19 de fevereiro de 2014

Futebol Global: análise da semana entre 10 e 17 de fevereiro

O jogo da semana: GD Estoril Praia vs SC Braga (2-1)

Ficha de Jogo:

Estádio: Estádio António Coimbra da Mota, Estoril
Árbitro: Carlos Xistra
Marcadores: Carlitos 24' e Evandro 44'; Raul Rusescu 90+2'
Disciplina: Gonçalo Santos 32' e Evandro 82'; Custódio 57' e Raul Rusescu 82'

GD Estoril Praia (4-2-3-1): Vagner Silva (C); Mano, Yohan Tavares, Rúben Fernandes e Babanco; Gonçalo Santos, Diogo Amado (Filipe Gonçalves 86'), Javier Balboa, Evandro (João Pedro Galvão 90') e Carlitos; Sebá (Gerso 33')
Suplentes não utilizados: Ricardo Ribeiro, Bruno Miguel, Anderson Luís e Luiz Phellype
Treinador: Marco Silva

SC Braga (4-2-3-1): Eduardo; Aleksandar Miljkovic, Nuno André Coelho, Vincent Sasso e Núrio Fortuna; Custódio, Mauro (Luiz Carlos 64'), Leandro Kappel (Erick Moreno 45'), Alan (C) e Felipe Pardo; Raul Rusescu
Suplentes não utilizados: Cristiano Pereira, Kadu, Tomás Dabó, Rodrigo Battaglia e Rúben Micael
Treinador: Jesualdo Ferreira

Análise & Destaques:

Na partida que fechou a jornada dezanove da Liga ZON Sagres, o Estoril Praia bateu o SC Braga por 2-1, assumindo de forma isolada o quarto lugar da classifcação com trinta e três pontos. Carlitos e Evandro deram uma vantagem de dois golos no primeiro tempo para o cojunto canarinho. Na etapa complementar, em pleno tempo de compensação, o romeno Rusescu acabou por reduzir a diferença. Os bracarenses desceram ao sétuimo posto, por troca com os seus rivais de Guimarães. Foi a nona derrota do SC Braga para o campeonato, algo que deixa a equipa a sete pontos do adversário da passada segunda feira.  

Quanto ao jogo, Marco Silva acabou por não revelar grandes surpresas. Sebá regressou à competição após cumprir um jogo de suspensão, enquanto Tiago Gomes, João Pedro e Bruno Lopes  estiveram ausentes por lesão. De resto, o jogador ex-FC Porto atuou de início como falso ponta de lança. Do lado minhoto, Jesualdo Ferreira fez duas alterações face à equipa que perdeu em Vila do Conde para a Taça da Liga. Assim, Aderlan Santos (suspenso) e Rafa (a contas com uma contusão muscular) deram respetivamente lugar ao francês Sasso e ao holandês Kappel. O início do encontro foi pautado por um equilíbrio no meio campo, contando igualmente com pouca operação nas imediações das áreas. As duas equipas (perfiladas em 4-2-3-1) tentavam encaixar-se uma na outra, até que Carlitos descobriu os caminhos da baliza de Eduardo e abriu o marcador sensivelmente a meio da primeira parte. Após uma excelente jogada coletiva entre Evandro, Balboa e Sebá, este último isolou o antigo jogador de Hannover 96 e FC Basel que, já no interior da grande área, não desperdiçou e atirou de pé direito para o fundo das redes de Eduardo. Os Gverreiros do Minho reagiram de forma acanhada e tiveram em Pardo o lance de maior perigo do primeiro tempo. Pouco depois da dobragem da primeira meia hora, Sebá teve de sair lesionado. Em causa esteve uma fratura do quinto metatarso do pé direito que deverá levar o brasileiro a um período de recuperação a rondar as dez semanas. Para o seu lugar entrou Gerso, levando a jogo a sua enorme técnica, velocidade e capacidade de aceleração. O guineense ocupou a extrema direita do ataque, fazendo deslocar Balboa para a posição de ponta de lança e mantendo Carlitos na esquerda. Já dentro dos últimos minutos da etapa inicial, o próprio Gerso trabalhou bem na direita e, perante a passividade concedida por Núrio, foi à linha de fundo e assistiu Evandro para o segundo dos canarinhos. A defesa bracarense não tinha níveis desejáveis de concentração e agressividade, acabando por pagar a fatura. Aproveitando da melhor maneira os erros do adversário e explorando muito bem os espaços, o Estoril Praia chegava ao descanso com uma vantagem justa. 

Para o segundo tempo, o professor Jesualdo Ferreira trocou Kappel por Erick Moreno, colombiano que se estreou com a camisola encarnada após ter sido adquirido aos CD Los Milionarios da Colômbia. O esquema tático transitou para 4-4-2, com Moreno e Rusescu na frente, Alan na direita e Pardo na esquerda. Porém, as mudanças não resultaram em melhorias práticas e, já depois da entrada de Luiz Carlos, foi a equipa nortenha a dispor de uma enorme oportunidade para reduzir a diferença, com Rusescu a aproveitar uma bola solta e a chutar forte para a baliza de Vagner. Porém, o remate encontrou forte oposição de Gonçalo Santos e acabou por sair para canto. Minutos depois, Carlitos cabeceou para uma boa defesa de Eduardo. O Estoril controlava a partida a seu belo prazer. Mas já no período de compensação, o sérvio Miljkovic cruzou e o esférico foi encontrar a cabeça do romeno Rusescu, que fugiu inteligentemente à marcação e reduziu a desvantagem. O SC Braga não fez muito para merecer o tento de honra, mas o encontro acabaria mesmo por fechar com uma vitória do Estoril Praia pela margem mínima no seu reduto.

GD Estoril Praia: boa exibição do conjunto de Marco Silva. Frente a um adversário direto na luta pelos lugares europeus, o Estoril demonstrou um futebol agradável, explorando bem os espaços e sendo criando muito perigo através de transições rápidas e objetivas. A reação à perda da bola era efetuada de uma forma rapidíssima, não deixando o adversário pensar o jogo a partir de trás e obrigando-o a cometer alguns erros. Este Estoril de Marco Silva revela cada vez mais ser uma equipa com identidade, que tem plena consciência do que executa dentro das quatro linhas. Indubitavelmente, é uma das melhores equipas em Portugal a praticar futebol na atualidade. O brilhante quinto posto conseguido na temporada transata não foi mero acaso. Quanto ao plano individual, Evandro esteve em plano de evidência, participando nos dois golos do seu conjunto e revelando qualidade acima da média. Gonçalo Santos fez mais uma exibição muito positiva, com bons pormenores ao nível do passe e da construção de jogo ofensivo. Carlitos criou sempre bastantes problemas a Miljkovic e Pardo, fez um golo e esteve perto de bisar. Nota ainda para Sebá, um jogador infortunado já que estava a cumprir muito bem o seu papel como falso ponta de lança, jogando nas entrelinhas e criando bastantes problemas aos homens mais recuados dos bracarenses, até que saiu por lesão, devendo falhar o resto da temporada. Já Gerso tentou sempre juntar alguma técnica à velocidade no corredor. 

SC Braga: depois da eliminação nas meias finais das Taça da Liga, os bracarenses voltaram a desiludir e mostraram poucos argumentos num jogo muito importante para as contas do acesso às competições europeias. Se é certo que a ausência de Rafa condiciona a estratégia, não é menos verdade que houve muito pouca produção ofensiva (o golo obtido acaba por ser um prémio). A defesa continua a mostrar muita insegurança, faltando agressividade, inteligência e algum sentido posicional. Núrio, fruto da sua idade, terá de melhorar substancialmente no processo defensivo (como se comprova pelo segundo tento estorilista), já que ofensivamente tem apresentado alguns aspetos interessantes. Alan apareceu esporadicamente, denotando cada vez mais a dependência do conjunto bracarense em relação à performance do brasileiro em campo. Rusescu foi provavelmente o jogador vestido de encarando que mais lutou contra a maré, conseguindo o golo num belo cabeceamento. A mudança para 4-4-2 verificada na segunda parte retirou alguma capacidade de decisão e pressão aos médios (Custódio, Mauro e Luiz Carlos), devido ao facto de haver um grande distanciamento entre estes e os avançados. Em alguns casos, Rusescu teve a necessidade de recuar para ir buscar jogo. Jesualdo Ferreira continua a reduzir a sua margem de erro. Falta é perceber em que momento António Salvador irá perder definitivamente a paciência com o antigo técnico dos três grandes. 


Destaque: Rio Ave FC. O apuramento para a final da Taça da Liga conseguido na passada quinta feira é um feito que irá perdurar durante muito tempo na história do clube vilacondense. É que até à data, somente em 1984 o Rio Ave tinha alcançado uma final, neste caso a da Taça de Portugal (perdendo por 4-1 frente ao FC Porto). O projeto estruturado desde há algum tempo a esta parte pela direção de António Silva Campos começa a dar os seus frutos. Se a época passada foi bastante positiva (conquista do sexto lugar na liga portuguesa e chegada às meias finais da Taça da Liga), manchada ainda assim por alguns desaires caseiros que impediram um lugar europeu, a temporada corrente está a decorrer de forma tranquila. Alguns dos resultados obtidos na Liga ZON Sagres 2013/14 têm defraudado as expetativas, muito pelo facto de a equipa apresentar critério e qualidade na construção, mas desperdiçar alguns pontos. Porém, a excelente campanha nas taças merece o seu devido destaque. E com isso, o clube de Vila do Conde está a escrever uma bonita página na sua história. 

Nuno Espírito Santo manteve-se no comando técnico após o seu ano de estreia no escalão principal do futebol português. A filosofia da equipa tem assentado sobretudo na preferência por um jogo apoiado, assente na troca de bola e no aproveitamento da capacidade técnica de elementos como Ukra e Diego Lopes. Estamos perante uma formação que gosta de ter a bola e assumir as despesas da partida, usando preferencialmente um 4-2-3-1 com dois médios centro. Uma das grandes lacunas continua a ser a falta de um ponta de lança que garanta uma melhor finalização. Ahmed Hassan, ponta de lança de vinte anos, não tem demonstrado  veia goleadora que o distinguiu no passado recente e a sua evolução parece ter sofrido um retrocesso. Alguma falta de confiança (o que é perfeitamente normal no processo de desenvolvimento de um jovem jogador) a existência de várias alternativas para o seu lugar (Joeano, Sandro Lima, Ronny e Velikonja) e a transição em termos de estilo de jogo são fatores que têm atrasado a afirmação definitiva do internacional egípicio no futebol luso. Esporadicamente, Nuno alterou o modelo para um 4-4-2 clássico em virtude da conjuntura e do excesso de jogos. Estas últimas semanas não foram nada fáceis para o conjunto verde e branco, já que contabilizou quatro jogos em treze dias, estando em causa três competições distintas. Com um grande desgaste nos jogos para as taças (Académica e SC Braga), o Rio Ave perdeu algum fulgor em termos de campeonato. No entanto, o clube conseguiu atingir uma meia final e uma final, algo que não é muito comum. Em relação ao encontro com o SC Braga, o Rio Ave foi mais equipa, dispôs das melhores oportunidades e controlou as incidências do mesmo. A arbitragem não foi tão escandalosa como se pretendeu referir em muitos meios de comunicação social e retirar mérito ao Rio Ave FC devido a esse tema é bastante redutor. 
   
O conjunto de Vila do Conde é dotado de alguma experiência, mas também com alguns jovens de grande potencial. De resto, a política do clube de Vila do Conde passa também por aproveitar a qualidade presente na formação. No ano passado, a equipa de juniores ficou num brilhante quinto lugar na fase de apuramento do campeão nacional, sendo apenas superado por SL Benfica, FC Porto, Sporting CP e SC Braga. Esta época, quem tem estado em evidência é a equipa de juvenis, uma vez que assegurou um lugar na segunda fase do nacional da categoria. Recentemente, a formação nortenha assinou contratos profissionais com Nelson Monte e Silvério Júnio, dois defesas centrais naturais da própria cidade de Vila do Conde e que apresentam uma grande margem de progressão. Muito do futuro deste clube passa pela rentabilidade que conseguir extrair das suas camadas jovens, juntando a isso um crescimento sustentado e sem entrar em grandes loucuras financeiras. A estratégia tem tudo para dar resultado. Por agora, as gentes da cidade vilacondense vão desfrutando deste momento que o clube atravessa. Um momento merecido, justo e esperado há já algum tempo.

Equipa da semana (3-4-3): Ralf Fährmann (FC Schalke 04); Vincent Kompany (Manchester City FC), Nicolás Spolli (Catania Calcio) e Diego Godín (Atlético de Madrid); James Rodríguez (AS Monaco FC), Roberto Firmino (TSG 1899 Hoffenheim), Omar El Kaddouri (Torino FC) e Silvestre Varela (FC Porto); Pierre-Emerick Aubameyang (Borussia Dortmund), Anthony Stokes (Celtic FC) e Lionel Messi (FC Barcelona)

Topo: António José Conceição Oliveira. O carismático treinador de sessenta e sete anos, mais conhecido no mundo do futebol como Toni, protagonizou na passada sexta feira um feito inédito, ao conquistar o primeiro título da história do Tractor FC, duas semanas após ter regressado ao futebol asiático. Na final da Taça do Irão (também conhecida como Hazfi Cup)em Kerman, a formação de Tabriz derrotou pela margem mínima a equipa local (última classifcada da liga iraniana), valendo o tento do avançado internacional iraniano Saeed Daghighi no início da segunda parte. Toni é um autêntico fenómeno de popularidade junto dos adeptos do clube iraniano. Apesar de ter saído na época passada devido a salários em atraso, o técnico luso voltou ao banco e reabraçou um projeto que passa pela afirmação do clube de Tabriz em termos de futebol iraniano e asiático. Esta conquista foi indubitavelmente um grande início, permitindo renovar a confiança do balneário de um conjunto que até à data tem estado a realizar um campeonato abaixo das expetativas (encontra-se no sexto lugar da Persian Gulf League, a doze pontos do líder Foolad FC). O rei da Pérsia está de volta!

Fundo: Hamburger SV. O clube do norte da Alemanha vive dias difíceis, aliando os maus resultados desportivos a uma política de gestão que deixa muito a desejar. De resto, há alguns dias atrás, um grupo de adeptos tentou agredir alguns jogadores à porta da Imtech Arena, alegando a falta de vontade em servir o clube. Numa semana marcada pelo afastamento da DFB Pokal aos pés do FC Bayern Munich (derrota caseira por expressivos 5-0) e pela sétima derrota consecutiva averbada na 1. Bundesliga (desta feita aos pés do último classificado, o Eintracht Braunschweig), Bert van Marwijk acabou por ser demitido do comando técnico dos Rothosen. Chamado em setembro passado para ocupar a vaga deixada por Thorsten Fink, o homem que levou a Holanda à final do Mundial 2010 até teve um arranque positivo, com a conquista de oito pontos nos quatro primeiros jogos. Porém, a equipa de Hamburgo retornou aos maus resultados e, em virtude disso, aos lugares de despromoção. Até à data, este clube histórico soma dezasseis pontos no principal escalão do futebol germânico, fruto de quatro vitórias, quatro empates e treze derrotas. Nos cinco jogos já disputados em 2014, o Hamburger SV sofreu, no mínimo, três golos por encontro, um dado estatístico que comprova as grandes debilidades defensivas apresentadas. A alguns jogos do final da temporada os adeptos vão temendo uma possível descida de divisão, algo que seria inédito para um clube que detêm o recorde de ter sido o único a participar em todas as edições do campeonato alemão. Entretanto, Mirko Slomka, treinador que nas últimas temporadas esteve ao serviço ao Hannover 96, já foi confirmado como o novo timoneiro dos Rothosen (o terceiro esta temporada). O trabalho que terá pela frente será bastante árduo, sobretudo pelo facto de o Hamburger ser uma equipa que está mais habituada à luta por lugares europeus do que propriamente pela manutenção. Pede-se muito mais a uma equipa que apresenta alguns nomes importantes como Adler, Jansen, van der Vaart ou Lasogga. A vida não está nada fácil para Ola John & companhia.

Frase: "Os três candidatos continuam lá. O Benfica é primeiro mas está tudo em aberto, nada está ganho. É melhor ir à frente, dá mais tranquilidade à equipa e os jogadores e os adeptos ficam mais confiantes. O Benfica está melhor que Sporting e FC Porto porque está na frente e tem vantagem pontual" - Jorge Jesus, treinador do SL Benfica, depois da vitória sobre o Sporting CP no dérbi lisboeta

Artigo escrito por: Ricardo Ferreira
Imagens: tvi24.iol.pt / rtp.pt / zerozero.pt / expresso.sapo.pt / welt.de

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