30 de julho de 2014

Futebol Global 2014/15: Maestros, onde andam vocês? (análise de 23 a 29 de julho)

Reflexão: A despedida oficial de Deco perante um Estádio do Dragão repleto poderá muito bem servir como mote para retomar uma questão que assume cada vez mais importância no futebol moderno. Afinal, onde estão atualmente os números dez? Por onde andam aqueles que tratam a bola por tu, que trazem magia aos relvados e que fazem com que o futebol seja um desporto que move milhões de adeptos? 

Os mesmos são designados por trequartistas (expressão italiana que remete para a divisão do campo em quatro partes, sendo que esses jogadores situam-se no terceiro quarto) pois ocupam o espaço entrelinhas, estabelecendo a ligação entre o meio-campo ofensivo e o ataque, controlando a manobra ofensiva do seu conjunto e assumindo tanto ações de construção e criação como de finalização. São dotados de enorme qualidade técnica, dirigindo a orquestra através de exímias tomadas de decisão. Tudo isto encontra-se cada vez mais em vias de extinção na atualidade futebolística, nomeadamente devido à rigidez tática que muitos treinadores cultivam. Se no passado havia liberdade para a existência de um elemento cerebral que desenvolvesse o seu jogo num raio de ação bastante curto, atualmente verifica-se que todos os jogadores têm tendência a participar nos processos ofensivo e defensivo. Simultaneamente, tem-se verificado a transformação de alguns jogadores que encarnariam muito bem este papel de playmaker: uns recuam no terreno para assumirem a 'posição 8' ou até mesmo um duplo-pivot (exemplos de Modric ou Pirlo, que ajudam em organização defensiva e impõem critério na saída para o ataque), outros têm sido arrastados para a faixa (casos de James ou Oscar) e ainda outros funcionam como segundo avançado (o famoso 'nove e meio'). O talento continua a ser expresso, mas de uma outra maneira. Os fatores de índole física e motivacional imperam cada vez mais face aos aspetos relacionados com a classe, magia e arte que deveria transbordar pelos relvados. Como tal, valorizam-se também jogadores que estejam em melhores condições de responder a essa vertente mais física. Num momento em que se dá primazia mais aos resultados do que ao verdadeiro espetáculo, é necessário que se evite um rápido desaparecimento e desvalorização dos trequartistas. A bem do futebol, de todas as partes envolventes, de todos. 

Jovem Promessa: Sèrge Alain Stephane Aurier. Nascido a vinte e quatro de dezembro de 1992 em Ouragahio (cidade localizada a oeste do território costa-marfinense), o lateral direito foi uma das sensações da última temporada. Numa fase precoce partiu para a França com os seus pais, onde acabou por ingressar e completar a sua formação nas escolas do RC Lens. Assim, foi no Stade Félix-Bollaert que Aurier se estreou com a camisola principal dos "Les Sang et Or", pouco tempo depois de cumprir dezassete primaveras. Mais concretamente a treze de janeiro de 2010 numa derrota frente ao FC Lorient para os oitavos-de-final da Coupe de la Ligue. Após vários encontros realizados pela equipa gaulesa (que entretanto havia descido à Ligue 2), Sèrge Aurier mudou-se para Toulouse no início de 2012. Sob o comando do gaulês Alain Casanova, Aurier foi esporadicamente ocupando lateral direita dos "Les Violets". 2012/13 fica registado na memória do internacional costa-marfinense por vários motivos: contabilização de muito tempo de jogo, registo de algumas assistências e estreia pela seleção africana (em junho de 2013, numa vitória sobre a Gâmbia em pleno apuramento para o Mundial 2014). Já a época transata confirmou as qualidades do atual jogador do PSG. Registo para a sua veia goleadora (seis tentos apontados na Ligue 1) e para a integração nos convocados de Sabri Lamouchi para a fase final do Campeonato do Mundo 2014 (ganhou o lugar ao experiente Emmanuel Eboué). Em solo brasileiro, Aurier apresentou um bom nível (elemento fulcral na vitória sobre o Japão, com dois cruzamentos para golo), algo que contrastou com a participação dos "Les Éléphants". Finalizado o torneio, Aurier foi emprestado por uma temporada ao bicampeão francês, que detém a possibilidade de compra no final da cedência (um negócio para driblar o fair-play financeiro da UEFA). Uma ótima oportunidade para que o internacional costa-marfinense junte alguns troféus a um currículo bastante despido a esse nível. Destro, Aurier destaca-se pela sua versatilidade (faz todas as posições do setor defensivo, podendo igualmente atuar como médio direito), pujança física (175 cm e 69 kg), potência, velocidade, qualidade técnica, cruzamentos venenosos, profundidade oferecida através da faixa fácil presença em zonas de finalização (os dados estatísticos revelam um lateral com propensão muito ofensiva)Defensivamente posiciona-se bem, evidenciando boa leitura de jogo, segurança no jogo aéreo, desarme eficaz e solidez. O sistema de três centrais que o Toulouse FC utilizou em 2013/14 contribuiu para que Sèrge Aurier explorasse todas estas características na posição de ala direito, aparentando sempre uma grande maturidade a defender ou a atacar. Apesar de ser um lateral bastante completo, deve melhorar os seus níveis de concentração e ter mais preocupação com o espaço que deixa nas suas costas devido às suas constantes subidas pelo flanco. Com a saída de Jallet e a irregularidade exibicional de Van der Wiel, o clube parisiense adquiriu neste defeso um dos laterais direitos mais promissores do futebol mundial. Certamente não tardará a confirmar o estatuto de mais-valia para o conjunto orientado por Laurent Blanc.

Facto: Praticamente um ano depois, Portugal voltou a encontrar a Sérvia numa meia-final do Campeonato da Europa U19. Desta feita a vitória sorriu à formação orientada por Hélio Pinto. Um triunfo que só surgiu no desempate pelos pontapés da marca de grande penalidade, depois de um nulo no final do tempo regulamentar. Tiago Sá acabou por ser o herói improvável, ao entrar no decorrer do prolongamento para ocupar o lugar do lesionado André Moreira e defender o quinto penálti batido pelos sérvios. Onze anos depois, Portugal chega de novo a uma final do Europeu da categoria, agora para tentar vencer a Alemanha no derradeiro jogo de Budapeste.

Equipa da Semana (3-4-3): Aranha (Santos FC); Drew Moor (Colorado Rapids), Dedé (Cruzeiro EC) e Óscar Duarte (Club Brugge KV); Hernán Burbano (Club Tigres UANL), Fernando Arce (CD Guadalajara), Kevin Kampl (FC Red Bull Salzburg) e Geoffrey Bia (Standard de Liège); Zé Eduardo (Coritiba FC), Caio (EC Vitória) e Gustavo Canales (CFP Universidad de Chile)

Frase: «Estou muito triste. Na verdade não queria sair, mas surgiram as coisas assim. Eles pagaram um bom valor, falei com o clube e com treinador, que contava comigo isso foi claro» - Eliseu, novo reforço do SL Benfica, em declarações à Cadena Ser sobre a sua saída da Andaluzia.

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira 
Imagens: desporto.sapo.pt / fifa.com

1 comentário:

  1. Gostei da reflexão :) Já agora, se houvesse sempre esses jogadores "mágicos", deixaria de ser tão mágico a existência de algum. Por isso, é bom sentir essa falta, porque quando um novo jogador-maravilha aparecer, será ainda mais espectacular.

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