5 de fevereiro de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro

O jogo da semana: Manchester City FC vs Chelsea FC (0-1)

Ficha de Jogo:

Estádio: Etihad Stadium, Manchester
Árbitro: Mike Dean
Marcadores: Branislav Ivanović 32'
Disciplina: Martín Demichelis 37’, Aleksandar Kolarov 42’ e Matija Nastasić 87’; Branislav Ivanović 33’, Nemanja Matić 40’ e Willian 90+2’

Manchester City FC (4-4-2): Joe Hart; Pablo Zabaleta, Vincent Kompany (C), Matija Nastasić e Aleksandar Kolarov; Jesús Navas, Martín Demichelis, Yaya Touré e David Silva; Edin Džeko e Álvaro Negredo (Stevan Jovetić 57')
Suplentes não utilizados: Costel Pantilimon, Gaël Clichy, Dedryck Boyata, James Milner, Jack Rodwell e Marcos Lopes
Treinador: Manuel Pellegrini

Chelsea FC (4-2-3-1): Petr Čech; Branislav Ivanović, Gary Cahill, John Terry (C) e César Azpilicueta; Nemanja Matić, David Luiz, Ramires, Willian (John Obi Mikel 90+2') e Eden Hazard (Demba Ba 90+4'); Samuel Eto'o (Oscar 83')
Suplentes não utilizados: Mark Schwarzer, Ashley Cole, Frank Lampard e Mohamed Salah
Treinador: José Mourinho

Análise & Destaques:

Num dos jogos mais emocionantes da temporada presente e que fechou a jornada vinte e quatro do campeonato britânico, o Chelsea deu um passo importante na luta pelo título inglês, ao vencer no Etihad Stadium o Manchester City por 1-0. O internacional sérvio Branislav Ivanović foi o responsável pelo único tento da partida, que voltou a colocar os blues em igualdade pontual com os citizens e a dois do primeiro posto que é ocupado pelo Arsenal. A primeira liga inglesa está ao rubro no que à luta pelo título diz respeito. Desde a época 2008/09 que os londrinos não venciam neste terreno para a Barclays Premier League. Foi o quarto jogo da equipa do "Happy One" sem sofrer golos fora de casa, sendo este o clube que mais jogos venceu (onze) no estádio dos citizens em toda a história da liga inglesa. Já o Manchester City somou a primeira derrota caseira esta temporada, a quinta em termos de campeonato (duas delas consentidas frente ao Chelsea), interrompendo uma série de oito triunfos consecutivos para a Barclays Premier League. Há precisamente 1177 dias que os citizens não ficavam em branco num encontro para a liga, isto depois de vinte e um jogos na condição de visitado a marcar de forma consecutiva. No duelo de técnicos, o "Special One" voltou a levar a melhor.Já são sete vitórias de Mourinho na sua carreira face a Pellegrini (o chileno só conseguiu vencer o luso por uma vez, ao serviço do Málaga CF). 

Focando no jogo, este iniciou-se com um Manchester City ofensivo, em busca de um golo que pudesse dar alguma tranquilidade aos comandados de Pellegrini. Um aspeto que costuma imperar nos jogos dos citizens esta temporada, sobretudo quando estes são disputados na sua própria casa. Depois de vinte minutos iniciais, em que Touré e Silva estiveram perto de abrir o ativo, os blues começaram a equilibrar o duelo. Aproveitando as saídas rápidas em transição, a formação de José Mourinho dispôs de algumas chances. Primeiro, numa situação de quatro para um, Ramires permitiu a defesa de Joe Hart e, na recarga, Willian não teve arte para concluir a jogada da melhor maneira. De seguida, o golo que decidiu o encontro. Tudo começa nos pés de Hazard (boa incursão pela esquerda), a jogada prossegue pelos pés de Ramires e Ivanović e, após um corte de Kompany a remate inicial do médio internacional brasileiro, o esférico sobra para o remate de pé canhoto do lateral sérvio para o fundo da baliza de Joe Hart. O Chelsea chegava à frente do marcador, traduzindo a sina do encontro: um Manchester City mais ofensivo e com mais posse de bola frente a um Chelsea com as melhores oportunidades e bastante eficaz no momento da finalização. Em desvantagem no marcador, o City teve naturalmente de arriscar, mas encontrou sempre pela frente um adversário que dispensou a colocação de um autocarro à frente da baliza e mostrou competência, qualidade e alguma assertividade nas saídas para o ataque. Até ao final do primeiro tempo, nota para mais uma jogada perigosa do ataque visitante, com Samuel Eto'o a rematar ao travessão da baliza à guarda de Hart. Chegava ao fim uma etapa marcada por um ritmo de jogo médio, em certos momentos bastante intenso. 

A segunda parte inicia praticamente como fechou a primeira. O Chelsea controlava as operações e dividia a posse de bola. Matić deu o primeiro aviso, com um remate portentoso que esbarrou na junção entre o poste e a barra da baliza de Hart. Pellegrini refrescou a frente de ataque, substituindo um apagado Negredo pelo internacional montenegrino Jovetić. Ainda assim, o Chelsea voltou a aproximar-se da baliza adversária, num cabeceamento de Cahill que encontrou o poste esquerdo de Joe Hart. Dava a clara sensação de o Chelsea estar mais perto de fazer o 2-0 do que propriamente o Manchester City  do empate. Mas a entrada do ex-jogador da ACF Fiorentina veio alterar a tendência da partida. Os visitados demonstraram mais clarividência na hora de atacar e valeu aos blues duas boas intervenções de Čech: a primeira num livre bem cobrado por David Silva, a segunda após um remate de fora da área de Stevan Jovetić. A equipa da casa atacava mais com o coração do que propriamente com a razão e o resultado acabou por se manter inalterado. Um jogo completamente típico de liga inglesa, intenso e emocionante até ao fim, com dois excelentes conjuntos e uma partida de futebol muito boa. Faltaram apenas mais golos para dar outra vivacidade ao resultado final. 

Manchester City FC: se o Manchester City acabou por perder este combate na luta pelo título, muito desse insucesso se deve às ausências de dois pilares da equipa: Fernandinho e Sergio Agüero. À semelhança do adversário, Pellegrini optou por colocar um defesa central no meio campo. A posição de médio defensivo não é estranha a Demichelis, mas o jogo serviu para demonstrar que claramente a aposta do técnico chileno não resultou. Apesar do bom posicionamento, o argentino não teve velocidade para acompanhar o ataque londrino, sofreu bastante com as mudanças vertiginosas de velocidade por parte dos homens mais ofensivos do Chelsea e, não sendo o complemento ideal para Yaya Touré (como Fernandinho o é), o City ficou muito exposto nas transições ofensivas, criando bastantes espaços para o adversário explorar. Houve jogadores em claro sub-rendimento, como Zabaleta (enormes dificuldades para travar Hazard), David Silva (muito do jogo dos citizens passa pelo médio espanhol, bem anulado devido ao mérito do adversário) e a dupla de ataque Džeko-Negredo. O bósnio esteve desinspirado na finalização, ao passo que o ex-Sevilla vinha de uma recente lesão e não teve a preponderância do costume. Além disso, a frente de ataque esteve algo distante do resto da equipa e, como tal, eram raras em vezes em que um dos homens mais adiantados recuasse para vir buscar jogo. Por isso, a entrada de Jovetić veio agitar um pouco o jogo, já que foi um jogador que se colocou entrelinhas, apoiando os médios na construção e levando o jogo para a frente. Fica a sensação de que Pellegrini podia ter efetuado pelo menos mais uma alteração (entrada de Milner para o meio campo), numa exibição frouxa da sua equipa. 

Chelsea FC: taticamente, exibição quase perfeita dos londrinos. Mourinho iniciou a partida mal findou o jogo caseiro com o West Ham United. Através dos seus famosos "mind-games", o português conseguiu depositar praticamente a totalidade da pressão do lado do adversário. A estratégia resultou, muito pelo modo como este jogo foi preparado. Mourinho foi igual a si mesmo, optando por uma equipa segura, compacta e muito bem organizada sem bola e com inteligência para ocupar os espaços. Desde logo, Čech foi fundamental na manutenção da vantagem mínima. A dupla de centrais esteve impecável: Terry parece que rejuvenesceu com o regresso do "Happy One", já Cahill é provavelmente o melhor central inglês da atualidade. Os laterais estiveram em bom plano, nomeadamente Azplicueta que demonstra qualidade nesta adaptação à ala esquerda. Foram raras as situações em que Navas conseguiu levar a melhor nesta "luta" de castelhanos. O meio campo "made in" SL Benfica foi um dos principais esteios, denotando uma excelente capacidade física, muita intensidade nos duelos individuais e critério na recuperação de bola e posterior construção. Matić entrou algo tímido, mas com o passar do tempo foi crescendo e enchendo o campo. Já David Luiz (outro defesa central de origem que atuou na zona intermédia) está cada vez mais a habituar-se às suas novas funções, algo que é favorável a uma das suas características principais: movimentar-se com a bola controlada, dando início ao processo de construção. O trio de médios ofensivos esteve em bom plano, apresentando dinâmica e flexibilidade. Willian é cada vez mais um jogador que oferece muita disponibilidade para auxiliar os médios em missões de contenção. Ramires continua a ser versátil e a apresentar grande utilidade, nomeadamente nestes jogos de maior grau de intensidade. Já Hazard deu asas à sua criatividade e, com isso, provocou desequilíbrios, mudanças de velocidade e bastantes dificuldades ao adversário. O internacional belga está em clara ascensão, a poucos meses do Mundial 2014. Contem com ele!

Destaque: as semanas passam e os recordes vão sendo quebrados. O FC Bayern München continua imparável esta temporada e admite alcançar a perfeição. Após um paragem de inverno, a formação bávara entrou em 2014 com três vitórias em outros tantos jogos. Mesmo com uma exibição um pouco abaixo do habitual, os campeões europeus venceram na passada quarta feira no terreno do VfB Stuttgart (2-1), com o segundo golo a ser apontado de forma artística por Thiago. Passados alguns dias, o Bayern cilindrou autenticamente o Eintracht Frankfurt (adversário do FC Porto nos dezasseis avos de final da UEFA Europa League), numa demonstração clara de força e autoridade. Mesmo com Javi Martínez, Kroos e Schweinsteiger de fora e Robben e Müller a iniciarem o jogo sentados no banco de suplentes, a turma encarnada demonstrou classe através de um jogo de posse, apoiado, temporizado, com constantes movimentações e com imensa pressão face à perda da bola. Guardiola continua ser fiel ao modelo de jogo que marcou a sua passagem por Barcelona, utilizando jogadores que aliem os argumentos do ponto de vista técnico à capacidade para faturar e à disponibilidade para percorrer muitos quilómetros durante uma partida. Sustenta-se deste modo um estudo publicado pelo diário alemão Bild, que afirma que nos jogos a contar para a 1. Bundesliga, o Bayern tem cinquenta e um remates certeiros em trezentas e sessenta e uma tentativas (Mario Mandžukić é o artilheiro máximo, com onze golos), costuma terminar com cerca de 66% de posse de bola e 87% de precisão de passe os jogos, os titulares apresentam uma média de estatura de 1,79 cm (Shaqiri é o mais baixo com 169 cm) e é ainda a equipa que mais quilómetros percorre no campeonato alemão (média de 65 km por jogo, com Ribéry a ter a estatística mais elevada nesse parâmetro: 8,1 km). Em suma, Guardiola é apelidado de "Einstein" do futebol. 

Depois de um período inicial, no qual se apontou algumas reservas quanto ao futuro a curto/médio prazo, eis a resposta. O modelo implementado não é completamente perfeito (há que atender às ocasiões em que o Bayern entrega facilmente a posse de bola aos seus adversários), mas ajusta-se perfeitamente à conjuntura atual do futebol europeu. O Bayern München domina os adversários, trucidando-os. Os próprios jogadores respiram a filosofia que Guardiola trouxe para Munique, substituindo as individualidades pelo jogo coletivo. E as expetativas quanto à segunda metade da temporada presente são bastante positivas. Quem afirmou no final da época passada (com uma herança pesada deixada por Heynckes) que esta equipa não podia melhorar mais?

Equipa da semana (4-1-4-1): Benoît Costil (Stade Rennais FC); Stephan Lichtsteiner (Juventus FC), Per Mertesacker (Arsenal FC), Gary Cahill (Chelsea FC) e Luke Shaw (Southampton FC); Andrea Pirlo (Juventus FC), Alex Oxlade-Chamberlain (Arsenal FC), Rémy Cabella (Montpellier Hérault SC), Charlie Adam (Stoke City FC) e Pierre-Emerick Aubameyang (Borussia Dortmund); Germán Denis (Atalanta BC)


Topo: CD Nacional. A turma de Manuel Machado está a protagonizar uma boa campanha neste exercício na Liga ZON Sagres. Numa jornada atípica, em que sete clubes da primeira parte da tabela não conseguiram vencer as suas respetivas partidas, foi o clube da Madeira a sair com uma vantagem importância na luta por um lugar europeu. O Nacional ascendeu ao quarto lugar do campeonato português, passando Vitória SC e GD Estoril Praia na classificação e posicionando-se no primeiro lugar que dá acesso à UEFA Europa League. Além disso, a coletividade de Manuel Machado já não perde para a liga portuguesa desde finais de outubro, aquando de uma derrota no Estádio da Luz. As deslocações a Guimarães nunca são fáceis para qualquer equipa, mas os alvinegros, num ambiente marcado por frio e forte precipitação, venceram e colocaram pressão nos seus mais diretos adversários. Uma equipa bem compacta, organizada e que explorou bem as transições e os erros do adversário. Claudemir (na conversão de um castigo máximo) e Mario Rondón (num deslize enorme de Douglas) construíram o resultado, respondendo ao tento de Tomané. As permanências de Mexer (provavelmente o jogador com maior rendimento em 2013/14 e um dos principais ativos do clube) e Rondón pelo menos até ao fim da época têm uma importância vital, permitindo a Machado conservar o estilo de jogo que tem implementado, não obrigando a mexidas significativas que poderiam alterar a performance dos insulares. Nota para o egípcio Saleh Gomaa, que mostrou alguns apontamentos que justificam o rótulo de craque. 

Fundo: RSC Anderlecht. A vida não está fácil para o técnico holandês John van der Brom. O atual campeão belga foi eliminado da liga milionária (último lugar no grupo C), dos oitavos de final da Cofidis Cup (pelo modesto KVC Westerlo, clube do segundo escalão do futebol daquele país, no desempate por grandes penalidades) e nos últimos três jogos para a Jupiler Pro League soma duas derrotas. A crise agudizou-se este fim de semana, com o deslize no  Herman Vanderpoorten, o estádio do Lierse SK. Uma derrota por 2-0, que demonstrou os imensos erros defensivos (desorganização da linha mais recuada, falta de posicionamento e pouca clarividência na pressão ao portador da bola) que têm marcado a formação de Bruxelas nesta temporada. Foi a sétima derrota dos Les Mauves et Blancs para a fase regular da liga belga, algo que os coloca no segundo posto em igualdade pontual com o KV Club Brugge e a dez pontos do líder Standard de Liège. Vai ser espinhosa a tarefa de van der Brom em conquistar o trigésimo terceiro título de campeão para o conceituado clube que treina. Para já, salve-se a conquista da décima quinta Super Cup no início da temporada frente ao KRC Genk.

Frase: “De facto, desde que nasci passei por situações difíceis. Mas é exatamente isso que deu-me essa força, essa vontade de vencer. Não tenho medo de nada. É por isso também que eu sempre soube dar a volta por cima quando tive situações difíceis” - Franck Ribéry, jogador do FC Bayern München e internacional francês, em entrevista ao sítio oficial da FIFA

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: reuters.com / jogadaensaiada.com.br / zerozero.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradecemos comentários onde impere o bom senso e a coerência, dispensando "guerras clubísticas". A liberdade de expressão deve ser usada e encarada com o máximo de responsabilidade possível.