25 de março de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 18 e 24 de março

Três reflexões: 

1. Chelsea FC vs Arsenal FC (6-0)
Marcadores: Samuel Eto'o 5', André Schürrle 7', Eden Hazard (gp) 17', Oscar 42' e 66' e Mohamed Salah 71'

No milésimo jogo de Arsène Wenger ao leme do Arsenal FC, os gunners foram completamente trucidados em Stamford Bridge. Ao olhar para o onze inicial, constatou-se a presença de Arteta e Oxlade-Chamberlain como médios interiores, um aspeto que não é inédito esta temporada. Sendo The Ox um jogador de faixa e com bastante velocidade e técnica, não fazia nenhum sentido colocar um jogador com estas características no miolo. Naturalmente que a enorme propensão ofensiva do internacional inglês, aliada aos altos níveis de pressão exercidos pelo seu conjunto, abriu bastantes espaços nas suas costas, deixando a sua formação descompensada e muito exposta às saídas do adversário para o contra-ataque. Arteta foi forçado a trabalhos redobrados, mas obviamente não chegou para todas as encomendas. E sendo o Chelsea FC uma equipa que explora muito bem as transições, o resultado foi naturalmente crescendo. Mérito para os comandados de José Mourinho, que souberam ser inteligentes, atacar nos momentos certos e mostrar eficácia na hora do remate. Antes dos vinte minutos os blues já venciam por 3-0 e jogavam contra dez elementos (André Marriner esteve muito mal na admoestarão do cartão a Gibbs em detrimento de Oxlade-Chamberlain). A vitória estava certa. Faltava apenas descodificar o resultado final. E o Chelsea FC, dono e senhor da partida, com Matic, David Luiz e Oscar em plano de destaque e com uma bela entrada de Salah no segundo tempo, foi definindo os ritmos da partida (nem sempre da maneira mais eficiente), aproveitando os graves erros defensivos do Arsenal FC e alargando o marcador. Ainda assim, nota para algumas dificuldades em termos de organização ofensiva por parte dos comandados de Mourinho. É certo que o tempo das vitórias morais já terminou há muito, mas esta humilhação a um dos principais candidatos na luta pelo título poderá ser importante (a par do jogo a meio da semana com o Galatasaray SK) no sentido de injetar alguma confiança depois da derrota com o Aston Villa FC. Quanto ao Arsenal FC, as derrotas expressivas com Manchester City FC (6-3), Liverpool FC (5-1) e agora Chelsea FC são explicadas pelas más abordagens feitas por Wènger relativamente aos grandes jogos, pelos muitos lesionados e também por alguma falta de qualidade no banco de suplentes. No milésimo jogo do treinador francês, os seus pupilos estiveram muito abaixo do esperado e denotaram muita apatia perante um adversário concentrado, sem invenções e fiel ao seu modelo de jogo.

2. 1. FSV Mainz 05 vs FC Bayern Münich (0-2)
Marcadores: Bastian Schweinsteiger 82' e Mario Götze 86'

Num dos jogos mais complicados esta temporada na 1. Bundesliga, os campeões europeus deslocaram-se a Mainz e venceram a equipa local por 2-0 com golos nos últimos dez minutos do encontro. Na verdade, o resultado acaba por ser um pouco enganador relativamente ao desenrolar da partida. Desde o início viu-se um Mainz 05 atrevido, a jogar no campo todo e a visar a baliza de Neuer. Choupo-Moting e Okazaki emprestaram dinâmica ao ataque dos visitados, dispondo de muitas (e inesperadas, diga-se) oportunidades para marcar. Já Loris Karius foi protegendo ao máximo a sua baliza através de defesas importantes e com algum grau de dificuldade. O Mainz 05 justificou nesta partida o estatuto de equipa surpresa da liga germânica em 2013/14, muito por mérito do técnico Thomas Tuchel que, na sua quinta época ao serviço dos Die Nulfunder, formatou uma equipa à procura de um lugar na UEFA Europa League. Quanto à turma de Pep Guardiola, é incompreensível a exibição produzida no passado sábado na Coface Arena, sobretudo numa conjuntura que claramente dispensava a pressão. Perante a hipótese de arrumar definitivamente as contas do título (algo que não aconteceu devido às vitórias de Borussia Dortmund e FC Schalke 04), os bávaros demonstraram algum nervosismo, muitos erros no passe curto e algumas perdas de bola no setor mais recuado que podiam ter sido fatais. A filosofia dominante no início desta temporada (equipa que saía a jogar com tranquilidade desde trás, privilegiando o culto pela posse de bola e dominando os adversários) deu lugar nas últimas semanas a uma formação que tem preferido inúmeras vezes o passe longo, a tentativa de colocação do esférico no espaço vazio e sai com pouco qualidade e critério. Será que as declarações proferidas por Franz Beckenbauer logo após o jogo com Arsenal FC para a segunda mão dos oitavos-de-final da UEFA Champions League fizeram abalar o balneário e as escolhas do treinador catalão? Seja como for, este não é certamente o mesmo Bayern Münich da primeira metade da presente época. Ainda assim, falta apenas um ponto para o vigésimo terceiro campeonato da história do clube bávaro.

3. Real Madrid CF vs FC Barcelona (3-4)
Marcadores: Karim Benzema 20' e 24' e Cristiano Ronaldo (gp) 55'; Andrés Iniesta 7' e Lionel Messi 42', (gp) 65' e (gp) 84'

Num jogo que contou com sete golos, três grandes penalidades assinaladas, uma expulsão e emoção quanto baste, o FC Barcelona conquistou uma vitória importantíssima que relança a Liga BBVA (se é que esta já não estava relançada antes da jornada  vinte e nove). Ganhou a equipa que errou menos, que foi mais inteligente e que soube explorar eficientemente as fraquezas do adversário. Os catalães têm um coletivo claramente menos forte do que outras épocas, mas nos momentos decisivos conseguem superiorizar-se aos seus opositores. Se Messi foi o homem da partida (não só pelos três golos, mas também porque lançou em velocidade Neymar no lance que originou a primeira grande penalidade dos culés e o consequente cartão vermelho a Sergio Ramos), Busquets e Iniesta estiveram soberbos (o segundo encheu o campo com os seus passes certeiros, a técnica apurada e visão de jogo). Do lado madrileno, a equipa de Ancelotti parece fraquejar nos grandes momentos. As duas derrotas consentidas esta época para o principal rival poderão ter um efeito negativo (retirar alguma moral aos jogadores) ou não significar absolutamente nada (o Real Madrid continua com mais um ponto que os catalães). Di María foi porventura a melhor peça do xadrez blanco, efetuando uma primeira parte de elevadíssimo nível. Ronaldo e Bale pouco acrescentaram à equipa (o internacional português esteve bastante marcado e não encontrou espaço para desequilibrar como de costume). Já Sergio Ramos foi igual a si mesmo (imprudente e com pouca perspicácia no lance que origina a sua expulsão).

Equipa da semana (3-1-2-3-1): Benoît Costil (Stade Rennais FC); Martin Škrtel (Liverpool FC), Mats Hummels (Borussia Dortmund) e Aymeric Laporte (Athletic Club de Bilbao); Ignacio Camacho (Málaga CF), Yaya Touré (Manchester City FC), Andrés Iniesta (FC Barcelona), Lionel Messi (FC Barcelona), Oscar (Chelsea FC) e Giacomo Bonaventura (Atalanta BC); Luis Suárez (Liverpool FC)

Topo: Suárez and Sturridge (SAS). Os dois melhores marcadores da Barclays Premier League moram na cidade dos Beatles e curiosamente representam o mesmo conjunto. Ambos somam quarenta e sete golos dos oitenta e dois golos apontados pelo Liverpool FC em 2013/14 para a liga inglesa. Números verdadeiramente assombrosos para uma dupla que promete fazer história nos oito jogos que restam até ao fim da presente temporada: bater o recorde de cinquenta e cinco golos alcançado por Andy Cole e Phil Beardsley em 1993/94 ao serviço do Newcastle United FC e consagrarem-se como a dupla mais produtiva de toda a história do campeonato britânico. O próprio Luis Suárez, com o hat-trick apontado em Cardiff, isolou-se cada vez mais no primeiro lugar da lista dos melhores marcadores da liga inglesa (vinte e oito golos), trazendo até à data dois golos de vantagem sobre Cristiano Ronaldo na corrida pela Bota de Ouro. Individualmente, temporada fantástica para os internacionais uruguaio e inglês. 

Fundo: Galatasaray SK. Semana negra para o campeão turco, que foi afastado dos oitavos-de-final da UEFA Champions League e viu a sua desvantagem para o líder Fenerbahçe SK ser alargada para oito pontos. Com a derrota caseira por 1-0 frente ao Kayserispor (último classificado da Spor Toto Super League), Roberto Mancini começa a ter o seu lugar em risco. Na verdade algo que não surpreenda muito dadas as valências mostradas pelo italiano aquando da sua passagem por Manchester (ganhou uma liga e uma taça em quatro épocas com os citizens, fazendo alinhar equipas com pouco encanto ofensivamente). As declarações antes do duelo em Stamford Bridge mostram alguma falta de humildade e de carácter. Eram perfeitamente escusadas e em nada valeram para atormentar mentalmente Mourinho. O Galatasaray não tem mostrado futebol suficiente para a qualidade disponível no plantel. O facto de os turcos terem criado a última oportunidade nos últimos cinco minutos denota muitas das fragilidades deste conjunto. Drogba é dos poucos que tenta rumar contra a maré, mas num barco em claro naufrágio desde a chegada do antigo internacional italiano ao comando técnico, tudo é possível. O deslize neste fim-de-semana levou a formação do Turk Telekom Arena ao terceiro lugar, por troca com o Besiktas SK. A margem de erro está cada vez mais curta.

Frase: “O nosso pensamento é tentar sermos campeões mundiais. Contamos com uma boa infraestrutura e bons jogadores, então por que não sonhar? É claro que, considerando nossa história, devemos olhar para o quinto jogo e, se chegarmos lá, as pessoas ficarão felizes com o que quer que aconteça depois. Essa é a meta que a Federação estabeleceu: vamos chegar aos quartos-de-final e depois veremos quem nos para” - Miguel Herrera, selecionador mexicano, sobre suas ambições no Mundial 2014

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: skysports.com / bavarianfootballworks.com / goal.com / peru21.pe / uefa.com

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