15 de março de 2014

Crónica Saturnina: A revelação do Parma FC

   A Liga Italiana foi denominada, em tempos, por ser a competição que atraía as grandes estrelas do futebol mundial, sendo Van Basten, Matthaus, Maradona e Platini foram exemplos concretos desse fenómeno. Os grandes clubes transalpinos (Juventus FC, AC Milan e FC Internazionale Milano) destacavam-se num contexto europeu e não se encontravam isolados: tanto SSC Napoli como Parma FC como Sampdoria conseguiram êxitos europeus. Todavia, o presente não é tão risonho e o campeonato carece de competitividade e de representantes condignos nas competições europeias. Contudo há uma formação que, numa liga tão despersonalizada, se tem destacado de uma forma interessante e pouco denotada: a equipa do Parma.

   O Parma FC é uma coletividade que atua no mítico Ennio Tardini e que engloba, entre outros no seu palmarés, duas Taças UEFA (atual Liga Europa) e uma Supertaça Europeia, tendo já contado com portugueses na sua equipa como Fernando Couto ou Sérgio Conceição.  Depois de uma fase titubeante que os levou à despromoção, este clube centenário reergueu-se e encontra-se a lutar por um posto europeu com Fiorentina, Inter de Milão e Hellas Verona, estando numa maré de invencibilidade há 15 partidas consecutivas (8 vitórias e 7 empates) e ocupando o 6º posto, com menos uma partida que os seus concorrentes diretos.

   Celebrando o seu centenário na presente época, o emblema italiano, treinado por Roberto Donadoni que se manteve após um 10º lugar na transata edição da Serie A, apostou na consolidação do seu estatuto no primeiro escalão e em fazer uma época sem grandes sobressaltos. Apostando no empréstimo do avançado internacional Antonio Cassano (em subrendimento no Inter de Milão) e do defesa italiano Mattia Cassani por empréstimo da Fiorentina e na contratação do médio ganês Afriyie Acquah do Hoffenheim, a chave foi a solidez do plantel, que não perdeu muitas pedras basilares do anterior projeto. Constando com uma breve passagem do central português contratado ao Sporting Pedro Mendes (vendido ao Sassuolo no mercado de inverno, com o também defesa Alejandro Rosi  e o avançado Nicola Sansone, e com a equipa do sul de Itália a receber o centrocampista Matias Schelotto e o defesa Jonathan Rossini por empréstimo), o Parma também garantia soluções de futuro e uma profundidade que tranquilizava o técnico dos gialloblu.

   Com um arranque atribulado (à 3ª jornada ocupava a zona de despromoção e só conseguindo obter a primeira vitória à 5ª), os adeptos do Parma já arrecadavam argumentos para uma contestação significativa face ao momento da sua equipa. Contudo, o presidente Tommaso Ghirardi não procedeu a qualquer alteração no comando da formação e manteve a aposta em Donadoni, que acabou por ter os seus frutos. Após duas derrotas consecutivas diante do Génova e da líder Juventus (esta a 2 de novembro do passado ano civil), a equipa nunca mais conheceu o sabor da derrota para a Serie A. Após ser arredada da Taça pela Lazio no Stadio Olimpico, todas as atenções foram voltadas para a boa combinação de resultados que vinha a ser conseguida pelos homens que atuam no Ennio Tardini, um dos poucos estádios que sobrevive à crescente modernização que se arrasta pelo futebol europeu. Até ao presente, o Parma apresenta números interessantes na sua liga com 11 vitórias, 10 nulos e 5 desaires e com uma diferença de golos francamente positiva sendo 42 golos os marcados e 29 os consentidos, firmando-se assim como um concorrente sério a um posto europeu.

   O plantel é maioritariamente composto por italianos com algumas e naturais exceções, com Roberto Donadoni, por norma, a apostar na estabilidade das suas unidades no onze, dando elas todas as garantias e só tendo a disputar uma competição. Apostando num modelo tático (4x3x3) em que a primazia vai para a exploração das alas no suporte do ponta de lança e na solidez defensiva, na baliza, firma-se o transalpino formado na Juventus Antonio Mirante, e a linha defensiva que o reveste é composta por três também italianos e um brasileiro: dois laterais experientes (Mattia Cassini e Massimo Gobbi, ambos já na casa dos 30 anos) e dois centrais no apogeu das suas capacidades (Gabriel Pelleta, este italiano-argentino, e Alessandro Lucarelli), sendo esta uma posição em que no princípio da temporada era Pedro Mendes, ex-central do Sporting, um dos escolhidos para figurar como titular. O miolo conta com três unidades de créditos firmados, com o uruguaio Walter Gargano a funcionar como 6 na recuperação de bolas e a reforçar a coesão entre a defesa e o ataque, o italiano Marco Parolo a atuar como 8 comandando as operações atacantes, transportando jogo e frequentemente marcando (leva 7 golos) e o também transalpino Marco Marchionni a ser o jogador mais metódico que prescinde dos recursos mais físicos que se foram deterioriando consoante os anos passavam para explorar as suas capacidades técnicas, maioritariamente a nível do passe e da visão de jogo. O ataque revela-se como o setor onde a equipa sulista de Itália apresenta mais preocupações para os seus rivais, com uma dupla fulminante em Antonio Cassano e Amauri, dois avançados com bastante traquejo de Serie A e contando com 14 golos juntos (9 e 5 respetivamente) e contando com um francês, de nome Jonathan Biabiany que tem cativado os “tubarões” do futebol  europeu que, após uma passagem discreta pelo Inter de Milão, relançou a sua carreira em Parma e que apresenta, como atributos significativos, a sua aceleração e o dinamismo que apresenta com a bola nos pés.

   Os adeptos gialloblu apresentam-se esperançosos com o regresso da sua equipa às noites europeias e de uma estável equipa que, a médio prazo, faça parte de uma regular participação nos primeiros lugares da Serie A, no entanto o onze inicial apresenta uma média de idades elevada salvo as soluções de banco que são compostas por bastantes jovens mas que são maioritariamente emprestados por outros clubes (Afriyie Acquah, ganês, proveniente do Hoffenheim; e Joel Obi, nigeriano, do Inter) e não permitem uma perspetiva ampla de futuro e correspondente aos anos de glória deste emblema. Todavia, sendo do presente que se trata, o Parma tem razões para sorrir. Com 8 vitórias e 7 empates nos últimos 15 encontros para a Serie A, a formação de Roberto Donadoni apresenta uma invencibilidade incomum na Liga e que permite estar no encalce dos lugares europeus. Com uma equipa solidária, que apresenta grandes níveis de coesão entre setores e de poder de fogo no ataque, o Parma destaca-se como uma das escassas equipas europeias que ainda não conheceu o sabor da derrota neste ano civil e que ainda baralhará muito as contas a formações como a da Fiorentina e a do Inter de Milão, que apontam ao apuramento para a Liga Europa. Como é apanágio proclamar-se, velhos são os trapos.

Artigo escrito por: Lucas Brandão
Imagens: legaseria.it / guol.com / squawka.com

Sem comentários:

Enviar um comentário

Agradecemos comentários onde impere o bom senso e a coerência, dispensando "guerras clubísticas". A liberdade de expressão deve ser usada e encarada com o máximo de responsabilidade possível.