação, tendo abandonado o cargo depois de uma derrota na Líbia. Para ao seu lugar chegou Jean-Paul Akono. O antigo internacional pelos Camarões acabou por abandonar o cargo após uma vitória na única partida que realizou, devido a uma doença cardíaca. No entanto, lançou as bases em termos da remodelação que Jean Manga-Onguéné, melhor jogador africano em 1980 e atual diretor técnico da federação, pretendia implementar. A saga de selecionadores terminou com a contratação do germânico Volker Finke que conseguiu a sexta presença dos Camarões num Mundial desde 1990. A superação perante os rivais tunisinos (resultado avolumado, ao qual se acrescenta uma grande exibição) poderá ter sido o ponto de inflexão numa equipa cuja a própria federação deixa muito a desejar. 

A estrela da companhia: Nome: Samuel Eto'o Fils
Data de Nascimento: dez de março de 1981 (32 anos)
Naturalidade: Douala, Camarões
Internacionalizações (Golos): 110 (55)
Carreira: Real Madrid CF (1997-2000), CD Leganés (1997-1998), RCD Espanyol (1999), RCD Mallorca (2000-2004), FC Barcelona (2004-2009), FC Internazionale Milano (2009-2011), FK Anzhi Makhachkala (2011-2013) e Chelsea FC (desde 2013)
Títulos: 4 UEFA Champions League (1999/00, 2005/06, 2008/09 e 2009/10), Jogos Olímpicos (2000), 2 Taças das Nações Africanas (2000 e 2002), 2 Copas del Rey (2002/03 e 2008/09), 3 Liga BBVA (2004/05, 2005/06 e 2008/09), 2 Supercopas de España (2005 e 2006), Serie A (2009/10), 2 TIM Cup (2009/10 e 2010/11), Supercoppa Italia (2010) e Campeonato do Mundo de Clubes (2010)

Atualmente sob as ordens de José Mourinho, Samuel Eto'o é a principal referência da seleção camaronesa. Ponta de lança de raiz, podendo também atuar em ambas as alas ou assumir o papel de segundo avançado, Eto'o conjuga argumentos no remate e na condução de bola à velocidade que costuma imprimir nas jogadas. Destro e com um bom sentido posicional, este jogador tem um bom jogo aéreo, impulsão e poder de choque. Com passaporte espanhol, ele foi eleito o melhor jogador africano do ano por quatro ocasiões (2003, 2004, 2005 e 2010). É o jogador com mais golos ao serviço do seu país e, como tal, uma peça imprescindível na convocatória final. 

Os últimos anos têm-se caracterizado por inúmeras divergências entre o jogador do Chelsea e a federação, quanto ao seu futuro na seleção nacional. Numa primeira instância, o capitão do conjunto camaronês sofreu uma suspensão de quinze jogos por alegadamente ter sido o principal responsável de originar uma greve antes de um desafio com a Argélia. Já no início de 2012, o castigo foi reduzido a oito meses. Em virtude disso, Samuel chegou a participar em quatro jogos no apuramento para o Mundial 2014, apontando dois golos. Ainda assim, acabou por se envolver em mais uma polémica, desta feita com o atual selecionador, já que em causa estava uma rejeição algumas dicas dadas pelo avançado sobre as escolhas efetuadas por parte de Finke (ver aqui). Todo um caso que acabou por envolver a intervenção do ministro dos desportos daquele país. Algo impensável e perfeitamente evitável.

Treinador: técnico de sessenta e cinco anos, Volker Finke foi o principal responsável pela afirmação do SC Freiburg no panorama futebolístico germânico e europeu, já que contou com dezasseis épocas ao leme do clube encarnado. Depois de passagens pelo campeonato japonês e pelo 1. FC Köln, Finke assumiu o comando dos Leões Indomáveis a vinte e dois de maio de 2013. Apesar de algum ceticismo por parte da imprensa e dos próprios adeptos quanto à vinda de um técnico estrangeiro (e inexperiente ao leme de seleções), o germânico não cedeu a pressões, implantou os seus métodos e conseguiu o objetivo primordial. Pelos Camarões, Finke soma três nulos e três vitórias. É um técnico que valoriza claramente o conjunto, em detrimento das individualidades. E foi essa estratégia que valeu o passaporte até ao Brasil.

Lista de selecionáveis: Guarda redes: Carlos Kameni (RCD Espanyol), Charles Itandje (Konyaspor), Guy N'Dy Assembé (EA Guingamp) e Sammy N'Djock (Fethiye SK)

Defesas: Allan Nyom (Granada CF), Dany Nounkeu (Kardemir DÇ Karabükspor), Nicolas N'Koulou (Olympique de Marseille), Aurélien Chedjou (Galatasaray SK), Jean-Armel Kana-Biyik (Stade Rennais FC), Joël Matip (FC Schalke 04), Henri Bedimo (Olympique Lyonnais), Benoît Assou-Ekotto (QPR) e Gaëtan Bong (PAE Olympiacos Piraeus)

Médios: Eyong Enoh (MP Antalyaspor), Jean II Makoun (Stade Rennais FC), Alexandre Song (FC Barcelona), Raoul Loé (CA Osasuna), Landry N'Guémo (FC Girondins de Bordeaux), Stéphane Mbia (Sevilla FC), Georges Mandjeck (Kayseri Erciyesspor)

Avançados: Edgard Salli (RC Lens), Yannick N'Djeng (Espérance Sportive de Tunis), Samuel Eto'o (Chelsea FC), Pierre Webó (Fenerbahçe SK), Mohammadou Idrissou (1. FC Kaiserslautern), Vincent Aboubakar (FC Lorient), Jacques Zoua (Hamburger SV), Léonard Kweuke (Çaikur Rizespor), Benjamin Moukandjo (AS Nancy-Lorraine), Fabrice Olinga (SV Zulte Waregem) e Maxim Choupo-Moting (1. FSV Mainz 05)

Formação Tática: no jogo da segunda mão do play-off, Finke usou o tradicional 4-3-3, deslocando Eto'o para a extrema direita e recuando um pouco Alex Song. Dias antes, o técnico alemão optou pelo 4-4-2 losango, aumentando o número de unidades na zona intermédia. De facto, os Camarões deverão alterar entre estes dois sistemas táticos no Mundial 2014. A dupla atuante no eixo defensivo é dotada de alguma solidez. Matip poderá ser utilizado como defesa central ou médio mais defensivo, ao passo que os laterais presentes na figura ao lado não ter o lugar garantido. Contudo, a defesa é o setor mais débil dos Camarões.

O meio-campo apresenta intensidade, capacidade de trabalho e poderio físico, desempenhando um papel importante ao nível da organização ofensiva. Enoh, Song e Makoun oferecem algum talento e muita experiência. O ataque tem alguma impressibilidade e alguma velocidade, embora Eto'o seja de longe o que mais perigo causa às defesas contrárias. De resto, o jogador do Chelsea é o capitão de equipa e caracteriza-se uma figura carismática no seio da seleção camaronesa. Nota ainda para o regresso de Moukandjo, um ponto bastante positivo, como ficou comprovado no duplo-confronto com a Tunísia. 

No entanto, o que continua a faltar à equipa dos Camarões (e à generalidade das equipas africanas) é a habilidade de conseguir reunir os talentos e egos individuais para originar um conjunto forte. Por isso mesmo, apesar de conterem alguns nomes interessantes, os Leões Indomáveis não conseguem atingir melhores resultados, já que esse mesmo coletivo não é capaz de os potenciar. Finke tem mantido fidelidade quanto às suas escolhas. O facto de partir como o conjunto menos cotado do grupo A do Mundial 2014 poderá retirar alguma pressão à seleção africana. A equipa evoluiu nos últimos meses, mas ainda tem uma boa margem de progressão. Basta usá-la de forma inteligente, não se deixar levar por conselhos de superiores e os Leões Indomáveis poderão rugir bem mais alto no Brasil sob a mão do selecionador alemão. 

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: footafrica365.fr / bbc.co.uk / fifa.com / cameroon-info.net

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