Brincando com o fogo

Fim-de-semana tenso para os lados de Alvalade. Tudo começou com uma desajustada conferência de imprensa do presidente Bruno de Carvalho na passada sexta-feira. Segundo o líder máximo dos leões, o plantel é melhor do que a imprensa tem veiculado, sendo, na sua ótica, mais do que suficiente para atingir os objetivos traçados no início da época. Além disso, negou a possibilidade de adquirir reforços em Janeiro e, como que em tom de gozo, ofereceu meia equipa B ao treinador. Por fim, pediu ainda explicações a “alguém” que não tem assumido as suas responsabilidades. Destas palavras depreende-se uma crítica implícita à equipa e a Marco Silva. O treinador dos leões não se encolheu e com um discurso corajoso afirmou que quando tem algo a dizer, prefere dizê-lo cara a cara, tendo admitido que a equipa ficou intranquila com este bate-boca. Por fim, esta terça-feira, Augusto Inácio afirmou que não se passa nada, apenas poeira no ar.

Deste modo, importa retirar algumas ilações desta troca de galhardetes, de modo a aferir um pouco daquilo que será o clube nos próximos tempos. A nível desportivo, Marco Silva negou que o cenário fosse tão negro como o presidente mencionou e acaba por ter razão. O Sporting está (ainda) em todas as frentes, uma vez que, apesar de estar a dez pontos do primeiro lugar no campeonato, a verdade é que o segundo lugar, posição importante por permitir uma entrada directa na UEFA Champions League, está somente a quatro pontos. Além disso, o Sporting continua nas competições europeias pela via da UEFA Europa League, após uma boa caminhada na liga milionária bem como na Taça da Liga e na Taça de Portugal (onde já eliminou o FC Porto em pleno Estádio do Dragão), onde existem muitas possibilidades de chegar à final, em resultado do sorteio que lhe calhou em sorte.

Por outro lado, é evidente que a qualidade do futebol do Sporting melhorou bastante esta época e, se o presidente falou no que poderia ter sido obtido com Nani e João Mário na época passada, Marco Silva questionará o que faria nesta com Rojo e Dier como opções para o eixo defensivo, uma vez que esse tem sido a principal pecha da equipa. 

Assim, numa altura em que nada está perdido e ainda há muito para alcançar, não faz muito sentido que se coloque tudo em causa (recordo que o Marco Silva assinou um contrato de quatro anos com o clube), até porque, por mais que se tente dizer, o Sporting não partia na “pole-position” esta época em Portugal e, em face das lacunas que o plantel inegavelmente tem, sobretudo ao nível da reduzida qualidade de alguns jogadores para um candidato ao título e ausência de grandes desequilibradores, mas também ao nível da experiência e a solidez da equipa que FC Porto e, sobretudo, SL Benfica possuem já nesta altura. 

Este aparecimento público do presidente Bruno de Carvalho (mais um) acaba por ser apenas mais uma forma do mesmo se manter em contacto com os sócios e adeptos, como que se estivesse a desculpar, assumindo as responsabilidades por alguns maus resultados que nem deveria assumir. Um presidente não deve assumir as responsabilidades pelos maus resultados em campo. Para isso estão lá o treinador e os jogadores. Deve antes responder perante o rumo seguido (escolha do treinador, escolha dos jogadores, aposta na formação, etc) e, sobre isso, Bruno de Carvalho continua sem dar explicações, nomeadamente ao nível das contratações.

Por fim, dizer que, assim como a relação com Leonardo Jardim se deteriorara no final da época transata, também a relação com Marco Silva poderá nunca mais se endireitar, algo que seria péssimo para o clube, uma vez que é o treinador certo para preparar o sucesso futuro do clube. Uma saída a meio da temporada ainda menos nexo teria. Veremos se uma eventual melhoria dos resultados e, quem sabe, conquista de um título poderá ajudá-los a voltar a olhar na mesma direcção.

Artigo escrito por: Rodrigo Ferreira

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