1 de março de 2014

Crónica Saturnina: O fracasso do Manchester United

   Saudações de um ávido fã de futebol, de nome Lucas Brandão, e que frequenta o 1º ano da sua formação académica, mais nomeadamente na Licenciatura em Ciência de Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi nesta onde conheci o cronista Ricardo Ferreira  que me foi gentilmente proposto uma elaboração de uma rubrica semanal em que iria explorar um assunto dominante da atualidade futebolística. É com agrado e honra que aceito e que irei dar o "pontapé de saída" a este novo projeto. Após alguns projetos fugazes acerca de particularidades tenísticas e futebolísticas, irei participar neste blog com o intuito de desenvolver e de solidificar a prática escrita aliada à redação desportiva, que se trata de uma vertente que me apraz bastante. Com todas as introduções feitas, vamos ao trabalho.

   Começo por abordar um dos projetos mais badalados mas não elogiosamente desta época num contexto europeu: o Manchester United de David Moyes. Após a gloriosa retirada do técnico escocês Sir Alex Ferguson, que construiu um legado num clube que só nos remotos tempos dos "Busby Babes" o tinha, coroada com a arrecadação da sua 13ª Premier League e da vigésima para o clube, criou-se uma atmosfera de apoquentação quanto ao futuro do clube red devil. Com bastantes rumores a serem confirmados, o sucessor do escocês foi um compatriota, de nome David Moyes, de 60 anos, após um projeto sólido mas não brilhante (sem qualquer título). Assinando um contrato válido por 6 épocas, o escocês tratou de reforçar a equipa com contratações cirúrgicas, sendo elas o defesa uruguaio Guillermo Valera do Peñarol e o médio suíço Saidy Janko do FC Zurich (ambos a custo 0) e fez o grande investimento da época (até janeiro) contratando um velho conhecido seu do Everton, o médio-centro belga Marouane Fellaini, de 26 anos, por 27,5 milhões de libras.

   A temporada oficial não começou mal de todo com a conquista da Supertaça Inglesa face ao Wigan Athletic por 2-0, com um bis da estrela holandesa Robin Van Persie, mas o pior estava para vir. Com um início titubeante de campeonato (até ao final de setembro, apenas duas vitórias face ao Swansea e ao Crystal Palace, um empate contra o Chelsea e três derrotas contra Liverpool, Manchester City e West Bromwich Albion), a Taça da Liga e a Liga dos Campeões tornaram-se males menores, onde os red devils apresentavam resultados sólidos sem perder qualquer encontro até ao final do ano civil de 2013. Eliminando o Liverpool, o Norwich City e o Stoke City na Taça da Liga e com um grupo tranquilo na Liga dos Campeões face aos alemães do Bayer Leverkusen, os espanhóis da Real Sociedad e os ucranianos do Shakhtar Donetsk vencendo 4 partidas e empatando outras 2, a Premier League também ganhou algum fôlego, com quatro êxitos e três empates de outubro ao início de dezembro. Contudo, o pior estava para vir.

   Dois desaires caseiros diante da sua anterior equipa do Everton FC e do Newcastle United FC deixaram Moyes como alvo da desconfiança da massa associativa britânica do United. No entanto, quatro êxitos consecutivos face a Aston Villa, West Ham United FC, Hull City AFC e Norwich City FC deixaram o técnico escocês mais tranquilo. Apenas foi fogo de vista. Mal o ano de 2014 se iniciou, apesar de uma grande contratação no médio criativo espanhol Juan Mata por 37 milhões de libras ao crónico rival Chelsea FC, o calvário do sucessor de Ferguson se expandiu. Com eliminações surpreendentes das taças internas (Swansea City AFC para a FA Cup e Sunderland AFC nas meias-finais da Taça da Liga em pleno recinto de Old Trafford, onde a marcação de grandes penalidades se revelou madrasta para os pupilos de Manchester), a competição interna de maior destaque revelava-se cada vez mais um fiasco em relação às temporadas transatas. Derrotas contra candidatos diretos em Tottenham e Chelsea, apesar de vitórias sofridas face ao Swansea e ao Cardiff City, distanciaram cada vez mais os red devils dos lugares cimeiros da tabela classificativa. Fevereiro veio deteriorar este estado anímico onde uma derrota contra o Stoke e dois empates consecutivos com o último classificado no Fulham FC e Arsenal FC aumentaram a contestação dos adeptos e tudo ainda mais se piorou nesta última terça-feira.

   Oitavos-de-final da Liga dos Campeões de 2013/2014. A equipa de Manchester deslocou-se ao reduto do Olympiakos da Grécia e foi novamente superiorizada de forma assertiva, perdendo por 2-0 e colocando a sua permanência na prova dos milhões em alto risco. A formação treinada por David Moyes mostra a importância de um treinador na dinâmica de uma equipa, transmitindo os valores de um clube histórico e dando as referências técnico-táticas intrínsecas para qualquer grande equipa futebolística europeia. Funcionando como um maestro de uma orquestra, a dos vermelhos de Manchester tem sido bastante desarticulada e desencantadora, mostrando bastantes fragilidades e nem a sobredotação individual de elementos como Robin Van Persie e Wayne Rooney, a irreverência jovial de Shinji Kagawa e Javier "Chicharito" Hernandéz e a presença de símbolos dos red devils como Rio Ferdinand e Ryan Giggs trazem o encanto necessário à equipa para se desabrochar do amorno estado em que se encontra. Começam a escassear as provas de fogo para David Moyes convencer a exigente massa associativa de Manchester, habituada a vencer e a ocupar um lugar de destaque nas cogitações daqueles que enunciam as melhores equipas europeias da atualidade. Todavia, o técnico não se pode queixar apenas de infortúnios visto que a sua potenciação de plantel não tem sido a mais frutífera. As estatísticas não enganam.

   Apesar de uma diferença de golos de 12 golos positivos, os 31 golos sofridos de setembro a fevereiro demonstram as claras fragilidades de uma defesa que assenta essencialmente em elementos bastante experientes e já com algum desgaste acumulado (o central inglês Rio Ferdinand, o também central mas sérvio Nemanja Vidic e o lateral-esquerdo francês Patrice Evra) e em outros que a qualidade para representar os red devils se questiona (o brasileiro Rafael e o inglês Chris Smalling) e que exigem algumas exibições inspiradas do guardião espanhol David De Gea. Com uma posse de bola média decrescida, também se pode aduzir que o meio-campo não tem sido o motor que Moyes pretende para implementar o seu futebol (apesar da contratação de Mata, os ingleses Michael Carrick e Ashley Young não conseguem demonstrar de forma clarividente as suas qualidades, o símbolo do clube Ryan Giggs já apresenta menos frescura, Cleverley não consegue articular setores, Fellaini revelou-se um fiasco e o equatoriano Valencia, apesar de se mostrar regularmente inconformado, não tem capacidades para dinamizar veementemente, tendo muitas vezes de um menino de nome Andrez Januzaj subir às opções iniciais do timoneiro de forma a conseguir um toque de magia que Nani, fustigado pelas lesões, não permite, mas com alguma influência das escolhas do primeiro. É também este o setor onde não se depreende o porquê do japonês Shinj Kagawa, contratado ao Dortmund em 2012 depois de ter sido campeão alemão e o grande pautador de jogo desta formação, não fazer parte das opções iniciais do técnico escocês. O que tem salvo ao United alguns jogos menos conseguidos mas disfarçados pelo resultado são o ataque voraz que possuem, mesmo com este a não render o esperado. O holandês Robin Van Persie e os britânicos Danny Welbeck e Wayne Rooney tornam-se na linha ofensiva que nenhuma guarda-redes pretende enfrentar, aliados a um desequilibrador nato que costuma saltar do banco de nome Javier Hernández e conhecido por "Chicharito".

   Teoricamente, o fracasso do Manchester United pode ser explicado por vários fatores, tanto pela falta de dinâmica do miolo da equipa como pelo o subrendimento dos dianteiros e como pela insegurança transmitida pela defesa. Ainda assim é ao técnico que os adeptos do clube red devil apontam todas as suas frustrações, sendo este acusado de despojar o clube da sua identidade, do seu elã e do receio que qualquer equipa teria em enfrentá-lo. Com reforços que tardam em se afirmar plenamente, com opções menos certeiras por parte do técnico e com apreensão à volta do futuro do clube, o Manchester United tem pouco tempo para se redimir de alguma forma, estando em grande desvantagem na Liga dos Campeões (terá de ganhar por 3 ou mais ao Olympiakos caso pretenda passar aos quartos-de-final da competição) e também encontrando-se bastante distanciado do topo da tabela da Premier League. O mundo do futebol ainda não esqueceu Sir Alex Ferguson e o que este significava para o emblema vermelho de Manchester. Algo é certo: o clube tarda em sair desta espiral letárgica e a escassez de tempo colocam Moyes em grandes apoquentações. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão

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