4 de abril de 2015

Rescaldos d'Esféricos: A diáspora bem-sucedida dos treinadores portugueses em 2015

Num êxodo iniciado por técnicos que investiam em aventuras por terras africanas e asiáticas, a emigração dos treinadores portugueses só começou a ter notoriedade e relevância aquando da partida do campeão europeu por clubes vigente José Mourinho para terras de Sua Majestade. Atualmente, colhem-se as proezas estatísticas que figuram em várias capas da imprensa desportiva internacional. Em Espanha, brilha Nuno Espírito Santo. Em França, Leonardo Jardim. Em Inglaterra, permanece José Mourinho, após uma travessia por outros países da comunidade europeia. Na Suíça, Paulo Sousa. Campanhas a aflorar.

Enquanto em terras ibéricas o Valencia CF de Nuno Espírito Santo (41 anos) figura no top-3 da Liga BBVA, apresentando um futebol ofensivo, apoiado, alegre e empolgante, já em terras gaulesas existem também razões para sorrir em Leonardo Jardim (40 anos) e no seu AS Monaco. Um caso de estudo em que, na oitava jornada, seguia no penúltimo lugar, a onze pontos do líder Olympique de  Marseille (chegou a estar a catorze) e que, agora, se encontra no quarto e somente a cinco. Para além deste feito, também se encontra nos quartos-de-final da prova maior de clubes da UEFA com o estatuto de "equipa sensação", após afastar o Arsenal FC. Com um plantel fortemente limitado em soluções e após um frustrado ataque ao mercado, o madeirense apostou numa mescla de futebolistas experientes e já com rotinas nas andanças de competitividade (Ricardo Carvalho ou Dimitar Berbatov) elevada com um rol de jovens que se vem exibindo com uma maturidade surpreendente (o médio ofensivo Bernardo Silva, o lateral direito Fabinho ou o extremo Yannick Ferreira-Carrasco). 

Mais a norte, em Inglaterra, José Mourinho (52 anos) já não surpreende ninguém. Ao leme do seu Chelsea FC detém já uma vantagem confortável na Barclays Premier League (seis pontos à maior diante do Manchester City FC). Apenas desapontou na abordagem à FA Cup (eliminado pela modesta equipa do Bradford City AFC) e na UEFA Champions League (consentiu uma eliminação por golos fora face ao PSG). Com um futebol mais frio após ideais colhidos em Itália, Mourinho começou a dispor as suas equipas de forma mais calculista e implicitamente controladora, sem desprezar os conceitos de pressing que tanto lhe foram úteis na passagem bem sucedida no FC Porto. 

Nas periferias da ribalta do futebol europeu, importa ressalvar dois técnicos que mostraram argumentos tanto nas competições europeias como nas nacionais. Começando por Paulo Sousa (44 anos), técnico dos suíços FC Basel 1893, após a eliminação com estrondo diante do FC Porto nos oitavos-de-final da liga milionária, vem mostrando algumas debilidades em gerir o esforço dos seus atletas (o futebol que advoga acarreta uma total entrega e disponibilidade para todos os momentos do jogo), não sendo porém este fator minimizador do mérito do trabalho desenvolvido. O treinador português apresenta uma liderança convincente de treze pontos em relação ao segundo classificado BSC Young Boys e defrontará o FC St. Gallen nas meias-finais da taça nacional. Na Rússia, brilha André Villas-Boas (37 anos), com o FC Zenit St. Petersburg. Auxiliado por um manancial de soluções de enorme qualidade (Ezequiel Garay, Axel Witsel, Javi García, Roman Shirokov, Danny ou Hulk), os russos estão nos quartos-de-final da UEFA Europa League, após terem sido relegados da liga milionária, e defrontarão os campeões em título Sevilla FC. Dentro de portas, a formação do ex-técnico do FC Porto lidera com cinco pontos de vantagem sobre os moscovitas do PFC CSKA Moskva, restando ainda dez jornadas por serem jogadas e estando já arredados da discussão da taça. 

Outros projetos justificadores de uma menção são:
  • os gregos do Olympiakos FC de Vítor Pereira (46 anos) que, após eliminação na UEFA Europa League pelos ucranianos do FC Dnipro Dnipropetrovsk, seguem na frente da sua liga com alguma controvérsia à mistura (desacatos entre adeptos e polémicas diversas) com uma diferença de onze pontos sobre o eterno rival Panathinaikos AO. Na taça helénica, enfrentarão nas meias-finais o Apollon Smyrnis, que milita na segunda divisão. O técnico já veio a público alertar para uma postura mais resultadista da sua equipa do que propriamente disposta a apresentar um futebol positivo, justificada pela conjuntura decisiva que a sua equipa atravessa.
  • pela Ásia, mais especificamente no Irão, o Tractor Club, liderada pelo experiente e já símbolo do clube Toni (68 anos), prossegue a sua consistente caminhada rumo ao inédito campeonato iraniano na segunda posição, estando somente a um ponto dos líderes Naft Tehran. Na Liga dos Campeões Asiática, encontram-se no terceiro lugar do grupo D com três pontos e a um dos lugares de qualificação, estando a quatro do primeiro posto detido pelos árabes do Al-Ahli. 
  • a seleção de Cabo Verde, guiada por Rui Águas (54 anos). Embora não se trate de um clube como os projetos supracitados, trata-se igualmente de um projeto com algumas prestações de destaque espelhadas na mais recente edição da Taça das Nações Africanas e noutras exibições interessantes em outros encontros, tal como aquela em que se sucedeu a derrota da seleção portuguesa. Com um leque de futebolistas que interpretam intensamente o símbolo que envergam e que lutam até ao fim por cada bola, é uma equipa que se vem consolidando como uma das mais interessantes do continente africano. 
Por Lucas Brandão

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