14 de fevereiro de 2014

“A chama imensa”

   Passaram-se já alguns dias sobre o derby do Estádio da Luz que terminou com uma vitória do SL Benfica e por isso impõe-se uma reflexão sobre o jogo e as repercussões que poderá ter para o que falta jogar nesta edição da Liga Zon Sagres.

   Fruto do temporal de domingo que assolou o país, a partida foi (e bem) adiada para terça-feira com o consentimento mútuo dos responsáveis de ambos os clubes e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Foi a decisão mais correta uma vez que os danos da cobertura do Estádio da Luz eram evidentes, podendo colocar em causa a integridade física dos atletas e de milhares de adeptos que acorreram ao palco deste jogo que se pretendia um grande espetáculo.

   Adiado por dois dias, o que mudou entretanto? O FC Porto venceu o seu jogo ao derrotar o FC Paços de Ferreira por 3-0 subindo provisoriamente ao segundo lugar da tabela classificativa, pressionando, ainda que indiretamente, os seus mais diretos adversários que se iriam encontrar posteriormente. Leonardo Jardim, que na conferência de imprensa de antevisão afirmara que o Sporting «tem entrado a medo» nos grandes jogos surpreendera com a aposta numa equipa arrojada, para jogar claramente ao ataque com a inclusão do argelino Slimani ao lado de Montero e ainda com a inclusão do reforço Heldon que, no CS Marítimo se convertera num dos melhores marcadores da presente edição do campeonato. Demonstrou audácia e desinibição, num sinal claro de que o Sporting estava apostado em vencer e ascender ao topo da tabela classificativa. Como se previa, Eric Dier jogaria no lugar do castigado William Carvalho e Iván Piris ocuparia o lado esquerdo da defesa em virtude da lesão do brasileiro Jefferson. Jorge Jesus, que até tem efetuado algumas mudanças nos clássicos (nem sempre com bons resultados) optou por conservar a equipa que tem dado tão boa conta de si. Durante os dias que antecederam o derby muito se especulou sobre a possibilidade de Cardozo ser titular mas o paraguaio (que durante a sua estadia em Portugal tem feito dos “leões” uma das suas vítimas preferenciais face ao seu instinto goleador) ficou no banco, optando o treinador por manter a dupla Lima/Rodrigo que tem tido bons resultados.

   Chegou o dia e a poucas horas do jogo ambos os treinadores tentaram condicionar a estratégia adversária com a inclusão nos convocados de Ivan Cavaleiro e Jefferson. Porém, estas manobras revelaram-se meramente ilusórias pois os dois jogadores ficaram na bancada. Em relação aos 11 eleitos por Jesus e Jardim nada mudou.

   O jogo começou com um ritmo muito elevado e com o Benfica a dominar. Nos primeiros minutos criou várias oportunidades de golo que a defensiva leonina conseguiu suster. O tempo passava e as “águias” manietavam os “leões” que, apáticos, limitavam-se a ver jogar. Sem surpresas a equipa da casa adiantou-se no marcador por intermédio de Rodrigo. Piris escorrega à esquerda da defensiva leonina deixando caminho aberto para Maxi Pereira que cruza com conta, peso e medida para a cabeça de Gaitán. O argentino estreou-se a marcar, para a Liga, em jogos contra o Sporting. A vantagem benfiquista, mínima, que prevaleceu até ao final do primeiro tempo, revelou-se até um pouco escassa em relação ao domínio, à qualidade de jogo, fluidez de processos e oportunidades de golo criadas pelos “encarnados”.
À entrada para o segundo tempo, quando se esperava uma reação do Sporting, o que se verificou foi o prolongamento do domínio da equipa da casa. O Benfica controlava, geria os ritmos de jogo e naturalmente ampliou a vantagem aproveitando o desnorte da defensiva sportinguista. Um mau alívio da defesa “leonina” colocou a bola nos pés de Enzo Pérez. O argentino, com classe, “sentou” Eric Dier, retirando-o da jogada, e num remate de belo efeito, colocado, fez o golo que sentenciou a partida.

   Analisando, em primeiro lugar, a equipa da casa, o Benfica fez um jogo irrepreensível. O seu domínio foi claro, de início ao fim, e a sua vitória nunca esteve em causa. Luisão e Garay estiveram imperiais no centro da defesa, anulando por completo as tentativas de jogo mais direto do Sporting. Siqueira foi o principal responsável pelo eclipse de Montero, forçando André Martins a redobrados cuidados defensivos, especialmente na primeira metade da partida. Fejsa foi, na minha opinião, o melhor jogador em campo. Uma autêntica sombra de Slimani, funcionou como um “tampão” à frente da defesa, impedindo qualquer tentativa de ataque organizado do Sporting. A sua função de contenção, que cumpriu de uma forma quase perfeita, permitiu a libertação de Enzo Pérez para missões mais ofensivas. O argentino foi o “motor” encarnado, dinâmico, pressionante, com a sua «raça» que habitualmente empresta ao jogo do Benfica. Culminou a sua exibição com um grande golo. Marković foi o artista de serviço. Este jovem jogador de apenas 19 anos tem crescido a olhos vistos pela mão de Jorge Jesus. Alia à sua notável qualidade técnica e visão de jogo uma consistência defensiva cada vez maior. No derby espalhou magia com vários passes que “rasgaram” o quarteto defensivo “leonino”. Gaitán voltou a ser decisivo nos derbys contra o Sporting. Na passada terça-feira aliou ao seu virtuosismo e a uma exibição bem conseguida um golo, que foi uma estreia nestas andanças. A dupla de avançados composta por Lima e Rodrigo continuou o seu bom desempenho, desgastando os defesas adversários, arrastando marcações.

   Por outro lado, o Sporting fez um jogo não para esquecer mas sim para recordar. Os “leões” realizaram a pior exibição da época num jogo que, em caso de vitória, lhes daria a liderança isolada. Muitos passes falhados, perdas de bola, a falta de intensidade no jogo foi gritante. Notou-se de forma cabal a ausência de William Carvalho. A falta da sua tranquilidade em campo, da forma como sai a jogar e da sua potência fizeram-se sentir num meio campo que se exibiu de uma forma irreconhecível. Eric Dier, o seu substituto, esteve mal. Ao longo do jogo nunca conseguiu encontrar o posicionamento mais correto. Perdido em campo, errou demasiados passes e foi alvo de uma “maldade” de Enzo Pérez aquando do segundo golo do Benfica, deixando o jovem inglês pregado ao relvado. Piris foi outro elemento com nota negativa. Não conseguiu fazer esquecer Jefferson. Desconcentrado, trapalhão, não deu a profundidade ao flanco que o Sporting necessitava e ainda comprometeu defensivamente. Está intrinsecamente ligado ao primeiro golo da partida no qual deixou via livre para o cruzamento de Maxi Pereira. Inclusive, durante o jogo, obrigou Rojo a fazer vários desvios à esquerda para tentar compensar as falhas do lateral paraguaio. Na defensiva “leonina” valeram Patrício e Maurício. O guarda-redes internacional português evitou com um punhado de defesas uma derrota por números mais expressivos enquanto o central brasileiro fez valer o seu físico e poder aéreo, evitando novos dissabores. Perto do final da partida, já numa fase de alguma irracionalidade, envolveu-se num sururu com Gaitán. Uma situação serenada pelo árbitro da partida. O meio campo leonino foi uma sombra do que já foi esta época. Adrien tentou remar contra a maré mas foi inconsequente, André Martins, descaído para a direita, esgotou-se em missões defensivas mas nada acrescentou à manobra ofensiva sportinguista. Montero passou completamente ao lado do jogo, Slimani, com pouca bola, viu jogar e Heldon, apesar de alguns pormenores interessantes, teve uma estreia infeliz. Leonardo Jardim que tinha montado uma surpresa ao apostar numa formação de ataque, viu-a esboroada com o vento. O adiamento da partida anulou por completo o efeito pretendido e, dois dias depois, nada saiu bem ao técnico madeirense. Até as substituições se revelaram ineficazes. Magrão nunca mostrou qualidade para ser uma efetiva mais-valia no Sporting. Capel a jogar no flanco direito é uma nulidade e Mané entrou tarde no jogo. Percebe-se a intenção do técnico mas nada correu bem.

   Esta vitória incrementa substancialmente o élan benfiquista que aumenta a distância em relação ao Sporting para 5 pontos (que na prática são 6 uma vez que os “encarnados” têm vantagem no confronto direto) estando, ainda, com 4 pontos de avanço em relação ao FC Porto (tendo já derrotado os “dragões” no Estádio da Luz igualmente por 2-0). Esta margem pontual e as recentes vitórias categóricas contra os seus mais diretos rivais aliadas à qualidade, quantidade e experiência do seu plantel deixam o SL Benfica numa posição privilegiada para a conquista do título de campeão nacional quando faltam disputar-se 12 jornadas.

Artigo escrito por: Adolfo Serrão
Imagens: desporto.sapo.pt / maisfutebol.iol.pt / lusa.pt

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