27 de agosto de 2014

Futebol Global 2014/15: Confronto entre individualidades e coletivo é o maior desafio de Laurent Blanc (análise de 20 a 26 de agosto)

Reflexão: Nova época, ambições intactas. O PSG, clube adquirido pelo empresário Nasser Al-Khelaïfi em 2011 (com o objetivo de tornar os parisienses num dos clubes mais poderosos do Velho Continente), parte para 2014/15 com o objetivo primordial de conquistar o tricampeonato francês. Um feito que a confirmar-se será inédito na história do clube (conta apenas com quatro ligas gaulesas) e que apenas AS Saint-Étienne, Olympique de Marseille e Olympique Lyonnais conseguiram alcançar ao longo das setenta e cinco edições da Ligue 1. Na teoria o PSG terá como adversários diretos os milionários do AS Monaco FC (um dos novos ricos do futebol europeu orientado pelo português Leonardo Jardim), o renovado Olympique de Marseille (de Marcelo Bielsa) e o Lille OSC (terceiro classificado do último exercício).

Laurent Blanc partirá para a sua segunda temporada como timoneiro desta armada de luxo. Com quatro jogos realizados (duas vitórias e dois empates) e um troféu conquistado (Trophée des Champions frente ao EA Guingamp) é possível retirar algumas conclusões acerca da disposição tática que o PSG irá privilegiar com o decorrer da presente temporada. O plantel oferece diversas soluções e está muito bem apetrechado para os desafios mais competitivos (nomeadamente em relação à UEFA Champions League). As principais contratações deste defeso dão pelos nomes de David Luiz e Sèrge Aurier (ver perfil aqui). Sem quaisquer supresas o esquema base assenta novamente no 4-3-3 (que sucedeu ao 4-4-2 de Carlo Ancelotti fortemente marcado pela transição ofensiva) com forte ligação entre os vários setores. É apresentado um jogo de posse e de passe curto, assente no domínio dos jogo e na criação de oportunidades de golo. Blanc desenhou uma estratégia e ofereceu o equilíbrio tático necessário para que a equipa não ficasse tão partida nos momentos ofensivo e defensivo. A  nível individual, comecemos por destacar o trio de centrocampistas (normalmente composto por Yohan Cabaye, Marco Verratti e Blaise Matuidi). Muito forte taticamente a incutir intensidade no jogo, com elevada precisão de passe e uma pressão constante sobre o portador da bola, a chave de jogo do PSG encontra-se naturalmente na zona intermédia. Matuidi (por vezes Pastore, quando este não é chamado a atuar na ala) dispõe de liberdade para ajudar na manobra ofensiva, Verratti passou a médio interior (é de longe o elemento do trio de médios com maior margem de crescimento, sendo frequentemente comparado com Pirlo) ao passo que Cabaye assume o papel de pivot. O ítalo-brasileiro Thiago Motta também pode atuar na posição seis, emprestando segurança, posicionamento e qualidade de passe curto aquando do início processo de construção. Em relação ao setor ofensivo, Blanc aposta numa constante movimentação dos três homens da frente baseada na técnica e na velocidade. Ibrahimović (a principal referência) gosta de recuar desde a posição nove para receber o esférico, arrastar marcações, assistir companheiros e causar magia. Não é um ponta de lança clássico (gosta de ocupar o espaço entre o quarteto defensivo e o médio defensivo contrário), remata de todas as formas a feitios e possui um temperamento difícil de controlar (muitas vezes parece querer jogar sozinho). Cavani e Lucas Moura procuram verticalizar ou realizar diagonais desde as faixas laterais para terrenos interiores, apresentando igualmente disponibilidade para recuar e ajudar os laterais nas missões defensivas. O uruguaio é mortífero dentro da área (na seleção também ocupa a faixa esquerda do ataque) enquanto o brasileiro destaca-se pela sua exímia condução de bola que facilmente permite criar desequilíbrios e rasgar as defesas contrárias. Nota ainda para as subidas constantes dos laterais (Digne e Aurier são jovens promissores e irão ser titulares), para o trio de centrais brasileiros (o capitão Thiago Silva, David Luiz e o jovem Marquinhos cuja margem de progressão é muito vasta) e para a segurança e reflexos de Sirigu (um dos melhores guarda-redes europeus). 

Os pontos fracos dos parisienses passam pela inúmeras situações que se encontram em desvantagem no marcador (mesmo que depois consigam dar a volta aos acontecimentos) e por alguma intranquilidade no setor mais recuado. Tudo isto deriva de alguns problemas em termos de criação de rotinas e de comportamentos na transição defensiva. Cavani e Lucas Moura parecem algumas vezes perdidos e até desligados do jogo porque não ocupam verdadeiramente as suas posições de origem e porque falta essa mesma assimilação de rotinas para as novas posições que ocupam. O plano alternativo (a usar sobretudo em situações onde se procura dar mais largura e profundidade ao jogo parisiense) remonta a um 4-4-2 clássico com Lucas e Pastore a assumirem as faixas e Cavani a juntar-se ao internacional sueco Ibrahimović no ataque. Não é fácil avaliar o estado evolutivo do PSG desde a chegada de Blanc ao comando técnico, sobretudo porque o campeonato gaulês não oferece grande competitividade e os grandes testes da equipa azul passam pela maior prova de clubes da UEFA. Mas percebe-se que o antigo selecionador francês quis incutir uma relação cada vez mais forte entre o trabalho coletivo e a qualidade individual dos executantes. Só que a realização desse trabalho acaba por desviar algumas peças do xadrez da sua posição natural, do lugar onde aprenderam a jogar e a expressar melhor os seus atributos. O caso de Ibrahimović é específico, pois as suas qualidades individuais vão de encontro às dinâmicas que a equipa como coletivo procura transpor para dentro das quatro linhas. O PSG é um clube que aspira a médio prazo atingir o patamar dos gigantes europeus. Para já a missão passa por confirmar o favoritismo a nível interno (algo que parece indiscutível, apesar da ascensão recente do AS Monaco) e tentar chegar até às últimas fases da liga milionária. O dinheiro em abundância não resolve todos os problemas, mas é precioso (desde a chegada de Nasser Al-Khelaïfi ajudou à conquista de duas Ligue 1, uma Coupe de la Ligue e dois Trophée des Champions).

Jovem Promessa: Bernard Mensah. Nascido a dezassete de outubro de 1994 em Acra (capital do Gana) o médio centro ofensivo tem sido uma das revelações da Liga Portuguesa 2014/15 (contabiliza três golos em cento e setenta e oito minutos). Desde uma fase precoce Bernard alimentou o sonho de se tornar jogador profissional, ingressando com oito anos na Feyenoord Ghana Football Academy (constitui a maior academia de futebol existente naquele país). Descoberto pelo empresário português Jorge Pires, Bernard realizou alguns testes pelo SC Braga com apenas dezasseis primaveras em 2010. Apesar de ter impressionado o então coordenador técnico Agostinho Oliveira, alguns problemas burocráticos relacionados com a contratação de atletas menores de idade impuseram que o ganês abandonasse o clube bracarense. Dois anos mais tarde Bernard voltou a Portugal, desta vez para ingressar no rival minhoto Vitória SC. Passou por uma divergência entre a formação portuguesa e o clube-satélite do Feyenoord, treinou na região do Minho (todas as despesas eram asseguradas por Jorge Pires), esteve algum tempo sem competir mas acabou com três presenças na equipa de juniores. Visto como um talento a ser aprimorado, o jovem africano transitou para a equipa B na temporada 2013/14. A competir no Campeonato Nacional de Seniores, o ganês apontou nove golos em vinte e seis encontros e consolidou-se como uma das peças fundamentais para o regresso do conjunto ao segundo escalão do futebol nacional. A presente época ficará na retina de Bernard Mensah por vários motivos. Chamado a efetuar alguns treinos com a equipa principal na pré-temporada, o ganês justificou a sua presença com excelentes prestações (até executou um golo antes da linha do meio-campo frente ao Rio Ave FC) e convenceu Rui Vitória a dar-lhe uma oportunidade. Deste modo, Bernard foi titular nos dois primeiros jogos oficiais da temporada. Dos seis golos vitorianos apontados até ao momento na Liga Portuguesa 2014/15, metade são da autoria do craque ganês. Em termos internacionais, Bernard conta apenas com uma presença nas seleções jovens ganesas. No entanto, está muito bem referenciado e poderá ser futuramente opção regular do selecionador James Kwesi Appiah. Médio centro ofensivo (pode atuar como médio centro), Bernard gosta de assumir o papel de organizador de jogo, pautando todo o jogo vitoriano. Destro e franzino (178 cm e 65 kg), tem aparência de um menino de rua a jogar e evidencia técnica apurada, visão de jogo, remate fácil e velocidade. Joga com alegria dentro das quatro linhas, procurando ter a bola para causar desequilíbrios e aparecer em zonas de finalização (melhorou o seu jogo aéreo). Irreverente e criativo, joga e faz jogar os seus companheiros. Em suma, muito futebol transborda nos seus pés. Deve crescer nas suas ações defensivas (nomeadamente em transição) e elevar a rapidez de execução. No 4-2-3-1 de Rui Vitória tem assentado como o típico 'número 10' (apesar de envergar a camisola quarenta e três), aparecendo à frente da dupla André André-Cafú e atuando nas costas do ponta de lança Tomané. A margem de progressão é considerável (o jogador está perto de fazer vinte anos). Sendo o Vitória SC um clube que se orgulha do lançamento de vários jovens da formação no passado recente (uma palavra de reconhecimento a toda a estrutura liderada por Júlio Mendes), é de crer numa evolução natural e sustentada de Bernard Mensah (à semelhança de outros jovens valores da "cantera" vitoriana como Cafú, Hernâni ou Tomané). O contrato assinado recentemente levou a um aumento salarial e prevê que Bernard permaneça em Guimarães até 2018. Será este mais um caso típico de um jovem com grande potencial que ingressará futuramente numa equipa (nacional ou internacional) com outro estatuto/ambições? Para já, apenas uma constatação final: Bernard Mensah é um exemplo claro de que a aposta nos jovens da formação e da equipa B dará os seus frutos. Rui Vitória que o diga.

Facto: Em plena estreia no principal escalão do futebol espanhol a SD Eibar derrotou os vizinhos da Real Sociedad por 1-0. Javi Lara converteu de forma exímia um livre lateral e ofereceu uma estreia de sonho para a equipa comandada por Gaizka Garitano. O jogo foi disputado no Municipal de Ipurúa, estádio que dispõe cerca de cinco mil lugares sentados. Eibar é um pequeno município situado entre San Sebastián e Bilbau, com uma população a rondar os vinte e sete mil habitantes e que este fim-de-semana tornou-se a mais pequena localidade a receber um jogo da Liga BBVA. Recorde-se que a SD Eibar esteve na Segunda División B em 2012/13 e nas duas últimas temporadas ascendeu à elite, mesmo com a ajuda de donativos para o movimento "Defiende al Eibar", por forma a contornar um problema financeiro. 

Equipa da Semana (4-4-2): Benoît Costil (Stade Rennais FC); Branislav Ivanović (Chelsea FC), Simon Kjaer (Lille OSC), Ryan Shawcross (Stoke City FC) e Layvin Kurzawa (AS Monaco FC); Arjen Robben (FC Bayern Münich), Renan Bressan (Rio Ave FC), Edgar Prib (Hannover 96) e Nacer Chadli (Tottenham Hotspur FC); Stefan Jovetić (Manchester City FC) e Lionel Messi (FC Barcelona)

Frase: «Penso que será um milagre. É sempre possível, mas será muito difícil» - Louis Van Gaal, treinador do Manchester United FC, em relação às hipóteses do seu conjunto vencer a Barclays Premier League 2014/15.

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira 
Imagens: fr.wikipedia.org / 1970psg.com / vitoriasc.pt

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