2 de dezembro de 2014

Rescaldos d'esféricos: Marco Silva no Sporting CP - Um trabalho discreto mas desbloqueador

Julho de 2014, mês em que o ex-técnico do GD Estoril Praia iniciou oficialmente a sua função como treinador do Sporting CP. Cinco meses passaram desde então e, apesar dos resultados não serem os mais satisfatórios (sexto lugar no campeonato, após uma série de empates consentidos em casa e uma derrota inapelável diante do Vitória SC), é indesmentível que o Sporting procura  praticar um futebol mais atrativo e atrevido. Largado o pragmatismo advogado por Leonardo Jardim e concentrando a sua dinâmica na posse de bola, sem desprezar o valor dos seus flancos, especialmente com os préstimos de Nani, o Sporting CP vem evoluindo a olhos vistos (dois triunfos na UEFA Champions League e prosseguimento nas competições europeias assegurado). Apresenta igualmente uma margem de progressão que requer algum tempo para que determinados pormenores sejam afinados.

A defesa é o setor da equipa para onde recaem mais críticas e cujo rendimento em campo é o mais periclitante. Falhas de posicionamento, desentendimento na organização defensiva em bolas paradas, hesitações na circulação de bola dos centrais são algumas das mais frequentes. No entanto, é importante destacar a titularidade dada a Paulo Oliveira, que veio conferir um novo fulgor e maior segurança defensiva, apesar da sua tenra idade, e a emergência de uma solução jovem mas com uma ampla margem de progressão em Jonathan Silva, que vem comutando com Jefferson na lateral esquerda. Dois golos sofridos nas últimas quatro partidas vêm atenuar as depreciações e é notória a crescente confiança na abordagem às bolas paradas, apesar de alguns lapsos ainda remanescerem na circulação.

Quanto ao meio-campo, William Carvalho, este uns furos abaixo do rendimento obtido na temporada passada, tendo também novas funções de primeiro construtor de jogo e vendo-se numa fase de adaptação, e Adrien Silva mantêm-se intocáveis da solução fiável de Jardim. Já André Martins foi suplantado por um elemento que, após brilhar no Vitória FC, mostrou todo o seu futebol e chegou mesmo a somar internacionalizações durante este primeiro terço de época. Ele é João Mário, um 'oito' ainda a adquirir rotinas de 'número dez' mas que tem mostrado argumentos como a qualidade do último passe, uma visão detalhada da área adversária, presença em zonas de finalização e astúcia na criação de espaços para originar situações de golo. Um setor que é um dínamo cada vez mais rotinado e capaz de se opor a qualquer um da Europa (bateu-se de forma surpreendente e eficaz contra o Chelsea FC), tendo como seu pulmão Adrien Silva, exemplar no seu papel de pêndulo entre setores e garantindo muitas oportunidades de rutura aos extremos. Oriol Rosell, alternativa a William Carvalho na posição de 'seis', mostrou já ser uma solução igualmente viável tanto na recuperação de bolas como no aprovisionamento de oportunidades ofensivas.

No ataque, Islam Slimani e Nani surgem como intocáveis e como os principais finalizadores do Sporting CP. O primeiro com oito tentos e o segundo com sete vêm fazendo as delícias dos adeptos "leoninos". Mas os projetos em que Marco Silva inova são os de Fredy Montero e Carlos Mané, apesar da consistência inicial apresentada por André Carrillo. O colombiano vem adquirindo uma nova dimensão no ataque dos leões, apresentando-se amiúde nas costas de Slimani e potenciando a sua frota de recursos técnicos e até há pouco camuflados: o cruzamento criterioso, a desenvoltura no um para um e o faro para tentos de meia distância, que vem sendo especialidade de "El Avioncito". Com seis golos concretizados em 2014/15, tem-se revelado como uma aposta ganha do técnico esta mescla de avançado completo e de 'falso nove', ganhando espaços tanto nas alas como na própria grande área. Quanto a Mané, vem adquirindo mais sinais de confiança. Com exibições crescentemente interessantes, demonstra que é com minutos que um atleta jovem adquire a confiança e perde a timidez dos grandes palcos, potenciando assim as suas armas técnicas e coroando esta senda com um golo em plena liga milionária diante do NK Maribor. Outros destaques recaem nas apostas em Ricardo Esgaio (poderá ser titular em Stamford Bridge, em virtude suspensão de Cédric) e Daniel Podence, bem como o regresso de Miguel Lopes à competição (após baixar drasticamente o seu salário).

Apesar de alguns projetos não terem a repercussão esperada, como Heldon ou Shikabala, que não se configuram como soluções de primeiro plano na equipa principal, algumas intermitências de afirmação no central jovem Mouhamadou-Naby Sarr ou ainda a equacionada saída de Diego Capel, a verdade é que há já marcas indeléveis do cunho de Marco Silva neste Sporting versão 2014/15. A afirmação de João Mário, a regeneração de Montero e a titularidade crescente de Carlos Mané são alguns dos exemplos individuais de um futebol que, sendo por muitos considerado o mais apelativo da vigente Liga Portuguesa, ainda mostra algumas lacunas. Porém, estas vêm sendo limitadas ou mesmo disfarçadas por um trabalho discreto, mas que desencanta soluções anteriormente indefinidas e que vêm sendo fulcrais na modelação da dinâmica desta equipa.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: record.xl.pt / zimbio.com / abola.pt

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