22 de março de 2014

Crónica Saturnina: A crise do Fulham FC

   A Barclays Premier League sempre foi uma competição que aglomerou os fanáticos por futebol espetáculo e empolgante, sendo o futebol inglês um dos mais consistentes ao nível de presenças nas finais das competições europeias, tanto com os seus tubarões (Arsenal FC, Chelsea FC, Manchester United FC ou Liverpool FC) tanto com clubes mais modestos (Tottenham Hotspur FC, Nottingham Forest FC ou Ipswich Town FC). Uma das formações que se manteve mais tempo nesta competição foi o Fulham, que lá se encontra desde 2001 e que, entre conquistas de Taça Intertoto (2003) a alcance de finais de Liga Europa (2010), espelhou a identidade de uma equipa inglesa com frequentes compromissos europeus, caraterizando-se por um plantel sólido e que dava garantias para lutar por prestações honrosas em todas as competições inseridas. Todavia, a fase atual do Fulham não se figura fácil e, tal como formações como o Leeds United, o Middlesbrough e o Bolton Wanderers que caíram ao segundo escalão, correm o risco de, após frequentar amiúde as noites europeias, obter a mesma sina.

   Numa época em que se encontra com mais um jogo disputado que os clubes que se encontram em posições de permanência na competição, o Fulham FC ocupam o vigésimo lugar a 4 pontos desses postos e sem reconhecer o sabor da vitória há 9 jornadas, para além de ter sido treinado por 3 (!) timoneiros esta época, com o holandês Martin Jol (que os treinava desde 2011) até dezembro, sendo o sucessor o homólogo René Meulensteen até fevereiro e com o treinador em atividade a ser um alemão ex-campeão na Alemanha pelo Estugarda (um clube da Bundesliga atualmente em crise) de nome Felix Magath. Os Cottagers, após um investimento de quase nove milhões de libras no mercado de verão e de onze milhões no de inverno (contratando o grego Konstantinos Mitroglou, uma revelação do campeonato grego), foram eliminados das taças internas na quarta ronda (na FA Cup pelo surpreendente Sheffield United FC e na Capital One Cup pelo Leicester City FC, clube que vem dominando o Championship)  e levam 7 vitórias, 3 empates e 20 derrotas. Com um plantel bastante experiente e com valores individuais de grande valia, o Fulham FC tarda em afirmar-se como um coletivo coeso e solidário que permita posições mais auspiciosas, sendo também claro alguns problemas de adaptação ao futebol inglês por parte de alguns atletas e de apatia pelos objetivos pelos quais se encontram a lutar.

   Como início do campeonato, o Fulham FC apresentou uma vitória em Sunderland AFC mas quatro derrotas e um empate relegaram a equipa para as posições de despromoção e colocaram o lugar do treinador Martin Jol inseguro, no entanto, duas vitórias consecutivas diante de concorrentes diretos na luta pela permanência como o Stoke City FC e o Crystal Palace FC trouxeram uma bolha de oxigénio. Contudo esta expirou-se rapidamente e seis derrotas seguidas aliadas à derrota na Taça da Liga forçaram a saída do técnico holandês, com o sucessor René Meulensteen a entrar e conquistando mais dois triunfos face a Norwich e ao West Ham United mas mais uma senda negativa de cinco derrotas e um empate ( a saída do ponta-de-lança búlgaro e melhor marcador dos cottagers na ocasião Dimitar Berbatov complicou as contas) e a eliminação na FA Cup, como citado acima, levaram a direção a proceder a nova chicotada na equipa técnica mas nem com Felix Magath (novo treinador) os londrinos retomaram uma senda positiva, somando apenas um empate e duas derrotas até ao dia de hoje. Com 24 pontos, 30 golos marcados mas 65 golos sofridos, a equipa do Fulham não corresponde à qualidade do plantel que será esmiuçada de seguida.

   Com dois guarda-redes que normalmente dariam todas as garantias mas que atravessam crises de confiança (Maarten Stekelenburg, natural titular pela seleção holandesa, e David Stockdale, regressado após múltiplos empréstimos), a linha defensiva apresenta-se algo desgastada pela quantidade de jogos realizada e pela sua média de idades (após as saídas do suíço Senderos e do inglês Hughes, a contratação do holandês John Heitinga ao Everton veio tentar adicionar algo de novo face a Brede Hangeland e a Fernando Amorebieta na central (dois bastante físicos e com pouca mobilidade), com o veterano John Arne Riise na lateral esquerda já bem integrado na casa dos 30 anos e o alemão Sascha Riether não tem vindo a confirmar as aptidões demonstradas aquando do seu empréstimo para este mesmo clube londrino vindo do Colónia no flanco direito. O meio-campo, normalmente composto por um trinco de nome Scott Parker, internacional inglês, por um maestro tático e mestre a coordenar jogadas e ex-jogador do Benfica, o grego Giorgos Karagounis; já o dinamizador do ataque e decisivo na última linha de construção e o melhor marcador da equipa trata-se de Steve Sidwell, ex-jogador do Chelsea e do Arsenal, que conta com 7 golos. As alas contam com elementos sólidos, sendo um deles a promessa da seleção suíça Pajtim Kasami e com outro a ser o experiente tecnicista Damien Duff (que conta com mais de 100 internacionalizações pela República da Irlanda, retirando-se desta em 2012). O ataque sofreu várias mutações sendo que, com as saídas de Dimitar Berbatov e do costa-riquenho Bryan Ruíz, o clube londrino reforçou-se com a estrela da seleção grega Kostantinos Mitroglou, fazendo-o alinhar com o dianteiro britânico com várias temporadas de Premier League nas pernas de nome Darren Bent (emprestado pelo Aston Villa), com o colombiano Hugo Rodallega a funcionar como elemento secundário neste setor.

   Com um plantel com valia de pelo menos um lugar nos lugares centrais da tabela classificativa, cabe a Felix Magath tentar alcançar a permanência que se afigura difícil, tendo em conta os resultados consentidos nas últimas jornadas. Contudo, os adeptos cottagers acreditam na qualidade e na capacidade dos seus elementos se transcenderem num momento decisivo como este em que entramos na reta final da Barclays Premier League e na altura das decisões. A 4 pontos das posições de desafogo, o Fulham FC e os seus elementos têm muito trabalho a realizar e precisam urgentemente de se imbuir num espírito coletivo que lhes permita alcançar os objetivos propostos. Se o espírito competitivo e coletivo forem forjados de forma bem-sucedida, a permanência deixará de ser miragem mas até lá há que, como tipicamente se proclama, passar pelas passas do Algarve. Neste caso, pelas passas de Londres. 

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: squawka.com / dailymail.com / rasset.ie

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