23 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: Futebol brasileiro no fundo do poço (análise de 16 a 22 de julho)

Reflexão: Após o fracasso que constituiu o Mundial 2014, Dunga foi o escolhido para CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para suceder a Luiz Felipe Scolari no comando técnico da seleção nacional brasileira. Após uma passagem entre 2007 e 2010 pelo escrete (conquistando a Copa América 2007, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Pequim 2008 e a Taça das Confederações 2009) o antigo internacional brasileiro está de regresso a um posto que já lhe valeu bastantes críticas. 

Escolha algo surpreendente, apesar da conhecida relação entre Dunga e José Maria Marin, atual presidente da CBF. Muito se discutiu sobre a vinda de um técnico estrangeiro que pudesse romper com os métodos de trabalho atuais. A verdade é que se deu primazia a um treinador que, apesar de ter ganho alguns títulos durante a sua passagem pela canarinha, deixou sempre muito a desejar nas suas escolhas e na relação estabelecida com os meios de comunicação social. Porém, o facto de Dunga ter sido o novo eleito de Marin para assumir as rédeas do Brasil é, porventura, mais um caso que contribui para um poço sem fundo que se criou em torno do futebol brasileiro. Numa altura em que o modelo implementado deveria ser cuidadosamente revisto (à semelhança do que fizeram os campeões mundiais), Dunga passou a ser visto como parte integrante da solução. Na pátria do futebol continua-se a pensar que a humilhante derrota frente à Alemanha foi um simples erro de percurso, que os clubes brasileiros vivem dias tranquilos financeiramente ou até mesmo que os brasileiros dominam o jogo como ninguém. O próprio líder da CBF deu o mote há algum tempo atrás: "os pentacampeões mundiais não têm nada a aprender, apenas a ensinar". Certamente não deverá haver consciência do enormíssimo potencial futebolístico que este país quase continental apresenta. Dunga tem um trabalho duro pela frente. Fazer pior do que Scolari será difícil. A Copa América 2015 poderá fornecer alguns dados relevantes para o futuro. Mas não se pense que este problema de base se resolverá com a simples troca de selecionadorUrge rapidamente uma renovação em toda a estrutura do futebol brasileiro. A começar pelo próprio José Maria Marin, alguém com responsabilidades únicas para dirigir o futebol do país. Este desporto tem evoluído e quem se recusar a aceitar esta realidade irá sofrer com ela no futuro e ser constantemente ultrapassado a todos os níveis. Isto porque os fatores motivacionais deram progressivamente lugar aos fatores técnico-táticos.

Jovem Promessa: Muhamed Bešić. Nascido a dez de setembro de 1992 em Berlim, o jogador internacional pela Bósnia e Herzegovina obteve interessantes prestações no Mundial 2014. De ascendência bósnia, ingressou nas camadas jovens do Tennis Borussia Berlin com nove anos. No entanto, todo o seu processo de formação terminou no norte da Alemanha quando sete anos mais tarde assinou pelo Hamburger SV. 2010 marca a estreia de Bešić na equipa principal dos "Die Rothosen" frente ao Borussia Dortmund. Duas épocas primadas pela pouca utilização aliadas a alguns problemas disciplinares fizeram com que o internacional bósnio rumasse ao Ferencvárosi TC da Hungria. Em terras magiares, Bešić ajudou um clube histórico a recuperar de uma crise financeira e desportiva. Nas últimas duas épocas, o médio afirmou-se como a principal referência das águias verdes, venceu a Ligakupa 2012/13 (único título que vigora no seu currículo) e conquistou o seu espaço na seleção de Safet Sušić. Passando ao plano internacional, Bešić recusou sempre os convites da seleção alemã, pois alimentava o sonho de jogar pelo país da Península Balcânica. 17 de novembro de 2010 remonta à sua estreia pela "Zmajevi" num particular frente à Eslováquia, sucedendo a Miralem Pjanić como o mais jovem jogador de sempre a jogar pela seleção principal bósnia. Médio-defensivo (pode igualmente atuar como defesa central ou lateral direito), Bešić destaca-se pela capacidade de desarme e antecipação através de uma exímia leitura de jogo. Destro, apresenta qualidade técnica acima da média para liderar o processo de construção de jogo com critério e oferecer sempre a bola ao seu companheiro melhor posicionado. Além disso, tem evoluído progressivamente no capítulo do passe. Deverá atenuar o seu temperamento e a agressividade (efetua bastantes faltas por encontro, muitas delas totalmente desnecessárias). Totalista nos três jogos da fase de grupos do Mundial 2014, Bešić irá prontamente ingressar num clube com uma dimensão incomparavelmente superior à do clube ao qual está contratualmente ligado (Everton FC e Swansea City AFC estão na luta pelo concurso do jovem médio). Com vinte e um anos cumpridos, estamos perante uma das grandes revelações do último Campeonato do Mundo, mesmo que em termos coletivos a Bósnia e Herzegovina tenha sido afastada precocemente.

Facto: Simone Scuffet, guarda-redes italiano, recusou a sua mudança para o Atlético de Madrid sobretudo devido a fatores académicos. Apesar do clube madrileno e da Udinese Calcio terem chegado a acordo (o negócio rondaria os dez milhões de euros), Scuffet preferiu continuar o seu crescimento perto da família e terminar os seus estudos em detrimento da fama e do dinheiro (iria auferir cerca de um milhão de euros por temporada em Madrid). Assim, renovou contrato com a formação de Udine até 2019, garantindo um salário mensal que ronda os trezentos mil euros. Scuffet cumpriu recentemente dezoito anos e é considerado um dos guarda-redes mais promissores do futebol mundial. Estreou-se na Serie A em fevereiro passado numa vitória em Bolonha e esteve perto de fazer parte dos vinte e três convocados de Cesare Prandelli para o Mundial 2014.

Equipa da Semana (4-3-3): Jefferson (Botafogo FR); Igor Julião (Sporting Kansas City), Matías Cahais (CD Universidad Católica), Vilmos Vanczák (FC Sion) e Andreas Ulmer (FC Red Bull Salzburg); Benny Feilhaber (Sporting Kansas City), Osvaldo Martínez (CF América) e Paulo Baier (Criciúma EC); Lee Seung-Ki (Jeonbuk Hyundai Motors FC), Robbie Keane (Los Angeles Galaxy) e Lasse Vibe (IFK Göteborg)

Frase: «Com José aprende-se a cada segundo. A maneira de gerir o grupo, nomeadamente em situações complicadas, a capacidade de ler os jogos, a forma de treinar, a intensidade que imprime a cada sessão de trabalho, a metodologia a que recorre com Faria e o restante corpo técnico... Foi como se a um arquiteto ou um advogado recém-licenciado lhe tivesse sido dada a oportunidade de trabalhar durante três anos com o melhor do Mundo na sua especialidade» - Aitor Karanka, técnico do Middlesbrough FC, em relação aos três anos que trabalhou conjuntamente com José Mourinho em Madrid.

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira 
Imagens: zh.clicrbs.com.br / fifa.com

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